TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Teólogo. Umila Morais
I- O QUE É A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE?
Nos últimos anos a
igreja evangélica brasileira, principalmente as pentecostais, tem sofrido uma
forte influência dos ensinos distorcidos da Teologia da Prosperidade, também
conhecida como “Movimento da Fé” ou “Palavra da Fé”, “Confissão Positiva” e
“Evangelho da Saúde e da Riqueza”, sendo esta última, uma
expressão que resume bem a tônica dos seus ensinamentos.
Entre os principais
nomes da Teologia da Prosperidade com influência no Brasil, podemos citar:
Kenneth Hagin, Benny Hinn, T. L. Osborn, R. R. Soares, Valnice Milhomens, Edir
Macedo, Paul (David) Yonggi Cho, Jorge Linhares, Robson Rodovalho, Jorge Tadeu,
Cássio Colombo, Miguel Ângelo e muitos outros. Nem todos crêem e ensinam as
mesmas heresias, mas geralmente concordam nos aspectos principais do movimento:
saúde plena, riqueza, ausência de sofrimento e o poder
das palavras.
A teologia da
prosperidade, ensina que o cristão deve estar livre das doenças e sofrimentos
físicos nesta vida, uma vez que, através do sacrifício de Cristo, Ele já levou
nossas enfermidades na cruz do calvário (Is 53.4), basta para isto ter
fé e obedecer aos mandamentos do Senhor (Ex 23.25; Dt 28.15,22) que a
prosperidade financeira e a ausência de problemas de saúde e de quaisquer
sofrimentos, serão a marca dos verdadeiros filhos de Deus. Alguns dos
pregadores da prosperidade ensinam que Jesus teve um ministério rico
materialmente e que todo cristão tem direito a prosperidade material. O
sofrimento não é admissível na vida de um verdadeiro filho de Deus. No entanto,
se estes ensinamentos são verdadeiros, o que dizer de dezenas de crentes que
conhecemos, que possuem algum tipo de doença ou ficam enfermos? Todos podem
tomar posse da cura? Toda doença é do diabo? O cristão pode vir a enfrentar
problemas financeiros? Há crentes autênticos que são pobres? A pobreza é do
diabo? O cristão pode sofrer nesta vida? Vejamos o que os pregadores da
Teologia da Prosperidade dizem sobre saúde, riqueza, sofrimento
e o poder das palavras e confrontemos com o que a Bíblia, nossa única
regra de fé e prática, nos ensina acerca destes assuntos.
II- O QUE A TEOLOGIA DA
PROSPERIDADE DIZ SOBRE AS DOENÇAS:
·
Toda doença é do diabo, nenhuma doença vem de Deus, os crentes enfermos
estão oprimidos.
·
Todo crente tem direito a gozar saúde plena, se adoece é por não
conhecer seus direitos.
·
Se um crente não é curado, é porque está em pecado ou não tem fé
suficiente para ser curado.
·
Médicos e remédios ficam para os descrentes e para os crentes
incrédulos.
·
Nunca devemos empregar um pronome possessivo para uma doença, como por
exemplo: “minha dor de cabeça”, pois isto impede a cura.
·
Devemos confessar a cura, mesmo persistindo os sintomas
contrários.
A) O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE AS
DOENÇAS E A CURA:
ü Há doenças que procedem de Deus e
outras nos sobrevêm naturalmente (Dt 24.9; 32.39; 2Sm 12.15; 2Cr 26.20; 2Re
13.14; 1Co 11.30,32).
ü Não existe este “direito”
assegurado na Bíblia. Onde está escrito que temos este direito? O texto de Is
53.4 não afirma que Jesus levou nossas enfermidades “na cruz” e que por esta razão os crentes não adoecem mais, o
cumprimento desta profecia messiânica se deu bem antes da cruz (Mt 8.14-17).
ü Os filhos de Deus também adoecem,
independente de pecado ou falta de fé, este é o testemunho das Escrituras
Sagradas (2Co 4.16-18).
Vejamos alguns
exemplos de verdadeiros servos de Deus acometidos por doenças:
§ Jó (2.7)
|
§ Ezequias (2Re 20.1)
|
§ Eliseu (2Re 13.14)
|
§ Epafrodito (Fp 2.25-27)
|
§ Timotéo (1Tm 5.23)
|
§ Paulo (Gl 4.14)
|
§ Trófimo (2Tm 4.20)
|
|
ü A Bíblia não recrimina a medicina
nem o uso de remédios (Lc 10.34; 1Tm 5.23; Cl 4.14).
ü Não há nenhuma relação entre as
palavras que falamos e a cura (Gl 4.14).
ü Dizer que está curado, quando
ainda se está doente é ilusão, fantasia e mentira, menos fé (Mc 8.22-25).
ü A redenção plena do nosso corpo,
quando não teremos mais problemas de saúde é um beneficio ainda futuro da nossa
salvação (Rm 8.22-25; 1Co 15.40,42-44, 52-55; Fp 3.20,21).
ü Nem sempre somos curados, a cura,
assim como outras bênçãos, é um ato soberano de Deus, não um “direito” nosso
(2Re 13.14,20; 20.1-5; 2Co 12.7-11).
ü Os apóstolos reconheciam a
realidade das doenças enquanto estamos num corpo que está num estado de
corrupção, ignomínia, fraqueza e mortalidade (1Co 15.42, 43, 53; 2Co 4.16; Tg
5.14).
CARACTERÍSTICAS
DO CORPO ATUAL
|
CARACTERÍSTICAS
DO CORPO FUTURO
|
Terreno (1Co
15.40,48)
|
Celeste (1Co
15.40,48)
|
Corruptível
(1Co 15.42)
|
Incorruptível
(1Co 15.42)
|
Ignomínia
(1Co 15.43a)
|
Glorioso (1Co
15.43a)
|
Fraco (1Co
15.43b)
|
Poderoso (1Co
15.43b)
|
Animal (1Co
15.44)
|
Espiritual
(1Co 15.44)
|
Mortal (1Co
15.53)
|
Imortal (1Co
15.53)
|
B) POR QUE ADOECEMOS?
Diferente das
fantasias e utopias da Teologia da Prosperidade acerca de uma vida sem doenças,
a Bíblia e a realidade nos mostram algumas razões da existência das doenças.
Podemos classificar as razões pelas quais ficamos doentes em razões espirituais
e razões naturais:
RAZÕES ESPIRITUAIS:
- Por causa do pecado. O homem foi criado para viver eternamente, porém, o pecado causou uma outra realidade, a morte (Gn 2.16,17). Então, como conseqüência do pecado na humanidade veio à degeneração física, a velhice, as doenças, culminando com a morte. Esta depreciação causada pelo pecado, atinge não só o corpo físico do homem, como também a criação (Sl 90.10; Ec 12.1; Rm 8.22,23). Ex. Catarata, trombose, etc.
- Por causa de pecados pessoais. Neste caso, a doença é dada como um castigo divino, visando a nossa correção ou a execução do juízo divino sobre nós. É quando costumamos dizer que “Deus põe no leito da dor” (Gn 19.5, 9-11; Nm 12.1,6-11; 1Sm 5.9; 2Cr 21.14,15,18,19; 26.16-21; Sl 38.1-7; Dn 4.24-33; At 12.21-23; 1Co 11.29,30).
- Para provação da nossa fé. Deus usa a aflição como um meio de nos ensinar (Sl 119.67,71), como foi o caso de Jó, que sofreu terrivelmente com uma enfermidade (Jó 2.5,7; 7.5; 19.17,20; 30.17,18,30) como um meio de provar a sua fé. Na provação, Deus sempre tem algo de valioso para nos ensinar (Jó 40.3-5; 42.1-6; Tg 1.2-4).
- Por causa da ação maligna. A Bíblia registra que Satanás e os demônios podem causar doenças nas pessoas (Jó 2.7; Mt 9.32,33; 12.22; Lc 13.11,16). Esta ação maligna no crente, só é possível mediante a permissão divina, com fins de prová-lo (Jó 2.6,7; 2Co 12.7-10).
RAZÕES NATURAIS:
- Por causa de heranças genéticas. Certas doenças nos são transmitidas hereditariamente, por isto, muitas vezes os médicos nos perguntam acerca do histórico de determinada doença em nossa família. Ex. Diabetes, problemas cardíacos, etc.
- Por contágio. É o caso de epidemias e doenças que são transmitidas através de vírus, pelo ar ou através de contato com pessoas infectadas. Ex. Gripe, sarampo, malária, AIDS, etc.
- Por causa de acidentes. Todos somos passíveis de sofrermos neste aspecto, independente de servir a Deus ou não (2Re 1.2; Ec 9.2,12; 2Co 11.25b). Ex. Paralisia, tétano, feridas em pessoas diabéticas.
- Por causa de situações adversas. Traumas, crises depressivas, síndromes de pânico, etc, podem ser desencadeadas a partir de situações que causam impactos fortes na vida de alguém, como uma traição, a morte de um familiar, estupro, assassinato, etc.
- Por causa de maus hábitos alimentares, sociais e profissionais. O fumo, a ingestão de bebidas alcoólicas, o excesso de gordura, massa, doces, etc, e uma jornada de trabalho extravagante, também são fatores que podem afetar nossa saúde. Neste caso, a responsabilidade é exclusivamente nossa, é pessoal (Gl 6.7). Ex. Câncer, cirrose, problemas cardíacos, diabetes, LER-Lesão por esforço repetitivo, stress, etc.
III- O QUE A TEOLOGIA
DA PROSPERIDADE DIZ SOBRE RIQUEZAS:
- Jesus veio a este mundo e pregou aos pobres para que eles se tornassem ricos, então todos os cristãos devem ser ricos (2Co 8.9; Pv 3.16).
- Os filhos de Deus têm direito ao melhor da terra (Dt 28.13; Js 1.3; Mt 6.33; Ef 1.3; Fp 4.13).
- A pobreza é do diabo, é um espírito maligno.
- A prosperidade material é a marca dos filhos de Deus.
- Jesus dirigiu um ministério próspero materialmente, tanto que necessitava de um tesoureiro.
- Alguns pregadores chegam a ministrar o “dom de adquirir riquezas”.
- O dízimo e as ofertas são vistos como investimentos ou aplicações de alta rentabilidade.
A) O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE
RIQUEZAS:
ü O objetivo da encarnação e
pregação de Cristo visava o arrependimento e a salvação dos pecadores, não o
enriquecimento material (Lc 19.9,10; At 26.18; Tt 2.11-15). Paulo não se refere
à riqueza material em 2Co 8.9, pois ele mesmo menciona várias vezes igrejas e
crentes pobres (2Co 8.1,2; At 11.29,30; Rm 15.25-27; 1Co 16.1-4; Gl 2.10; 1Tm
5.3-5,16), além de sua própria experiência financeira (2Co 11.9,27; Fp
4.10-13), ele se referia as “riquezas de Cristo” (Rm 2.4; 9.23; Ef 1.7,18; 2.7;
3.8,16; Cl 1.27; Tg 2.5). Da mesma forma Pv 3.16, não se refere a Jesus, mas é
um caso de personificação da sabedoria, conforme demonstra o contexto desta
passagem.
ü Em momento algum a Bíblia fala
deste “direito” dos crentes, os versículos listados como base para este direito
não resistem a um exame a luz do seus contextos. A Bíblia não faz apologia a
pobreza, nem incentiva a busca de riquezas, pelo contrário, adverte quanto ao perigo
das riquezas (Sl 62.10; Ec 5.13; Mt 5.24; 13.22; Mc 10.23,24; 1Tm 6.3-11,17-19;
Tg 5.1-6). A Bíblia nos ensina o equilíbrio: o contentamento (Sl 37.16;
Pv 30.8,9; Mt 6.11; 1Tm 6.6-8), coisa rara em nossos dias de materialismo e
consumismo.
ü A pobreza é um fator social, onde
os homens são mais responsáveis por ela do que o diabo (2Sm 12.1-4; Pv 14.20;
22.7; 23.10; Is 5.8; 10.1,2; Tg 5.6).
ü Jesus falou de outras marcas dos
cristãos (Jo 13.34,35; 17.21) e deve ter se “esquecido” de mencionar esta. Os
ímpios também possuem a “marca” da prosperidade material (Sl 73.12; Ec 9.11). A
Bíblia menciona outras coisas mais valiosas do que a prosperidade material (Sl
37.16; Pv 22.1,4; 28.6; Hc 3.17-19; Mt 6.19-21; Lc 12.21).
ü Se Jesus dirigiu um ministério
cheio de dinheiro e próspero materialmente, perguntamos:
§ Por que a oferta na apresentação
de Jesus foi a dos pobres? (Lc 2.22-24; Lv 12.6-8)
§ Por que o seu ministério não
tinha sede própria, pois o cenáculo foi emprestado? (Lc 22.10-13)
§ Por que não tinha transporte
próprio, pois o jumento foi emprestado? (Mt 21.2,3)
§ Por que não tinha onde reclinar a
cabeça? (Mt 8.20)
§ Por que não tinha dinheiro em
caixa para pagar o tributo? (Mt 17.24-27)
§ Por que recebia ajuda material de
algumas mulheres? (Lc 8.2,3)
§ Por que não tinha onde “cair
morto”, pois o sepulcro era emprestado? (Mt 27.57-60)
§ Por que os apóstolos não herdaram
este saldo financeiro? (At 3.5,6)
Enfim, o reino de
Cristo não é deste mundo (Jo 18.36), nem o da igreja (Fp 3.19,20; Cl 3.1-3; Hb
11.10, 13-16).
ü A Bíblia não menciona este tipo
de “dom”, os dons divinos não têm por finalidade nos favorecer, mas favorecer a
outros (1Co 12.7; 14.12,26). A Bíblia menciona muitos servos de Deus que não
tiveram interesse neste “dom de adquirir riquezas”: Moisés (Hb 11.24-27);
Abraão (Gn 13.5-9); Salomão (1Re 3.11); Pedro (At 8.18-23), os obreiros do
Senhor também devem rejeitar este tipo de “dom” (Ex 18.21; 1Tm 3.3; Tt 1.7).
ü Os dízimos e as ofertas são atitudes
de reconhecimento, gratidão e adoração ao Senhor. Devem ser praticados por
prazer em obedecer a Palavra de Deus e não para se ganhar mais dinheiro (Sl
119.14,72).
IV- O QUE A TEOLOGIA DA
PROSPERIDADE DIZ SOBRE O SOFRIMENTO:
- O sofrimento não faz parte da vida cristã.
- Nunca é a vontade de Deus que seus filhos sofram.
- Alguns crentes sofrem por estarem em pecado ou por falta de fé, Jó só sofreu todas aquelas adversidades porque pecou, outro pregador da Teologia da Prosperidade afirma que foi porque Jó não entregou o dízimo.
A) O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE O SOFRIMENTO:
ü Jesus afirmou exatamente o
contrário (Jo 16.33) e os apóstolos também (2Co 4.16-18; 6.4,5; 2Tm 2.3; 3.12;
Hb 11.35-40; 1Pe 1.6), portanto este ensino não se conforma com a doutrina
apostólica, na qual devemos perseverar (At 2.42).
ü Na vida presente, Deus permite
tanto o bem como o mal na vida dos seus servos (Jó 2.9,10; Sl 34.19; Ec
9.2,12).
ü Afirmar que os sofrimentos que
vieram sobre Jó foram por causa de uma vida de pecado ou porque o mesmo não era
dizimista é um atentado ao texto sagrado (Jó 1.1,8,9; 2.3,9; 42.7-9; Ez
14.14,20; Tg 5.11), só quem nunca leu a Bíblia afirmaria isto. Muitos servos de
Deus sofreram sem que isto significasse que se encontravam em pecado ou por
falta de fé.
B) POR QUE SOFREMOS?
- Por conseqüência dos nossos próprios atos (Gl 6.7).
- Por causa de outros, pessoas que amamos ou nos prejudicam (Gn 26.34,35; 27.46).
- Por causas naturais (Ec 9.2,3).
- Por causa de nossa obediência (1Pe 2.18-20; 3.13,14; 4.12-16).
- Para o nosso aprendizado (Rm 5.3; 2Co 12.7-10).
V- O QUE A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE DIZ SOBRE O
PODER DAS PALAVRAS:
A Confissão Positiva é uma
heresia indissociável da Teologia da Prosperidade, as duas andam juntas, isto
porque o “poder das palavras”, aquilo que eu confesso com a minha boca é a base
para recebermos os demais benefícios pregados pelo movimento: riqueza, saúde
plena e ausência de sofrimento. O seu ensino herético resume-se na máxima já
bastante conhecida no meio evangélico: “Há poder em suas palavras !”. O ensino
consiste em dar um significado mágico as nossas palavras, de forma que, se eu
digo (confesso) a coisa certa, tudo dará certo, porém, se eu digo algo
negativo, isto me trará problemas (Pv 6.2). Portanto, os adeptos chegam a
praticar um novo modelo de oração, onde não se pede, “determina-se”,
“decreta-se”, “toma-se posse” e condena-se a atitude de perseverar em oração
por algo, como sendo falta de fé. Segundo os pregadores deste movimento, uma
verdadeira atitude de fé, está no ato de decretar e crer que aquilo acontecerá,
trazer a existência aquilo que declaramos com a nossa boca, isto é que é fé, a
fé do tipo que Deus teve ao criar o mundo, quando ele disse “Haja!” e o que ele
disse (confissão positiva) aconteceu.
A) O QUE DIZ A CONFISSÃO
POSITIVA:
- Há poder em nossas palavras, tanto para abençoar como para amaldiçoar, por isso, devemos ter muito cuidado com aquilo que falamos (Pv 6.2), as palavras são a coisa mais poderosa do universo. É possível controlar qualquer coisa e até Satanás, aprendendo a controlar a nossa língua (Tg 3.3-12).
- Não há necessidade de orar “segundo a vontade de Deus”, a vontade de Deus já é que você recebe a sua petição, por isso, “decrete”, “determine”, “tome posse da vitória”.
- Não devemos orar mais de uma vez por um mesmo problema, isto denota falta de fé.
- Se usarmos a “palavra da fé”, a confissão positiva, determinando, Deus nunca dirá um “não” as nossas orações (Jó 22.28). Deus nunca disse não para Kennet Hagin.
- Deus gosta que seus filhos sejam “ousados” na oração (Sl 17.1).
B) O QUE A BÍBLIA DIZ:
ü A Bíblia não atribui nenhum poder
“mágico” as nossas palavras, o poder pertence a Deus e não as nossas palavras
(Sl 62.11). O contexto de Pv 6.1,2 mostra claramente que o segundo versículo
está sendo usado isolado do seu contexto. Também, o apóstolo Tiago não está
falando do “poder das palavras”, não está ensinando “confissão positiva”, mas
fala do cuidado com a língua e as conseqüências do descontrole e mau uso da
língua no sentido de pecarmos contra Deus (Tg 3.6,9).
ü Isto vai totalmente de encontro
ao que Jesus ensinou (Mt 6.10; 26.39,42) e os apóstolos também (At 18.21; 1Co
4.19; 16.7; Hb 6.3; Tg 4.13-16). Decretar ou determinar são prerrogativas de
quem tem autoridade, reis e imperadores, quem detém o poder (2Sm 15.15; Ed 6.13;
Et 1.20; Ec 8.3,4), na oração nós somos os súditos e o rei é Jesus, o único que
pode decretar alguma coisa (Sl 62.11; Mt 28.18). Este ensino do poder das
palavras deriva-se de uma outra heresia do movimento que é o ensino de que o
homem é um semideus. O modelo de oração ensinado na Bíblia não decreta nem
determina, antes se submete humildemente à vontade soberana de Deus.
ü Falta de fé é deixar de
perseverar em oração (Mt 7.7; Lc 18.1; Rm 12.12; Cl 4.2). Muitos servos de Deus
desconheciam este tipo de ensino e oraram mais de uma vez por um mesmo pedido:
Isaque (Gn 25.21); Elias (1Re 18.42-44); Eliseu (2Re 4.34); Paulo (2Co 12.8) e
até mesmo o próprio Jesus (Mt 26.44).
ü Isto seria o mesmo que anular o
atributo da soberania divina, nossas orações são atendidas ou não, de
conformidade com a vontade soberana de Deus e não de acordo com o que
“decretamos”. O texto alegado de Jó 22.28 não trata de uma orientação divina
para nós “determinarmos”, mas é um conselho equivocado de Elifaz a Jó, fruto de
sua teologia mercantilista de relacionamento com Deus, algo que o Senhor
reprovou no final do livro (Jó 42.7-9). Além da Bíblia não ensinar esta fórmula
mágica para sermos atendidos em tudo o que pedimos, ela demonstra varias
ocasiões onde Deus disse “não” as orações dos seus servos (Dt 3.26; 1Sm 16.1;
2Co 12.8,9). Será que foi porque eles não usaram a confissão positiva? Ai de
nós se Deus sempre dissesse “sim” as nossas orações (Tg 4.3).
ü Este tipo de “ousadia” na
verdade, a Bíblia chama de “presunção” (Tg 4.16). Tudo isto não passa de uma
“louca mania de querer mandar em Deus”. A oração do salmista no salmo 17 não
está decretando nada, pois quem clama não determina (Sl 17.1).
ü Querer comparar o poder das
palavras de Deus na criação, quando Ele disse: “Haja!” e trouxe a existência o
que ainda não existia, com as meras palavras humanas é desconhecer a diferença
gritante que há entre o criador onipotente e a criatura, neste caso o homem.
Alegar que este é o “tipo de fé” que Deus teve é uma outra distorção grave,
pois Deus não tem fé. A fé é um depósito de confiança que fazemos em alguém ou
em algo, assim, cremos que somos salvos, depositando esta fé na eficácia do
sacrifício de Cristo para nos salvar, cremos na cura divina, depositando fé no
poder que Deus tem para nos curar, mas Deus ao criar o mundo, depositou sua fé
em quem? Esta “fé” que a confissão positiva ensina ser o poder das palavras, é
uma fé voltada só para ganhar, para obter benefícios materiais ou físicos, mas
a fé que a Bíblia ensina também admite perder, morrer e sofrer. Isto também é
fé! (Hb 11.35-38)
BIBLIOGRAFIA.
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Chamada da Meia Noite.
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Paulo. Evangélicos em Crise: decadência doutrinária na igreja
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