Em Chamas para Deus
Wesley L. Duewel
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Semeadores da Palavra e-books
evangélicos
Título do original em inglês: Ablaze
for God
Tradução: Neyd Siqueira
Editora e Distribuidora Candeia
3a Edição: 1996
ISBN 85-7352-006-X
Copyright © 1989 by Wesley L.
Duewel
1. Líderes cristãos: Vida
religiosa : Cristianismo
Contracapa
Qual é a dinâmica espiritual da liderança? Como você pode
ser mais de Deus, em chamas para Deus, ungido e capacitado por Deus — um líder
verdadeiramente cheio do Espírito? Aqui estão respostas que você vai ler e
reler.
"DEPOIS DE TODO O DILÚVIO DE LIVROS sobre liderança que
não foram escritos por líderes, é refrescante ter um livro publicado por alguém
cujo registro pessoal é tão largamente respeitado. Este é um manual
interessante que deve ser urgentemente lido por todo cristão com uma real
responsabilidade."
DR. RALPH D. WINTER,
Diretor Geral
"EM CHAMAS PARA DEUS é fácil de ler, mas difícil de
esquecer. Em meio à abundância de livros que ensinam "como fazer",
este enfoca a idéia de "como ser" — como ser um líder cristão — como
'resplandecer para Deus'. O livro convence, persuade e desafia, e todo pastor,
líder ou leigo irá beneficiar-se com a sua leitura."
DR. JACK ESTEP,
Diretor Geral
Casa da Sociedade Missão Batista Conservadora
"O ESCOPO E A RIQUEZA de Em Chamas para Deus fazem
dele um recurso tremendamente valioso para o líder evangélico. Acima de tudo,
ele é prático — um livro que ensina 'como fazer' para atingir a vitória
espiritual e compartilhá-la com outros. O Dr. Duewel tem o raro dom de oferecer
indicações práticas de como ser um líder baseado na Bíblia."
DR. B. EDGAR JOHNSON
Secretário Geral, Igreja do Nazareno
WESLEY L. DUEWEL, D. Ed. da Universidade de Cincinnati. é
ex-Presidente da OMS Internacional e missionário veterano (25 anos de serviço)
na Índia. Ocupou cargos em diversas organizações evangélicas relacionadas com o
serviço missionário. O Dr. Duewel ê um eminente estadista missionário.
* * *
Sumário
Prefácio
Em Chamas para Deus é um livro que fala à necessidade
desesperadora de liderança espiritual na igreja. Não é preciso ser teólogo para
reconhecer que pessoas preparadas para ministrar nos passos de Cristo quase não
existem hoje.
Os dons necessários para tal serviço só são obtidos mediante
a graça capacitadora do Espírito Santo. Podemos tentar conseguir com menos que
isso, mas sem o Seu domínio interior não passamos de bronze que soa ou címbalo
que retine.
Jesus tornou isto claro para os Seus seguidores antes de
voltar ao céu. Embora credenciados como Suas testemunhas e comissionados para
discipular as nações, eles foram instruídos a demorar-se até receberem poder do
alto. Nada menos que um batismo de fogo consumidor bastaria para a tarefa para
a qual foram indicados.
A efusão pentecostal do Espírito marcou o início desta nova
era de ministério. Ela foi o passo culminante da descida do divino para o
humano. Jesus, como presença externa, tornou-se então o Soberano entronizado na
lealdade do Seu povo. Sua palavra tornou-se como fogo dentro deles e, com os
corações queimando com o amor de Deus, eles seguiram seu caminho com alegria e
singularidade de propósito, louvando ao Senhor.
O que a igreja apostólica experimentou é privilégio de todo
crente. "Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para
todos os que ainda estão longe" (At 2:39).
O Dr. Wesley L. Duewel, eminente autor e estadista
missionário, focaliza esta verdade nestas páginas. Com intensa sensibilidade e
profunda humildade, estabelece qualidades de vida que se transformam em
ministério cristão. O seu tratamento é simples e prático, refletindo
infalivelmente as idéias de alguém que procurou sentar-se aos pés de Jesus.
A leitura do livro foi tanto um exercício de sondagem como
de elevação espiritual para mim. Recomendo-o com a expectativa de que ele fará
o mesmo por vocês.
Robert E. Coleman
Para Você, Leitor
Este é um livro para todo líder cristão — pastor, leigo,
professor da escola bíblica ou dominical, líder da juventude, missionário, ou
líder na causa de Deus em termos gerais. Este não é um livro que ensina
"como fazer", embora esteja repleto de sugestões práticas para a sua
liderança. Trata-se de um livro sobre a dinâmica espiritual da sua liderança.
Como você pode ser mais uma pessoa de Deus? Como pode ter
mais da autoridade e do poder de Deus sobre a sua liderança? A radiância de
Deus sobre a sua vida; a unção de Deus sobre a sua liderança; um amor ardente
por Cristo, a igreja, os não-salvos; sua tremenda responsabilidade como líder
espiritual; sua vida de oração como líder — todos esses são tópicos de imenso
significado para você. Leia do princípio até o fim. Você desejará repetir a
leitura várias vezes.
Que este livro seja um desafio para você e o ponha de
joelhos enquanto lê, como aconteceu comigo enquanto o escrevia. Pude vislumbrar
o que Deus quer fazer por você e por mim. Não escrevo como mestre de tudo que
busco compartilhar com você — mas como um companheiro de viagem buscando o
melhor de Deus no sentido mais elevado e espiritual.
Você e eu não somos dignos de liderar o povo de Deus.
Todavia, Deus nos escolheu para representá-Lo. Ele espera para conceder-nos
tudo que precisamos, a fim de nos tornarmos adequados. Ele anseia por
encher-nos com o Seu Espírito, para que não sejamos somente incendiados, mas
resplandeçamos para Deus.
Wesley L. Duewel
Capítulo 1
Você Pode Resplandecer!
Resplandecendo para Deus! A sua personalidade é tão cheia
com a presença e beleza do Senhor que os outros instintivamente sentem que Deus
está com você! A mão de Deus é tão claramente evidente em sua vida e liderança
que um poder e autoridade santos parecem repousar silenciosos sobre a sua
pessoa! Uma unção repetida do Espírito Santo repousa sobre você, em suas
responsabilidades e atividades de liderança diárias! Seja um ministro ou um
leigo, Deus o quer como um líder realmente incendiado com o Seu Espírito Santo.
Você tem desejado mais toque do Espírito Santo em sua vida?
Tem ansiado que Deus coloque a Sua mão mais poderosamente sobre você, o Seu
selo sobre a sua liderança e toda a sua vida? Já sentiu que Deus deve ter mais
da Sua unção disponível para você do que normalmente experimentou?
Quando leu os relatos de quão poderosamente Deus usou homens
como Wesley, Whitefield, Fínney e Moody, você desejou que tais operações
divinas fossem mais comuns entre os líderes cristãos hoje? Já ansiou ter o fogo
do Espírito mais evidente em você — tocando seus lábios enquanto fala, seu
coração enquanto ora e acrescentando os "extras" da bênção de Deus na
sua liderança? Alegre-se! Deus deu a você esse desejo.
Ele tem uma nova dimensão de capacitação divina disponível
para cada líder cristão, inclusive você. Deus está querendo provar-lhe que Ele
está mais perto do que você pensa. Ele escolheu e guiou você para o Seu propósito.
Deus quer fazer novas coisas através de você e do seu ministério.
Em um certo sentido, embora sinta ser sem dúvida totalmente
indigno, você é alguém que Deus quer usar mais e mais para a Sua glória. Por si
mesmo, você sabe que não é assim tão especial. Você dificilmente se
consideraria um "homem de Deus" ou uma "mulher de Deus".
Mas Deus quer usá-lo de modo especial. Você é importante para Ele; Ele precisa
de você. Ele quer provar o que pode fazer através da sua vida e liderança. Deus
quer que você resplandeça com o Seu amor, Seu Espírito e Seu poder. Você pode
resplandecer para Deus!
Deus escolheu usar o fogo como um símbolo do Espírito Santo
para ajudar-nos a compreender o que Ele quer fazer por nós. Ele quer que os
Seus líderes resplandeçam para Ele, fiquem em chamas com a presença manifesta
do Espírito Santo, em chamas com a Sua glória. Ele quer que esta capacitação
sagrada caracterize você como alguém escolhido e indicado por Ele.
Muita coisa neste livro pode abençoar quem quer que esteja
muito desejoso de Deus e de ser mais usado por Deus. Ele será especialmente
utilizado por Deus para ajudar os líderes cristãos, quer em serviço de tempo
integral, quer liderando grupos cristãos em suas igrejas locais. Qualquer seja
o seu papel de liderança — pastor, presbítero, diácono, missionário ou líder de
um ministério cristão — Deus quer que você resplandeça. Professor da escola
dominical, líder leigo, líder do grupo de oração — você também pode
resplandecer para Deus.
A liderança cristã exige o que temos de melhor
espiritualmente, e mais ainda. Ao que temos de melhor deve ser acrescentado o
Seu toque de capacitação sobrenatural. Devemos oferecer o melhor de nós e
depois esperar que Deus acrescente o Seu fogo sagrado. O melhor de nós não
basta. Precisamos constantemente do toque extra de Deus. Precisamos do Seu
fogo.
Temos necessidade de mais habilidade e aptidão no serviço de
Deus. Precisamos da presença manifesta de Deus, da consciência e evidência do
toque especial de Deus sobre nós. Não confiamos em nosso conhecimento,
treinamento ou experiência, mas na adição transformadora de Deus ao que
possuímos de mais elevado e melhor. Spurgeon insistiu: "Precisamos de
unção espiritual extraordinária e não de poder intelectual
extraordinário".
Não nos satisfazemos em ser fiéis; desejamos profundamente a
percepção especial da bênção de Deus sobre a nossa fidelidade.
Não nos satisfazemos em trabalhar arduamente; esperamos em
Deus pela sua capacitação sobre os nossos esforços sinceros. Procuramos mais
que ocupação; procuramos a evidência de que Deus faz uso de nós.
Deus criou você para ficar cheio e ser ungido pelo
Seu Espírito. Essa plenitude torna a sua personalidade completa, capacita-o
para ser como Cristo e radiante com a presença de Deus, e o seu serviço será
guiado pelo Espírito, capacitado por Ele, e usado até o fim por Deus.
Como um cristão sadio, você jamais pode ficar
satisfeito sem essa plenitude interior, essa capacitação transformadora que o
faz ter consciência de que Deus está usando a sua vida para o Seu propósito e
glória. Nenhum líder cristão pode ficar contínua e completamente satisfeito no
seu ministério sem essa capacitação divina — o brilho, o fogo e o poder do
Espírito. Ela deve estar presente em nós e ativa através de nós.
É belo e desafiador ver uma vida
resplandecendo para Deus e sendo uma inspiração para outros. Isso proporciona
fé às pessoas para crerem que Deus opera na vida daqueles a quem amam e nas
situações que as preocupam. Dá-lhes a confiança de que Deus irá responder à
oração e fazer com que outros desejem aproximar-se dEle e obedecê-Lo. Uma vida
resplandecente é sempre uma bênção muito maior que a mesma vida sem a chama do
Espírito.
Jesus disse sobre João Batista: "Ele
era a lâmpada que ardia e alumiava" (Jo 5:35). John Sung, tido como o maior
evangelista que a China já conheceu, foi chamado de "uma chama viva de
zelo evangelístico". Repetidas vezes algum cristão tem-se mostrado tão
cheio do Espírito e tão usado por Deus que cristãos com discernimento se
referiram a ele como alguém "resplandecendo para Deus", "um
líder batizado pelo fogo" ou outra descrição similar. As pessoas que o
conhecem melhor, os que estão sob a sua liderança, falariam de você nesses
termos?
Spurgeon falou sobre a necessidade de líderes "que só
vivem para Cristo e nada desejam além de oportunidades para promover a Sua
glória, para divulgar a Sua verdade, para ganhar mediante poder aqueles a quem
Jesus remiu com o Seu precioso sangue... Precisamos de homens incandescentes,
em brasa, que brilhem com calor intenso. De quem você não possa aproximar-se
sem sentir que o seu coração está-se aquecendo. Que abram caminho em todas as
posições, a fogo, e se dirijam diretamente para o trabalho desejado. Homens que
sejam como relâmpagos expedidos pelas mãos de Jeová, atravessando tudo que se
lhes opõe, até chegarem ao alvo proposto; homens impelidos pela
Onipotência".
David Brainerd, poderoso intercessor-missionário para os
índios americanos, exclamou: "Oh, que eu possa ser uma chama ardente a
serviço do Senhor. Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim; envia-me para os
confins da terra... envia-me para longe de tudo que possa ser chamado de
conforto terreno; envia-me para a própria morte se for a Teu serviço e para
promover o Teu reino".
Deus escolheu o fogo para ser o primeiro e mais contínuo
símbolo e manifestação da Sua presença. Através dos tempos do Antigo
Testamento, Sua glória — Shekinah — um brilho e fogo milagrosos — provavam
constantemente a Sua presença, direção, liderança, envolvimento e selo de
aprovação. No Novo Testamento o Espírito Santo cumpriu e espiritualizou a
Shekinah. Israel perdeu a Shekinah de Deus quando foi para o cativeiro e ela
não veio a ser restaurada até sua volta visível no Pentecostes. Ela se
transformou, deixando de ser principalmente a presença de Deus num lugar e
passou a ser a Sua presença em Seu povo. A sua visibilidade era temporária no
Pentecostes, mas a sua realidade é permanente naqueles que são cheios do
Espírito.
Jesus queria que todos os Seus discípulos fossem batizados
como Espírito Santo e com fogo (Mt 3:11; Lc 3:16). Ele deseja que cada um de
nós seja tão cheio do Espírito que a nossa natureza interior venha a ser
purificada pelo fogo e nossa vida se torne radiante, cheia de poder e zelo
dados pelo Espírito e em chamas com a glória-Shekinah de Deus.
A glória-Shekinah do Espírito, sua chama santa, é para todos
nós, crentes, nesta dispensação da graça. Ela fará com que nossas
personalidades sejam belas, nossa disposição radiante e nossa vida produtiva.
Esta é a regra do Novo Testamento para os Seus filhos. Quanto mais ela deve ser
típica de todos os líderes na igreja de Cristo!
Todo líder cristão deve ser um exemplo, uma demonstração do
padrão visível de Cristo de vida cheia do Espírito. Você, como líder, deve
manter a sua estatura, fervor e consistência espirituais, sendo tão marcado
pelo selo do Espírito de Deus que aqueles a quem lidera agradeçam a Deus pela
sua liderança. Eles devem ser motivados a aceitar e seguir a sua liderança de
todo o coração, aproximando-se assim mais de Deus sob ela, seja consciente ou
inconscientemente.
Todos nós, como líderes cristãos, ansiamos ser mais usados
por Deus, mais marcados com o selo de Deus em nossas vidas e ministérios. Tenha
bom ânimo. Deus irá satisfazer esse desejo. Você pode resplandecer mais para
Deus do que nunca.
Ó, Tu, que vieste do alto,
O fogo puro e celestial
transmite,
Acende uma chama de amor
sagrado,
No pobre altar do meu coração.
Permita que nele a Tua glória
queime
Com resplendor inextinguível,
E volte trêmula à sua fonte,
Em humilde oração e fervente
louvor.
Jesus, confirma o desejo do
meu coração
Trabalhar, falar e pensar para
Ti;
Permite, no entanto, guardar o
fogo sagrado
E avivar Teu dom em mim.
Charles Wesley
Capítulo 2
O Espírito Santo Fará Você Resplandecer
O Espírito Santo é a maravilhosa terceira Pessoa da
Trindade, sobre quem sabemos tão pouco. Ele nos ama ternamente, cuida de nós
pessoalmente e ministra para nós fielmente. Quão surpreendente é que o símbolo
mais comum desta lindíssima Pessoa encontrada na Bíblia seja talvez o fogo
ardente! Por que a Escritura escolheu o fogo para ilustrar a Sua presença e
função? Que bênção isto sugere para nós quando somos cheios do Espírito?
Uma importante mensagem simbólica para nós no fogo do
Espírito é sem dúvida a Sua obra de purificação. Esta é a realidade central na
experiência de sermos cheios do Espírito (At 15:9). Todavia, existem outras
verdades significativas ensinadas pelo símbolo do fogo do Espírito. Vamos
examiná-las.
João Batista havia profetizado a respeito de Jesus:
"Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3:11; Lc
3:16). A vinda do Espírito deve ter o efeito de fogo. Cristo desejava que todo
o ministério ardente do Espírito se mantivesse ativo na vida daqueles que são
Seus. Ele acendeu a chama santa de Deus no coração dos Seus seguidores ao dar
início ao Seu ministério terreno. No dia de Pentecostes, como visivelmente
simbolizado pela descida da chama santa do Espírito, Cristo capacitou-os de tal
modo através do Seu batismo ardente que os 120 começaram a espalhar o fogo
santo de Deus pelo mundo.
Jesus disse: "Eu vim para lançar fogo sobre a
terra" (Lc 12:49). Embora nem todos os comentaristas concordem quanto ao
significado deste fogo que Cristo queria tanto que chegasse, todavia, através
dos séculos, vários notáveis eruditos e líderes da igreja o consideraram como
se referindo ou incluindo referência ao ministério poderoso do
Espírito. (1)
O zelo de cumprir o propósito de Deus Pai
queimava em Jesus como fogo inextinguível. Ele "queria ardentemente fazer
toda a vontade do Pai, embora isso custasse o Seu sangue". Nosso Salvador
de coração ardente devia ter discípulos com os corações igualmente incendiados.
O bispo William Quayle, falando sobre um certo líder,
disse: "Ele está no centro de um círculo cujas bordas são de fogo. A
glória o envolve. Ele é prisioneiro da majestade". Ele diz que até os
mudos deveriam inflamar-se com respeito aos temas que o evangelho nos leva a
examinar. "Não devemos ser insípidos. Não existe uma página monótona em
toda esta história eterna da redenção da raça."
Quayle suplica que não sejamos apáticos,
mas vigilantes. Estamos "encarregados de um ministério que deve ser
transmitido para que não morramos e, mais importante ainda, que deve ser
pronunciado para que todo este mundo não morra". Que o seu coração se
incendeie com as palavras seguintes dele: o ministro "tem o seu coração
estranhamente aquecido. O amor o cinge. O Cristo o aplaude. A eternidade se
torna o seu aio. O céu o tem como embaixador. Deus se agrada dele. Milhares de
faíscas brotam do seu pensamento e desígnio amoroso".
Benjamin Franklin confessou que muitas vezes ia ouvir George
Whitefield porque podia vê-lo arder diante dos seus olhos.
Esquecemos a origem do nosso termo "entusiástico". Ele vem de en
theos, isto é, em Deus. Quando Deus coloca seu Espírito chamejante em
nossas personalidades, Ele naturalmente queima dentro de nós com dinâmica
santa. Ficamos em chamas e incendiamos outros. O líder cristão insípido e pouco
inspirador está pecando.
O maior dos pregadores ingleses, Dr. Martyn Lloyd-Jones,
insiste; "A pregação é a teologia procedente de alguém
que está em chamas... Digo outra vez que o homem que consegue falar sobre
essas coisas desapaixonadamente não tem nenhum direito de estar no púlpito, e
este não lhe deve ser permitido. Qual é o principal objetivo da pregação?
Gosto de pensar que é este: dar aos homens e mulheres uma sensação de Deus e da
Sua presença". (2)
Um respeitado educador da Universidade de Nova Iorque, H. H.
Horne, disse que o segredo do ensino eficaz é o contágio. Este é
o segredo de toda liderança positiva, de qualquer tipo. Martinho Lutero não
queria perder o fogo que ardia em sua alma; nós também não ousamos. O fogo
atrai. O fogo motiva. O fogo provoca fogo; incendiar faz parte da natureza do
fogo.
O Exército de Salvação e muitos outros evangélicos nas Ilhas
Britânicas gostam de cantar este hino escrito por William Booth, o fundador do
Exército:
Tu, Cristo, da chama ardente,
purificadora,
Envia
o Fogo!
Teu dom comprado com sangue
hoje pedimos,
Envia
o Fogo!
Olha e vê este exército à
espera;
Dá-nos o Espírito Santo
prometido.
Queremos outro Pentecostes!
Envia
o Fogo!
É o Fogo que desejamos, é o
Fogo que suplicamos.
Envia
o Fogo!
O Fogo satisfará cada uma de
nossas necessidades;
Envia
o Fogo!
Força para fazer sempre o que
é direito,
Graça para vencer a luta,
Poder para andar pelo mundo
vestido de branco,
Para tudo isso,
Envia
o Fogo!
Para tornar fortes e bravos os
nossos tíbios corações,
Envia
o Fogo!
Para salvar um mundo
agonizante,
Envia
o Fogo!
Oh, em Teu altar colocamos
Nossas vidas, nosso tudo,
ainda hoje.
Para coroar a oferta oramos
agora,
Envia
o Fogo!
Deus disse a Jeremias: "Eis que converterei em fogo as
minhas palavras na tua boca" 0r 5:14). Nessa ocasião, Deus estava-se
referindo ao fogo como a uma sentença de juízo. Mas Ele, da mesma forma, torna
as nossas palavras ardentes, a fim de que o Seu povo possa incendiar-se com
amor santo, zelo e obediência.
Quando o Espírito Santo incendeia os nossos corações, Ele
torna chamejantes as nossas palavras. Quando a nossa personalidade se incendeia
com o compromisso com Cristo e com uma visão ardente do que Ele se propõe a
fazer por nós, toda a nossa liderança ganha vida, torna-se vibrante, cheia de
poder.
Devemos manter constantemente a nossa consagração, da mesma
forma que os sacerdotes mantiveram o fogo no altar do templo. Deus nos honra
quando em repetidas ocasiões renovamos o nosso compromisso, confessamos nossa
total dependência dEle e imploramos o ministério gracioso do Seu
Espírito em nós e através de nós. Vamos observar mais detalhadamente este
ministério ardente do Espírito.
Ele incendeia você com seu batismo
ardente. "Ele vos batizará com o Espírito
Santo e com fogo", disse João Batista a respeito de Jesus (Mt 3:11; Lc
3:16). Isto se refere ao "caráter ardente das operações do Espírito sobre
a alma — sondando, consumindo, refinando, sublimando — como muito bons
intérpretes entendem as palavras". (3) O fogo interior do Espírito
incendeia a pessoa cheia do Espírito com a Sua presença divina.
Ele capacita você com a Sua energia
divina e ardente. O fogo de Deus fala também da Sua
energia divina, constantemente preparada para capacitar os que são Seus, os que
se rendem totalmente a Ele. Cristo deseja que todo o ministério ardente do
Espírito se manifeste ativamente em sua vida. "Eu vim para lançar fogo
sobre a terra" (Lc 12:49). Ele acendeu a chama santa de Deus no coração
dos Seus seguidores ao iniciar o Seu ministério terreno. Mas Ele sabia que
todos precisavam ter mais do Espírito.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo desceu
visivelmente, na forma de línguas de fogo, sobre os homens e mulheres reunidos
no Cenáculo. Capacitados pelo Espírito, eles começaram a divulgar o fogo santo
de Deus naquele mesmo dia. Durante décadas o fogo do Espírito se manteve queimando
e se espalhando. A perseguição não apagou o fogo, só serviu para inflamar as
chamas. O Pentecostes, pela graça de Deus, acendeu um fogo que jamais se
apagará.
Ele faz você brilhar com sua
radiância e zelo ardentes. Romanos 12:11
insiste: "No zelo não sejais remissos: sede fervorosos de espírito".
Você tem zelo espiritual quando está espiritualmente em chamas, Weymouth traduz
isto: "Que os espíritos de vocês brilhem"; Goodspeed:
"Incendiados pelo Espírito"; e a Revised Standard Version afirma:
"Brilhem com o Espírito".
O Espírito Santo reanima o seu espírito,
enche você com abundância de vida, amor e zelo e faz você brilhar, a fim de que
manifeste a vida vibrante e radiante de Deus. Ele irá reavivar a sua devoção,
acelerar a sua obediência e atiçar as chamas do seu zelo. Como um crente cheio
do Espírito você deve ser marcado por devoção intensa, sinceridade entusiasta e
o serviço escravo que caracteriza os anjos do céu. Apolo (At 18:25) era
fervoroso assim. A tradução literal pode ser que ele "queimava no
espírito" ou "brilhava com o Espírito".
Quando o Espírito queima em você, em liberdade e
plenitude, a sua vida interior se torna radiante, o seu zelo intenso e o seu
serviço dinâmico. Você, nas palavras de Efésios 5:16, está "remindo o
tempo", aproveitando ao máximo cada oportunidade. A necessidade deste
brilho e zelo espirituais é enfatizada pela condição da igreja em Laodicéia,
que passara a ser morna (Ap 3:15-16). A temperatura espiritual de um líder
cheio do Espírito deve permanecer alta. O Espírito deseja enchê-lo com o fogo,
brilhando com o amor ágape, a fim de que sua vida seja constantemente radiante
com a presença dEle. Quer a tradução de Romanos 12:11 seja brilhar com o
Espírito, quer brilhar em seu próprio espírito, quem capacita é sempre o Espírito.
Sua plenitude ativa deve permear a sua personalidade e serviço.
Ele concede dons que irão incendiá-lo. Os dons
espirituais são capacitações para serviço, dadas pela atividade do Espírito
Santo.
Deus fornece as capacitações divinas de que precisamos para
o serviço designado por Ele para nós. O próprio Espírito Santo é o grande dom
de Deus que recebemos (At 2:38), mas Ele concede dons da graça (carismata), provendo
dotação e capacitação divinas para servir a Deus e ao corpo de Cristo.
"Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom
de Deus, que há em ti...", Paulo admoestou Timóteo (2 Tm 1:6). Note que o
dom estava "nele". O Espírito Santo quase sempre opera interiormente,
e não num sentido externo. Ele não nos manipula, Ele capacita pela Sua presença
e poder interior.
Deus jamais o designa ou o guia para um serviço sem dotá-lo
e capacitá-lo com tudo o que é preciso para fazer a Sua vontade.
Mas você deve colaborar. Deve acender novamente ou manter
viva a capacitação divina. Os dons de Deus são dados para ser estimados e
usados. Deixar de utilizá-los como Deus deseja é falhar em relação a Deus e às
pessoas. Nós os desenvolvemos pelo uso. Quando usamos a dotação de Deus, o
Espírito nos capacita, nos guia e nos torna produtivos.
A constante tendência do fogo é apagar-se. O Espírito não
desperdiça a energia divina. Se não obedecermos e não usarmos a graça provida
por Deus, Ele deixa de concedê-la. O tempo grego do verbo enfatiza o reacender
contínuo da chama. A biografia espiritual de muitos líderes cristãos é
"uma vez resplandecentes". Houve alguma época em que você
resplandeceu mais para Deus do que agora?
Louvado seja o Senhor, pois uma chama oscilante, quase
extinta, pode ser reavivada. Esse reavivamento deve ser um processo contínuo.
Cinco vezes em Levítico 6, Deus instruiu para que o fogo sobre o altar da
oferta queimada jamais se apagasse. Ele enviara inicialmente esse fogo do céu
(Lv 9:24; 2 Cr 7:11). Deus supre o fogo, mas nós devemos mantê-lo aceso.
Precisamos constantemente do fogo do Espírito, simbolizando a presença divina
dentro de nós, e temos necessidade constante do toque da graça de Deus sobre
nós,provida pela expiação. Nossa consagração a Deus jamais deveria terminar e a
Sua presença e poder em nós e sobre nós jamais deveria diminuir.
Deus criou espíritos inflamáveis em nós. Somos
espiritualmente combustíveis. Nossa natureza foi criada para ser posta em
chamas pelo Espírito. Somos espiritualmente mais abençoados, mais vitoriosos,
mais úteis quando incendiados. Somos mais semelhantes a Deus quando brilhamos
com a chama santa — a chama do Espírito interior.
O fogo de Deus dá uma atração inesquecível para a
personalidade do mensageiro de Deus e para o conteúdo da sua mensagem. Ele
transmite uma autoridade sagrada que não pode ser posta a perder pelos esforços
humanos. Ele sela de tal maneira com a marca de Deus que outros não podem
ignorá-la. Ele dá uma autenticidade santa e assegura integridade. Ele
impressiona com o evidente envolvimento e parceria de Deus.
Qualquer que seja o custo, devemos manter a chama do Espírito
queimando no altar dos nossos corações. O termo grego "reavivar" em 2
Timóteo 1:6 refere-se ao uso de foles para fazer com que o fogo prestes a
apagar-se volte a chamejar. Isto exige esforço. Timóteo devia fazer todo o
possível para intensificar a manifestação da chama do Espírito. Nossa
colaboração com o Espírito é essencial para a consistência do fervor, radiância
espiritual e zelo ardente.
O General Booth insistiu com o seu povo: "A tendência
do fogo é apagar-se; vigiem o fogo no altar do seu coração". O perigo
constante para nós é esfriar espiritualmente, perder o fervor e ter menos zelo.
O reavivamento pessoal vem pelo compromisso renovado e pela consagração,
confirmada. Todos precisam repetidamente desse reavivamento pessoal.
Temos o grande dom de Deus, o Espírito Santo, mas
precisamos ansiar mais pela manifestação da Sua presença e abrir nossos
corações pela fé, na expectativa de Sua atuação, Seu poder e constante
capacitação em nossa vida. Deus nos capacita e o Espírito quer impregnar todo o
nosso ser com a Sua realidade, tornando-nos canais de expressão para que o Seu
fogo santo possa ser visivelmente constante em nós. Devemos decidir se iremos
negligenciar, apagar ou reavivar a presença do Espírito.
Capítulo 3
Procurado: Um Coração em Chamas!
Nenhuma alternativa, além do Espírito, está à disposição do
líder cristão. Ele deve ter o coração incendiado pelo amor a Deus e às pessoas.
O Dr. George W. Peters disse: "Deus, a igreja e o mundo estão procurando
homens com o coração em chamas — corações cheios do amor de Deus; cheios de
compaixão pelos males da igreja e do mundo; cheios de paixão pela glória de
Deus, pelo evangelho de Jesus Cristo e pela salvação dos perdidos".
Ele acrescenta: "A resposta de Deus a um mundo de indiferença,
materialismo, frieza e zombaria é dada por meio de corações cristãos
incendiados nos púlpitos, nos bancos, nas escolas dominicais, nos Institutos
Bíblicos e nas faculdades e seminários cristãos".
Se falta a você, como líder, um coração ardente, poucos
dentre o seu povo serão conhecidos por seus corações em chamas, e eles trarão
pouco impacto sobre o mundo que os rodeia. Nossas comunidades não se
impressionam muito com nossos programas e múltiplas atividades. É preciso mais
que uma igreja ativa, uma igreja amável, ou mesmo uma igreja evangélica, para
trazer o impacto de Cristo numa comunidade. É necessária uma igreja inflamada,
guiada por líderes em chamas.
Samuel Chadwick, ex-presidente do Cliff College na
Grã-Bretanha, foi chamado de "sarça ardente", desde a época em que,
cheio do Espírito, "milagres de graça foram operados por intermédio
influência de uma vida que estava agora inflamada por Deus". Francis W.
Dixon conta como "o poder da sua pregação e a influência moral dos membros
da sua igreja eram tão grandes que o Chefe de Polícia local expressou
publicamente a sua gratidão pela maneira como a cidade inteira
fora purificada pela influência de homens e mulheres que haviam sido
incendiados com o amor de Deus".
John Wesley, evangelista do coração em chamas, foi
inquirido por um colega de ministério sobre como fazia para conquistar uma
audiência. Ele replicou: "Se o ministro queimar, outros aparecerão para
ver o fogo".
Um dos biógrafos de Wesley o chamou de homem
"sem fôlego por causa da perseguição de almas". No túmulo de Adam
Clarke, erudito metodista e protegido de Wesley, acham-se as palavras: "Ao
viver para outros, acabei queimado".
Há um século, T. DeWitt Talmage
escreveu: "Acima de todos os outros desejos, queremos nesta era fogo — o
fogo santo de Deus queimando no coração dos homens, estimulando seu cérebro,
impulsionando as suas emoções, penetrando em suas línguas, brilhando em suas
fisionomias, vibrando em suas ações, expandindo o seu poder intelectual e
fundindo todo o seu conhecimento, lógica e retórica em um riacho chamejante.
Permita que este batismo desça, e milhares de nós que até hoje não passamos de
ministros comuns ou fracos, que poderiam facilmente desaparecer da memória da
humanidade, nos tornaremos então poderosos". Isto continua sendo verdade.
É também verdade no mundo que nos
rodeia. Há alguns anos um soldado polonês disse ao Dr. Harold John Ockenga:
"Na Polônia, há uma corrida entre o cristianismo e o comunismo. Aquele que
tornar a sua mensagem uma chama de fogo vencerá".
Um cristianismo sem paixão não apagará o fogo
do inferno. A melhor maneira de atacar um incêndio na floresta é com fogo. Um
líder desapaixonado jamais porá ninguém em chamas. Um líder de jovens sem
paixão jamais incendiará os jovens para Cristo. Até que estejamos em chamas não
poderemos falar aos corações do nosso povo. O bispo Ralph Spaulding Cushman
orou:
Incendeia-nos, Senhor, atiça-nos, oramos!
Enquanto o mundo perece,
seguimos nosso caminho
Sem objetivo, sem paixão, dia a dia!
Incendeia-nos, Senhor, atiça-nos, oramos!
Não existe necessidade maior em nossas igrejas e escolas
hoje. Não basta ser evangélico na fé e no coração; temos de ser possuídos
inteiramente por Cristo, absolutamente apaixonados pelo Seu amor e graça,
completamente incendiados pelo Seu poder e glória. Cada parte terrena do nosso
ser, nas palavras do grande hino, deve brilhar com o fogo divino de Deus. A
madeira não basta, nem o altar, nem o sacrifício — precisamos do fogo! Fogo de
Deus, desce novamente sobre nós! Incendeia-nos, Senhor, incendeia-nos!
Se quisermos ser uma força irresistível de Deus onde Ele nos
colocou, precisamos do batismo de fogo do Espírito. Se quisermos acordar nossa
igreja adormecida, precisamos que desça até nós a chama santa que veio sobre
cada crente à espera no Cenáculo. Você tem necessidade dela e eu também.
Num artigo comovedor, "Queima, Fogo de Deus", T.
A. Hegre escreveu: "Precisamos de fogo: fogo para estimular nossas emoções
insensíveis e insípidas, fogo para nos levar a fazer algo por aqueles que estão
indo para as sepulturas sem Cristo. Milhares de pessoas estão morrendo hoje
porque nós, como cristãos, não estamos ardendo. Precisamos de fogo — o fogo do
Espírito Santo".
Não temos necessidade do fogo-fátuo; o fogo-fátuo não
glorifica o nosso Cristo santo. Precisamos do fogo santo, do fogo com o qual o
Espírito Santo nos batiza. Precisamos do fogo e zelo da primeira igreja, quando
quase todo cristão estava pronto, se necessário, para ser um mártir por Cristo.
Num sermão que causou impacto, John R. Rice censurou a falta
de fogo em nós. "Ouçam, os pecadores não são obstinados, mas sim os
pregadores. São os professores de escola dominical; os diáconos batistas, os
despenseiros metodistas e os bispos presbiterianos que estão obstinados. É mais
fácil, a meu ver, ganhar uma alma, converter um alcoólatra ou uma prostituta,
do que fazer chamejar um pregador pelas almas".
George Whitefield foi poderosamente usado por Deus, quando
ele e John Wesley viraram a Inglaterra de cabeça para baixo por Cristo e
salvaram, pela graça de Deus, as Ilhas Britânicas de uma duplicata da Revolução
Francesa. Foi dito a respeito dele: "Desde o dia em que começou a pregar,
quando menino, até a hora da sua morte, ele não conheceu um abatimento da
paixão. Até o fim de sua notável carreira, sua alma foi uma fornalha de zelo
ardente pela salvação dos homens".
Sua alma, uma fornalha ardente! Ah! Eis aí o segredo. Nosso
trágico problema é que estamos tentando liderar o povo de Deus com corações que
jamais ficaram em chamas, ou que já perderam a sua chama. Elias orou até que o
fogo caiu sobre o Monte Carmelo. Então o povo desviado pulou a seus pés e
exclamou: "O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!" (1 Rs 18:39).
O fogo-Shekinah, que fez arder o arbusto no deserto, pode inflamar
nossos corações até que sejamos sarças ardentes para Deus? O fogo-Shekinah no
Monte Sinai envolveu todo o ser de Moisés, até sua face irradiar a glória de
Deus. Podemos achegar-nos a Deus até que o fogo-Shekinah comece a transfigurar
nossos vasos de barro e nosso povo veja os reflexos da glória de Deus sobre nós
e em nós?
O fogo-Shekinah que Ezequiel viu partir de Israel, estágio
por estágio, pode voltar a nós hoje? Ele voltou sobre os 120 no Cenáculo. Se
fossem necessários dez dias para buscar a face de Deus da nossa parte, valeria
muitíssimo a pena, caso pudéssemos também resplandecer para Deus.
Não se trata de algo a ser ganho, desenvolvido ou simulado.
Só Deus pode batizar com fogo. Só Deus pode enviar a Shekinah. Só Deus pode
satisfazer a sua e a minha necessidade. Já trabalhamos muito sem ela. Não
alcançamos a glória de Deus sem ela. Deixamos nosso povo impassível por muito
tempo sem ela.
Não podemos acender esse fogo. Por nós mesmos não podemos
produzi-lo. Mas podemos humilhar-nos diante de Deus em total integridade e
honestidade, confessando a nossa necessidade. Podemos buscar a face de Deus até
que o seu holofote santo nos mostre o que, dentro de nossos corações, impede
que sejamos cheios e capacitados.
O fogo santo de Deus só desce sobre os corações preparados,
obedientes, famintos. Talvez a necessidade subjacente a todas as necessidades
seja não estarmos suficientemente famintos, suficientemente sedentos,
suficientemente empenhados com toda a nossa alma em nosso desejo. "Ora, se
vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o
Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem?" (Lc 11:13).
Vem! Vem! Suplicamos
Bendito Espírito Santo, vem hoje outra vez;
Vem, habita em nós plena e poderosamente.
Estamos ansiando, aguardando a
Tua graça e poder;
Bendito Espírito Santo, vem sobre nós nesta hora.
Coro:
Vem sobre nós agora! Vem sobre nós agora!
Famintos, sedentos, ansiosos,
curvamos-nos diante de Ti.
Opera com toda a Tua plenitude
em nós e através de todos nós;
Famintos e obedientes, Senhor,
suplicamos com fé.
Bendito Espírito Santo, deixa a Shekinah cair;
Que a Tua santa glória venha sobre todos nós!
Que o Teu fogo e glória desçam agora sobre nós;
Coloca o Teu selo sobre nós e depois nos envia a servir.
Bendito Espírito Santo, opera para que todos vejam;
Exerce a Tua soberania — todo o Teu ministério.
Opera com poder mais
plenamente do que já vimos ou ouvimos;
É a Tua promessa
bendita, a Tua Palavra santa!
Bendito Espírito Santo, Oh! não demores!
Vem em poder e glória; vem sobre nós hoje!
Por Ti ansiamos; de Ti precisamos.
Bendito Espírito Santo, vem, oh! vem, suplicamos!
Wesley L. Duewel
Capítulo 4
Você Deseja Poder?
É natural que você, como líder cristão, deseje que o poder
de Deus repouse sobre a sua pessoa e se manifeste no seu ministério. Você há
muito deseja mais poder na oração, no falar e no seu toque sobre a vida
daqueles a quem ministra. Este é um anseio dado por Deus. Ele foi colocado em
seu coração pelo Espírito Santo, porque Ele quer que você peça a Deus e confie
nEle para receber mais do Seu ministério poderoso.
Deus é um Deus de poder. Ele demonstrou isto na criação.
Através de todo o Antigo Testamento, Deus demonstrou o Seu poder nos líderes de
Israel, na libertação de Israel do cativeiro no Egito e em reis e profetas piedosos.
Ele ainda manda esse poder sobre o seu povo. "O Senhor dá força ao seu
povo" (Sl 29:11). Ele próprio é a força, o poder do seu povo (Sl 28:7). O
poder e a força de Deus são temas principais no louvor cio povo de Deus:
'Tributai ao Senhor glória e força" (Sl 29:1; 96:7).
Deus é um Deus de amor e poder. Ele manifesta ambas as
características, alegre e graciosamente. O líder cristão deve demonstrar o amor
e o poder de Deus mediante a capacitação do Espírito Santo. Não ter amor ou
poder significa não ter o selo completo do Espírito sobre o seu ministério.
Durante os dias do Antigo Testamento, uma ênfase maior
talvez fosse colocada sobre a manifestação do poder de Deus a favor do Seu
povo, em vez de manifestá-lo no Seu povo e através dele, embora estivesse
definitivamente presente. Nós, que estamos nos dias do Novo Testamento, vivemos
na dispensação do Espírito Santo. Deus continua-nos favorecendo, como favoreceu
o Seu povo na época do Antigo Testamento (Rm 8:31).
Esta é a nossa constante experiência e força. Mas, num sentido novo e especial,
Deus deseja agora manifestar o Seu poder dentro de nós e através de nós.
A VINDA DO ESPÍRITO
Esta ênfase do Espírito do Senhor descendo sobre os líderes
escolhidos é freqüentemente mencionada na história bíblica. "Veio sobre
ele (Otniel) o Espírito do Senhor" (Jz 3:10) e ele se tornou juiz de
Israel, foi para a guerra e o resultado foi paz durante quarenta anos. Como ele
pôde vencer o inimigo embora não tivesse um exército treinado? Por causa do
poder de Deus sobre ele.
Hoje não temos somente as forças espirituais do mal
combatendo contra nós (Ef 6:12; Cl 1:13), mas além disso temos freqüentemente
forças contrárias em nossa cultura secular, nos interesses ocultos e na mídia
ímpia. Como ousamos concluir que podemos derrotar e expulsar as forças que se
opõem à vontade de Deus sem a Sua ajuda repetida e especial? Não devemos tomar
isso como garantido. Devemos pedir a Deus, se quisermos receber ajuda. Só o
fato de esta ser a dispensação do Espírito não assegura que Ele irá sempre e
automaticamente capacitar e manifestar o triunfo de Deus ao máximo.
Estamos em perigo constante ao confiar exclusivamente nos
esforços e na sabedoria humanos. O segredo da manifestação do Espírito é
pedirmos por ela (Lc 11:13; Tg 4:2). Essas promessas foram registradas muito
depois de o Espírito ter sido derramado no Pentecostes. Esta é a dispensação do
Espírito, mas Sua operação depende muitas vezes de fazermos um pedido especial.
O Espírito do Senhor veio sobre Gideão e ele tocou uma
trombeta e reuniu as tribos (Jz 6:34). Nós talvez tenhamos às vezes pouco
sucesso em reunir o povo de Deus para adorar, testemunhar, contribuir e orar
porque o Espírito do Senhor não veio sobre nós em poder. Tentamos com muita
freqüência fazer o trabalho de Deus sem buscar sinceramente a Sua capacitação
poderosa.
O Espírito veio sobre Jefté (Jz 11:29), e ele avançou contra
as poderosas forças inimigas. O segredo do avanço para Deus é o mesmo hoje. O
Espírito deve vir repetidamente sobre nós. A demora no avanço pode ser causada
pela nossa falha em pedir e nos apropriar adequadamente do poder do Espírito.
O Espírito veio sobre Sansão com tal poder que ele enfrentou
um leão jovem (Jz 14:6). O hebraico diz literalmente que o Espírito "se
apossou" dele. Este mesmo termo hebraico é também usado mais
duas vezes quando Sansão enfrentou emergências (Jz 14:19; 15:14). Isto sugere
que o poder de Deus vem instantaneamente? Deus pode correr para nós. A
exigência de tempo é geralmente por nossa causa ou por causa dos outros
envolvidos. Não é preciso que o recebimento do poder de Deus seja um
processo longo e gradual. Deus pode satisfazer nossa necessidade instantânea
e abundantemente.
O Espírito do Senhor veio novamente em poder
sobre Sansão e ele derrotou os ascalonitas (Jz 14:19). O Espírito desceu outra
vez em poder sobre Sansão e ele feriu mil opressores filisteus. Se Sansão
tivesse continuado a travar as batalhas do Senhor sem envolver-se em pecado, o
Espírito teria descido repetidamente sobre ele em poder — sempre que Deus julgasse
haver necessidade disso.
Ficamos facilmente satisfeitos e nos gloriamos com os
momentos ocasionais no passado, em que Deus nos tocou com o Seu poder. Deus se
agrada em nos capacitar quantas vezes necessitarmos dEle, e precisamos dEle
mais vezes do que julgamos. Tornamo-nos demasiado complacentes e facilmente
satisfeitos com manifestações mínimas do Seu poder.
Samuel prometeu a Saul: "O Espírito do Senhor se
apossará de ti (em poder) .. e tu serás mudado em outro homem" (1 Sm
10:6). Quando o poder viesse, ele deveria fazer o que a ocasião pedisse. Antes
de o dia terminar, o Espírito "se apossou (em poder)" dele. Mas Saul
em breve começou a impor a sua própria vontade e deixou de obedecer ao Senhor.
Não lemos que ele tivesse pedido novamente a ajuda do Senhor. Ele perdeu o
poder e travou suas batalhas posteriores praticamente por conta própria.
Como é trágico quando um líder cristão, como Sansão, tendo
conhecido períodos especiais de capacitação em que o Espírito veio sobre ele
"em poder", passa depois a confiar mais em seus próprios
"conhecimentos", suas empreitadas e suas habilidades administrativas
do que no Senhor. Paulo compreendeu que era mais forte quando tinha consciência
das suas fraquezas e se colocava sob a mão de Deus (2 Co 12:10). Jesus disse a
ele: "O poder se aperfeiçoa na fraqueza" (v. 9).
O Espírito Santo deu poder a Davi para o seu desempenho.
"Daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apossou de Davi" (1 Sm
16:13). A capacitação pelo Espírito tornou-se uma experiência repetida na vida
de Davi. A mão de Deus estava continuamente sobre ele, a fim de que cumprisse a
vontade de Deus. O líder cristão tem todo o direito espiritual de pedir e
receber doações repetidas e o toque de Deus que dá poder.
Deus tocou você com o Seu poder? Essa é a maneira de Ele
mostrar o que Lhe agrada fazer a seu favor sempre que precisar. Embora não lhe
caiba ditar como Deus deve manifestar Seu auxílio, você tem todo o direito de
pedir e, pela fé, apropriar-se de dons divinos especiais em seu ministério e em
horas de grande necessidade.
É dito que o Espírito de Deus "revestiu" Gideão (Jz
6:34), "entrou em" Amasai (1 Cr 12:18) e "apoderou-se" de
Zacarias (2 Cr 24:20). Isto sugere um envolvimento poderoso com o Espírito
Santo, ser envolto completamente pela presença e poder de Deus. Sugere não
apenas um toque momentâneo de poder, mas um envolver permanente no Espírito,
pelo menos até que o ministério particular ou a tarefa dada por Deus seja
completada.
Como líderes cristãos escolhidos por Deus, temos todo o
direito de experimentar o envolvente Espírito de Deus. Desde que nosso papel
seja o de satisfazer uma necessidade especial e particular, guiar o povo de
Deus, ensiná-lo, encorajá-lo ou repreendê-lo, é nosso privilégio sermos
revestidos pela doação santa do Seu Espírito e Seu poder. Esse poder pode ser
nosso por meio da oração e da fé.
Miquéias testemunhou: "Eu, porém, estou cheio do poder do
Espírito do Senhor, cheio de juízo e de força (coragem, heroísmo), para
declarar... a Israel o seu pecado" (Mq 3:8). Mesmo antes da vinda do
Espírito no Pentecostes para encher o povo de Deus, Miquéias recebeu o poder do
Espírito Santo. Nossa falta de verdadeira coragem profética, fidelidade e
sinceridade na proclamação da verdade de Deus, quer no púlpito quer em
aconselhamento particular, deve-se a não estarmos cheios do Espírito como Deus
espera que estejamos?
Nosso serviço para o Senhor é diferente hoje, mas o mesmo
poder está à nossa disposição segundo as nossas necessidades. O poder de Deus
está tão disponível para a nossa geração como para quem quer que já tivesse
vivido antes. Este continua sendo o dia da graça de Deus. Continua sendo a
dispensação do Espírito e do Seu poder. Deus não mudou. Somos nós que falhamos
em apropriar-nos desse poder. Peça a Deus, hoje, para revesti-lo com o Seu
poder!
Capítulo 5
A Mão do Senhor sobre Você
"A mão do Senhor" é um termo freqüentemente usado
no Antigo Testamento para expressar o Espírito de Deus repousando sobre uma
pessoa, quer em graça quer em poder. Quando Deus deu a Esdras a visão e o fardo
por Jerusalém, ele foi a Artaxerxes com os seus pedidos e afirmou que
"segundo a boa mão do Senhor seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe
concedeu tudo quanto lhe pedira" (Ed 7:6).
Esdras tinha consciência da mão graciosa de Deus sobre a sua
vida. Em dois capítulos ele se refere a ela cinco vezes. Ele disse a
Artaxerxes: "A boa mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam" (Ed
8:22). A seguir, ele chamou o povo para orar e jejuar, pedindo uma jornada
segura. A longa e perigosa viagem da Mesopotâmia a Jerusalém foi completada a
salvo, embora a caravana levasse enormes quantidades de ouro e prata e não
tivesse proteção armada. "A boa mão do nosso Deus estava sobre nós, e
livrou-nos..." (Ed 8:31).
Nós também podemos sentir perfeitamente a mão graciosa de
Deus repousando sobre a nossa liderança e o nosso povo. Essa deve ser a nossa
experiência repetida nesta díspensação do Novo Testamento. Deus está desejoso
por ter misericórdia de nós (Is 30:18). "Certamente se compadecerá de ti,
à voz do teu clamor", acrescentou Isaías (v,19). Em geral, não precisamos
ter períodos áridos e extensos em nosso ministério, com a mínima evidência da
presença de Deus conosco e do Seu uso da nossa pessoa para a Sua glória.
Podemos e devemos experimentar freqüentemente a capacitação
dada por Deus, assim como o Seu reconforto e produtividade. Muitas vezes, como
Jacó, podemos ter a plena compreensão só depois do evento.
"Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia" (Gn 28:16).
Não devemos exigir manifestações sobrenaturais
para saber que estamos na vontade de Deus. Não obstante, Ele constantemente
revelou-se como o Deus do sobrenatural. Deus é com freqüência glorificado
quando Ele dá indicações especiais e visíveis do Seu favor e bênção. Nas terras
não-cristãs isso é muitas vezes necessário para confirmar a realidade de Cristo
como o Deus vivo e do Seu evangelho como "o poder de Deus para a
salvação". Isso talvez esteja-se tornando cada vez mais importante em
nossa sociedade cética e secular.
Neemias deu um testemunho parecido. "E lhes declarei
como a boa mão do meu Deus estivera comigo" (Ne 2:18). Isto
imediatamente motivou todos os outros a se juntarem a ele na tarefa para a qual
Deus os chamara (v.18). Talvez não haja nada mais eficaz para unir um grupo na
fé e no amor em redor de um líder. As pessoas com discernimento espiritual
notam rapidamente a evidência da bênção ou a falta dela. Devido à mão poderosa
e graciosa de Deus sobre você, as pessoas que em oração e colaboração são
essenciais para os aspectos espirituais da sua liderança são mais confirmadas
em sua lealdade a você. Elas se mostram diligentes em seguir a sua liderança. O
povo de Deus precisa ver Deus em você e usando você.
Quando a mão do Senhor veio sobre Elias, a força
dele aumentou de maneira sobre-humana (1 Rs 18:46). No serviço do Senhor,
podemos receber um toque divino que nos renova e refresca espiritual, mental e
fisicamente. O toque de Deus beneficia todo o nosso ser (Is 40:31).
Ezequiel é o profeta que fala mais a respeito da
mão de Deus sobre ele. A primeira vez foi no início do seu ministério
registrado nas Escrituras. A palavra do Senhor veio a ele, a mão do Senhor
estava sobre ele, e ele teve uma visão dos querubins. O relato do seu chamado
extraordinário ocupa o livro de Ezequiel 1:1 a 3:15.
Por oito vezes Ezequiel conta que a mão do Senhor estava
sobre ele. Sete vezes ele fala como o Espírito o levantou ou o pôs de pé. Vinte
e quatro vezes ele conta como o Espírito o "guiou", o
"tomou" ou o "trouxe". Várias dessas experiências faziam
parte de uma visão. O importante é que Ezequiel tinha consciência de que Deus o
estava tocando, guiando, usando e falando com ele. Ele conheceu a mão de Deus
em seu ministério, o qual não teria sido o mesmo sem ela.
É possível termos tamanha consciência da mão de Deus sobre
nós? Deus pretende que o Seu toque consciente faça parte de nossa experiência
de liderança? É possível que não usemos hoje esta forma vivida de falar; mas a
realidade por trás dela está disponível hoje? Você deveria, de tempos em
tempos, ter plena consciência da mão de Deus sobre você enquanto lidera e
ministra?
Lucas nos conta que a mão de Deus estava evidentemente com
João Batista desde a sua infância (Lc 1:66), a ponto de as pessoas notarem
isso. Como resultado da presença de Deus com os primeiros cristãos, ''muitos,
crendo, se converteram ao Senhor" (At 11:21). A nossa falta de resultados
espirituais visíveis é resultado da falta da mão de Deus sobre a nossa vida e
ministério?
Até que ponto devemos experimentar algo como o que a
Escritura descreve na frase hebraica: "a mão do Senhor"? Essa é outra
tentativa de Deus para impressionar-nos com a disponibilidade do Seu poder para
nós e para a nossa liderança.
Trata-se de uma ênfase totalmente bíblica. Não corremos o
risco de levar isso a extremos fanáticos. O perigo maior é que permaneçamos
satisfeitos em trabalhar e ministrar num nível quase totalmente humano. Você já
notou a diferença entre uma parte da Bíblia lida com ou sem a mão de Deus sobre
o leitor? A diferença entre um solo cantado belíssimamente com simples
habilidade humana e qualidade de desempenho e outro cantado com a mão do Senhor
sobre o cantor?
Por que algumas mensagens parecem tão sem vida, tão
desalentadoras, assemelhando-se tanto a uma preleção secular? Uma razão, sem
dúvida, é que o orador não recebeu a sua mensagem do Senhor. Outra razão pode
ser que o mensageiro não crê realmente na mensagem. Mas você já notou a
diferença entre um sermão entregue com um tom de fé e entusiasmo e outro
semelhante, quando a mão do Senhor está sobre o orador?
Deus quer que tenhamos novamente a experiência da mão dEle
sobre nós, acrescentando a Sua dimensão divina sobre o que possuímos de melhor
em termos humanos. Deus quer que aprendamos uma nova dependência da Sua
capacitação, Sua presença e Seu poder. Talvez prefiramos descrevê-la em termos
mais modernos. Mas existe uma dimensão divina de realidade espiritual que Deus
tem disponível e que Ele anseia acrescentar à nossa liderança.
Toda a nossa cultura e o espírito da nossa era tendem a nos
tornar mais auto-suficientes do que dependentes de Deus. Fazemos grande parte
do nosso serviço cristão com bem pouca percepção de Deus. Se quisermos
resplandecer para Deus, precisamos cultivar nova dependência de Deus,
consciência de Deus e vida saturada de Deus. O líder, homem ou mulher
de Deus, deve ter uma nova dimensão do envolvimento dEle na sua liderança.
Devemos tornar-nos vivos para Deus e para todas as Suas santas influências e
capacitações. Deus deve tornar-se o todo essencial para nós.
Capítulo 6
O Poder Absoluto
''Vós sois testemunhas... permanecei, pois, na cidade, até
que do alto sejais revestidos de poder" (Lc 24:48-49). Isto foi dito por
Jesus a um grupo grande de discípulos. A ordem é clara. Não estamos prontos
para o testemunho, serviço ou liderança cristãos, até estarmos revestidos com o
poder do Espírito conforme prometido. Houve uma tremenda diferença no
ministério dos discípulos antes e depois de o poder tê-los envolvido e
revestido. Jesus lhes dissera que o Espírito já estava com eles como Seus discípulos
(Jo 14:17). Quem não tem o Espírito Santo não pertence a Cristo (Rm 8:9).
Existe, no entanto, uma enorme diferença entre ser um
discípulo habitado interiormente pelo Espírito e ser revestido do Espírito,
cheio do Espírito e capacitado pelo Espírito. O Espírito deve penetrar e
possuir todo o nosso ser. Ele deve controlar-nos com toda a Sua soberania. Ele
deve permear a nossa personalidade. Ele deve acrescentar uma dimensão de poder
sobrenatural. Não basta dizermos que desde o Pentecostes todo cristão tem o
poder do Espírito. A pergunta é: "Você e eu estamos apropriando-nos
plenamente do poder à nossa disposição?".
James Hervey, um dos ministros associados de John Wesley,
descreve nestas palavras a diferença que o Espírito fez na vida de Wesley:
"Enquanto a sua pregação fora antes como o disparar de uma flecha, com
toda a velocidade e ímpeto dependentes da força do seu braço ao curvar o arco,
agora ela era como uma bala de rifle, toda a força dependendo do poder e
precisando apenas de um toque do dedo para descarregar".
Você não deve servir simplesmente por amor
a Cristo. Você deve servir na autoridade de Cristo, com a sua pessoa dedicada a
Cristo. Você deve ser infundido com poder do alto, coberto pelo sobrenatural,
completamente saturado do poder santo e dinâmico de Deus (1 Ts 5:23).
Este não é um poder que chameja, crepita e
arqueia espetacularmente à medida que você se estende e toca as necessidades.
Não é um atalho divino para os milagres instantâneos. Não é uma sobreposição à
autoridade do Espírito, de maneira que você possa decidir realizar um milagre,
curar enfermos, ou manifestar qualquer outro dom ou demonstração do Espírito.
Não é um poder sob o seu controle. Você não usa o poder do Espírito, é o
Espírito que usa você enquanto opera em poder. Não estou querendo estimular o
que é sensacional. O poder sempre faz uma diferença dinâmica, mas não é
necessariamente espetacular.
A pessoa revestida com poder do alto, embora ainda um filho
dependente de Deus, está capacitada a viver e servir num novo
nível de eficácia dada pelo Espírito. Não é a eficácia da pessoa, mas a
eficácia de Deus operando através dela. É o revestimento divino, invadindo e
capacitando o humano, desde que o indivíduo sirva em total dependência da
Pessoa divina, em total obediência à orientação divina e em total apropriação
da provisão divina.
O mistério sagrado da capacitação divina é
ser todo de Deus, em você e através de você, mas depende sempre da colaboração
obediente da sua vida rendida a Deus. Deus não força a Si mesmo sobre você. Ele
não viola a sua vontade. Ele não manipula você. Satanás manipula, os seres
invisíveis manipulam. Deus opera em e através de você.
Deus não manifesta automaticamente a Sua presença em nós e o
Seu poder através de nós só porque aceitamos Cristo como nosso Salvador. Ele
habita em nós a partir do momento em que nascemos do Espírito. Mas habitação
interior e manifestação são duas coisas diferentes. Deus decide quando
manifestar-se. Devemos preparar o caminho do Senhor, permanecendo puros,
obedientes, conscientemente dependentes dEle e ansiando por Sua presença e
poder manifestos. Isto acontece com você?
Paulo estava consciente da sua total dependência do poder de
Deus. Ele sabia que o poder de Deus deveria saturar a sua mensagem, a fim de
que a fé possuída pelos convertidos se apoiasse nesse poder. "A minha
palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não
se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus" (1 Co 2:4-5).
Você está mais preocupado em escolher palavras sábias e
persuasivas para as suas mensagens, seus ensinamentos ou seus conselhos, do que
em assegurar "a demonstração do Espírito e de poder"? O que você
entende com essa frase bíblica? Até que ponto essa demonstração do ''poder do
Espírito" tem sido a maior preocupação e experiência no seu ministério no
ano que passou? Que providências você tomou para experimentar esta capacitação
divina?
O Dr. Martyn Lloyd-Jones insiste: "Se não houver poder,
não existe pregação. A verdadeira pregação é, em análise final, a atuação de
Deus. Não é apenas um homem pronunciando palavras; é Deus fazendo uso dele. Ele
está sob a influência do Espírito Santo. É o que Paulo chama, em 1 Coríntios 2,
'pregação em demonstração do Espírito e de poder'; ou, como ele coloca em 1
Tessalonicenses 1:5, 'o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em
palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena convicção'
". (1)
Paulo afirmou que o seu ministério baseava-se em duas coisas
— a graça de Deus e o poder de Deus. "...por meio do evangelho. Do qual
fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus, a mim concedida,
segundo a força operante do seu poder" (Ef 3:6-7). Tanto o seu chamado
para o ministério como o seu ministério diário e contínuo eram realizados
através da energia e dotação de Deus "que opera eficientemente em
mim" (Cl 1:29).
Paulo estava sempre consciente do imenso poder de Deus
operando nele e através dele. Teria sido inconcebível para ele trabalhar para
Deus sem esse poder. A operação de Deus nele e através dele era muito mais
importante do que o seu trabalho para Deus. Ele trabalhava incansavelmente
porque Deus operava mui poderosamente nele. Para Paulo, o trabalho externo
dependia do trabalho interno de Deus. Ele só podia fazer para Deus aquilo que
Deus fazia nele e através dele. Não existe outro caminho para o ministério
eficaz. Somos tolos ao pensar que treinamento, habilidade e experiência
constituem uma alternativa para o poder de Deus. Não existe alternativa.
O poder de Deus não nos torna passivos. Longe disso! O
imenso poder de Deus foi a razão de Paulo trabalhar dia e noite com uma
intensidade à qual se referiu como esforço. "... me afadigo, esforçando-me
o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim" (Cl
1:29). O termo grego é agonizomai. E a palavra usada
para os competidores nas Olimpíadas gregas. Pode ser traduzido como
"lutar, travar forte conflito, combater, esticar cada nervo para alcançar
um objeto". A idéia envolve trabalho, perseverança e o máximo de esforço.
O poder de Deus não opera quando Paulo permanece
passivo. Paulo trabalha para ganhar todos os que puder para Cristo e para
apresentar "todo homem perfeito em Cristo" (v. 28). É para isso que ele
se esforça, agoniza, luta, exerce seu máximo esforço "com toda a eficácia (de
Cristo) que opera eficientemente em mim (nele)". Ele imediatamente
acrescenta: "Gostaria, pois, que saibais quão grande luta venho mantendo
por vós", que grande agonia por causa deles. Esta é a única maneira de
assegurar resultados segundo o Novo Testamento. Devemos fazer o melhor de nós.
Deus merece o melhor de nós. Mas devemos ser revestidos, cheios e saturados com
o poder do alto. Devemos ser vencidos pela energia divina derramada sobre nós e
operando através de nós.
Oh, meus co-líderes cristãos! Precisamos de um novo
banho, de um novo derramar do Espírito sobre nós. Precisamos novamente que o
poder de Deus desça sobre nós, entre em nós, nos permeie e nos encha, até
podermos dizer sinceramente sobre a nossa vida: "Não eu, mas Cristo",
e sobre o nosso ministério: "Não eu, mas o Espírito de Deus".
Não nos envergonhemos de confessar a
atuação dEle. O testemunho humilde, o reconhecimento desprendido da operação de
Deus glorificam a Deus. Mas, no momento em que nos gabamos, tocamos a glória de
Deus com nossas mãos indignas, ou nos tornamos autoconfiantes e tomamos como
certo o poder de Deus — a partir desse momento Deus irá retirar a Sua mão e
deixar que trabalhemos inteiramente por nossa própria conta.
De fato, após um período da operação poderosa de Deus, em
sua sabedoria soberana, Ele pode agradar-se em permitir que trabalhemos por
algum tempo sem a consciência intensa da Sua presença. Nunca chegamos a um
ponto no qual deixamos de viver e trabalhar pela fé.
Algumas vezes Deus opera com grande poder, sem que
percebamos. Deus opera muitas vezes silenciosamente no coração e na vida das
pessoas enquanto a Sua graça preventiva as prepara para o Seu grande dia de
salvação, reavivamento e vitória. Devemos perseverar em oração, total
obediência e total dependência de Deus nestes tempos de espera. Deus não nos
esqueceu ou às suas metas divinamente escolhidas. Ele está reunindo os seus
recursos. Está organizando os seus preparativos absolutos para o grande dia de
poder e triunfo, em direção ao qual ele está-nos guiando.
Não exija uma grande sensação do poder de Deus em operação,
mas espere várias e repetidas ocasiões graciosas em que Deus tornará você
abençoadamente sensível à Sua presença santa e ao trabalho silencioso ou
visível do Seu poder. O poder de Deus é absoluto. A sua percepção dele não é
absoluta. Mas se você quase nunca toma conhecimento do Seu poder atuante, está
na hora de analisar seu coração.
Se você perceber que o Espírito poderoso de Deus o pressiona
fortemente para orar, guiando-o em oração e adicionando o Seu poder e
autoridade à sua oração, saiba então que o Seu poder está revestindo você,
embora não veja o poderoso resultado das Suas respostas à sua oração.
Satanás parece às vezes capaz de lançar uma sombra escura
sobre você, enquanto ora e tenta ministrar para Deus. Ele parece bloquear por
algum tempo toda percepção da presença e poder de Deus da sua parte.
É essa a sua experiência hoje? Não se alarme com esses
momentos. Fique firme e ore; continue trabalhando em total dependência do poder
de Deus, mesmo quando não puder vê-lo ou senti-lo em operação.
Da mesma forma que sentiu a presença e o poder de Deus no
passado, irá senti-los de novo. Você está em meio a um conflito com os poderes
das trevas. A sua experiência não é única. Os santos mais excelentes de Deus
tiveram às vezes dias, semanas e até meses de trevas como essas. Mas a resposta
de Deus sempre reaparece. Não tente sair do trem enquanto ele atravessa o
túnel. Você está ainda a caminho da grande vitória de Deus. Fique firme, e o
poder de Deus será novamente revelado.
Capítulo 7
É Preciso Poder para Estender o Reino
O reino de Deus, dos céus, do Messias, é um grande tema
bíblico proclamado pelo profetas do Antigo Testamento e mencionado
repetidamente por Cristo nos evangelhos. Deus é o nosso Rei e Soberano. O Seu
reino em nosso coração e no mundo, hoje e até a volta de Cristo, é um reino de
salvação. Ele é edificado através de mãos humanas, mas não por mãos humanas. Ele
é edificado pelo poder de Deus operando através do ministério conjunto do
Espírito Santo e das pessoas cheias do Espírito.
"O reino de Deus jamais indica uma ação empreendida por
homens ou um reino estabelecido por eles... o reino é um ato divino e não uma
realização humana, nem sequer um empreendimento de cristãos dedicados." (1)
O poder do reino opera nos e através dos representantes de Deus. Mas o poder
não é o poder deles; é o poder de Deus. Cristo dá aos que são Seus as chaves do
reino, que serão usadas para ligar e desligar através da oração e obediência (Mt
16:19; 18:18-20). Mas o poder das chaves permanece o poder de Deus e só pode
ser usado mediante orientação e capacitação do Espírito.
O poder do reino estava presente no ministério de Jesus e no
de Seus seguidores. De fato, ele pode estar presente no seu ministério hoje.
Mas o poder não é seu. Ele continuará a ser dado e manifestado através de você
apenas enquanto Deus o tornar operativo e evidente.
Nossos melhores esforços, por si mesmos, não edificam nem
fazem avançar o reino. Os esforços cristãos não são suficientes. Até mesmo os
melhores empreendimentos dos que estão cheios do Espírito serão
totalmente inadequados. Nada menos do que a orientação, capacitação e uso dos
indivíduos cheios do Espírito, pelo Espírito Santo, pode estender o reino de
Cristo em qualquer coração ou qualquer grupo. A extensão em que Deus pode usar
a influência, testemunho e serviço de um povo santo é governada pela extensão
em que Ele o capacita soberanamente e opera através dele.
Pureza e poder são duas coisas intimamente associadas,
mas não são idênticas. Precisamos de ambas. Deus quer as duas para nós. Elas
são essenciais em nossa vida. São ainda mais essenciais em nosso serviço. A
pureza pode ser bela e positiva ou ser largamente negativa. A pureza pode ser
retida; o poder deve ser renovado. A pureza, na forma de bondade positiva e
justiça, é o resultado do poder para sermos o que Deus quer que sejamos. Deus
quer dar-nos o poder do Espírito, para sermos e fazermos o que Ele nos chamou
para sermos e fazermos. A pureza pertence à vida, o poder especialmente ao
serviço.
A medida espiritual dos líderes cristãos é a
plenitude do Espírito e sua dádiva de poder. A oratória, a eficácia no
transmitir e o bem-falar são bons, mas não bastam. O conteúdo, a ortodoxia e a
verdade bíblica sólida são essenciais, mas não bastam. Personalidade, graça no
falar e ação são importantes, mas não bastam. O poder do Senhor precisa estar
sobre essas coisas. Todas essas qualidades podem existir no nível humano. O
reino precisa ser construído, progredir e manifestar-se pela capacitação divina
no homem. Deve ser Deus operando através de nós.
Quando algumas pessoas de Corinto começaram
a criticar e julgar Paulo e seu ministério, o apóstolo não se preocupou muito,
ele considerava Deus o seu juiz (1 Co 4:4). Só Deus conhece a medida do Seu
poder operando em nós. Paulo torna isso muito claro: "Porque o reino de
Deus consiste, não em palavra, mas em poder" (v. 20). Paulo disse que iria
a Corinto verificar tanto as palavras como o poder daqueles que estavam criando
confusão. A verdade é essencial, mas no serviço de Cristo deve ser verdade
chamejante. A verdade sem poder não realiza a vontade ou a obra de Deus. Ela só
pode desanimar ou ofender.
Pela presença ou ausência do poder de Deus em suas vidas e
ministério, Paulo queria que os coríntios avaliassem as credenciais dos líderes
cristãos que se achavam entre eles. Você teria passado pelo escrutínio e
inspeção de Paulo? Em 2 Coríntios 6, Paulo deu uma lista das muitas maneiras em
que ele se considerava um servo de Deus. O importante entre eles era o
ministério "no Espírito" e "no poder de Deus" (vv. 6-7).
Paulo lembrou a igreja de Tessalônica: "Porque o nosso
evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no
Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso
procedimento entre vós, e por amor de vós" (1 Ts 1:5). O apóstolo tinha
profunda consciência de que o poder de Deus estava atuando. O líder cristão
percebe geralmente quando o poder de Deus se encontra especialmente presente.
Você sente isto muitas vezes em seu ministério? Para Paulo essa era uma coisa
normal.
Leon Morris falou a verdade quando disse: "Quando o
evangelho é fielmente proclamado há poder. Não simplesmente exortação, mas
poder". (2) Paulo sabia que a fé construída só sobre palavras, isto é,
apenas a mensagem, pode ser tentada a vacilar. Esta é a razão de ele ter
lembrado aos coríntios que tanto a sua mensagem como a sua maneira de falar
"demonstravam" o poder do Espírito (1 Co 2:4), e, dessa forma, a fé
que eles tinham podia apoiar-se nessa demonstração de poder que dava mais força
ao conteúdo das suas palavras. O termo grego traduzido "demonstração"
sugere evidência ou prova. "Era um termo técnico para uma conclusão
obrigatória extraída das premissas". (3) O poder de Deus evidenciava-se
tanto na mensagem de Paulo que os Coríntios foram obrigados a concluir que a
sua mensagem e ele, como mensageiro, haviam sido enviados por Deus. O poder
confirma a verdade. Não ousamos depender apenas da verdade; devemos ministrar a
verdade ardendo com o poder de Deus.
Este poder para Paulo era absoluto, tão característico do
seu ministério, que ele estava disposto a pagar qualquer preço para que o poder
de Cristo pudesse repousar nele. Era como se Paulo ficasse gritando para Deus:
"Oh, mais do Seu poder sobre mim; oh, que mais do Seu poder se manifeste
através de mim!". Paulo já conhecia tanto o poder do Espírito que, para
ele, este era o sinal de que se achava dentro da vontade de Deus. As visões e
revelações não tinham tanta importância para ele. Foi com relutância que
testemunhou a respeito desses tratos preciosos e secretos de Deus com ele (2 Co
12).
Não, o que Paulo quer é mais do poder permanente de Cristo
comunicado através do Espírito. O que ele deseja não é uma experiência
ocasional no pico da montanha. Ele almeja a experiência contínua do poder de
Deus, todos os dias de sua vida e ministério. Ele tem sede, anseia por isso e
está disposto a pagar qualquer preço para que esse poder possa permanecer nele
dia após dia.
"Para que sobre mim repouse o poder de Cristo" (2
Co 12:9) é o clamor do seu coração. Cristo prometera poder quando o
Espírito Santo descesse sobre os discípulos (At 1:8). Paulo experimentara repetidamente
esse poder. Ele se tornara uma característica do seu ministério. Deu testemunho
dele várias vezes. Ele queria que esse poder "repousasse" sobre ele.
A palavra grega significa "habitar, proteger". Assim como Cristo veio
e habitou entre nós durante a sua encarnação (Jo 1:14, onde é usada a mesma
palavra grega), a maior ambição de Paulo no ministério é ter o poder de
proteção de Cristo sobre ele. Ele quer viver dia a dia nessa atmosfera de
poder.
A maioria dos comentaristas reconhece neste grito do coração
uma referência à glória-Shekinah de Deus que estava sobre a tenda no deserto,
que entrou na tenda e cobriu a arca da aliança que ali se encontrava. Mais
tarde, ele entrou no templo e "habitou" sobre a arca no Santo dos
Santos no templo. Da mesma maneira que a Shekinah cobriu a arca, Paulo queria
que o poder de Cristo o cobrisse, o protegesse e repousasse continuamente sobre
ele.
Jesus lhe dissera que tal poder "se aperfeiçoa
na fraqueza" (2 Co 12:9). A fraqueza não cria poder. Mas a fraqueza nos
impele ainda mais para Deus, a fonte de todo poder divino. Quando reconhecemos
quão fracos e insuficientes somos, invocamos Deus, achegamo-nos a Deus e
fazemos disto o grito constante do nosso coração.
Quando, mediante revelação, Paulo reconheceu
que o seu espinho na carne (v.7), todas as outras oposições, perigos e
sofrimentos durante os anos de serviço incansável para Cristo (2 Co 11:23-30)
serviram para aproximá-lo mais de Deus e para fazê-lo depender constantemente
de Deus, o apóstolo exclamou: "Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo.
Porque quando sou fraco, então é que sou forte" (2 Co 12:10).
Por amor a Cristo, pela experiência contínua do Seu
poder, Sua glória-Shekinah permanecendo sobre mim, repousando sobre mim,
aceitarei qualquer sofrimento, diz Paulo. Estou completamente satisfeito, de
fato, rejubilo-me em tudo que faz aumentar o poder de Cristo sobre mim. Este
não é o grito de um fanático oferecendo-se para o martírio. É o clamor do
principal apóstolo da igreja que experimentou tanto do poder de Deus que ele
considera tudo como nada, se puder apenas experimentar constantemente mais
desse poder.
Até que ponto é importante para você possuir o poder de
Cristo? Sim, mais e mais do poder protegendo, repousando, permanecendo sobre
você? O que você experimentou deste poder santo? Não visões, milagres, dons ou
manifestações — mas o poder silencioso, que tudo invade, o poder culminante de
Cristo sobre você? Cheio desse poder, energizado por esse poder, revestido com
esse poder, dotado para o seu ministério por esse poder! Esse poder é o
Espírito; esse poder é o próprio Cristo (1 Co 1:24) manifestado através do
Espírito (1 Pe 1:11). Esse poder pode ser alcançado hoje?
Capítulo 8
O Poder de Deus no Ministério de John Wesley
John Wesley (1703-91), o evangelista do coração ardente, é
alguém cujo ministério foi repetidamente caracterizado pelo poder do Espírito
Santo. A história da sua conversão é bem conhecida. O ambiente piedoso do seu lar
na primeira infância, sua intenção através da juventude no sentido de
disciplinar metodicamente o seu corpo para uma vida santa, sua promoção no
Clube dos Santos em Oxford, sua experiência missionária de dois anos na América
do Norte e sua profunda piedade, mas falta de certeza da salvação — são
freqüentemente citados.
A seguir veio o seu novo nascimento, transformador de vida,
em 24 de maio de 1738, quando este ministro profundamente dedicado encontrou
Cristo durante a leitura de uma passagem de Martinho Lutero. Wesley contou que
seu coração sentiu-se "estranhamente aquecido", e a partir desse dia
ele se tornou o proclamador do glorioso testemunho do Espírito na salvação.
Qual foi o segredo do seu prodigioso ministério a partir
desse dia? Historiadores seculares respeitados disseram que através do
ministério de John Wesley, seus colaboradores e convertidos, assim como o do
grande despertamento resultante em toda a Inglaterra, a nação foi salva do
banho de sangue que caracterizara a Revolução Francesa, iniciada dois anos
antes da morte de Wesley. Robert Southey acrescentou que Wesley fora "a
mente de maior influência" do seu século, cuja vida influenciaria a
civilização durante "séculos ou talvez milênios", caso a raça humana
durasse tanto!
Um nobre inglês, passando por um povoado em Cornwall, na
Inglaterra, depois de procurar em vão um lugar onde comprar bebida alcoólica,
perguntou a um camponês: "Como é que eu não posso comprar um copo de
bebida nesta triste aldeia?". O velho, reconhecendo a posição do estrangeiro,
tirou respeitosamente o chapéu e curvou-se, dizendo: "Senhor, há cerca de
cem anos um homem chamado John Wesley passou por aqui". O camponês então
virou-se e foi embora.
Durante 53 anos de um ministério incansável, Wesley chamou a
si mesmo de "homem de um livro só" — a Bíblia. Ele escreveu, todavia,
mais de 200 livros, editou uma revista, compilou dicionários em quatro línguas
— tudo escrito a mão. Ele percorreu a Inglaterra a cavalo, num total de 250.000
milhas. Durante anos, fez uma média de 20 milhas diárias e muitas vezes andava
50 a 60 e até mais milhas por dia, parando para pregar ao longo do caminho. Ele
pregou 40.000 sermões — raramente menos que dois por dia e às vezes sete, oito
ou até mais.
Aos 83 anos queixou-se de que não podia ler nem
escrever mais de 15 horas por dia sem que os olhos doessem. Lamentou não poder
pregar mais que duas vezes por dia, e confessou sua crescente tendência de
permanecer na cama até as 5.30 da manhã. Aos 86 continuava levantando-se nessa
hora para orar.
Qual o segredo da sua tremenda energia ou, mais ainda, o
segredo do selo continuado de Deus sobre o seu ministério? As anotações da sua
agenda nos dias 3 e 15 de outubro de 1738 evidenciam os seus anseios por uma
experiência mais profunda. Os historiadores apontam para uma ocasião, seis
meses depois do seu novo nascimento. Ouçam as palavras dele, escritas no
diário: "Segunda-feira, 1º de janeiro de 1739. Os srs. Hall, Kinchin,
Ingham, Whitefield, Hutchins e meu irmão Charles estiveram presentes à nossa festa
de confraternização em Fetter-lane, com cerca de 60 de nossos irmãos. Às três
da manhã aproximadamente, enquanto continuávamos em oração, o poder de Deus
veio poderosamente sobre nós, a ponto de muitos clamarem por júbilo e outros
tantos caírem no chão. Tão logo nos recobramos um pouco desse temor e surpresa
com a presença de Sua majestade, falamos todos juntos: 'Te louvamos, ó Deus,
reconhecemos que Tu és o Senhor'".
O relato nos faz lembrar, de certo modo, da experiência dos
apóstolos em Atos 4:23-31. O derramamento do Espírito sobre essa reunião das
várias sociedades metodistas parece ter sido um ponto crítico no ministério de
Wesley. A partir de então ele pregou com extraordinária unção e poder, e essa
pregação resultou em poderosa convicção de pecado no coração das multidões de
pessoas.
Os sermões impressos de Wesley não contêm
ilustrações, que são muitas vezes usadas por Deus hoje para tocar o coração das
pessoas. Nada em suas mensagens parece despertar emoções. Quando as lemos hoje,
podemos perguntar-nos por que eram tão eficazes. Todavia, Deus fez uso delas
para levar milhares ao Senhor. Não era a palavra, mas o poder de Deus na
palavra.
A partir dessa data, Wesley pregou com tanta autoridade e
poder que milhares se renderam ao Senhor. Seus diários, que ele
guardou fielmente no correr dos anos, contam a respeito de indivíduos tomados
subitamente de profunda convicção de pecados dada pelo Espírito Santo. Os
relatos nos fazem lembrar da experiência de Paulo, quando o poder de Deus o
abateu na estrada para Damasco. Sob a pregação de Wesley, as pessoas muitas
vezes gritavam com grande angústia de alma, algumas caindo no chão sob o peso
da mão de Deus enquanto se arrependiam. Dentro de minutos elas passavam a se
rejubilar com a maravilhosa segurança de terem os seus pecados perdoados e uma
profunda percepção da paz de Cristo. As pessoas viam os seus pecados como eles
são aos olhos do nosso Deus santo e clamavam por livramento. Algumas eram
acometidas de tremor diante da temível presença de Deus.
Outras eram tomadas por tremenda convicção
de pecado até três semanas mais tarde. Elas subitamente gritavam como em agonia
mortal, arrependiam-se e em breve se rejubilavam com o perdão dos seus pecados.
Em 21 de abril de 1739, em Weaver's Hall, Bristol, "um jovem foi subitamente
acometido de violento tremor e em poucos minutos, aumentados os sofrimentos do
seu coração, ele caiu prostrado". Em breve alcançou paz.
Em 25 de abril, enquanto Wesley pregava, "imediatamente
um, depois outro, e outro caíram no chão; eles caíam em toda parte,
como atingidos por um raio". Parecia ser quase uma repetição da
experiência de Paulo em Damasco. As pessoas eram sempre tomadas por uma
revelação terrível de Deus e da profundidade do seu pecado. Os críticos que
ficavam a volta eram subitamente acometidos da mesma convicção e convertidos na
mesma hora. Um forte oponente foi repentinamente jogado para fora da cadeira e
prostrou-se invocando a Deus.
Wesley fala de um outro lugar em que o poder de Deus cobriu
a sua pregação: "Um, depois outro, e mais outro foram lançados ao chão,
tremendo excessivamente na presença do Seu poder. Outros gritaram, em voz alta
e amargurada: 'O que devemos fazer para ser salvos?' "
O evangelista foi repetida e violentamente atacado, muitas
vezes perseguido pela multidão e correu risco de vida. Mas Wesley escreveu a
respeito da sua pregação: "O poder de Deus veio sobre a sua palavra; de
maneira que ninguém zombou, ou interrompeu, ou abriu a boca". Em Wapping,
26 pessoas sentiram tamanha convicção de pecado que ''algumas caíram e não lhes
restaram qualquer força, outras tremeram e temeram". Wesley orou para que
nenhum observador se sentisse ofendido com esses acontecimentos. Ele não
encorajava nem tentava fazê-las parar, reconhecendo que era a mão do Senhor.
Com grande liberdade e poder, muitas vezes pregava a grandes
audiências ao ar livre. Mesmo em dias de chuva ou frio cortante, pregava às
multidões. Seus sermões duravam às vezes duas ou três horas. Em 23 de dezembro
de 1744, outra grande unção veio sobre ele enquanto pregava em Snow Fields.
Wesley escreveu: "Encontrei tanta luz e força como não me lembro de ter
tido antes".
Muitas vezes, quando exausto por causa do seu ministério
constante, encontrava novas forças físicas e espirituais ao orar. Em uma dessas
ocasiões, 17 de março de 1740, Wesley conta uma viagem a cavalo quando se
achava cansadíssimo. "Pensei então: 'Deus não pode curar homens e animais
por quaisquer meios, ou sem eles?'. Imediatamente meu cansaço e minha dor de
cabeça passaram, assim como o coxear do meu cavalo."
Citei apenas alguns dos muitos exemplos do poder de Deus
sobre Wesley. Não existe uma explicação humana, exceto a sua vida de oração e
sensação repetida do poder de Deus. Não era nada fingido. Ele não buscava
emoção ou uma demonstração externa. Deus simplesmente revestiu de poder seu
ministério constante.
Capítulo 9
O Poder de Deus no Ministério de Charles G. Finney
Quando ainda jovem estudante de direito, Finney
interessou-se pela Bíblia e comprou um exemplar. Ele ficou muito impressionado
ao ouvir orações na igreja que jamais pareciam ser respondidas. À medida que se
tornava mais e mais preocupado com a sua alma, cristãos se ofereceram para orar
a seu favor, mas ele lhes disse que não via como isso poderia trazer algum bem,
pois eles estavam constantemente pedindo sem receber nada de Deus.
Em outubro de 1821, depois de vários dias de uma crescente e
profunda convicção de pecado por parte do Espírito, Finney teve uma experiência
clara de Cristo pela manhã e foi cheio do Espírito à noite.
Fui poderosamente convertido
na manhã de 10 de outubro de 1821. Nesse mesmo dia, à noite, recebi batismos
poderosos do Espírito Santo, que atravessaram, ao que me parecia, corpo e alma.
Imediatamente me vi dotado de tal poder do alto que algumas palavras ditas aqui
e ali aos indivíduos foram o meio da imediata conversão deles. Minhas palavras
pareciam atingir como flechas farpadas a alma dos homens. Elas cortavam como
uma espada. Quebravam o coração como um martelo. Multidões podem comprovar
isto.
Este poder parece às vezes
invadir a atmosfera daquele que está altamente cheio dele. Inúmeras vezes, um
grande número de pessoas numa comunidade é revestido com esse poder e então toda
a atmosfera do lugar parece estar cheia da vida de Deus. Os estranhos que
entram nela ou passam pelo lugar são
instantaneamente golpeados com a convicção de pecado e em muitas instâncias
convertidos a Cristo.
Quando os cristãos se humilham e consagram todo o seu ser novamente a
Cristo, pedindo pelo Seu poder, em geral recebem um tal batismo que se tornam
instrumentos para converter mais almas em um dia do que em toda a sua vida
anterior. Enquanto os cristãos se mantiverem suficientemente humildes para
reter este poder, o trabalho de conversão continuará, até que comunidades e
regiões inteiras do país se convertam a Cristo. (1)
Na manhã seguinte à vinda do poder sobre
Finney, ou do batismo com o Espírito Santo como ele muitas vezes o chamava,
Deus começou a usá-lo poderosamente. Quase todas as pessoas com quem Finney
falou naquele dia foram tomadas de convicção do pecado e, logo em seguida, ou
mais tarde, encontraram o Senhor. Ele deixou seu escritório de advocacia para
falar com as pessoas sobre a sua salvação. Ganhou um universalista e um
destilador de bebidas naquele dia. As notícias se espalharam pelo povoado e,
embora não tivesse sido anunciada qualquer reunião, a maioria das pessoas se
reuniu na igreja naquela noite. Todos ficaram em silêncio e Finney finalmente
levantou-se e deu seu testemunho. Muitos foram imediatamente convencidos
do pecado. A partir de então, houve uma reunião todas as noites durante algum
tempo e todos, menos um dos antigos companheiros de Finney, e muitos outros
dali e das comunidades vizinhas encontraram o Senhor.
Pouco depois Finney começou a jejuar e a orar e as reuniões
continuaram. Certo dia, quando se aproximava do prédio da igreja, a "luz
perfeitamente inefável" de Deus brilhou tanto em sua alma que ela
quase o fez prostrar. Essa luz parecia mais brilhante do que a do sol ao
meio-dia e o fez lembrar da conversão de Paulo na estrada de Damasco. Muitos
foram salvos, alguns foram curados fisicamente, e Finney aprendeu o que
significava labutar em oração pelos perdidos. Isaías 66:8 foi repetidamente
gravado por Deus em seu coração: "Pois Sião, antes que lhe viessem as dores,
deu à luz seus filhos".
Depois da sua ordenação em 1824, suas primeiras reuniões
regulares foram em Evans Mills, Nova Iorque. Durante várias semanas ele pregou
sem resultado. Em um culto exigiu que os membros da congregação se decidissem a
favor ou contra Cristo, o que os enraiveceu. Finney passou o dia seguinte em
jejum e oração. Naquela noite, um sentimento extraordinário de unção e poder
veio sobre ele e uma onda de convicção varreu o povo. Durante a noite inteira
mandavam chamá-lo para que orasse com eles. Até mesmo ateus endurecidos se
arrependeram e foram salvos.
A partir de então, com poder e resultados crescentes, ele
pregou o evangelho através da América e mais tarde na Inglaterra. Algumas vezes
o poder de Deus caía de tal modo sobre o culto que quase toda a audiência
ficava de joelhos e orava, enquanto alguns se prostravam no chão. Certas vezes
o poder de Deus vinha tão poderosamente sobre ele, que Finney se sentia quase
levantado do solo. Em outras ocasiões parecia que "uma nuvem de glória"
descia sobre ele quando ministrava.
Nas metrópoles e cidades onde ministrava, inúmeras vezes uma
solenidade divina, uma calma consagrada, envolvia o lugar a ponto de mesmo
alguns não-salvos comentarem a respeito. Algumas vezes os não-salvos se sentiam
profundamente convictos dos seus pecados ao entrarem na cidade.
Em uma grande cidade de Nova Iorque, quando Finney pregou
contra o pecado e a incredulidade, dentro de quinze minutos uma impressionante
solenidade vinda de Deus "pareceu descer sobre eles. A congregação começou
a cair dos bancos em todas as direções, gritando por misericórdia. Se eu
tivesse uma espada na mão, não poderia tê-la brandido com a velocidade
necessária enquanto caíam. Quase todos estavam de joelhos ou prostrados".
Em 1826, em Auburn, Nova Iorque, alguns dos professores do
seminário de teologia repudiaram o seu ministério. Eles escreveram aos
ministros nas áreas onde Finney não havia pregado, fazendo com que muitos se
opusessem à sua obra de reavivamento. Espiões foram enviados para tentar
descobrir algo que pudesse ser publicado, a fim de prejudicar a sua influência.
Certo dia Finney estava orando longamente, como costumava
fazer, e Jesus lhe apareceu numa visão. "Ele se aproximou tanto de mim
enquanto orava que minha carne literalmente tremeu. Eu sacudia da cabeça aos
pés sob a sensação da presença de Deus." Finney descreve a experiência
como se estivesse de pé no alto do Monte Sinai, com seus relâmpagos e trovões.
Mas, em lugar de desejar fugir, sentiu-se atraído para mais
perto de Deus. Enquanto a Sua presença o enchia, Finney sentiu "reverência
e tremor", como Daniel (Dn 10:8-11). Deus lhe deu promessas especiais,
assegurando que nenhuma oposição prevaleceria contra ele, e não sentiu nada
senão amor e sentimentos bondosos em relação aos ministros que se lhe opunham.
A sua alma era tão santificada que jamais teve um
sentimento menos bondoso para com os seus opositores.
Deus dava, às vezes, instruções detalhadas a
Finney sobre o que dizer e como abordar indivíduos aparentemente inatingíveis,
e depois o Espírito descia sobre eles em convicção e salvação. Parecia
constantemente guiado ou constrangido no que dizia respeito aos lugares onde
ministrar.
O poder de Deus que vinha sobre as pessoas no ministério
de Finney não era devido à sua presença, mas à presença do Espírito. As pessoas
tocadas por Deus durante um culto muitas vezes continuavam sob a mão poderosa
do Espírito depois de voltarem para casa. Até que houvessem completado o seu
arrependimento, conversão e confissão, achavam praticamente impossível
desempenhar seus deveres diários.
Um conhecido homem de negócios de Auburn se
opunha fortemente à vida cristã da esposa e não a deixou comparecer às reuniões
por alguns dias. Certa noite, antes do culto, ela orou longamente e, ao chegar
o marido, este lhe disse que a levaria à reunião. Queria encontrar coisas para
ridicularizar e criticar.
Finney nada sabia a respeito, mas no início
do culto Deus lhe deu um texto: "Que temos nós contigo?", de Marcos
1:24, ungindo-o com poder especial quando pregou. De repente o homem gritou e
caiu do banco. Finney parou de pregar e foi até ele. O homem havia recuperado
parte de suas forças, estava com a cabeça no colo da esposa e chorava como uma
criança, confessando os seus pecados. As pessoas começaram a chorar em toda a
igreja. Finney encerrou o culto.
O homem teve de ser amparado para chegar em casa. Ele
imediatamente mandou chamar seus antigos companheiros e confessou a eles os
seus pecados, advertindo-os a "fugir da ira vindoura" (Mt 3:7).
Durante vários dias ficou de tal forma dominado pelo poder de Deus que não
conseguia andar, mas continuou chamando pessoas, fazendo confissões e pedindo
perdão, exortando-as a serem salvas. Ele se tornou, com o tempo, um valoroso
presbítero na igreja presbiteriana.
Por outro lado, Deus usou às vezes a presença física de
Finney para levar pessoas a Cristo. O poder de Cristo estava nele, e tamanha
influência para Deus parecia emanar dele que todos eram rapidamente levados a
Cristo. Parecia que a chegada de Finney era de tal forma acompanhada pela
presença do Senhor que os não-salvos sentiam o Espírito de Deus. Até o fim da
sua vida, não só reavivamentos aconteciam onde quer que ele começasse a
trabalhar, mas em geral a salvação chegava às casas das pessoas visitadas por
Finney.
Certa noite eles chegaram a Bolton, na Inglaterra. Seu
anfitrião convidara algumas pessoas para conversar e orar. A sra. Finney notou
uma senhora profundamente comovida e tomando-a pela mão fez um gesto para
Finney se aproximar. Dentro de minutos ela estava-se rejubilando em Cristo, e o
seu rosto se iluminara com a sua nova experiência em Cristo.
Durante o seu ministério em New York Mills, ele visitou uma
fábrica de algodão. Quando chegou perto de uma jovem que tentava emendar um fio
partido, ela se abaixou e rompeu em lágrimas. Outros no salão notaram isso e
começaram a chorar; dentro de minutos, quase todos no grande salão estavam
soluçando.
A convicção do Senhor espalhou-se de sala em sala. O dono da
fábrica deu ordens ao superintendente para encerrar o trabalho. Todos os
trabalhadores foram reunidos num salão maior e Finney falou a eles. O
reavivamento percorreu o prédio com tanta força que em poucos dias quase todos
na fábrica tinham sido convertidos.
Finney foi persuadido a pregar em Roma (Nova Iorque), certo
domingo. No dia seguinte muitas pessoas se reuniram numa casa tão profundamente
comovidas que, depois de alguns comentários, Finney sugeriu que terminassem o
culto. Ele orou "em voz baixa e inexpressiva". As pessoas começaram a
chorar e suspirar. Finney tentou conter a emoção, pedindo que cada um fosse em
silêncio para casa, sem falar com ninguém. Mas eles saíram chorando e
suspirando rua abaixo.
Bem cedo, na manhã seguinte, chegaram chamados de toda a
cidade para que ele visitasse várias casas e orasse pelos profundamente
convictos. Quando ele e o pastor entravam numa casa, os vizinhos corriam para
ela. A manhã inteira foi gasta indo de casa em casa.
A tarde, as pessoas literalmente vieram de todas as direções
para um grande salão de culto. Muitos foram convertidos e a reunião durou até a
meia-noite. Deus operou tão poderosamente que durante vinte dias foi realizada
uma reunião de oração todas as manhãs, outra para interessados todas as tardes,
e um culto de pregação todas as noites.
Três homens zombaram da obra e passaram o dia bebendo, até
que um deles caiu morto. Os dois outros ficaram atônitos. Quase todos os
advogados, mercadores, médicos e outros líderes foram convertidos. De fato,
parecia que toda a população adulta de Roma aceitara Cristo. Em vinte dias,
pelo menos 500 indivíduos foram convertidos. Um pastor disse: "No que diz
respeito à minha congregação, o milênio já chegou".
COMO O PODER FOI MANIFESTADO
1. O poder foi manifestado na convicção
dada pelo Espírito Santo. Através
do ministério de Finney, o poder do Senhor foi manifestado em crescente
convicção de pecado e necessidade espiritual. Embora normalmente se acredite
que tal convicção deveria fazer a pessoa perder o apetite ou o desejo de
dormir, no ministério de Finney os crentes eram ainda mais poderosamente
dominados pelo Espírito. Isto não acontecia mediante o uso consciente da
psicologia ou de qualquer forma de manipulação de emoções. Pelo contrário,
parecia o efeito direto do Espírito sobre as pessoas, geralmente depois de
ouvir Finney falar ou orar.
Em geral, as pessoas perdiam as forças para sentar,
ficar de pé ou até falar em voz alta por algum tempo. Outras vezes elas caíam
ao chão; e outras ainda eram derrubadas subitamente da cadeira. Em certas
ocasiões, homens fortes se tornaram tão fracos que tiveram de ser ajudados por
amigos para irem para casa.
A convicção do Espírito freqüentemente
traspassava as pessoas com dor intensa e remorso pelos seus pecados e
resistência a Deus. Finney descrevia isso geralmente em palavras deste tipo:
"A obra tinha tal poder que até umas poucas palavras faziam os homens mais
fortes contorcerem-se em seus assentos, como se uma espada tivesse atravessado
o seu coração... a dor que ela produzia, quando apresentada em algumas palavras
de conversa penetrante, criava uma perturbação que parecia insuportável".
Enquanto Finney pregava durante alguns meses na Filadélfia,
em 1829, Deus começou a operar entre os madeireiros que transportavam seus
troncos pelo rio Delaware para vendê-los. Muitos tiveram um encontro com Deus e
voltaram rio acima para suas casas, começando a orar pela salvação de outros.
Foram relatados muitos casos de dois ou três cortadores de madeira que viviam
sozinhos em pequenas cabanas e que não haviam ido a nenhuma reunião nem sabiam
quase nada de Deus. Eles eram subitamente convencidos em suas cabanas, saíam e
iam perguntar a outros o que fazer, e depois eram maravilhosamente salvos. Mais
de 5.000 pessoas numa extensão de oitenta milhas foram convertidas desta forma.
2. O poder foi manifestado em tremendos momentos de
oração. Finney foi convertido enquanto orava na mata. Naquela
noite, enquanto estava sentado junto ao fogo, o Espírito batizou-o de forma
poderosa, depois que onda após onda de amor varreu a sua alma.
Em pouco tempo, Finney adquiriu o hábito de levantar-se
muito antes do amanhecer para orar. Algumas vezes outros se juntavam a ele
nesses períodos de oração. Os convertidos se viam freqüentemente levados a orar
com fervor. Mais tarde, em seu ministério, dois ministros puseram de lado todas
as suas atividades e se entregaram à oração durante meses a favor da obra de
Finney.
Como um jovem cristão, Finney tinha tão preciosos momentos
de comunhão com Deus que, disse ele, não podiam ser descritos em palavras. Ele
jejuava freqüentemente; essa prática caracterizou o seu ministério durante toda
a sua vida. O poder de Deus às vezes o levava a sentir tamanho fardo por outros
que ele literalmente gemia profunda e audivelmente. Através de todo o seu
ministério, muitas vezes mencionou sua entrega à oração intensa e ao jejum.
Os novos convertidos passavam muitas vezes por períodos
enormes de oração. Em certas ocasiões oravam noites inteiras até ficarem
fisicamente exaustos com o fardo da salvação dos perdidos. As reuniões de
oração se multiplicavam. Algumas vezes vários convertidos concordavam em oração
pela salvação de um perdido após outro, e viam muitos serem levados ao Senhor.
Finney sentia às vezes um tremendo espírito de urgência e fé
corajosa. Parecia-lhe que fora capacitado a orar sem cessar. Ele testemunhou
que o poder de Deus tomava posse dele, com oração, agonia e fé. Ele falou de
ter sido capacitado a "colocar a couraça para um forte conflito com os
poderes das trevas", para um derramamento do Espírito. Repetidamente
Finney sentiu o poder do Espírito vindo sobre ele, a fim de fazer intercessão.
O EFEITO ABRANGENTE DO MINISTÉRIO DE FINNEY
Por volta de 1830, segundo cálculos do Dr. Henry Ward
Beecher, pelo menos 100.000 pessoas foram convertidas em um ano e se filiaram a
igrejas, através dos reavivamentos relacionados com Finney e de sua influência
na expansão do evangelho. Esta foi provavelmente a maior colheita desde o
Pentecostes.
Em 1849 Deus começou a usar Finney para um reavivamento em
Londres. Em certas ocasiões, de 1.500 a 2.000 pessoas respondiam ao convite
para receber Cristo. Dez anos mais tarde contaram a ele que os convertidos
daqueles anos continuavam firmes.
O maior reavivamento que varreu a América em 1858-59 foi
algumas vezes chamado de reavivamento das reuniões unificadas de oração. O Dr.
Lyman Beecher chamou-o de "o maior reavivamento que o mundo já viu",
com pelo menos 600.000 conversões. Ele foi considerado um resultado direto do
ministério de Finney durante os anos anteriores, embora ele não estivesse, em geral,
presente.
O bispo W. A. Candler afirmou que pelo menos um milhão
de pessoas foram convertidas neste reavivamento. O Dr. J. Edwin Orr,
historiador de reavivamentos cristãos, concorda com o bispo. (2)
A permanência dos resultados do ministério de
Finney foi destacada. Após o reavivamento em Gouverneur, Nova Iorque,foi dito
que durante seis meses não houve danças nem espetáculos teatrais. Uma pesquisa
cuidadosa mostrou que 85% dos convertidos nas reuniões de Finney permaneceram
firmes no Senhor. Até mesmo o ministério de evangelistas como Moody mostrou uma
permanência de apenas 30%. Não existe substituto para o poder do Senhor como o
manifestado na vida e ministério de Finney.
Capítulo 10
O Poder de Deus no Ministério de Duncan Campbell
Meu caro amigo, o Rev. Duncan Campbell, ministro da United
Free Church da Escócia, foi poderosamente usado no reavivamento das Ilhas
Hébridas que começou em dezembro de 1949 e continuou em várias ondas nos anos
sucessivos. Talvez nenhum ministro deste século tenha experimentado tantas
manifestações notáveis do poder do Senhor. Ele não fazia parte do movimento
carismático e não dava ênfase às manifestações de dons. Até o dia de sua morte
em 1972, Duncan permaneceu um humilde profeta de Deus.
Em abril de 1918, sangrando profusamente em virtude de
ferimentos quase fatais em uma das últimas cargas de cavalaria da Primeira
Guerra Mundial, Duncan Campbell foi atirado sobre um cavalo para evacuação e
tratamento. Ele fez a famosa oração de McCheyne: "Senhor, torna-me tão
santo quanto um pecador salvo pode ser". Instantaneamente sentiu o grande
poder de Deus, como um fogo purificador, varrendo todo o seu ser. A presença e
o poder de Deus eram tão reais que ele julgou estar indo para o céu.
Enquanto permanecia deitado numa padiola entre os feridos na
Seção de Emergência, citou, no idioma gaélico das regiões montanhosas da
Escócia, a versão métrica do Salmo 103, tão amado pelos escoceses. Dentro de
minutos a poderosa convicção do Espírito Santo caiu sobre os outros feridos, e
sete canadenses nasceram de novo no mesmo instante. A seguir, um a um começou
a testemunhar. Duncan havia descoberto o segredo do poder sobrenatural do
Espírito Santo. A partir de então e até a sua morte, teve um desejo consumidor
de Deus, do Seu reavivamento e da manifestação do Seu poder.
Quando a guerra terminou e sua recuperação
foi completada, viajou pelos distritos rurais de Argyllshire, visitando de casa
em casa, lendo as Escrituras, testemunhando e orando com as pessoas. Em breve
se juntou a Faith Mission Training Home em Edimburgo para um curso intensivo de
nove meses. Em suas tarefas práticas, começou a ganhar pessoas para Cristo.
Certo dia, antes do início da aula, Duncan levantou-se e testemunhou que Jesus
era o seu melhor amigo. O poder de Deus desceu sobre a classe, os estudantes
caíram de joelhos, os estudos foram esquecidos, e eles oraram durante horas.
Este foi o primeiro indício dos planos de Deus para usar Campbell poderosamente
num reavivamento real.
Depois da formatura, Campbell, com uma equipe da Faith
Mission, começou a pregar em prédios de escolas rurais e igrejas. Deus
derramou o Seu Espírito em poder. Uma professora foi tão tocada por Deus
enquanto andava de bicicleta que teve de ajoelhar-se ao lado da estrada ao
receber salvação. Cerca de 200 pessoas começaram a freqüentar os cultos. Velhos
e jovens eram profundamente convencidos do pecado e se voltavam para Cristo.
Ele teve de enfrentar muita oposição ao começar seu
ministério na Ilha de Skye. Duncan andava pelas estradas à noite, orando pela
ajuda de Deus. Três jovens mulheres receberam um grande fardo de oração e
oraram a noite inteira em sua casa, enquanto Duncan fazia o mesmo num curral.
Na noite seguinte, o poder de Deus caiu sobre as reuniões. As pessoas ficavam
de tal forma dominadas pela convicção do Espírito Santo que gemiam pedindo
misericórdia. A freqüência aumentou e o poder de Deus foi sentido em toda a
comunidade. Famílias inteiras foram convertidas.
Duncan viajou de cidade em cidade, pregando onde podia e
orando com as pessoas ao lado da estrada, nas encostas, nas casas, ou onde quer
que as encontrasse. Os novos convertidos começaram a orar pelos parentes
não-salvos e muitos se converteram. Um deles, voltando da Austrália, foi
convertido antes de chegar à Escócia.
Algumas vezes as pessoas eram tiradas de casa pelo imenso
poder do Espírito e iam aos lugares onde alguns da congregação se achavam
reunidos — até mesmo do lado de fora da delegacia policial. Deus estava tão
presente que as pessoas caíam de joelhos e começavam a orar. Às vezes, durante
os cultos, as pessoas eram obrigadas a curvar-se diante da presença majestosa
de Deus, mediante o poder do Espírito. Os cristãos gemiam e os pecadores
gritavam por misericórdia.
Durante o despertamento em Barvas, o poder de Deus trabalhou
de tal modo através da comunidade que a maior parte do trabalho secular foi
abandonado, e as pessoas buscavam a Deus o dia inteiro em suas casas, nos
estábulos, nas cabanas, à margem da estrada e nos campos. Era costume de Duncan
ficar num lugar enquanto as pessoas continuassem a se achegar ao Senhor e
depois ir para outra comunidade.
Durante o reavivamento em Lewis, a ilha que fica mais ao
norte das Hébridas, parecia que toda a ilha se achava repleta de Deus. Os
visitantes eram tocados pelo Espírito antes de colocarem os pés na ilha. Um
homem disse a um ministro local que não assistira a nenhum culto, mas não
conseguia ficar longe do Espírito Santo. Um jovem motorista de ônibus parou o
carro e pediu aos passageiros que se arrependessem.
Às vezes o poder de Deus caía sobre as pessoas, a ponto de
elas chorarem tanto que Campbell tinha de parar de pregar. Ninguém podia
ouvi-lo. As pessoas começavam a chorar enquanto estavam sozinhas. Algumas
ficavam prostradas pelo poder de Deus, enquanto se achavam a sós nos campos ou
em seus teares. Outras andavam pelos campos à noite, impossibilitadas de dormir
em vista de tamanha convicção de pecado.
Um grupo de cristãos se reuniu certa noite para orar pelos
que ainda não haviam sido salvos e continuavam aparentemente intocáveis por
Deus. Cerca da meia-noite, Duncan voltou-se para o ferreiro local e pediu que
ele orasse. A casa toda começou, de repente, a tremer, como se sacudida por um
terremoto. Os pratos balançavam, e "onda após onda do poder divino varreu
o prédio". (1) O Rev. Campbell pronunciou a bênção imediatamente. Enquanto
deixava o prédio, a comunidade inteira parecia ter revivido com uma percepção
grandiosa da presença de Deus. Noite após noite, as pessoas encontraram Deus em
suas casas.
Em um culto, "com a força de um furacão, o Espírito de
Deus varreu o prédio" (um evento quase idêntico aconteceu no ministério de
Andrew Murray na África do Sul). Instantaneamente muitos ficaram prostrados
diante de Deus, enquanto outros choravam ou suspiravam. O efeito se espalhou
através de toda a ilha, e pessoas até então indiferentes foram conquistadas
pelo Espírito Santo. (2)
Enquanto Duncan Campbell estava em meio a uma convenção na
Irlanda do Norte, o Espírito Santo subitamente impressionou-o com o nome da
pequena ilha de Berneray, perto da costa de Harris. Isto se repetiu três
vezes nos minutos seguintes. Duncan me contou que ele jamais estivera na ilha,
nunca se correspondera com ninguém dali, nem conhecia pessoa alguma naquela
ilha. Ele imediatamente abandonou o culto (para consternação do coordenador da
convenção), pegou suas coisas no hotel e seguiu imediatamente para o aeroporto.
Quando chegou a Berneray, descobriu que um presbítero
local orara a noite inteira por um reavivamento e que Deus lhe dissera que
enviaria Duncan Campbell e operaria através dele. O presbítero estava tão
convencido da obra de Deus que já espalhara a notícia através da ilha e
anunciara um culto para algumas horas depois da chegada de Duncan.
Na terceira ou quarta noite, enquanto as pessoas estavam
saindo da igreja, o Espírito Santo repentinamente caiu sobre
elas quando chegavam ao portão. Ninguém pôde mover-se — eles foram
poderosamente detidos pelo poder do Espírito e por um tremendo senso da
presença de Deus. Duncan os chamou de volta ao prédio e começou um poderoso
movimento de Deus. Em toda a ilha vidas foram sacudidas e transformadas. Vinte
anos mais tarde, Campbell soube que os convertidos naquele reavivamento ainda
andavam com o Senhor.
Em seus últimos anos, assim como Finney, Duncan
dirigiu uma pequena faculdade bíblica. Os estudantes às vezes tremiam quando
ele abria a Palavra de Deus. "Havia algo de sagrado na maneira como ele
usava o nome de Deus e muitas vezes o hálito do céu enchia a sala quando, com
reverência e ternura, ele dizia simplesmente 'Jesus'. Sentíamos que estávamos
pisando em solo santo." (3)
Em março de 1960, numa reunião de oração na escola, Deus
veio subitamente em poder e "fez em segundos o que outros haviam tentado
fazer em meses". (4) O poder de Deus estava tão presente que muitos
choraram em silêncio. Uma jovem mulher relatou: "Parecia que se levantasse
a cabeça eu veria Deus". Onda após onda do poder de Deus passou através do
recinto. De repente, todos ali ouviram música celestial vinda dos céus.
Em pelo menos duas outras ocasiões, ao que sabemos, pessoas
presentes com Duncan ouviram subitamente cânticos similares dos coros celestes.
Certa vez, cerca das duas da manhã, os membros de uma congregação saíram e
andaram juntos pelos campos até outra igreja para onde o Espírito havia
dirigido outros e caído repentinamente sobre eles. Enquanto andavam noite a
dentro, ouviram de súbito os coros cantando nos céus, e os 200 caíram de
joelhos. A experiência foi predominantemente sagrada.
Embora Duncan apreciasse todas as manifestações de Deus e do
céu, ele não tinha inclinação carismática. Continuava sendo um clérigo escocês
presbiteriano. Duncan não encorajava as pessoas a buscarem manifestações
espetaculares. Ele não queria que concentrassem a sua atenção nas emoções,
deixando de lado a majestade de Deus. Ele ficara poderosamente cheio do
Espírito Santo e vivia na plenitude do Espírito. Mas cria que a coisa mais
importante sobre quem quer que fosse era a influência silenciosa da sua
personalidade repleta da plenitude de Deus.
Certo dia em Lisburn, na Irlanda do Norte, o presidente da
convenção onde Duncan estava falando se encontrava sozinho na sala de refeições
quando sentiu de repente "o brilho da presença do Senhor",
transformando toda a atmosfera. Ele se sentiu tão indigno de participar dessa
poderosa manifestação da presença de Deus que saiu para o jardim, onde ficou
chorando silenciosamente. Duncan então apareceu com o rosto resplandecente,
falando de uma promessa que o Senhor acabara de lhe fazer sobre bênçãos a serem
derramadas.
O dia inteiro a presença de Deus pairou nas cercanias. No
culto da noite, depois da mensagem final e da bênção, a organista foi tão
dominada pela presença de Deus que seus dedos não conseguiram mover as teclas e
tocar o poslúdio. O poder de Deus dominou de tal modo a congregação que todos
ficaram quietos e durante meia hora ninguém se moveu. Depois, alguns começaram
a orar e chorar. Quatro pessoas testemunharam mais tarde ter ouvido sons
indescritíveis dos céus.
Sentar perto de Duncan Campbell e ouvi-lo contar humildemente
algumas de suas experiências com as obras sobrenaturais de Deus — chegando a
apontar o lugar onde estávamos enquanto contava o que Deus fizera justamente
ali — ou ouvi-lo recapitular para um grupo de ministros, a meu pedido, alguns
desses tremendos episódios da presença e poder de Deus, era ter o coração
renovado e perceber que aprendemos apenas o ABC de tudo o que Deus quer fazer
por nós.
Capítulo 11
Você Precisa de Capacitações Repetidas
Quanto mais você experimentar o poder de Deus operando na
sua vida e através do seu ministério, tanto mais sentirá a necessidade
constante de um novo toque do Espírito. O Espírito Santo está levando você a
essa profunda percepção da necessidade e da alegria em poder ter acesso ao
Espírito.
Quando Ele nos enche, ou seja, dirige soberanamente a nossa
vida, Ele nos purifica e dá poder para sermos vitoriosos em nossa caminhada
cristã. Como diz o hino evangélico: "O Seu poder pode torná-lo aquilo que
deve ser". Mas no serviço de Deus, no dinamismo da vida cheia do Espírito,
você precisa ficar repetidamente cheio, ter novas capacitações, novas unções,
novos derramamentos do Espírito de tempos a tempos.
No livro de Atos, os 120 discípulos nascidos de novo que se
reuniram no Cenáculo ficaram todos cheios do Espírito Santo no Dia de
Pentecostes (At 2:4). Mais tarde, Deus usou Pedro e João para curar um coxo de
nascença que esmolava todos os dias na porta do templo. Uma enorme multidão se
reuniu e Pedro pregou a ela; outros 2.000 novos crentes foram acrescentados ao
seu número. O Sinédrio ameaçou Pedro e João e deu ordens para que não falassem
mais no nome de Jesus.
O grupo de líderes cristãos passou a orar. O Espírito Santo
veio sobre eles. O lugar onde se reuniam tremeu como se sacudido por um grande
terremoto, e lemos: "todos ficaram cheios do Espírito Santo" (At
4:31). Muitos deles, se não todos, haviam estado presentes no Pentecostes e
todos ficaram também cheios do Espírito naquela ocasião. Graças a Deus, uma vez
que a pessoa se rende totalmente à soberania de Cristo mediante o Espírito,
ela pode ser reabastecida várias vezes, quantas forem necessárias.
O Espírito ungiu poderosamente Estevão
enquanto ele falava ao Sinédrio (At 6:10) e o encheu quando estava sendo
apedrejado até a morte (At 7:55). Enquanto Pedro pregava a Cornélio e a sua
família, o Espírito veio sobre eles (At 11:15).
Quando Ananias colocou as mãos na cabeça de
Saulo e orou, o Espírito Santo encheu Saulo (At 9:17). O Espírito Santo o encheu
quando ele confrontou o mágico Elimas (At 13:9). Quando orou pelos discípulos
de Éfeso, o Espírito Santo veio sobre eles (At 19:6). Em Antioquia, depois do
ministério de Paulo, foi dito que "os discípulos, porém, transbordavam de
alegria e do Espírito Santo" (At 13:52).
É espiritualmente natural que o
Espírito Santo venha repetidamente sobre os filhos de Deus, uma vez que tenham
sido inicialmente cheios com a Sua presença e poder. Sempre que surgem novas
ocasiões de necessidade, o Espírito está disponível a capacitar e encher
novamente. Deus se agrada em ungir-nos, capacitar-nos e fazer o Seu Espírito
fluir através de nós para outros com as suas necessidades. À medida que andamos
perto de Deus, em obediência à Sua vontade, e buscamos a Sua face para novas
dotações, recebemos pela fé Seus novos derramamentos.
Diz o Dr. Martyn Lloyd-Jones: "Este 'acréscimo
de poder', ou se preferir, esta 'efusão de poder' sobre os pregadores cristãos,
não é algo 'de uma vez por todas'; ele pode ser repetido inúmeras vezes".
(1)
Esses novos derramamentos, novas unções, não são
acompanhados por quaisquer evidências visíveis nem sequer por emoções fortes. O
Espírito Santo é uma Pessoa santa, e não uma emoção santa. Todavia, como
essa Pessoa santa opera em nosso interior, Ela transmite Seu poder santo, Sua
aptidão santa para nós de modo a sentirmos nova força interior, nova
capacitação, acima dos nossos próprios recursos, um senso de autoridade
espiritual especial e fé. Reconhecemos então uma nova eficácia que devemos
creditar inteiramente ao Espírito e não a nós mesmos.
Por outro lado, esta percepção da mão de Deus sobre nós em
novo poder e capacitação nos dá uma alegria interior mais profunda, uma
sensação penetrante de estarmos apoiados na fidelidade de Deus, uma paz
duradoura que não pode ser descrita com palavras. Neste sentido, ela move
profundamente as nossas emoções. Pode trazer lágrimas de humildade e júbilo
quando reconhecemos nossa indignidade. Ela pode instilar uma excitação profunda
e santa no que diz respeito ao que Deus pode fazer e ao que cada vez mais
esperamos que Ele faça. Ela pode encher nossos lábios de louvor e nossos
corações de cânticos.
É verdade; a Pessoa santa, a terceira Pessoa da Trindade,
enquanto habita em nós, afeta profundamente nossa vida interior. Ela não é uma
emoção superficial provocada pelo cantar repetido de um mesmo coro, pelo
levantar de mãos ou pelos gritos de louvor. Mãos santas podem ser levantadas em
demonstração de fé e oração a Deus, louvores santos podem ser pronunciados e
cantados. Mas essas coisas não ocorrem pelo zelo humano, sendo de fato o
derramar de um coração que dá glória à presença, bondade e graça de Deus.
As emoções mais profundas são em sua maioria as mais
particulares e silenciosas. Algumas vezes a presença de Deus é tão doce ou tão
temível que quase hesitamos em nos mover ou falar. Todavia, em outras ocasiões,
líderes famosos de Deus, assim como santos anônimos, irromperam em cânticos,
louvores a Deus ou exclamações em voz alta de "Glória a Deus",
"Bendito seja o Pai, Filho e Espírito Santo", "Obrigado
Jesus" ou outras exultações espontâneas.
O poder não é uma emoção; o poder de Deus é uma força íntima
e capacitação. O poder é a concessão divina de uma dinâmica interior santa (de
fato, dunamis é o termo grego do qual derivamos palavras tais como
dinâmica, dinamite e dínamo). Louvado seja Deus, é fácil reconhecer quando ele
acrescenta o Seu poder especial aos nossos esforços indignos.
Esta percepção santa era uma experiência freqüente na vida
de Wesley, de muitos dos primeiros líderes metodistas e de Charles G. Finney,
durante os seus anos de ministério. Tem sido uma experiência freqüente de
muitos servos comparativamente desconhecidos de Deus. Acredito que você saiba,
por experiência, do que estou falando e que o seu coração testifique que,
embora possa sentir-se indigno, Deus está, todavia, verdadeiramente presente na
sua liderança e ministério. Essa é uma experiência da qual jamais nos devemos
gabar e talvez mencionemos raramente, mas necessitamos dela constantemente em
nosso serviço para Ele.
Esta capacitação especial do Senhor vem algumas vezes sobre
um grupo de pessoas, como registrado no livro de Atos. Quase simultaneamente,
muitos sentem a proximidade extraordinária de Deus, ou a presença envolvente de
Deus que desce sobre uma reunião do Seu povo. Certas vezes sentimos uma
sensação reverente e profunda da majestade e santidade de Deus, resultando em
silêncio santo. Esta tem sido uma experiência freqüente no
correr dos séculos, entre os filhos de Deus de várias procedências
denominacionais, especialmente entre os quacres. Na maior parte do tempo, esta
capacitação talvez tenha vindo como uma experiência pessoal e particular. Assim
como Paulo relutou em mencionar as suas mais profundas experiências com Deus,
ele constantemente mencionou o poder de Deus. Você também desejará alcançar um
equilíbrio entre não chamar atenção para si mesmo nem orgulhar-se da mão de
Deus sobre você, e apontar constantemente para a presença e poder de Deus, a
fim de que Ele receba toda a glória.
Capítulo 12
Falta a Você Poder Espiritual?
Estas palavras poderiam ser estampadas no registro de muitos
líderes cristãos: FALTA PODER. Por que tantos ministros e líderes leigos têm
uma sensação inquietante de que falta alguma coisa em sua liderança? Eles
possuem treinamento adequado; fazem todos os preparativos necessários;
trabalham fiel e diligentemente. Mas tudo permanece em grande parte no nível
humano.
Se você confia no treinamento, só realiza o que o
treinamento ensina; se confia em habilitação e trabalho árduo, obtém os
resultados que as suas aptidões e trabalho duro e fiel podem alcançar. Quando
confia em comitês, obtém aquilo que os comitês fornecem. Mas, quando confia em
Deus, você obtém aquilo que Deus pode fazer.
O trabalho de Deus merece o que temos de melhor, mas também
exige mais do que o melhor de nós no nível humano. O trabalho de Deus sempre
necessita do Seu toque sobrenatural adicionado ao melhor de nós humano. O
trabalho de Deus é uma obra de cooperação, na qual Ele nos chamou para sermos
Seus colaboradores. Nossa parte é oferecer a personalidade e o esforço humanos,
dando o melhor de nós mesmos. A parte de Deus é oferecer o Espírito Santo em
toda a Sua eficácia e poder.
Mas corremos o perigo de ser mais bem treinados e equipados
no nível humano do que capacitados pelo Espírito, de ser mais aptos e mais
experimentados do que ungidos pelo Espírito. Podemos ser treinados até nos
tornarmos peritos em nossa liderança, habilidades e administração. Mas não
podemos ser treinados para receber unção e capacitação. Esses são dons
divinos.
Talvez a maior falha na maioria da liderança
e ministério cristãos seja esta dotação divina, a capacitação do Espírito.
Estamos tentando fazer o trabalho de Deus dependendo apenas nominalmente dEle,
mas dependendo de fato e principalmente de nós mesmos — nosso treinamento,
nossa personalidade, nossa experiência passada, nosso conhecimento e nossos
esforços sinceros.
A maior e mais revolucionária mudança que
poderia acontecer à sua liderança talvez fosse receber e experimentar
continuamente a dimensão divina. Uma vez que você a recebe e experimenta a
diferença que isso faz, não mais desejará ministrar sem ela. É preciso que haja
o recebimento inicial, o revestimento inicial do Espírito (Lc 24:49), mas você
deve também aprender a receber a Sua renovação diariamente.
Que não seja dito a seu respeito, como Paulo
perguntou aos Gálatas: "Como podem ter tão pouco juízo?! Vocês começaram
pelo Espírito de Deus e agora querem terminar pelas suas próprias forças?"
(Gl 3:3, BLH). O esforço humano é a vontade de Deus para você: mas é da Sua
vontade que você seja capacitado pelo Espírito para esse esforço.
Deus fez com que toda provisão para você tenha
tanto da presença e poder do Espírito Santo quanto você precisa para viver e
servir efetivamente, como Ele quer. Ele jamais esperou que você tivesse de
confiar exclusivamente em seus próprios esforços e recursos. Ele não esperou
que os apóstolos e primeiros discípulos fizessem isso.
Por que Jesus disse aos líderes indicados por
Ele que não começassem o seu testemunho e ministério imediatamente após a Sua
ascensão? Eles havia estado com Ele durante três anos ou mais. Ele os treinara
cuidadosamente. E não lhes dera autoridade para representá-Lo e proclamar a Sua
mensagem? Não lhes dera autoridade para usar o Seu nome e expulsar demônios?
Ele não se rejubilara com a maneira como Deus fazia uso deles (Lc 10:17-21)?
Era porém essencial que fossem especialmente
dotados com o poder do Espírito para a obra que se tornaria agora a sua missão
vitalícia. "Não deixem Jerusalém para começar o seu trabalho",
ordenou Jesus. "Não se apressem a pôr mãos à Minha obra ainda! Esperem
pelo poder do Espírito. Coloquem o Espírito em primeiro lugar no seu
ministério."
Esta é uma lição que todos temos de aprender repetidamente.
Ore e suplique a Deus até que Ele lhe dê a Sua mensagem, Sua palavra para as
pessoas. A seguir ore e busque sinceramente a presença de Deus no serviço.
Também ore, anseie e confie que receberá a unção especial de Deus sobre você,
enquanto lidera ou ministra.
Não planeje e depois peça a Deus para abençoar o seu plano.
Receba os seus planos de Deus. Não se prepare e peça a Deus para abençoar os
seus preparativos. Peça primeiro que Deus o prepare. Peça primeiro que Deus o
guie — não em uma oração de dez segundos, mas tome tempo para buscar a face de
Deus. A seguir, peça a Deus que unja e capacite você enquanto ministra no Seu
nome.
Os que recebem uma nova bênção em seus corações antes de
dirigir, falar ou cantar em um culto de Deus, ou em qualquer ocasião especial,
verão o Espírito descendo em bênção sobre os presentes enquanto ministram. Os
que lideram baseados na sua própria auto-suficiência, sem uma nova unção do
Alto, podem transmitir uma linda mensagem, hino ou outro ministério, mas tudo
será em grande parte estéril espiritualmente. A esterilidade é uma tragédia
contínua em muitos cultos cristãos. Eles podem ser intelectualmente
estimulantes, emocionalmente comoventes, e podem receber aplausos do povo, mas
os resultados espirituais a longo prazo serão mínimos. Nossos cultos na igreja
e todas as formas de atividades cristãs raramente excederão o nível de nossa
preparação espiritual.
Os que ministram de várias maneiras, depois de um cuidadoso
preparo do coração e com a consciência do toque renovado de Deus sobre eles,
não terão um desempenho menos aceitável. Mas terão o acréscimo da dimensão
divina sobre o seu ministério ou liderança. Os que ouvem sentirão o toque
adicional de Deus sobre os comentários, a música, a mensagem, ou qual seja a
forma de atividade de liderança. Reconhecendo o toque de Deus, eles estarão
mais alertas, mais receptivos, mais movidos pelo Espírito, e experimentarão um
benefício mais duradouro.
O fato de o toque especial de Deus estar sobre você enquanto
aconselha hoje não é uma garantia de que o mesmo toque estará sobre você
amanhã. Embora você tenha sido fortemente ungido em um serviço, talvez não
experimente necessariamente a mesma unção da próxima vez. Você não é um
favorito tão grande de Deus que Ele o abençoe sem levar em conta o que você
tenha feito, sem considerar quão constantemente você anseia e busca a Sua
ajuda. Não tenha como certa a capacitação de Deus.
A vida cristã é uma vida de fé, e o ministério cristão é uma
atividade para a qual apropriamos constantemente, pela oração
e fé, o ministério do Espírito Santo. Um indivíduo espiritualmente presunçoso
lidera sem apropriar-se da capacitação e poder divinos diariamente e às vezes
de hora em hora.
Experimentamos pouco do toque de Deus sobre nós
porque pedimos muito casual e superficialmente por ele. Reconhecemos que seria
bom se Deus abençoasse nossos esforços e planos. Mas se Ele não fizer isso,
ficamos satisfeitos em prosseguir com as nossas próprias forças, como já
fizemos tantas vezes. Tendemos a nos preocupar mais em desempenhar a nossa
parte corretamente, do que com o poderoso envolvimento de Deus em nossos
esforços. Tendemos a desejar mais o sucesso do que a capacitação de Deus.
De fato, alguns de nós experimentamos tão
raramente a dimensão adicional que o Espírito Santo pode dar, que dificilmente
compreendemos o que Deus quer fazer em nosso ministério. Tememos que isso possa
gerar fanatismo. Longe disso! Quando Deus veio sobre Jonathan Edwards em poder,
até que os membros da congregação agarraram os assentos e as colunas com medo
de caírem no inferno, Edwards estava andando de lá para cá pela plataforma,
arengando as pessoas? De forma alguma. Ele estava lendo a sua mensagem,
mantendo o papel a poucos centímetros dos olhos por causa da sua miopia e
falando em tom de conversa. A emoção humana ou a altura da voz não se igualam
ao poder do Espírito.
A palavra mais sóbria, não-emotiva, capacitada pelo
Espírito, pode alcançar resultados espirituais muito maiores do que uma grande
demonstração de oratória. Você pode provocar emoção pela psicologia; mas não
pode manipular o Espírito de Deus. Só quando nós mesmos somos tocados pela
mensagem de Deus e sentimos a operação interior do Espírito Santo — quer em
silêncio, quer com emoção profunda — só então os presentes serão tocados pelo
Espírito quando falamos, cantamos ou lideramos.
De nosso íntimo, disse Jesus, devem fluir rios de água viva (Jo
7:38). João acrescenta que Jesus queria dizer que era o Espírito que fazia
isso. Mas só há vazão dessa água viva quando o Espírito nos enche copiosamente.
Sem enchimento não há vazão. E muito simples.
Os líderes cristãos, cujas almas são como um deserto, não
experimentam esse fluir de água viva. Viver numa experiência mínima do Espírito
Santo não resultará em uma vazão de bênçãos espirituais para outros. A bênção
espiritual só procede do fluir do Espírito para a sua personalidade e através
dela. Esses rios de bênção fluem da sua vida? Você não pode abençoar outros
mais do que é abençoado.
Se você sente a falta de poder do Espírito em sua vida e
ministério, por que não buscar uma resposta de Deus? A Ele não falta poder. Quando
Deus colocou o Espírito Santo sobre os setenta anciãos israelitas, como fizera
com Moisés, este disse: "Oxalá todo o povo do Senhor fosse profeta, que o
Senhor lhes desse o seu Espírito!" (Nm 11:29).
Deus deseja dar do seu Espírito abundantemente a todos os
Seus filhos e especialmente a todos os líderes cristãos. Você tem fome e sede
da presença e poder do Espírito tão profundamente quanto Deus anseia
concedê-los a você?
Capítulo 13
É Possível Renovar o Poder Espiritual
Quando o Espírito Santo enche alguém, Ele transmite pureza e
poder. A pessoa que entrega todo o seu ser como sacrifício vivo, em absoluta
rendição (termo que Andrew Murray gostava de usar) e pede e confia no encher do
Espírito, recebe uma nova dimensão de vida espiritual. O Espírito Santo
purifica e torna puro o homem interior até um grau que ele jamais conhecera
antes, e no mesmo momento o enche com um poder maior e divino.
Depois de ser enchido com o Espírito, quando anda na luz da
Palavra, conforme guiado pelo Espírito, ele busca constantemente agradar ao
Senhor. Momento a momento ele depende do Espírito interior e Ele o capacita a
vencer as tentações. Mediante a ajuda do Espírito a pureza pode ser preservada.
Em um certo sentido, podemos nos manter puros (1 Tm 5:22) pela obediência cuidadosa
ao Espírito (1 Jo 3:3), julgando todas as coisas, retendo o que é bom e
evitando o mal (1 Ts 5:21-22). Desse modo iremos manter-nos sem mácula e
irrepreensíveis (2 Pe 3:14).
Mas o poder espiritual é diferente. O poder espiritual não
pode ser preservado indefinidamente. O poder do Espírito é a Sua energia
fluindo em nosso espírito e através dele. A energia se acaba. O poder deve ser
renovado. Este segredo espiritual é belissimamente simbolizado em Zacarias 4.
Deus deu uma importante visão para Zacarias fortalecer e
encorajar os dois líderes ungidos por Deus, que estavam reconstruindo o templo
depois do cativeiro — Josué, o sumo sacerdote, e Zorobabel, o governador. Uma
grande oposição adiara o trabalho por vinte anos.
Deus usou um simbolismo para ilustrar e confirmar seu comentário
decisivo: "Esta é a palavra do Senhor... Não por força nem por poder, mas
pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos" (Zc 4:6). Deus mostrou a
Zacarias a visão de um candelabro de ouro que produzia luz através de um vaso que
vertia azeite para sete lâmpadas (simbolizando plenitude de luz). O suprimento
de azeite para o vaso vinha de dois tubos de ouro que recebiam óleo de uma
oliveira viva. As lâmpadas queimavam e iluminavam enquanto o azeite fluía.
O poder do Espírito é o grande fundamento para fazer
o trabalho de Deus, mas ele se gasta com o uso. Não podemos ministrar hoje no
poder de ontem. Não podemos cumprir todo o propósito de Deus apoiados em
memórias de bênçãos e capacitações passadas. Deus não quer que vivamos no passado,
mas em apropriações presentes, momento a momento, do Seu poder.
Pode haver ocasiões raras em que Deus nos usa apesar de
nós mesmos. Essa foi provavelmente a maneira como Ele usou Sansão, Balaão e o
rei Saul certas vezes. Mas a regra de Deus é que só podemos dar aquilo que
recebemos. Deus quer que sejamos diariamente capacitados, a fim de podermos ser
usados diariamente para a Sua glória. Deus nos perdoe se a única vez em que Ele
nos usar poderosamente for quando Ele estiver compelido a operar a despeito da
nossa condição espiritual.
COMO O PODER ESPIRITUAL É ESGOTADO OU PERDIDO
Jesus Cristo não começou o Seu ministério até ter
recebido uma concessão especial do poder do Espírito Santo. Observe as Suas
palavras:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu
para evangelizar" (Lc 4:18). Pedro resumiu o ministério de Cristo,
dizendo: "Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo" (At
10:38). Jesus usou em Seu ministério terreno o mesmo poder que usamos hoje — o
poder do Espírito. Ele decidiu desde o início não ministrar através da sua
divindade inerente, mas mediante a unção do Espírito.
Lucas 6:19 explica: "E todos da multidão procuravam
tocá-lo, porque dele saía poder, e curava a todos". Este poder era do
Espírito. Quando a mulher que estava doente havia doze anos tocou a barra do
manto de Jesus, Ele disse: "Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu
poder" (Lc 8:46).
O que era verdadeiro com relação a Jesus também se aplica a
você. Quando ministra às pessoas, você gasta poder espiritual. Se quiser ser
usado por Deus, se quiser curar os males da humanidade, o poder de Deus deve
estar em você continuamente e fluir através de você.
1.O poder espiritual é consumido naturalmente no seu
ministério. Quanto mais você ministra, tanto mais necessita da
renovação do seu poder. Quanto mais ocupado fica, tanto mais precisa ter o seu
poder renovado, tanto mais precisa ser renovado e reabastecido espiritualmente.
Não se trata apenas do cansaço mental ou da exaustão física experimentados por
você. Sem a renovação espiritual você irá tornar-se um zero espiritual.
Certa vez, quando perguntaram a Lutero sobre os seus planos
para os dias seguintes, ele respondeu: "Trabalho, trabalho, trabalho,
desde cedo até tarde. De fato, tenho tanto a fazer que vou passar as três
próximas horas em oração". O ministério ativo, sem oração adequada e
renovação espiritual, leva à perda de poder espiritual. A entrada de fluxo não
está em harmonia com a saída. Você tem dado tão constantemente a outros que
está esgotado espiritualmente? Você conheceu antes mais do poder de Deus sobre
você e mais da Sua unção do que conhece hoje?
2. O poder espiritual é consumido no envolvimento em
assuntos não-espirituais. Estamos vivendo num mundo basicamente
secular. Não somos uma ilha, mas mantemos associações de todo tipo. Deus não
quer que sejamos reclusos, que nos isolemos das influências contaminadoras da
vida. Devemos ser sal e luz em nosso mundo. Mas a fonte de luz se acaba ao
queimar-se e o sal se acaba ao ser usado.
Não existe conflito entre trabalho e espiritualidade. Os que
trabalham muito são os melhores obreiros cristãos e os melhores guerreiros em
oração. Muitas pessoas são preguiçosas demais para ser grandemente abençoadas.
Elas não sabem como pagar o preço da autodisciplina para encontrar tempo para a
Palavra de Deus e a oração. Permitem que qualquer coisa tenha prioridade sobre
o reabastecimento espiritual. Elas não aprenderam a lição de Zacarias 4. Tentam
ser bem-sucedidas pelo seu próprio poder em lugar de pelo Espírito de Deus.
Em muitas formas de trabalho existem maravilhosas
oportunidades para instantes de breve oração, louvor, comunhão espiritual e
expressões de amor pelo Senhor. Mas freqüentemente vivemos como se o Senhor não
estivesse ao nosso lado. Nós o ignoramos. Enchemos nossas mentes com fantasias,
autopiedade e planos pessoais. Podemos ter momentos com Deus enquanto tomamos
banho, nos vestimos, caminhamos, andamos de carro, ou mil outras atividades, se
apenas quisermos.
Existem, porém, atividades ou ambientes que dificultam
isso. A atmosfera em alguns lugares não conduz à atividade espiritual e pode
ser até antiespiritual. Não é possível respirar uma atmosfera onde impere o
barulho, a leviandade, as conversas sugestivas, as piadas indecentes, o
materialismo ou a blasfêmia contra o nome de Deus sem ser afetado — a não ser
que você recorra constantemente ao Senhor. Você começará a sentir a perda
gradativa de poder espiritual. Assim como Ló (2 Pe 2:7), você se sentirá
constantemente aflito e quase atormentado.
É preciso silêncio de alma para a
comunhão e renovação espirituais. Algumas pessoas estão tão acostumadas a
entreter-se com a televisão ou o rádio que dificilmente sabem como usar
momentos tranqüilos para refrescar o espírito e renovar a alma. Nos dias
bíblicos, o sacerdote se lavava antes de ministrar na tenda ou templo. Nós
também precisamos de banhos espirituais, ou pelo menos de lavar o rosto, por
assim dizer, em momentos freqüentes com o Senhor.
3. A falta de união com outros
cristãos esgota o nosso poder espiritual.
Davi diz que a união, como o orvalho do céu, traz frescor
espiritual e bênção (Sl 133:3). A desunião resulta no oposto. Ela seca a alma,
faz murchar a vida espiritual e evapora o frescor e o zelo espirituais. O poder
é dissipado por atitudes críticas, ressentimentos ou qualquer falta de perdão
ou amargura de coração.
Nada afasta mais rapidamente a bênção, o poder e a
unção de Deus da sua vida do que os pensamentos maldosos sobre outros. Palavras
vazias de amor, boatos, risadas à custa de outros e conversas negativas cortam
o seu poder e a doçura da presença de Deus. Qualquer coisa contrária ao terno
amor do Espírito Santo é devastadora para o poder espiritual.
Você é suficientemente sensível para reconhecer rapidamente
o que entristece o Espírito Santo? Quem toca o povo de Deus toca na menina dos
olhos de Deus (Zc 2:8). Com um comentário crítico você pode destruir a bênção
que recebeu depois de horas de oração. O Espírito Santo é o Espírito amável de
perfeito amor. Um de Seus papéis é derramar em abundância o amor de Deus em
nossos corações e fazê-lo fluir através de nossas vidas (Rm 5:5). Não
podemos permitir-nos entristecer a Sua natureza amorosa.
Paulo fala incisivamente sobre este assunto. "Tu,
porém, por que julgas a teu irmão? e tu, por que desprezas o teu?" (Rm
14:10). "Quem és tu que julgas o servo alheio?" (Rm 14:4).
Pensamentos críticos sempre entristecem o Espírito.
"E não entristeçais o Espírito de Deus... Longe de vós
toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria... e bem assim toda a malícia. Antes
sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos
outros, como também Deus em Cristo vos perdoou. Sede, pois, imitadores de Deus,
como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou" (Ef
4:30-5:2).
4. A falta de obediência esgota o poder espiritual.
Deixar de andar na luz de Deus ou de aceitar e usar as oportunidades dadas
por Ele pode levar à perda do poder do Espírito. Deus nos dá constantemente
oportunidades para fazer pequenas coisas extras por Jesus. Elas não são
exigidas de nós; tudo depende de quão intensamente amamos Jesus, quão ansiosos
estamos por agradá-Lo com pequenos gestos de amor.
Assim como a expressão ativa do amor que você tem por Ele
aumenta a Sua proximidade e bênção sobre a sua vida, a negligência desses
gestos de amor pode levar à perda da suave percepção da Sua presença.
A falha em expressar o seu amor mediante pensamentos,
palavras ou obras pode levar à negligência espiritual e a uma diminuição
gradativa da presença e poder do Espírito sobre você. Você é tão sensível em
agradar ao Senhor como o é ao agradar ao seu companheiro mais querido?
Obediência postergada, ignorar as sugestões do Espírito,
qualquer controvérsia entre o seu coração e o Senhor, resistir à Sua vontade
para você — essas coisas podem interromper o fluxo do poder de Deus para a sua
vida. O poder espiritual é governado pelas leis espirituais de Deus, tão
certamente quanto a eletricidade ou o poder nuclear são governados pelas leis
naturais de Deus.
5. A autocomplacência, um estilo de vida sensual,
centrado no "eu", pode esgotar o seu poder espiritual. O
Dr. R. A. Torrey, professor bíblico e colaborador de D. L. Moody, estava
plenamente convencido disto. Ele escreveu:
O poder se perde através da
autocomplacência. Quem quiser ter o poder de Deus deve levar uma vida de
abnegação... Não creio que ninguém possa levar uma vida voluptuosa, tolerar
demais seus apetites naturais, abusar das gulodices e gozar da plenitude do
poder de Deus. A gratificação da carne e a plenitude do Espírito não andam de
mãos dadas...
Se quisermos continuar no
poder do Espírito, precisamos ficar vigilantes, vivendo com simplicidade,
livres da indulgência e dos excessos, estando prontos para participar dos
sofrimentos, como bom soldados de Cristo Jesus (2Tm 2:3). Confesso francamente
que tenho medo da luxúria; mas não a temo
tanto quanto temo o pecado. Todavia, ela vem em seguida como um objeto de
temor. Ela é uma inimiga do poder muito sutil, mas também muito potente.
Existem demônios hoje que só são expelidos por meio de oração e jejum. (l)
O Espírito Santo alcança sempre a outros, é
sempre sensível ao bem-estar de toda a igreja e do mundo. O egocentrismo é o
oposto do cristocentrismo e do reinocentrismo. Os cristãos podem gastar seu
tempo ou abusar de várias maneiras, todas elas contrárias ao espírito
sacrificial da santidade, ao reconhecimento das necessidades de um mundo
sofredor e à ampliação do reino de Cristo. O Seu "olha o que vocês não
fizeram" será dito aos cristãos evangélicos da nossa geração tão verdadeiramente
como foi dito a alguns da Sua geração. Como o Espírito pode abençoar-nos,
derramando sobre nós o Seu poder, quando nos interessamos tão pouco por aquilo
que interessa a Ele?
6. A auto-suficiência e o orgulho
esgotam o poder espiritual. O poder pode ser
retirado quase instantaneamente devido ao orgulho. Deus não compartilhará a Sua
glória com ninguém mais. Deus condescende em trabalhar através de pessoas
cheias do Espírito, mas, se alguém estender sua mão orgulhosa e tomar para si a
glória que só Deus merece, Ele retirará o Seu poder, na mesma hora. Essa é uma
razão pela qual Satanás tenta você, tão constantemente, a mostrar-se orgulhoso.
Billy Graham tem feito repetidamente declarações
como esta: "Se Deus tirar a mão da minha vida, estes lábios se tornarão
lábios de barro". Somos apenas vasos de barro "para que a excelência
do poder seja de Deus e não de nós" (2 Co 4:7).
Deus pôde revelar-se tão completamente a
Moisés, num relacionamento face a face maior do que com qualquer outro ser
humano (Dt 34:10), e pôde operar mais milagres poderosos através dele do que de
qualquer outra pessoa (Dt 34:12) porque Moisés era o homem mais humilde na face
da terra (Nm 12:3).
Uzias foi grandemente ajudado por Deus até que se tornou
forte e ficou orgulhoso (2 Cr 26:15-16). A história de muitos líderes cristãos
poderia ser escrita com essas mesmas palavras. Deus trabalhou poderosamente a
favor de Ezequias até que seu coração quase inconcebivelmente se tornou
orgulhoso por causa das respostas à sua oração (2 Cr 32:25). Nabucodonosor foi
honrado e usado por Deus até que se tornou orgulhoso (Dn 5:20).
A queda do próprio Satanás foi devida ao orgulho (possivelmente
Ez 28:2,5,17; 1 Tm 3:6). O orgulho nos torna mais parecidos com Satanás do que
com Cristo. O orgulho fará com que Deus desvie o seu rosto de nós. Deus resiste
aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4:6; 1 Pe 5:5).
Qualquer atitude de auto-suficiência é o primeiro passo para
o orgulho. Qualquer aceitação de louvor para si mesmo significa provavelmente
negar a Deus o louvor devido a Ele. A autoconfiança pode ser humilde quando
baseada na ajuda usual de Deus e se permanecermos em completa dependência dEle.
Mas a autoconfiança pode ser carnal, pode tornar-se uma forma carnal de
autodependência, roubando-nos da presença suave de Deus e do Seu majestoso
poder.
Qualquer poder manifestado no ministério de alguém que não
for marcado pela profunda humildade é um poder falso. Não é o poder de Deus.
Pode ser poder psicológico. Pode até ser poder de Satanás, que se agrada em
parecer anjo de luz (2 Co 11:14).
7. A leviandade excessiva pode esgotar o poder
espiritual O humor é um dom de Deus, mas só deve ser usado da maneira
adequada e em proporções modestas. Deus é obviamente um Deus bem-humorado. Foi
por isso que Ele nos criou, para poder rir. Mas existe um tempo, um lugar e um
limite para o humor que Deus irá abençoar. Até mesmo o excesso de humor sadio
pode dissipar o poder de Deus. Tive ocasião de notar que pouco antes de uma
responsabilidade espiritual especial, mesmo quando eu não sabia que isso iria
acontecer, Satanás tentou às vezes tornar a mim e a outros tão alegres que
perdemos o preparo espiritual que havíamos obtido. Satanás se agrada em
roubar-nos da unção e poder divinos antes de uma crise espiritual ou de uma
ocasião em que iremos necessitar grandemente do Seu poder. A presença e o poder
do Espírito, disponíveis a uma pessoa através de várias horas de oração, podem
ficar perdidos por causa de cinco minutos de humor impróprio, ou humor na hora
imprópria.
8. O pecado sempre esgota e destrói o poder do
Espírito. A desobediência consciente, o pecado contra a luz, o
pecado contra outros e todas as formas de fracasso em andar na luz de Deus
farão cessar a percepção da presença e do sorriso benévolo de Deus. O pecado
impede que o poder do Espírito encha e use você. O pecado rouba a eficácia da
oração. "Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria
ouvido" (Sl 66:18). Isto se refere, naturalmente, ao pecado segundo a
definição bíblica de 1 João 3:4, a quebra voluntária da lei de Deus, apesar da
luz distinta.
Quando Israel desobedeceu a Deus e quebrou a aliança com
Ele, Deus não se importou com as suas lágrimas e orações (Dt 1:45). Assim como
Sansão perdeu tanto os seus cabelos como o poder de Deus sobre ele, por ter
brincado com a desobediência e o pecado, o mesmo aconteceu com
obreiros cristãos que perderam completamente o poder de Deus sobre as suas
vidas.
Algumas vezes talvez nem sequer percebamos nossa desobediência
ao Senhor, mas sentimos no coração que entristecemos de alguma forma o
Espírito. Isto pode ser apenas uma acusação de Satanás, procurando-nos deprimir
e desanimar. Por outro lado, pode ser uma restrição do Espírito. Ele nos ama
tanto e é tão fiel que, se o entristecermos inadvertidamente, Ele fala conosco
ou nos toca. Se tivermos desenvolvido um ouvido atento à orientação de Deus,
Ele achará fácil obter nossa atenção e falará fielmente conosco.
Graças a Deus, existe perdão e purificação
ao nosso dispor. Há sempre um caminho de volta ao favor, presença e poder
divinos (1 Jo 2:1-2). Contrição, humildade perante o Senhor, arrependimento
quando necessário e perdão podem abrir as portas do favor pleno de Deus e a
maré cheia do Seu poder sobre nós outra vez.
Capítulo 14
Amor - O Segredo da Sua Liderança
A liderança cristã é uma liderança de amor. Você pode
liderar sem amar, mas a liderança cristã não será genuína a não ser que você
seja marcado por um amor como o de Cristo. Como líder cristão você lidera no
nome de Cristo, a favor de Cristo, no espírito de Cristo e para a glória de
Cristo. Isto só pode ser feito quando você lidera com o amor de Cristo.
O amor é a marca de todo cristão. Aquele que não ama não é
cristão (1 Jo 3:10,14; 4:8). Quanto mais puro e perfeito for o seu amor por outros,
tanto mais semelhante a Cristo você mostra ser. Todo cristão deve amar com um
amor como o de Cristo. Seu amor é infinito, o nosso é finito; o amor dEle é
perfeito, o nosso, imperfeito. Todavia, o nosso amor, como o dEle, deve ser
pessoal, prático, santo, abnegado e sacrificial.
O amor é o selo de Deus sobre cada cristão; é o selo
absoluto sobre você como líder cristão. Embora você possua todas as outras
habilidades e aptidões para a liderança, não está qualificado para ser um líder
cristão até que ame aqueles a quem lidera com um amor como o de Cristo. O
capítulo 13 de 1 Coríntios é essencial para todos os cristãos; ele é o padrão
fundamental para você.
VOCÊ DEVE AMAR COM O AMOR DE CRISTO PORQUE:
1. Você foi criado para amar. Você foi criado
à imagem do Deus de amor. Você foi criado à semelhança de Deus até o ponto de
ter capacidade para retribuir e compreender o amor de Deus. Todo o seu ser,
quando tocado pelo Espírito Santo, pode receber e transmitir
o amor de Deus a outros, até um ponto abençoado.
Deus se rejubila em receber o seu amor e em vê-lo
compartilhar esse amor com aqueles a quem Ele também ama tanto e infinitamente.
Ele encontra uma satisfação santa em seu amor por Ele e em seu amor por outros.
Um modo importante de amá-Lo é amar outros, especialmente aqueles a quem você
lidera. Quanto mais você transmitir e expressar o Seu amor por outros, tanto
mais Ele pode inundá-lo de amor e tanto mais você poderá compartilhar o amor
que Ele expressa por você.
2. Ele nos amou primeiro (1 Jo 4:9).
Você não dá origem ao amor; ele se origina no coração de Deus.
Você não fabrica o amor, imita o Seu amor, ou falsifica o Seu amor. Você recebe
e passa adiante o Seu amor. O único amor ágape que você possui é o que
recebe de Jesus. Nós vimos primeiro o amor de Deus nEle. "Nisto consiste o
amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o
seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 4:10).
O amor é encarnado em Jesus — visível,
constantemente ativo e abnegado até a morte. Você ama por ter visto esse amor ágape
de Deus em Cristo e porque esse amor transformou você de tal forma que ele
se expressa através da sua pessoa.
3. O Espírito Santo derrama
este amor ágape de Deus em sua natureza.
Paulo descreve isso belissimamente: "O amor de Deus é
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm
5:5). Ele enche você com o Seu Espírito de maneira a poder derramar Sua própria
natureza santa de amor através de você, como um rio caudaloso.
Esta é a principal corrente da água viva que Jesus lhe prometeu (Jo 7:38).
Você ama porque o Espírito Santo derrama
sua própria natureza de amor em você, até o ponto em que está preparado para
recebê-la. Quanto mais você derrama o amor de Deus sobre outros, especialmente
sobre os que você lidera e sobre os que têm necessidade, tanto mais Deus, o
Espírito, tem condições de derramar em você Seu ser santo — que é amor santo,
pois Deus é amor.
Quanto mais você derrama, tanto mais Ele derrama em você —
Seu Espírito sempre doce, sempre novo, purificador, transformador, que sempre
enche, que sempre é como Cristo, sempre se estendendo e abençoando outros. Oh,
que vida e liderança de amor; à medida que Ele derrama, tão rápido você passa
adiante!
Ser cheio do Espírito é ser cheio com o amor que Ele está
derramando da natureza mais íntima da Trindade em nós e através de nós. Ser
cheio com toda a plenitude do amor, pois Deus é amor! Não existe nada mais
sublime, mais profundo, mais santo, mais abençoado, mais maravilhoso em toda a
experiência humana. Esta plenitude de amor, este rio transbordante de amor,
esta bênção indescritível de amor é o plano de Deus para cada cristão.
Se isto for verdade, e é, então você, como líder cristão,
deve demonstrar essa verdade e realidade mais do que ninguém. Você deve ser um
modelo de amor. Você pode só modelar este amor de Deus em Cristo de um único
modo, ou seja, sendo cheio com este rio de amor e depois deixando que ele se
derrame através de você na igreja e no mundo pelo qual Ele morreu.
Se esta plenitude de amor divino e sobrenatural não escorrer
constantemente de você como líder cristão, você não é um verdadeiro
representante de Jesus. Você é um embusteiro. Deus é amor. Cristo é amor.
Cristo só pode ser representado pelo amor. O único e verdadeiro embaixador de
Cristo (2 Co 5:20) é um embaixador do amor. Aquele que não derrama amor difama
o Deus de amor que ele afirma representar.
G amor é o ingrediente essencial para todo o serviço
cristão. O amor é a chave para todo sucesso cristão. O amor é a fragrância, a
glória e o poder para toda a vida cristã. O amor transforma o líder em pastor.
O amor transforma uma testemunha em um embaixador de Cristo. O amor faz do
serviço a Deus um ministério.
O amor é o segredo da santidade e da frutificação. O amor é
a sumário e o cumprimento da lei. O amor é o poder transformador do
Pentecostes. O amor é o segredo do cristianismo. O amor é o fruto básico do
Espírito. A medida da plenitude de Cristo é amor (Ef 4:13).
No último grande dia da festa, Jesus levantou-se e proclamou
em alta voz: "Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior
fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito" (Jo
7:38-39). Quem não tem então este rio de amor não tem sede, não crê, não
obedece, pois o Espírito Santo é dado àqueles que pedem (Lc 11:13), crêem (Jo
7:38) e obedecem (At 5:32).
Desde que o amor deve ser o aspecto mais constante, mais
evidente e mais atraente do cristianismo de cada crente, ele deve ser ainda
mais a sua natureza diária, sua glória visível e seu grande poder como líder
cristão. Você não ousa contentar-se com uma experiência simplesmente nominal,
mínima, deste amor.
Como podemos descrever o amor que deve caracterizar você
como um pastor e líder eficiente? Ele deve ser baseado no amor ardente e fervoroso
por Cristo. Ele deve ser derramado em amor pela igreja. Deve estar
constantemente ansioso, ter fome e sede, e buscar os perdidos.
Capítulo 15
Resplandecendo de Paixão por Cristo
A paixão por Cristo é a mais sublime para qualquer cristão e
para você, como líder cristão. Esta foi a paixão máxima do apóstolo Paulo, o
maior líder que a igreja já conheceu. Paulo proclamou exultante: "Para mim
o viver é Cristo" (Fp 1:21). "Logo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim" (Gl 2:20).
Ouça o testemunho claro de Paulo: "Mas o que para mim
era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero
tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu
Senhor; por amor do qual, perdi todas as cousas e as considero como refugo,
para ganhar a Cristo... para o conhecer" (Fp 3:7-10).
Como líderes chamados por Cristo, esta deve ser também a
nossa paixão predominante. Tal paixão por Cristo separa o líder dos demais. Bem
poucos são realmente possuídos, absorvidos e dedicados a esta única paixão.
Quão poucos podem dizer: "Minha paixão é Ele, só Ele, supremamente
Ele!"
Nosso compromisso mais profundo deve ser com Cristo, nossa
devoção inabalável, nosso supremo amor, a paixão absorvente da nossa vida,
devem ser Cristo. Conhecê-Lo mais e mais deve ser nosso aprendizado mais
desejado, agradá-Lo mais e mais deve ser a nossa maior vontade, e glorificá-Lo
mais e mais, a nossa mais alta ambição.
Para Ele, como para Paulo, vivemos ou morremos; para Ele nos
voltamos, buscando a Sua sabedoria, orientação e poder. NEle nos gloriamos,
nEle nos firmamos, e a toda estatura da Sua plenitude, Sua imagem e Sua
semelhança aspiramos. Nossa paixão por Cristo como Pessoa deve estar
acima e além da nossa paixão pela Sua causa ou nosso compromisso com o Seu
serviço. Esta é a paixão subjacente a todas as outras paixões cristãs.
Ele, Ele é o nosso alvo e nosso exemplo. Ele é
todo o nosso desejo e nossa recompensa eterna. Ele é nosso Alfa e Ômega, nosso
Princípio e Fim. Por ser tudo isso, Ele deve tornar-se o nosso Amado
intensamente pessoal. A paixão por Cristo se transforma em um amor pessoal
vibrante e profundo por Cristo.
RESPLANDECENDO DE AMOR POR CRISTO
A sua paixão profunda por Cristo deve começar com
a sua paixão de amor, sua dimensão mais profunda de amor por Ele, sua devoção
pessoal mais intensa a Ele, seu prazer mais constante em Seu amor e descanso
mais freqüente nesse amor. Não se trata de um simples compromisso de ortodoxia
ou de dever, mas sim a sua entrega completa em alegre abandono pessoal. O nome Jesus
deve ser muito mais do que o nome oficial, dado por Deus, de nosso
maravilhoso Salvador. Ele deve ser o nome maravilhosamente doce do seu Amado,
que faz vibrar a alma.
O propósito da Escritura é um amor
intensamente pessoal por Jesus, possuindo todo o seu ser. O alvo da redenção é
sua relação de amor, sua vida de amor com Jesus. A vida cristã consiste em
viver em amor com Jesus. A comunhão em oração é olhar com amor nos olhos de
Jesus, vibrar com a voz de Jesus, repousar nos braços de Jesus.
Os amantes apaixonados de Cristo adornaram a história
e a herança da igreja. Nenhum líder cristão é maior do que o seu amor. Poucos
compreendem hoje a intensa devoção a Cristo da primeira igreja e dos nossos
mártires santos. O Espírito Santo pode desenvolver em nós uma devoção tão
ardente quanto fez naqueles dias.
Não considere anormal o amor apaixonado por Cristo em almas
de corações chamejantes como Thomas à Kempis, Madame Guyon, John Fletcher de
Madeley, Gerhard Tersteegen, Samuel Rutherford, David Brainerd, Robert Murray
McCheyne, John Hyde, Fanny Crosby e Amy Carmichael. Eles eram perfeitamente
normais quando comparados com a igreja do primeiro século. Os dois sinais
principais da primeira igreja eram o amor ardente por Jesus e um transbordar de
amor prático uns pelos outros.
O perigo mais crucial para o líder é ficar tão ocupado a
ponto de deixar de amar Jesus, deixar de viver em devoção ardente e "em
amor" com Jesus. A expressão do amor leva tempo. O amor deve ser
constantemente expresso, expresso sem pressa. O Espírito Santo está ansioso
para guiá-lo a um amor cada vez mais vibrante por Jesus, para supri-lo com todo
o amor que está desejoso de oferecer em Jesus.
A dedicação e expressão do amor é algo voluntário. Vai muito
além das emoções. Você precisa decidir entregar-se a Ele de todo o coração e
alma. Mas um compromisso de toda alma, apaixonado, com Jesus, torna-a uma
realidade profundamente emocional — demasiado profunda para ser expressa em
palavras.
O amor por Jesus não é um sentimento religioso que fabricamos,
uma afeição passageira. O amor profundo por Jesus se torna inefavelmente
emocional por ser a realidade viva de todo o nosso ser. Nós nos alegramos nele,
descansamos nele, temos comunhão diária com Ele, levantamos os olhos e sorrimos
para Ele — mas podemos nos comover até às lágrimas quando vemos a luz de amor
em Seus maravilhosos olhos, quando Ele nos fita com o Seu amor do Calvário.
A.W. Tozer disse certa vez: "Os grandes do reino foram
aqueles que amaram a Deus mais do que os outros". Os que realmente fitaram
o rosto de Jesus não puderam deixar de ser atraídos pelo Seu amor. Com grande
freqüência o nosso amor por Jesus é tristemente impessoal. Nós cremos na Sua
Pessoa, adoramos a Sua Pessoa, mas nos relacionamos com Ele de maneira
impessoal. Existe uma distância muito grande, um afastamento trágico em nossa
comunhão.
Verdadeiramente, Ele é nosso Deus infinitamente santo e não
passamos de criaturas deformadas pelo pecado diante dEle. Ele é o nosso Rei e
Soberano e nos curvamos diante da Sua majestade. Mas Ele é também nosso
Salvador, que nos amou com um amor tão eterno que deixou o trono do céu para
tornar-se o Filho do Homem encarnado, para morrer por nós, nos remir para Ele
mesmo e nos tornar o objeto especial do Seu amor. De fato, Ele veio para nos
tornar coletivamente a Sua noiva e pessoalmente a Sua amada.
As palavras de Jesus à igreja de Éfeso sondam o nosso íntimo
como líderes cristãos. A igreja de Éfeso era um modelo. Quando Paulo escreveu a
essa igreja, ele mencionou vinte vezes a palavra amor. Cerca de trinta anos
depois, Cristo fala através de João, acusando-os de terem "abandonado o
seu primeiro amor" (Ap 2:4-5).
Apesar de terem trabalhado com afinco, perseverado
fielmente, serem ortodoxos e separados (v. 2), mantendo-se firmes e inabaláveis
no sofrimento, eles foram mesmo assim uma decepção para Jesus. Precisavam
lembrar-se da altura do amor de onde haviam caído e arrepender-se (v. 5).
É muito mais fácil para nós, líderes, manter a
ortodoxia doutrinária e padrões de trabalho fiel do que manter a doce
intensidade do amor profundamente pessoal. O Jesus ressurreto que perguntou a
Pedro sobre o seu amor (Jo 21:15) pode estar com efeito fazendo a você e a mim
as mesma pergunta básica: "Amas-me mais do que estes outros?". Quer
interpretemos isto como mais do que os outros amam, quer mais do que somos
dedicados ao nosso trabalho, a pergunta essencial permanece: Até que ponto
amamos verdadeiramente a Jesus?
Vamos humilhar-nos diante dEle. Vamos confessar quão
indiferentes e casuais temos sido em nossa expressão de amor por Ele. Vamos
pedir ao Espírito Santo que nos dê um novo batismo de amor por Jesus.
Precisamos da ajuda do Espírito para amar Jesus como elevemos. Talvez tenhamos
tido muito pouco da plenitude do Espírito para nos capacitar a amar com o ardor
pessoal que Jesus deseja. Paulo nos diz que é o Espírito Santo que derrama esse
amor em nossos corações (Rm 5:5). Vamos orar com William Cowper:
Senhor, minha queixa maior
E ser o meu amor frágil e tímido;
Todavia, Te amo e Te adoro;
Oh, que eu possa ter a graça de Te amar mais!
A resposta que Jesus nos dá é esta:
"Aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
manifestarei a ele" (Jo 14:21).
AMAR A JESUS TRANSFORMARÁ A SUA VIDA
Amar a Jesus faz de você um cristão feliz, um cristão cheio
de esperança e fé. Amar a Jesus transformará a sua vida de oração, tanto a sua
comunhão como a sua intercessão. Isso tornará muito mais fácil dar prioridade à
oração. Amar a Jesus fará de você uma testemunha radiante de tudo que Ele significa
para você e faz a seu favor. Amar a Jesus torna você consciente de Deus e cerca
você com a Sua presença. A paixão por Jesus trará nova vida e poder à sua
oratória e pregação; acrescentando uma nova realidade, alegria e muitas vezes
pungência às suas conversas pessoais sobre Jesus.
Todas as outras paixões derivam ou fluem da sua paixão por
Jesus. A paixão pelas almas surge da paixão por Cristo. A paixão pelas missões
se forma através da paixão por Cristo. Quando perguntaram certa vez a Hudson
Taylor qual o maior incentivo para o trabalho missionário, ele respondeu
imediatamente: "Amor a Cristo". A paixão de William Booth para ajudar
os necessitados e a escória da sociedade e pela evangelização do mundo foi um
resultado da sua paixão por Cristo.
O perigo mais crucial para o líder cristão, qualquer que
seja o seu cargo, é a falta de paixão por Cristo. O caminho mais direto para a
renovação pessoal e nova eficácia na liderança é uma nova e consumidora paixão
por Jesus. Senhor, dá-nos esta paixão, qualquer que seja o custo!
Capítulo 16
Resplandecendo com Paixão pelas Almas
Que linda frase! Todavia, quantos de nós quase se esqueceram
da expressão "Paixão pelas Almas". Durante anos ela foi uma tremenda
força motivadora para os filhos de Deus. Com a ênfase dada hoje a termos como
crescimento da igreja, aconselhamento, educação cristã e ministério da
juventude, quase nos esquecemos da ênfase sobre a conquista constante de
pessoas para Cristo.
Todo líder cristão, qualquer que seja seu título ou papel
oficial, deve ser caracterizado por uma paixão para levar outros a Cristo.
Todos aderimos nominalmente à conquista de pessoas. Ficamos um pouco
embaraçados ao falar de "almas", desde que ouvimos a ênfase constante
sobre tratar os indivíduos como uma "pessoa total" — corpo e alma.
Mas todo ser humano tem um aspecto espiritual da sua natureza que viverá para
sempre. Quando o corpo morre, o espírito continua vivendo. Ele será eternamente
salvo, em casa com Cristo, ou perdido eternamente para Cristo e o céu, perdido
numa eternidade sem Cristo, no inferno.
A palavra "alma" continua na Bíblia. Através de
toda a Escritura é enfatizado o conceito de que somos mais do que simplesmente
corpo. Não devemos permitir que a psicologia nos roube a ênfase sobre a alma.
Se preferir, pode usar "espírito" para a natureza espiritual do
indivíduo, mas parece mais comum usar "alma" para o ser completo, com
ênfase especial sobre a natureza espiritual. A salvação afeta todo o ser, o
estilo de vida e a natureza interior. Vamos usar "alma" para o propósito
desta discussão. Jesus perguntou: "Pois que aproveitará o homem se ganhar
o mundo inteiro e perder a sua alma? ou que dará o homem em troca da
sua alma?" (Mt 16:26).
O perigo está em que, embora reconheçamos em nossa
vida ocupada que a conquista de almas faz parte da nossa responsabilidade,
mesmo assim ela se torna quase incidental em nosso plano de trabalho e de
tempo. Ela permanece em nossa meta como teoria, mas na prática não é de fato
uma prioridade em nosso ministério público ou privado.
PRECISAMOS DE PAIXÃO PELAS ALMAS
Nenhum líder cristão é a pessoa de Deus que o
Senhor quer que ele seja, a não ser que dia após dia o desejo consumidor do seu
coração seja o de que as pessoas se acheguem a Cristo. Para isto devemos viver,
desejar, buscar oportunidades, orar e crer. Você não bebeu profundamente do
espírito de Cristo se não compartilhar as Suas lágrimas pelos perdidos que
estão cegamente avançando para uma eternidade separada para sempre do amor de
Deus, da presença de Cristo e com toda esperança de mudança perdida.
Precisamos sentir o amor pelas pessoas que trouxe Cristo do
céu para a terra, que enche o Seu coração no trono do céu
hoje. Precisamos absorver os anseios infinitos do Seu coração, enquanto Ele
olha para um mundo cheio de pessoas mortas em seus pecados, seus sofrimentos e
sua desesperança espiritual. A paixão pelas almas deve vir do coração de
Cristo. Devemos buscar nEle essa paixão até que a encontremos.
Por que Jesus foi um Homem de Dores (Is 53)? Certamente foi
porque Ele levou os nossos pecados sobre si, porque se identificou totalmente
conosco em nossos sofrimentos, e porque hoje o Seu coração infinitamente
amoroso continua ansiando incessantemente pelos perdidos deste mundo. Nós, como
líderes cristãos, não merecemos a Sua graça e pecamos contra o Seu amor se não
vivermos suficientemente perto do Seu coração anelante para receber e
compartilhar o Seu anseio pelas ovelhas que ainda estão fora do aprisco.
D. L. Moody disse certa vez: "Quando vejo milhares de
homens caminhando para a morte, tenho vontade de cair aos pés de Jesus,
chorando e orando, para que ele venha e os salve". Paul S. Rees escreveu
na revista World Vision: "Em nome do céu e por causa da terra,
jamais deixemos esfriar esse 'insaciável desejo de que homens e mulheres sejam
ganhos para Cristo'".
O eloqüente bispo Joseph Berry, ao descrever a parábola do
grande banquete contada pelo Senhor (Lc 14:16-24), aplicando-a à nossa festa do
evangelho hoje, na mesa de Jesus, suplicou: "Vocês não se importam, ó
convidados felizes, com os famintos nas ruas? Fora, fora da luz e do calor!
Fora, na tempestade gelada! Fora, nas ruas sinistras! Convidem-nos a entrar.
Isso não basta. Convençam-nos a entrar. Isso não basta. Obriguem-nos a
entrar!"
O bondoso bispo acrescentou: "O homem que se senta à
mesa do banquete e goza egoisticamente sua luz e calor, sem nem um pensamento
sequer para a multidão faminta lá fora, é uma caricatura de cristão. Ele não
tem uma verdadeira visão do seu Senhor; o fogo do evangelismo também não se
acendeu em seu coração. Ele pode ser um membro de igreja, mas não é um
cristão... Quem não for abalado por esta paixão consumidora será realmente um
discípulo de Cristo?
DEIXE QUE A PAIXÃO PELAS ALMAS INCENDEIE VOCÊ
Muitas das pessoas grandemente usadas por Deus, líderes proeminentes
do povo de Deus que moveram a igreja e o seu mundo para Cristo, foram marcadas
por esta paixão pelas almas. Não leia as palavras que se seguem com descaso
espiritual nem com uma indiferença apressada. Essas foram palavras derramadas
de corações que ansiavam por Cristo, do seu próprio Getsêmani de desejo. Elas
são a essência de todo o seu ser. Elas custaram tudo a eles, num compromisso no
Calvário, sem levar em conta o preço.
John Knox carregava constantemente um fardo pela sua terra.
Noite após noite ele orava no chão de madeira do esconderijo onde se refugiara
para fugir da Rainha Maria. Sua esposa suplicou que dormisse um pouco e ele
respondeu: "Como posso dormir enquanto a minha pátria não estiver
salva?". Payne conta que ele muitas vezes orava a noite inteira em voz
agonizante: "Senhor, dê-me a Escócia ou eu morro!". Deus sacudiu a
Escócia; Deus lhe deu a Escócia. Deus respeita tal paixão pelas almas.
John Wesley, enquanto exortava os pastores de quem dependia
o movimento de reavivamento futuro, insistiu: "Vamos todos ter um só
objetivo. Vivamos só para isto, para salvar as nossas almas e as almas daqueles
que nos ouvem", Wesley clamou novamente: "Dê-me cem pregadores que
nada temam senão o pecado e nada desejem senão Deus, e não me importo que sejam
clérigos ou leigos, tais homens sozinhos abalarão as portas do inferno e
estabelecer o reino de Deus na terra".
David Brainerd, missionário entre os índios americanos, compartilhou
o clamor do seu coração em seu diário: "Separei este
dia para jejuar e orar, a fim de preparar-me para o ministério... De manhã
senti um poder de intercessão pelas almas imortais... De tarde... Deus me
capacitou a agonizar de tal forma em oração que fiquei molhado de suor, embora
estivesse na sombra e o vento fosse fresco. Minha alma foi atraída para o
mundo: suspirei pelas multidões de almas. Acho que me inclinei a pensar mais
nos pecadores do que nos filhos de Deus, embora sentisse que podia passar a
vida inteira clamando por ambos" (19 de abril, 1742).
Ele continua: "Eu não me importava onde
e como vivia, ou quais as dificuldades que tinha de enfrentar a fim de ganhar
almas para Cristo. Passei a tarde e a noite tendo estes pensamentos. Quando
dormia sonhava com essas coisas, e quando acordava a primeira coisa que me vinha
à mente era essa grande obra de suplicar a Deus contra Satanás" (21 de
julho, 1744).
Philip Doddridge escreveu: "Anseio mais pela conversão
de almas do que por qualquer outra coisa. Parece-me que poderia não só
trabalhar, como morrer por essa causa".
James Caughey disse da mesma forma: "Oh, queimar para
Deus! Tudo, tudo por Ele! Só Jesus! Almas! Almas! Almas! Estou
decidido a ser um conquistador de almas. Que Deus me ajude".
John Smith (ganhador de almas inglês) disse: "Sou
um homem de coração quebrantado; não por mim mesmo, mas por causa de outros.
Deus me deu uma tal visão do valor das almas preciosas que não posso viver se
elas não forem salvas. Dê-me almas ou eu morro".
William Cowper escreveu a respeito de Whitefield, grande
evangelista e amigo de Wesley:
Ele seguiu Paulo — seu zelo uma chama acende,
Sua caridade apostólica também.
Whitefield orou: "Ó Senhor, dê-me almas
ou tome a minha alma". Conta-se que o seu rosto brilhava como o de Moisés
ao soluçar essa oração.
Quando William Booth, fundador do Exército de Salvação, foi
inquirido pelo rei da Inglaterra sobre qual a força que dirigia a sua vida, ele
respondeu: "Majestade, alguns homens têm paixão pelo ouro, outros pela
fama, mas a minha paixão é pelas almas".
Charles Cowman, fundador da OMS International (ex-Sociedade
Missionária Oriental), ao escrever sobre os milhares de japoneses, decidiu:
"Com a ajuda de Deus eles ouvirão, mesmo que isso custe cada gota do meu
sangue. Eis-me aqui, Senhor, envia-me! Envia-me!". Foi dito a respeito
dele: "A conquista de uma alma era para ele o que a vitória na batalha é
para o soldado, a conquista da noiva é para o amante; a vitória numa competição
é para o atleta. Charles Cowman vivia para uma única coisa — ganhar almas para
Cristo. Esta era a paixão da sua alma e de maneira extraordinária Deus colocou
o seu selo sobre ela". (l)
Foi dito também como um tributo a Cowman: "Sempre que a
evangelização do Oriente era mencionada, sua alma se incendiava e era possível
ver que ele morreria como mártir através do seu próprio fervor, antes que
chegasse ao ocaso da vida. E ocorreu exatamente isso. Ele pertenceu à classe
dos primeiros mártires cujas almas apaixonadas fizeram do homem material um
holocausto". (2)
John Hyde (o "Hyde que Ora"), usado tão
poderosamente na salvação e reavivamento na Índia como o Apóstolo da
Intercessão, muitas vezes clamou: "Pai, dê-me essas almas ou eu
morro!". Ele se alternava em agonia de intercessão e louvor alegre,
recebendo tremendas respostas à oração e, no final de seu serviço missionário,
estava ganhando em média mais de quatro almas por dia, na maior parte
conseguidas através da oração.
O presidente Walters, da Conferência Metodista Britânica,
lembrou-se de uma manhã de segunda-feira em que ele foi ao escritório de Hugh
Price Hughes, que lançara o Movimento de Avanço Wesleyano, fundando igrejas e
salões centrais. Walters estava ali para falar sobre o seu trabalho dominical.
"Naquela manhã Hughes parecia arrasado, com os olhos cheios de lágrimas —
quebrantado, e só tinha cinqüenta anos de idade! 'Está doente, senhor?',
perguntei. 'Não, respondeu ele, e depois continuou: 'Walters, tivemos três
noites no Salão St. James sem ninguém nas salas de interrogatório — nenhuma
conversão — e não agüento mais. Meu coração vai explodir... Quando Deus me enviou
à parte ocidental de Londres, foi para que, sempre que pregasse, obtivesse um
veredito a favor de Cristo.' "
COMO RECEBER ESTA PAIXÃO
Você quer ser uma pessoa de Deus, com tal paixão pelas almas
que Deus começa a acrescentar uma nova dimensão de produtividade à sua
liderança? Você ousa acreditar que Deus dará isso a você se pedir? Nem todos
são chamados para ser um Whitefield, um Billy Graham, ou um Hyde que Ora. Mas
cada um de nós é chamado para produzir fruto — tanto o fruto do Espírito como o
fruto de almas.
Seu plano de liderança pode envolvê-lo principalmente na administração,
ensino ou outros deveres não-evangelísticos, mas você pode, mesmo assim,
produzir fruto. Alerta Jacobsz, da África do Sul, professora e conselheira,
visitou a obra da OMS na China em 1938 e 1939. Pouco depois Deus levou o
reavivamento, através dela, à OMS e a muitos centros presbiterianos. Ela não
era uma oradora pública, mas seu amor radiante por Jesus atraía de tal forma as
pessoas e as levava a Cristo que muitos a procuravam constantemente em sua sala
ou lhe pediam para falar a pequenos grupos. Centenas encontraram uma nova
experiência em Cristo durante a sua visita.
R. Stanley Tam, de Lima, Ohio (EUA), homem de negócios
e presidente da U.S. Plastics, administra incansavelmente sua empresa
bem-sucedida, mas é também constantemente convidado a falar para igrejas e
grupos de executivos em todo o país. Ele doou seu negócio a Deus, recebe um
salário modesto e todos os lucros vão para o evangelismo missionário. Ele tem a
alegria de levar constantemente pessoas a Cristo durante suas viagens, pelo
telefone, através de panfletos evangélicos em todas as suas remessas, através
de filmes e livros sobre a sua vida e mediante seu testemunho público. Houve
pessoas que chegaram a atravessar o país para encontrar Cristo em seu
escritório. Em 1987, ele levou 1.644 pessoas a Cristo — mais de quatro por dia.
Não existe alegria maior do que levar
alguém a uma experiência transformadora com Cristo. Quanto mais você
experimenta esta alegria, tanto mais irá querer que Deus faça de você um
conquistador de almas. Como poderá encontrar cada vez mais esta alegria em sua
própria experiência?
1. Torne-se mais dedicado a Jesus Cristo do que nunca.
Este é o fundamento da motivação para ganhar almas, e é o segredo
da atração cristã radiante. Quanto mais pessoal a sua comunhão diária com
Jesus, tanto mais vibrante a sua comunhão pessoal em oração, tanto mais natural
e entusiasticamente você fala sobre Jesus com outros, tanto mais Deus poderá
usar você. Não é a motivação profissional para testemunhar que produz
resultados. Você precisa ter amor pessoal por Jesus, um sentimento tão real e
compensador que você transborda de amor por Ele. Você então não conseguirá
manter-se em silêncio.
2. Peça especificamente a Deus para dar-lhe uma paixão
pelas almas. Peça a Deus em sua oração diária que Ele o ajude a
levar pessoas a Cristo. Faça disso uma das prioridades dos seus pedidos
diários.
3. Peça a Deus que lhe dê sensibilidade em relação a
outros. Peça a Ele para dar-lhe olhos para ver e ouvidos para
ouvir os que o rodeiam. Peça a Ele para ajudá-lo a discernir as mágoas, os
clamores do coração e as necessidades daqueles a quem encontra.
4. Peça a Deus que o torne espiritualmente radiante.
Peça a Ele, a cada dia, que o torne como Cristo, transbordando de alegria
no Senhor e ungido pelo Espírito em todos os seus contatos. Peça a Ele que
coloque algo da Sua presença e glória de modo tão evidente em sua face e em
suas ações que outros sejam atraídos para Ele.
5. Peça a Deus uma coragem cativante no testemunho.
Peça a Ele um espírito de iniciativa amoroso, que se importa, levando-o a
reconhecer as portas que forem abertas e ajudando-o a aproveitar-se das suas
oportunidades. Peça a Ele que o faça alerta para utilizar os momentos
estratégicos paia o Senhor.
6. Peça a Deus que o torne confiante e positivo.
Ele irá alegremente livrá-lo do medo. Quanto mais você falar a outros sobre
Cristo e sobre a sua vida espiritual e pessoal, tanto mais confiante se tornará
e será mais fácil para Deus usá-lo.
7. Dê constante prioridade à oração. Dê
prioridade tanto à oração comunitária como à intercessória. A oração é a chave
para a sua radiância espiritual e pessoal. A oração é o segredo para a
orientação em seus contatos e testemunhos. A oração é a chave para a unção do
Espírito em sua vida e esforços. A oração é a chave para que o poder de Deus o
revista, de modo a haver uma dimensão divina em seus esforços para ganhar
almas. A oração é o segredo para uma paixão pelas almas e para toda a sua vida
espiritual. Dê prioridade à oração.
Há um século, Deus usou grandemente o Dr. A.T. Pierson, um
ministro presbiteriano, como pastor na América do Norte, no Tabernáculo de
Spurgeon em Londres, e como editor e líder do Movimento Estudantil Voluntário. Ele
conta aqui como receber esta paixão ardente pelas almas:
Existe uma comunhão secreta com Deus pela qual obtemos este fogo do céu em
nosso íntimo, e ela torna o trabalho pessoal com as almas fácil, natural, um
alívio e um descanso. Demorar-se na presença de Deus até que vejamos as almas,
como se através dos Seus olhos, nos faz pensar nelas com desejo incansável.
Esta paixão pelas almas é provavelmente o produto mais elevado da
comunhão espiritual com Deus. Ele nos absorve, e até a nossa própria salvação é
esquecida nesse anelo apaixonado que levou Moisés a pedir para que seu nome
fosse apagado do livro de Deus por causa de Israel. Ou que dispôs Paulo a
tornar-se anátema por causa de seus irmãos.
Parece-me que tal paixão é a forma mais sublime do amor abnegado, e a maior aproximação do motivo divino que impeliu Cristo a esvaziar-se de sua
glória e majestade originais, assumindo a "forma de servo" e
suportando até a cruz.
Homem algum pode incendiar a
si mesmo com esse fogo celestial; ele deve vir da brasa viva do altar lá do alto.
Capítulo 17
Seu Amor pelos Perdidos
Deus amou tanto o mundo que deu Jesus para a salvação do
mundo de pecadores. Tudo o que somos e tudo o que temos devemos ao grande amor
de Deus por nós enquanto ainda éramos rebeldes, mediante nossos atos
pecaminosos. Jesus morreu por nós, não por sermos maravilhosos ou bons, mas por
puro amor. Não existe um meio melhor de retribuir a Deus Pai e a nosso amoroso
Salvador do que amar o mundo que Eles ainda amam com o mesmo amor redentor.
DEUS NOS DÁ O SEU AMOR ÁGAPE
Deus depende de você e de mim para transmitir o Seu amor.
Todo cristão tem uma dívida que não pode pagar de outra forma. O amor de Deus
era o "amor ágape" (termo grego usado repetidamente para amor no Novo
Testamento) — amor pelos indignos, pelos pecadores, que pelos seus atos e
atitudes eram inimigos de Deus (Rm 5:10; Cl 1:21).
O Espírito Santo derrama esse mesmo amor ágape em nossos
corações, de modo que amamos os outros com o mesmo amor pelos indignos, pelos
pecadores. Devemos amar nossos semelhantes porque Deus os amou e nos chama para
representar e manifestar o Seu amor a eles.
É comparativamente fácil amar Deus Pai, Jesus nosso Salvador
e o Espírito Santo, nosso Conselheiro e Ajudador. Nós respondemos ao grande
amor que Eles nos dedicam. Não é geralmente difícil amar nossos irmãos em
Cristo, pois a igreja deve ser uma família de amor. O amor
se torna mais custoso, em geral mais difícil e mais divino, quando amamos os
pecadores, os odiosos cujas vidas estão cheias de maldade. Mas este é o amor
que Deus quer que os cristãos manifestem. Este é o amor ágape que Ele nos dá e
alegremente multiplica em nós, a fim de podermos transmitir ao nosso mundo
necessitado.
O AMOR PELAS ALMAS É UM AMOR ANSIOSO
O amor de Cristo cria em nós o desejo de salvar
os perdidos. Esta deve ser a emoção característica do obreiro cristão. Deve
existir nele um desejo constante, sempre presente, pela salvação de todos. Há
momentos em que você talvez não perceba este anseio, mas ele volta
imediatamente à sua consciência quando você se envolve com pessoas que não
conhecem Cristo.
Quando encontra crianças e jovens, anseia
por vê-los crescer e viver para Cristo. Quando você se dá conta de que eles já
mostram evidência do processo de endurecimento do pecado, você sofre e quer
encaminhá-los para Deus. Quando vê os perdidos escravizados pelos maus hábitos,
deseja que Cristo os liberte. Quando os ouve blasfemar o nome de Jesus, seu
coração sangra e anseia levá-los para o nosso Cristo amoroso. Quando vê aqueles
que evidenciam a presença do poder ou controle demoníaco, imediatamente deseja
que Cristo os livre.
O amor pelas almas é sempre um amor
ansioso. A pessoa que ama as almas com o amor ágape de Cristo passa pela vida
ansiando constantemente e faz breves orações de ânsia santa em favor dos que
estão à sua volta.
Surgem também períodos súbitos e temporários de oração
intensa e amor ansioso, que o Espírito Santo confia especialmente aos que vivem
uma vida de fome de almas. Muitas vezes isto acontece quando alguém que Deus
deu a você como um fardo está enfrentando uma tentação especial, desânimo em
sua vida ou é dolorosamente derrotado e escravizado por Satanás. O Espírito
Santo deseja de tal forma a salvação desse indivíduo que derrama o Seu amor
ágape no seu coração justamente na hora da necessidade, e você sente uma
vontade intensa de orar.
Você é na verdade abençoado se o Espírito Santo lhe confiar
esse fardo especial de oração. Passe instantaneamente a orar, se possível. É
bem provável que depois de uma hora ou duas de oração, ou talvez um período
maior de oração e jejum, Deus quebre os laços do pecado e de Satanás e liberte
o cativo. Que testemunhos esplêndidos têm sido dados sobre vitórias
espirituais, em todo o mundo, quando os filhos de Deus se mostraram fiéis a
esse compromisso de oração dado pelo Espírito. Deus pode enviá-lo a você sempre
que precisar da sua intercessão especial, caso esteja tendo uma vida de amor
ansioso pelas almas. Deus lhe dá esses momentos intensos de oração? Caso
negativo, você talvez não tenha realmente ansiado pelas almas.
Em outras ocasiões o Espírito, durante um período de dias ou
semanas, aprofunda um interesse em oração ou desejo especial em seu coração
pela salvação de determinadas pessoas, até que você literalmente passa a ter
fome e sede da sua salvação. Este é também um privilégio especial — ser
incumbido de tal encargo santo de oração.
Deus dá às vezes uma tarefa a longo prazo e um amor contínuo
e ansioso por um determinado lugar ou pessoas. Deus pode dar esse fardo santo a
qualquer pastor, pelo povo da comunidade onde foi colocado por Ele. Deus coloca
essa ânsia no coração de outras pessoas também. Minha mãe carregou durante anos
uma fome pelo povo da China e da Índia. Durante anos, praticamente todos os
dias, quando orava durante as orações em família por esses dois países, ela se
quebrantava e chorava antes de terminar sua oração. O seu amor era profundo e
constante, e ela será recompensada eternamente pelos anos em que sentiu tal
fardo de amor por essas terras. Este é o amor de Jesus se estendendo e sendo
mediado através dos cristãos pelo Espírito Santo.
Os grandes ganhadores de almas foram sempre aqueles que
ansiaram pelas almas e oraram por elas. T. De Witt Talmage afirmou: "Se
Deus não me der a minha oração, não vou suportar. Eu me ofereço. Eu ofereço a
minha vida a este trabalho. Que uma grande multidão da almas possa nascer de
Deus". Matthew Henry, o grande comentarista, escreveu: "Considero
maior felicidade ganhar uma alma para Cristo do que montanhas de ouro e prata
para mim mesmo".
Rutherford disse ao seu povo: "Meu testemunho está no
alto, que o seu céu seja dois céus para mim, e a salvação de todos vocês como
duas salvações para mim". Em outras palavras, a sua alegria no céu seria
dobrada se o seu povo fosse salvo. David Stoner clamou em seu leito de morte:
"Oh, Senhor, salve os pecadores às vintenas, às centenas e aos
milhares".
David Matheson, evangelista escocês, disse a respeito do seu
ministério: "Nem por um minuto o pensamento da conversão de almas ficou
longe de meus olhos. Tenho servido ao Senhor por vinte e dois anos. Tenho
procurado ganhar almas. Essa tem sido a minha paixão".
O Dr. Oswald J. Smith, de Toronto, compartilhou seu amor
pelas almas nestes trechos do seu diário: "Jamais ficarei satisfeito até
que Deus opere em grande poder de persuasão e homens e mulheres chorem a
caminho da cruz." "Oh, que Ele me quebrante e me faça chorar pela
salvação de almas." "Oh, queimar para Deus! Tudo, tudo por Ele. Só
Jesus! Almas! Almas! Almas! Estou decidido a ser um ganhador de almas. Deus me
ajude." "Cerca de três horas da tarde eu estava orando, quando
subitamente parei e comecei a louvar a Deus. As lágrimas corriam copiosamente.
Tudo o que eu podia fazer era soluçar: 'Eles estão perdidos! Eles estão
perdidos! Eles estão perdidos!', e assim chorei e orei por essas pessoas".
(1)
Thomas CoIIins disse: "Fui para o meu retiro solitário
entre as rochas, chorei enquanto suplicava ao Senhor que me desse almas".
"Supliquei a Deus por almas neste dia durante horas, na mata. Ele as dará.
Conheço o seu sinal. Terei almas esta noite."
Quando o presidente de uma faculdade, homem de oração,
recebeu a notícia de que morreria dentro de meia hora, ele exclamou:
"Então me tirem da cama e me coloquem de joelhos, quero passar esse tempo
pedindo a Deus pela salvação do mundo". E ele morreu de joelhos.
David Brainerd sentiu ânsia pela salvação dos índios
norte-americanos. Eles resistiam ao evangelho, temiam e desconfiavam dos
colonizadores brancos. Mas David Brainerd foi para as florestas onde moravam e
ali viveu, chorou e lutou em oração durante meses. Ele tinha constantemente
fome e sede pelas almas deles. Orou hora após hora com tal intensidade que
acabou totalmente esgotado.
Brainerd estava literalmente consumido de amor santo e ânsia
santa pela salvação dos índios. Ele derramou física e espiritualmente a sua
vida por aqueles a quem amava com tanta profundidade. Ele escreveu em seu
diário, em 21 de julho de 1744: "Eu desejava ansiosamente que Deus
obtivesse um nome para si mesmo entre os pagãos".
Durante quase três anos o interesse intenso de Brainerd
continuou. Repetidas vezes em seu diário há registro de períodos de
"luta". Ele continuou todo o tempo derramando seu amor e sua vida a
favor dos índios. Então, repentinamente, o Espírito de Deus veio sobre eles. Os
que alguns dias antes estavam vivendo na bebedeira e nos festejos pagãos,
participando de "danças de guerra selvagens e ruidosas", foram
subitamente tomados por uma convicção profunda de pecado, dada pelo Espírito.
De todas as direções os índios surgiam, rodeando a casa e entrando nela, de pé
e mudos enquanto ele pregava.
Muitos caíram no chão, em grande angústia de
alma, ao orarem para o Jesus de quem Brainerd lhes falara. Enquanto fazia
evangelismo pessoal com alguns deles, o Espírito de Deus veio como um vento
impetuoso reminiscente do Dia de Pentecostes. Pessoas de todas as idades
choravam e suplicavam a misericórdia de Deus. Em toda a casa e em volta dela,
os índios se arrependiam e oravam pela sua salvação. Muitos foram de tal forma
tomados por Deus que não podiam andar ou ficar de pé, caindo de joelhos diante
dEle. Tribos inteiras começaram a ter fome e sede da salvação.
Qual foi o segredo? Amor esmagador pelas almas, amor
consumidor pelas almas que compeliu literalmente Brainerd a orar, chorar e amar
aqueles índios pagãos indiferentes. Ele derramou a sua alma e as
suas forças mês após mês, muitas vezes combalido de corpo e fraco por causa da
tuberculose. Mas se manteve firme até que, repentinamente, o Espírito Santo
veio em ondas de poder salvador.
Oh, o poder irresistível do amor do
Espírito Santo e da intercessão capacitada pelo Espírito! Esta é a nossa
necessidade essencial hoje. Cada movimento do Espírito tem características
diferentes. Deus tem infinito amor e infinita originalidade. Os detalhes irão
variar a cada vez e lugar quando Deus operar em poder e reavivamento. Mas os
princípios básicos são os mesmos. O amor do Espírito Santo e a oração
energizada pelo Espírito Santo são o segredo e o preparo poderoso para o poder
e a colheita do Espírito Santo.
O AMOR PELAS ALMAS É UM AMOR QUE BUSCA
Quando o Espírito Santo encher o seu coração com
ânsia indizível pelas almas, Ele guiará você, a qualquer lugar possível, de
modo a expressar esse amor na busca aos perdidos. Jesus nos ensinou que o amor
busca. O pai do filho pródigo viu o seu filho transviado, sofrido, muito antes
de ele chegar em casa. O coração amoroso e ansioso do pai o levou a correr para
encontrar-se e dar as boas-vindas ao seu filho perdido há tanto tempo.
O coração amoroso do bom pastor não se
satisfaz com as noventa e nove ovelhas na segurança do redil, enquanto uma está
perdida na noite. O amor que busca o impele a caminhar sozinho pelos morros e
vales, procurando a ovelha perdida até encontrá-la. E quando isso acontece, ele
alegremente carrega a ovelha nos ombros e a leva para casa, chamando os amigos
e vizinhos para se alegrarem em sua companhia (Lc 15:3-7).
A GRANDE ALEGRIA QUANDO O PERDIDO É ACHADO
Há muita alegria quando o perdido é encontrado. Os céus e a
terra se rejubilam. A pessoa recém-salva descobre uma nova e vibrante alegria
em seu coração — a alegria do Senhor. Quase sempre a família do novo crente se
alegra com a transformação produzida por Jesus.
A igreja de um pastor que ganha almas é uma igreja feliz.
Pense na constante alegria de novos irmãos e irmãs na família de Deus, na
alegria dos testemunhos pessoais da graça transformadora de Deus, na alegria
quando os membros da igreja se contagiam com a visão da conquista de almas e
começam a experimentar a emoção de levar pessoas a Cristo. Líder algum
experimenta uma alegria comparável à do ganhador de almas, o júbilo de ver as
respostas às orações pelos perdidos.
Jesus falou da alegria do céu por cada pecador arrependido.
Ele não disse quem se rejubila, mas estou certo de que todo o céu se alegra. Os
anjos com certeza se alegram com os triunfos do evangelho. Como eles vibram ao
observar nosso ministério de evangelização, quando o Espírito Santo opera
poderosamente (1 Pe 1:12). Mas Jesus não diz especificamente que os anjos se
rejubilam. Ele diz que há alegria no céu (Lc 15:7) e alegria "diante dos
anjos de Deus por um pecador que se arrepende" (v. 10). A quem Ele se
refere? Parentes ou amigos do novo crente que já estão no céu? Eles
provavelmente são informados, mas não podemos ter certeza. Se forem, irão
alegrar-se grandemente.
Mas quem se alegra mais que todos? Quem fez o maior e mais
custoso sacrifício para tornar possível a salvação dessa pessoa? Certamente o
Deus Trino — Pai, Filho e Espírito Santo. Todos se envolveram, a fim de prover
e aplicar a redenção. Seu coração infinito deve rejubilar-se indizivelmente
mais do que os de quaisquer outras criaturas no céu e na terra. Se você quiser
levar alegria ao céu e se quiser um galardão rico e eterno, leve almas a Cristo.
"Os que forem sábios, pois, resplandecerão, como o
fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas
sempre e eternamente" (Dn 12:3). Que maior sabedoria você pode mostrar do
que ganhar almas, quando a salvação de cada alma é tão importante para a
Trindade? Quão insensato você mostraria ser se deixasse de orar e esforçar-se
para a salvação do maior número de pessoas possível? Você está pessoalmente
ganhando almas?
Capítulo 18
Você Não Tem Outra Alternativa senão Buscar os Perdidos
O amor por Jesus impelirá você a buscar os perdidos. O
respeito por Deus, pelo preço que Jesus pagou pela sua salvação no Calvário,
obrigará você a isso. Que espécie de amor temos por Deus se ele não nos levar a
desejar e buscar a salvação daqueles por quem Jesus anseia tão constantemente?
Até o amor pela humanidade deveria impelir-nos a buscar os perdidos. Quando
sabemos que é ou salvação ou inferno, o mero respeito pelos nossos semelhantes
deve levar-nos a fazer tudo que pudermos para conduzir as pessoas a Cristo,
pois Ele é a sua única esperança de céu.
Não existe alternativa. O que for necessário para
encontrá-los, persuadi-los, ganhá-los — o amor ágape nos leva a fazer.
Quaisquer que sejam os passos de preparação para a salvação de outros, o Espírito
quer guiar-nos.
Deus ordenou ao Espírito Santo que opere através de nós.
Você pode prejudicar a operação do Espírito. Você pode ser o elo que falta no
plano de redenção de Deus. Oh! que tragédia são as igrejas que não ganham
almas! Como seus pastores prestarão contas disso a Cristo no dia do juízo? Há
quanto tempo você não leva novas pessoas a Cristo? Que tragédia quando os
ministros não aprendem a alegria de ganhar almas constantemente! O que nos faz
tão cegos? O que nos impede de nos comovermos com a idéia de céu e inferno?
Cremos naquilo que pregamos? George Whitefield disse: "Estou persuadido de
que quase todos os pregadores falam de um Cristo que não conhecem e não
sentem. Muitas congregações estão mortas porque homens mortos estão pregando a
elas".
Um notório assassino britânico foi condenado
à morte. Na manhã da sua execução, o capelão da penitenciária o acompanhou até
o patíbulo e leu rotineiramente alguns versículos bíblicos. O prisioneiro ficou
chocado ao ver o capelão tão perfuntório, tão insensível, mesmo à sombra da
forca. Ele disse ao pregador: "Senhor, se eu cresse naquilo que o senhor e
a igreja dizem crer, mesmo que a Inglaterra estivesse coberta de vidro quebrado
de costa a costa, eu andaria sobre ele — se necessário sobre as minhas mãos e
joelhos — e acharia ter valido a pena só para salvar uma alma de um inferno
eterno como esse".
Moisés se colocou repetidamente na brecha
entre Deus e o pecado de Israel, ao prostrar-se diante do Senhor. Temos muitas
menções de ele ter pedido a Deus que perdoasse e não destruísse a nação (Ex
32:11-13,31-32; Nm 11:2; 12:13; 14:5-20; 16:4,22,45; 20:6; 21:7). Ele enviou
Arão para passar com o incensário entre o povo e fazer cessar a praga, pondo-se
em pé entre os vivos e os mortos (Nm 16:46-48). Será que Moisés no trono do
juízo de Cristo ou no céu perguntará a você por que não intercedeu mais pelo
seu povo e procurou mais fiel e assiduamente resgatar os pecadores a caminho do
inferno?
Quando Neemias ouviu falar dos problemas em Jerusalém, ficou
tão entristecido que não conseguiu ficar de pé. Sentou-se e chorou. Por alguns
dias ele se lamentou, jejuou e orou (Ne 1:4-11). Neemias deixou a sua posição
influente e honrada de copeiro e confidente do maior imperador da sua época, a
fim de pagar qualquer preço., arriscar a sua vida e conseguir o bem-estar dos
judeus. Neemias perguntará um dia a você por que fez tão pouco para procurar os
perdidos de sua cidade e bairro?
Quando Josafá era rei de Jerusalém, ficou tão pesaroso com
os pecados do povo que enviou seus príncipes para ensinar ao povo em todas as
cidades a vontade e a Palavra de Deus, aquela parte do Antigo Testamento então
disponível. Aparentemente, o próprio rei Josafá foi de cidade em cidade
ensinando e evangelizando (2 Cr 17:9).
Ele andou uma segunda vez entre o povo, de uma extremidade a
outra da nação, a fim de levá-lo de volta a Deus. Ele exortou seus oficiais a
considerar cuidadosamente o que faziam, pois eram representantes de Deus. Disse
o rei: "Admoestai-os, que não se façam culpados para com o Senhor, para
que não venha grande ira sobre vós, e sobre vossos irmãos" (2 Cr 19:10).
Se Josafá, que era rei, sentiu que pecaria se não fosse buscar os perdidos, o
que ele dirá a você e a mim? Somos servos de Cristo, temos hoje a mensagem
clara do evangelho, fomos separados para alcançar os perdidos. Como podemos
justificar-nos por fazer tão pouco para buscar e salvar os não-salvos à nossa
vol íta?
O que os santos de Deus no céu dirão a você, perguntando por
que não fez mais para salvar os seus filhos e filhas, seus entes queridos e
amigos? Que desculpa você e eu daremos a eles por não termos buscado mais
continuamente, e até desesperadamente, a fim de impedir que os seus entes
queridos vão para o inferno?
Se o homem rico no lugar de tormento pediu a Abraão para enviar
Lázaro, a fim de advertir seus cinco irmãos para que não fossem também para ali
(Lc 16:27-28), o que você dirá diante do trono do juízo de Cristo se vizinhos e
amigos seus, condenados, apontarem o dedo para você e protestarem pelo fato de
você ter ido para o céu, sabendo a respeito do inferno e tendo feito tão pouco
para adverti-los e salvá-los do seu tormento? O que você dirá quando eles lhe
perguntarem por que não fez todo o esforço possível para impedir que os seus
entes queridos fossem para o inferno?
Não há realmente alternativa. Se amamos a Deus Pai, devemos
procurar os perdidos. Se amamos Cristo que morreu pelos não-salvos, devemos
tentar levá-los a Jesus. Se tivermos qualquer amor humano, devemos buscar os
perdidos e tentar protegê-los das chamas eternas do inferno. Um dia, quando
estivermos diante do trono do juízo de Cristo, desejaremos ter feito, oh, muito
mais para buscar e salvar os perdidos.
É importante que o livro de Apocalipse nos lembre duas vezes
de que depois da ressurreição nossas lágrimas serão enxutas? Deus vai
enxugá-las quando a grande multidão de crentes, incluindo os da Grande
Tribulação, estiver a salvo no céu. Eles são a multidão que ninguém pode contar
de todas as nações da terra, e se rejubilam diante do trono (Ap 7:17). Mas
é-nos dito novamente que, depois do julgamento final, quando todo pecador tiver
sido julgado e enviado para o lago de fogo, Deus enxugará toda lágrima de
nossos olhos (Ap 21:4). Será que você e eu vamos chorar no dia do juízo por
causa dos perdidos que deixamos de ganhar? Será por isso que somos novamente
informados de que Deus irá enxugar as nossas lágrimas?
COMO BUSCAR OS PERDIDOS COM AMOR E EFICÁCIA
Reconheça como é essencial tanto para Deus como para a
humanidade que você busque os perdidos. Reconheça quão crucial é que os
não-salvos sejam alcançados o mais depressa possível, já que a última
oportunidade para ser salvo pode chegar a qualquer momento.
Reconheça que o Espírito Santo é Aquele que Busca. Só Ele
sabe a necessidade completa, as circunstâncias, a atitude interior e os
pensamentos de cada pessoa. Você precisa dEle para coordenar e ajudar o seu
evangelismo. Os seus melhores esforços podem facilmente falhar. Você deve
compreender que, embora o Espírito Santo deseje usar você, não existe alternativa
para a sua total dependência dEle, em todo o seu amor que busca.
1. Peça ao Espírito que lhe dê olhos para ver quando
o coração da pessoa estiver pronto, quando ela enfrentar uma crise em que você
possa ajudar, quando o Espírito a colocar no seu caminho com um propósito. Peça
ao Espírito que lhe dê olhos para ver as pessoas como Ele as vê e para vê-las
com o amor com que Ele as vê.
2. Peça ao Espírito para guiar você, a
fim de que esteja no lugar certo e na hora certa para falar, abençoar e amar a
pessoa certa. Só Ele sabe que pessoa está enviando para você ajudar. Só Ele
conhece todas as circunstâncias. Ele conhece todos os pensamentos
e desejos da pessoa. A orientação de Deus e o tempo de Deus são perfeitos.
3. Peça ao Espírito que lhe dê o seu toque ungido.
Só Ele conhece o grito mais fundo do coração e as emoções de cada pessoa.
Existem certas abordagens-padrão úteis no evangelismo. Mas Deus pode planejar
que você faça uma abordagem diferente. Ele pode planejar que você tenha vários
contatos iniciais, a fim de preparar o caminho antes que o Seu momento
estratégico aconteça. Só Ele sabe a maneira de entrar em contato, a hora de
sorrir, oferecer ajuda, mostrar amizade ou boa vontade, ou o momento de
pressionar. Só Ele sabe qual o melhor meio de mostrar empatia, de expressar
compreensão e apreciação. Ele pode até, por outro lado, usar você para
despertar a pessoa para a sua necessidade mediante correção, restrição verbal
ou sugestão.
Ninguém sabe o suficiente para dar o toque necessário em
cada ocasião. Cabe ao Espírito Santo guiar e ungir você, dar-lhe compreensão e
amor e fazer com que o seu toque seja aquele exatamente necessário. Peça a Ele
para controlá-lo completamente e usá-lo.
4. Peça ao Espírito que
lhe dê as palavras certas. A
palavra certa na hora certa pode atrair a atenção de uma pessoa e interessá-la.
Por outro lado, a palavra errada pode fazer com que se afaste com desgosto ou
aversão. A palavra errada pode prejudicar a pessoa a quem o Espírito Santo está
atraindo para Cristo. Mas quem pode saber constantemente a palavra certa a ser
usada? Só o Espírito Santo.
Certa manhã de domingo, numa casa de hóspedes em
Bombaim, onde eu tinha ficado vários dias enquanto fazia negócios na cidade,
uma palavra casual minha em resposta a uma pergunta foi ouvida por outro
hóspede. Ele tinha sido apresentado como jornalista. Depois da refeição, ele
perguntou a razão de ter usado aquela palavra e o que eu sabia a respeito dela.
Os minutos se transformaram em horas, e cerca do meio-dia eu levara a Cristo um
ministro desviado, enquanto ele chorava lágrimas de arrependimento.
Este encontro escolhido pelo Espírito teve tremendas
implicações. Aquele homem chegara à Índia para inaugurar uma seita com a ajuda
de um dos líderes políticos da Índia. Deus me usou para bloquear os planos de
Satanás. O homem destruiu toda a literatura que já estava preparada, e a causa
de Cristo foi protegida. Deus fizera uso de uma palavra "casual" em
minha conversa, a qual, sem que eu soubesse, o Espírito me guiara a usar.
Em outra ocasião, enquanto viajava de trem pela Índia, Deus
usou uma palavra que falei ao responder a uma pergunta para interessar outro
viajante. Antes de a viagem terminar, tive uma oportunidade de três horas para
responder a perguntas sobre Cristo e o cristianismo para cerca de vinte líderes
do governo. Uma palavra, no tempo de Deus, tendo o Espírito preparado o
caminho, foi a chave. Peça a Deus para guiar as suas palavras, mesmo nas suas
conversas não-evangelísticas. Você pode começar a buscar almas a qualquer momento
quando o Espírito está no controle.
O AMOR PELAS ALMAS É UM AMOR SACRIFICIAL
O amor não hesita em pagar qualquer preço. O amor que busca
pode ser caro. Existe sempre um preço em amar as pessoas para Cristo. Por causa
do evangelho elevemos estar dispostos a negar o ego, qualquer que seja o custo.
Jesus falou claramente: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim,
não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz, e vem após mim, não é digno de
mim" (Mt 10:37-38). O que significa seguir Jesus? Isso não inclui apenas
deixar de lado nosso pecado e receber Cristo como Salvador, mas também fazer de
Cristo nosso Senhor e segui-lo mediante um discipulado de alto preço. Jesus
procurou os perdidos, não tendo muitas vezes onde pousar a cabeça (Mt 8:20).
Jesus procurou mesmo ao preço de valiosos laços familiares (Mt
12:48-49). Seguir Jesus no evangelismo em geral envolve tal devoção suprema a
Cristo que nos custa períodos preciosos de comunhão em família (Lc 14:26-27).
Seguir Jesus envolve a cruz.
Seguir sacrificialmente a Jesus com amor ágape, enquanto
buscamos os perdidos, envolve um preço a ser pago por nós hoje. John Henry
Jowett em seu livro The Passion for Souls ("Paixão pelas
Almas") suplica: "Meus irmãos, estamos nós nesta sucessão? O grito
das necessidades do mundo penetra o coração e soa através de nossos sonhos?
'Completamos' os sofrimentos do Senhor com os nossos próprios sofrimentos, ou
somos os ministros insensíveis de uma poderosa paixão?".
Jowett também disse: "Para estar... na sucessão
sacrificial, nossa simpatia deve ser uma paixão, nossa intercessão deve ser um
gemido, nossa beneficência, um sacrifício e nosso serviço, um martírio".
A identificação cristã com pessoas necessitadas toma sobre
si seus sofrimentos e ais. Sentimos as cadeias do pecado que as algema.
Sentimos as angústias dos votos quebrados, os clamores amargos dos que pecam e
daqueles contra quem é cometido pecado. Encolhemo-nos diante do ódio gerado
pelo inferno. Lutamos contra os tiranos malignos que prendem essas pobres
vidas. Combatemos os poderes satânicos das trevas que as escravizam. Procuramos
arrebatá-las do fogo (Judas 23).
A conquista de almas envolve batalhas espirituais. As
batalhas com Satanás não são rápida nem facilmente ganhas. O amor fica ferido,
o amor fica com cicatrizes; mas o amor que busca, que se sacrifica, não desiste
porque o Espírito de Deus que busca não desiste. Embora o custo envolva a
entrega da própria vida como um sacrifício vivo, o amor continua buscando.
Embora ele encurte a vida ou signifique o martírio, o amor continua buscando.
O amor, como Paulo admite, em geral não consome apenas o que
tem, mas também a si mesmo (2 Co 12:15). O amor sempre carrega a cruz em seu
coração. O amor que busca tem o caráter do Calvário. Paulo não se envergonhava
de levar no corpo as marcas de Jesus (Gl 6:17). O céu está cheio de veteranos
com cicatrizes de batalhas adquiridas na guerra santa do amor de Deus. Jesus se
gloriará em nos mostrar, no céu, as suas mãos feridas pelos pregos, como o fez
no domingo da ressurreição (Jo 20:20).
Amy Carmichael, uma das mártires missionárias
da Índia, há alguns anos escreveu um poema penetrante chamado "Nenhuma
Cicatriz?", no qual ela pergunta a você e a mim se temos cicatrizes de
ferimentos sofridos no serviço sacrificial a Cristo. Suas últimas palavras para
nós são estas:
Pode ter ido muito longe
Aquele que não tem um ferimento ou cicatriz?
O segredo do ministério para ganhar
almas é o amor. O amor que anseia, que busca, que sofre alegremente. O amor
disposto a ostentar uma cicatriz.
Capítulo 19
Seu Amor pela Igreja
Faz parte do plano eterno de Deus ter um corpo de pessoas
chamado para fora do mundo, remido pelo seu sangue e especialmente dedicado a
Ele em amor. Jesus disse: "Edificarei a minha igreja" (Mt 16:18). Ele
é o cabeça sobre todas as cousas para a igreja (Ef 1:22).
"Ele é a cabeça do corpo, da igreja" (Cl 1:18). Ele quer que a
sabedoria de Deus seja provada ao mundo dos anjos pela igreja (Ef 3:10).
"Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por
ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água
pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem
ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef 5:25-27).
Cristo amou a igreja e escolheu-a para ser a Sua noiva
eterna (Ap 21:1-3). Cristo quer que a igreja seja espiritualmente bem
alimentada, espiritualmente segura, espiritualmente radiante e espiritualmente
adornada como a Sua noiva amada, bela, atraente.
VOCÊ É CHAMADO PARA AMAR A IGREJA
Cristo escolheu você para cuidar da Sua igreja ou de um
grupo dentro dela. Ele quer que você ame a igreja com o Seu amor. Como líder
cristão você é o responsável por cuidar dela para Ele. Ele quer encher você com
o Seu amor ardente por ela.
Só há um meio de você poder ser um pastor-líder adequado da
igreja ou de um grupo do povo de Deus: cuidar amorosamente dessas pessoas até
que Cristo venha pessoalmente levá-las como coisa exclusivamente Sua. Você deve
amar a igreja com o amor especial de Cristo, provido pelo Espírito Santo.
Não basta que você ame os crentes como seus semelhantes,
como seus amigos, ou mesmo como companheiros de fé. Você precisa amá-los com o
amor de Cristo, dado pelo Espírito. Cristo chama você para amar por Ele, para
ser a sua oferta de amor para a igreja. Ele enviou o Espírito Santo para
dar-lhe o amor de que você precisa. Você é designado para ser o Seu canal de
amor. Paulo é provavelmente o maior exemplo do amor de Cristo pela igreja
através de nós. Suas cartas revelam a intensidade, o compromisso e a plenitude
sacrificial do seu amor.
COMO AMAR A IGREJA
1. Agradeça a Deus pela igreja. Ela é o
grande tesouro de Deus, Sua noiva preciosa, bem-amada. Ela é a Sua alegria
constante. Ele aguarda ansiosamente para que se complete o tempo da Sua noiva e
Ele possa vir recebê-la para Si mesmo (Ef 5:25-26). Assim como Cristo agradece
a Deus pela igreja, nós também devemos fazê-lo. Paulo é aqui, novamente, um
exemplo destacado.
"Sempre dou graças a [meu] Deus a vosso respeito" (1
Co 1:4). "Tendo ouvido... não cesso de dar graças por vós, fazendo menção
de vós nas minhas orações" (Ef 1:15-16). "Dou graças ao meu Deus por
tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós,
em todas as minhas orações" (Fp 1:3-4). "Damos sempre graças a Deus,
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós" (Cl 1:3).
"Damos sempre graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas
orações, e sem cessar recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai..." (1 Ts
1:2-3). Você está agradecendo constantemente a Deus pela sua igreja? Agradecer
repetidamente a Deus aumenta o seu amor.
Só o amor, amor paulino, amor de Cristo, pode sustentar você
e capacitá-lo a ser o líder do seu povo que Deus quer que seja. Você precisará
orar muitas vezes a Deus para batizá-lo de novo com o Seu amor. Terá de clamar
repetidamente ao Espírito Santo para derramar o Seu amor em novos rios de
plenitude através da sua alma. É um ministério custoso — custoso em amor, em
lágrimas, em súplicas, em intercessão agonizante, em tempo e em energia de
alma. Mas você deve amar — mais, mais e mais.
2. Faça da igreja a sua alegria especial. Quando
você ama intensamente as pessoas, elas se tornam sua fonte constante de
alegria, especialmente à medida que respondem ao seu amor. Da mesma forma que
um pai se alegra observando o filho brincar, crescer, dizer coisas
interessantes e desenvolver-se constantemente, assim também
o seu coração de amor pelo seu povo irá rejubilar-se constantemente ao ver o
Espírito de Deus operar nele.
Paulo chama os Filipenses de sua alegria e coroa (Fp 4:1).
Aos Tessalonicenses ele escreve: "Porque agora vivemos, se é
que estais firmados no Senhor. Pois que ações de graça podemos tributar a Deus
no tocante a vós outros, por toda a alegria com que nos regozijamos por vossa
causa, diante do nosso Deus...?" (1 Ts 3:8-9).
Paulo não só se rejubilava constantemente por
causa da igreja, mas ela era seu orgulho e sua glória. Ele se deleitava com
profunda satisfação espiritual. Ele escreveu aos Coríntios: "...pela
glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus nosso Senhor" (1 Co
15:31). "Mui grande é a minha franqueza para convosco, e muito me glorio
por vossa causa" (2 Co 7:4).
3. Mantenha a igreja em seu coração.
Paulo testemunhou: "Porque vos trago no coração" (Fp
1:7). Eles estavam escritos no seu coração (2 Co 3:2). Eles tinham tal lugar em
seu coração que Paulo achava difícil encontrar palavras para descrever os seus
sentimentos. "Porque já vos tenho dito que estais em nossos corações para
juntos morrermos e vivermos" (2 Co 7:3). David Brainerd, ao descrever seu
amor pelos índios americanos, escreveu: "Quando adormecia, sonhava com
essas coisas; quando acordava, meu primeiro pensamento era para essa grande
tarefa". Ele mantinha as pessoas em seu coração. As pessoas a quem você
ministra estão sempre em seu coração?
4. Abra o seu coração em amor pela igreja. Paulo
escreveu aos Coríntios: "Para vós outros... alarga-se o nosso
coração" (2 Co 6:11). Ele se referiu à profundidade do seu amor por eles,
que o levava a chorar quando observava seus problemas e necessidades (2 Co
2:4). Paulo testemunhou que se recomendava pela bondade e amor sincero (2 Co
6:6). Ele mostrou ser um verdadeiro obreiro de Deus (v. 1) por meio do seu
amor. Ele enviou-lhes o seu amor por escrito (1 Co 16:24). Ele disse aos
tessalonicenses que o seu amor por eles crescia e transbordava (1 Ts 3:12).
Quanto mais tempo você fica com o seu povo, tanto mais o Espírito quer que o
ame, e tanto mais a maré do seu amor deve fluir em direção a ele.
Paulo invocou Deus como testemunha de que ele amava profunda
e verdadeiramente ao seu povo (2 Co 11:11). Embora estivesse ausente deles no
corpo, em amor e oração estava com eles em espírito, observando-os e se
alegrando neles (Cl 2:5). Nunca ouse reagir às atitudes ou atos decepcionantes
de alguns e comece a fechar o seu coração contra eles. Os líderes cristãos
devem constantemente empenhar-se em abrir o seu coração através do amor pelo
seu povo.
5. Tenha constante desejo santo pela igreja.
Paulo escreveu aos filipenses: "Pois minha testemunha é Deus, da
saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus" (Fp
1:8). O seu anseio era tão grande porque Jesus compartilhara com ele um
profundo afeto pela igreja. Você pode testemunhar que Deus lhe deu um amor
especial por aqueles a quem ministra? O que Paulo fez por causa de tal amor
dado por Deus? Ele nos diz isso nos versículos seguintes. Desde que não podia
estar constantemente com eles, orava sempre a seu favor.
Paulo disse outra vez em Filipenses 4:1: "Meus irmãos,
amados e mui saudosos, minha alegria e coroa". O apóstolo tinha saudades
dos tessalonicenses (1 Ts 3:6). Ele afirmou que seu desejo de vê-los era grande
a ponto de tornar-se insuportável. "Ora, nós, irmãos, orfanados por breve
tempo de vossa presença, não, porém, do coração, com tanto mais empenho
diligenciamos, com grande desejo, ir ver-vos pessoalmente. Por isto quisemos ir
até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas)... Pelo que, não
podendo suportar mais... já não me sendo possível continuar esperando..." (1
Ts 2:17-18; 3:1,5). Quando Paulo estava longe de seus irmãos queridos, ansiava
por eles tão intensamente que sofria com isso. Tal desejo o mantinha
constantemente orando por eles. Você tem tamanho afeto pelo seu povo que ele o
leva a orar constantemente?
6. Ame mediante constante intercessão pela igreja.
Embora as suas orações não fiquem evidentes para eles, o amor investido em
oração pelos membros se torna aparente de muitas formas. O líder que investe
muita oração pelo seu povo não precisa anunciar isso. Eles vão sentir seu
interesse e se sentirão ligados a ele. A oração é com certeza a maneira mais
poderosa de amar as pessoas. Ela não é o único meio, não pode substituir as
demonstrações concretas de amor, mas é básica para tudo o mais e dela depende a
eficácia de todas as outras coisas.
Cristo vive para interceder pela igreja e pelo mundo. É Ele
quem dirige o Espírito para colocar no coração de um líder piedoso fardos de
oração pela igreja. Todo cuidado pelos membros da igreja vão direto do coração
de Deus para o seu. É um depósito de Deus para você. Você não tem coragem de
falhar em relação a Cristo, deixando de dedicar um tempo cada semana pela
intercessão de seu povo. Nada é mais importante.
Se os apóstolos foram guiados pelo Espírito a entregar muitas
tarefas administrativas a outros, a fim de se dedicarem exclusivamente à
oração e ao ministério da Palavra, não podemos fazer menos que isso. Nenhum
pastor é fiel ao seu papel pastoral a não ser que passe inúmeras horas a cada
semana em intercessão. Isto deve incluir oração pela igreja como um todo, em
favor de cada família e indivíduo de maneira organizada, a fim de que todos
sejam incluídos pelos vários subgrupos na igreja (jovens, filhos, mães, pais
etc.) e de cada um dos ministérios da igreja — os missionários sustentados pela
igreja, o coro e outras formas de contato. O pastor também gastará muito tempo
em oração, pedindo pela unção de Deus para o seu ministério, pelos toques de
reavivamento do Espírito e pela colheita mundial.
7. Tenha um amor paternal pela igreja. Fazer
surgir uma igreja é às vezes tão custoso e penoso quanto
dar à luz um filho. Paulo usou a mesma expressão usada para as dores de parto.
Mesmo depois de a igreja ter sido implantada, ocorrerão crises durante as quais
o líder passará novamente pelo trabalho e sofrimento do parto espiritual. Paulo
fala dos seus "filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser
Cristo formado em vós" (Gl 4:19). Paulo teve de passar por esse sofrimento
mais de uma vez pelas mesmas igrejas.
Satanás pode tentar você a desistir de sua
igreja ou grupo ou de algumas pessoas. Você pode ter de pedir a Deus que lhe dê
um novo e mais profundo amor e fé do que jamais teve antes. O Espírito Santo
está sempre pronto a derramar mais do amor de Cristo em seu coração.
Paulo testemunhou: "... nos tornamos dóceis entre vós,
qual ama que acaricia os próprios filhos" (1 Ts 2:7). O líder muitas vezes
tem de cuidar de cristãos doentes como se eles fossem crianças espirituais de
novo. Nem todos os cristãos atingem a maturidade espiritual com a mesma
velocidade. Os cristãos carnais às vezes parecem regredir em maturidade. Se
você carregar um fardo paulino por eles, freqüentemente lutará em oração como
se estivesse passando por dores de parto espiritual. Terá de ser muitas vezes
uma enfermeira para os crentes fracos.
Paulo não só deu testemunho de um papel materno, mas também
paterno. "E sabeis, ainda, de que maneira, como pai a seus filhos, a cada
um de vós, exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de
Deus" (1 Ts 2:11-12). Todo pai sabe que cada filho tem uma personalidade
diferente. Da mesma forma, cada crente precisa receber ajuda espiritual
paterna, a fim de crescer na graça e tornar-se espiritualmente amadurecido. Isto
requer sabedoria constante, orientação do Espírito e o toque especial do
Espírito em aconselhar, fortalecer, corrigir e ajudar.
Só pela constante capacitação do Espírito o líder pode levar
cada crente à maturidade e perfeição espirituais de Cristo. "O qual nós
anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a
sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é
que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia
que opera eficientemente em mim. Gostaria, pois, que saibais quão grande luta
venho mantendo por vós" (Cl 1:28-2:1).
Os termos gregos usados por Paulo aqui ilustram a
intensidade da agonia e do trabalho de alma envolvidos neste processo. Afadigo
significa "trabalhar até cansar". Grande luta vem de uma
palavra grega que significa "competir, lutar, agonizar, forçar cada nervo
e esforçar-se ao máximo", como um lutador em agonia de suor e sofrimento.
É isto que é necessário para derrotar Satanás e levar as
almas ao nascimento e maturidade. Em geral é mais difícil, em oração constante
e em cuidados paternais, levar os cristãos à maturidade do que foi levá-los a
Cristo no princípio. Este não é um esforço físico, exceto no desgaste físico
que a luta em oração com Satanás e os poderes das trevas impõe. Mas a agonia é
uma luta espiritual em oração, um preço interior a ser pago. Essa a razão de
Paulo compará-la às dores de parto. Não se pode dizer de muitos líderes que
eles lutam em oração. E você?
Como pai espiritual, você irá provavelmente acordar e passar
horas vigiando e orando pelo seu povo, assim como os pais sentam, a noite
inteira ao lado da cama do filho gravemente enfermo. Você se torna tão
identificado com aqueles a quem ama que, como Paulo, carrega uma preocupação
constante por todos na igreja (2 Co 8:16). "Além das cousas exteriores, há
o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. Quem
enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me
inflame?" (2 Co 11:28-29). Ele se identificou de tal forma com eles que
queimava de vergonha quando faziam isso, e queimava de indignação por causa de
Satanás que os enganava.
A liderança é um trabalho custoso que consome tempo e
energia, fazendo mais exigências sobre você incessantemente.
8. Ame suficientemente a igreja para entregar-se por
ela e estar disposto a sofrer. Você foi chamado para dedicar-se
à igreja. Cristo estava disposto a entregar-se até a morte por ela. Você talvez
não tenha sido chamado para chegar a esse sacrifício extremo, mas Paulo se dispôs
a sofrer o que fosse necessário, até a morte. Ouça o seu testemunho:
"Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta
das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a
igreja" (Cl 1:24). "Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei
gastar em prol das vossas almas" (2 Co 12:15). "Assim, querendo-vos
muito, estávamos prontos a oferecer-vos, não somente o evangelho de Deus, mas,
igualmente, a nossa própria vida, por isso que vos tornastes muito amados de
nós" (1Ts 2:8).
Há ainda um preço a ser pago pela
igreja. Este compromisso de tempo, amor, esforço e sangue vital fará de você um
servo da igreja. Paulo chamou a si mesmo de servo de Jesus Cristo (Rm 1:1) e
ministro do evangelho (Cl 1:23). Isto pode não parecer muito difícil para você.
Mas Paulo continuou, alegrando-se por ser um ministro da igreja (v. 25). Isto
pode ser difícil. Você é, às vezes, tentado a dizer a respeito de algumas
pessoas, ou da diretoria da sua igreja: "Quem eles pensam que sou?
Empregado deles?". Sim, diz Paulo, por causa de Jesus nos tornamos, com
muita estima, empregados da igreja.
Como então manter a nossa dignidade? Não é
tentando afirmá-la. Não é dizendo que algumas tarefas estão abaixo de nosso
cargo. O respeito, a honra e a dignidade só são mantidos pela presença e poder
de Deus sobre a sua vida e ministério. O serviço humilde pode na verdade
exaltar você na estima do seu povo.
Você não é chamado para levar recados para
todo o mundo, mas é chamado para mostrar amizade e ajudar. Você pode, entretanto,
ter de negar ajuda em algumas situações por causa das prioridades espirituais.
Isto será compreendido se você for reconhecido como uma pessoa de Deus, de
oração e alguém usado poderosamente pelo Espírito Santo. Viva tão cheio do
Espírito de Deus que tanto jovens como velhos venham a respeitá-lo como uma
pessoa de Deus e queiram que se dedique principalmente ao ministério
espiritual.
Capítulo 20
O Coração de Pastor
Você tem coração de pastor? Nada é mais essencial à
liderança cristã. Existem várias descrições bíblicas de líderes cristãos. Eles
devem ser atalaias. Deus disse a Ezequiel que o dera como atalaia sobre Israel,
com dois encargos: ouvir a palavra de Deus e entregar ao povo a mensagem de
Deus (Ez 3:17). Trinta capítulos mais tarde, Deus repetiu a mesma mensagem
básica. Ele pas&ou a dizer então que o líder era responsável por transmitir
a todos, adequadamente, a advertência e a mensagem de Deus. Se deixasse de dar
a mensagem divina, Deus o faria responder pelo sangue do povo (Ez 33:1-9). Em
Isaías 62:6, Deus acrescentou ao papel de atalaia a responsabilidade da
intercessão.
Não houve na realidade pastores-ministros no período do
Antigo Testamento, embora tanto profetas quanto reis escolhidos por Deus
exercessem às vezes alguns dos papéis do atalaia. Pastor era outro termo usado
nos dias do Antigo Testamento para a responsabilidade espiritual dos líderes.
Deus quer que você como obreiro cristão tenha coração de
pastor. Todo líder tem a responsabilidade de pastorear todo o povo sob a sua
influência e cuidado. Cada presbítero e diácono da igreja local compartilha
certas responsabilidades do pastoreio. Todo professor da escola dominical ou
líder de um grupo de igreja tem responsabilidade semelhante. O bispo de uma
denominação ou superintendente de uma organização cristã tem a responsabilidade
de apascentar os pastores ou obreiros cristãos sob a sua guarda. O pastoreio é
um dos papéis mais importantes e necessários entre o povo de Deus. Todo cristão
é responsável até certo ponto no sentido de ajudar a pastorear os mais novos na
fé e também os jovens em idade.
JESUS, O MODELO DE PASTOR
Deus tem coração de pastor. Moisés chamou Deus em
sua canção de Pastor do Seu povo (Gn 49:24). Davi disse a respeito de Deus:
"O Senhor é o meu pastor" (Sl 23:1). O salmo do pastor mostra como
Deus é nosso Pastor e a segurança que temos por causa desta gloriosa verdade. O
escritor do Salmo 80 orou a Deus, o Pastor que guia Seu povo como um rebanho (Sl
80:1).
Isaías se rejubila porque Deus, o Senhor
Soberano, tem coração de Pastor. "Como pastor apascentará o seu rebanho;
entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seio; as que
amamentam, ele guiará mansamente" (Is 40:11). Jeremias profetizou que Deus
"o guardará, como o pastor ao seu rebanho" (Jr 31:10). Várias vezes,
no Antigo Testamento, quando os pastores humanos falhavam, Deus em Sua
autoridade soberana prometia intervir (Jr 23:4; Ez 34:11-16,23; Zc 10:3).
A seguir, em João 10, Jesus anuncia que Ele é o Bom
Pastor que Deus prometera. Ele cumprirá todas as promessas do Antigo Testamento
e o papel delineado em Sua parábola do pastor fiel (Jo 10:2-5).
1. As ovelhas ouvem a Sua voz. Elas
reconhecem a Sua voz, mas não a dos falsos pastores.
2. Ele conhece todas as Suas ovelhas individualmente e
chama cada uma pelo nome. Isso expressa Seu cuidado detalhado
por nós, Seu conhecimento íntimo da nossa pessoa e Seu amor por
nós. Nisto, Ele é o padrão do Pastor para todos os Seus líderes hoje.
Idealmente, todo pastor, professor da escola dominical e líder da igreja deveria
conhecer os que se acham sob a sua supervisão pelo nome, de maneira particular
e pessoal. Você conhece?
3. Ele as guia para onde suas necessidades possam ser
supridas. Ele é responsável por cada uma de suas
necessidades e especialmente pela sua necessidade constante de orientação. Você
está provendo ou preparando a provisão de todas as necessidades espirituais do
seu povo?
4. Ele vai na frente e elas O seguem. Ele
é um exemplo de tudo o que Ele ensina, o exemplo para todo
líder e pastor. Você, como pastor, deve ser um exemplo de tudo o que ensina
para todos a quem ensina. Você deve modelar pessoalmente toda a verdade que
apresenta.
5. Ele veio para que Suas ovelhas possam ter vida
abundante. Ele se preocupa com tudo na vida dos que são
Seus. A vida espiritual é sua prioridade, mas Cristo, como Senhor de toda a
vida, está interessado em tudo que se relaciona com a vida. A oração deve
cobrir todos os aspectos da vida. A orientação também. Todo chamado aspecto
"secular" da vida pode ser vivido de maneira compatível com a
espiritualidade.
Da mesma forma, você, como pastor e
líder do povo de Deus, deve seguir as prioridades de Cristo. O lado espiritual
deve ter precedência, mas nada deve ser negligenciado. Como pastor, você deve
estar bem familiarizado com todas as alegrias, tristezas, sucessos, fracassos,
mágoas, feridas e necessidades do seu povo.
A igreja local deve ser de um tipo em que isto possa ser
feito ou deve providenciar para que subpastores sejam nomeados, a fim de
reunir-se com grupos menores de pastores todas as semanas, os quais conheçam
os detalhes íntimos de todos em seu grupo. Eles, por sua vez, devem canalizar
todas as necessidades urgentes de oração para o pastor sênior ou para todo o
grupo de pastores. Cada crente deve ter um pastor responsável, que o conheça
pelo nome, ore por ele e participe de tantos detalhes da sua vida quanto for
apropriado. Esta plenitude de oração e orientação deve estar disponível em
todas as áreas da vida de cada membro.
Quando estive na Coréia, descobri que muitas
das grandes igrejas da Igreja Evangélica Coreana, estabelecidas pela OMS
International, com a qual servi quase cinqüenta anos, incluem semanalmente
estatísticas completas em seus boletins. A igreja local é dividida em grupos de
pastores de dez a vinte pessoas. Cada um tem o seu pastor nomeado, que conduz a
reunião semanal do grupo de oração e recolhe as estatísticas para cada pessoa
no seu grupo: presença nos cultos, oferta dada na reunião do grupo, número de
capítulos da Bíblia lidos, número de almas ganhas para Cristo nessa semana. O
boletim da igreja dá, semanalmente, esta informação para cada grupo e o total
para a igreja como um todo. Cada pastor deve informar o seu pastor sobre a
doença de alguém e qualquer pedido urgente de oração feito pelo seu grupo.
Perguntei a um pastor o que determinada estatística
especial significava. Ele respondeu: "Você sabe o que acontece com as
mulheres grávidas. Essas são as pessoas não-salvas que o grupo está carregando
no coração, como uma mulher grávida carrega o seu filho até que ele
nasça". Cada grupo, por assim dizer, estava grávido de uma ou mais almas.
6. Ele é o Bom Pastor. Jesus
repetiu essa afirmação importante. A cada vez Ele acrescentava uma
declaração significativa que devia aplicar-se a todo bom pastor. Todo
pastor cristão deve ser um bom pastor.
a. Cristo é o Bom Pastor porque
Ele entrega a Sua vida pelas ovelhas (Jo 10:10,15). Ele
fez isto de duas formas. Entregou-se plena e completamente ao Seu ministério a
favor dos que eram Sua propriedade. Entregou então a Sua vida a cada dia. Toda
a encarnação foi a entrega da Sua vida. Ele também entregou a Sua vida ao
máximo. Ele não hesitou em morrer pelas Suas ovelhas.
Você, como pastor cristão, deve estar
disposto a entregar sua vida diariamente pelo seu povo. Deve negar-se a si
mesmo diariamente por causa dele. Deve rejubilar-se com os que se rejubilam e
chorar com os que choram (Rm 12:15). Você deve entristecer-se e queimar
interiormente pelos que cometem pecado (2 Co 11:29). Deve sentir-se
fraco por causa dos que estão fracos (v. 29). Mas deve estar também pronto a
defender o seu povo, a ponto de dar a sua vida, se necessário, em tempos de
perseguição.
b. Cristo é também o Bom Pastor
porque Ele conhece as Suas ovelhas e Suas ovelhas O conhecem
(Jo 10:14-15,27). Até que ponto Ele as conhece? Tão bem
quanto conhece o Pai e tão bem quanto o Pai o conhece. Jesus é novamente o
Modelo, o Exemplo para todos os Seus pastores auxiliares. Você não é um pastor
completo para alguém a quem não conhece. E as suas ovelhas precisam sentir que
o conhecem. Só então você pode suprir as necessidades delas e elas podem
confiar plenamente em você. Elas precisam conhecer até as batidas do seu
coração. Elas não podem receber seu pleno ministério de pastoreio para elas
exceto se o conhecerem.
O segredo da liderança ou de qualquer
forma de pastorado é o conhecimento das pessoas. Só então o seu cuidado por
elas pode ser eficaz. Só então o seu amor por elas pode ser pessoal e
plenamente identificado. É preciso haver uma dimensão intensamente pessoal e
uma identificação no coração do pastor.
Duas vezes neste capítulo Jesus diz que
Ele conhece as suas ovelhas (vv. 14,27). Ele diz que isto é essencial para o
papel do pastor. A única maneira de conhecer alguém é estar com essa pessoa,
ficar à disposição dela e ir onde ela está quando precisa de você. Possa Deus
ajudá-lo a conhecer adequadamente o seu povo.
Capítulo 21
O Papel do Pastor
Não existe um retrato melhor do pastor do que o de Davi, o
rei-pastor, no Salmo 23. Desde a infância ele conhecia a vida do pastor. Ele
passou tempos nos campos com as ovelhas, vindo a conhecê-las bem. Mesmo depois
de ter iniciado seu serviço para Saul, ele continuava indo e vindo para cuidar
do rebanho.
Davi tinha coração de pastor para com as suas ovelhas e mais
tarde para com o seu povo como rei-pastor. Ele arriscou sua vida ao enfrentar
um leão e mais tarde um urso para defender o rebanho (1 Sm 17:34-36). Pôs
repetidamente a vida em perigo, lutando pelo seu povo.
Davi representava tão idealmente o rei-pastor que nas
profecias do reino futuro de Cristo como Rei, Ele é chamado de Davi, isto é, um
Rei-Pastor como Davi (Jr 30:9; Ez 34:23-24; Os 3:5). É Davi, o pastor ideal,
que descreve Deus como nosso Pastor Divino no Salmo 23. Ele esboça para nós o
cargo de pastor que deveríamos imitar.
O PASTOR FORNECE ALIMENTAÇÃO ESPIRITUAL ABUNDANTE
"Ele me faz repousar em prados verdejantes" (Sl
23:2). O alimento espiritual adequado é uma razão importante para necessitar de
um pastor. Repousar sugere comer até saciar-se e depois deitar-se satisfeito e
abençoado. A ovelha que se deita no bom pasto tem tudo o que deseja.
Nada produz ovelhas mais satisfeitas, lealdade mais feliz,
do que o alimento espiritual apropriado. Isto assegura crescimento espiritual constante
— crescimento no conhecimento de Deus, da Sua Palavra e
crescimento pessoal à semelhança de Cristo, no fruto do Espírito.
As ovelhas famintas não se deitam, elas
vão à procura de outras pastagens. Uma igreja, ou grupo, que esteja perdendo
membros é provavelmente uma igreja que não está sendo adequadamente alimentada.
O alimento espiritual pode estar de acordo com a Bíblia, mas alguma coisa está
faltando na qualidade da exposição profunda e na variedade do ensino
doutrinário. Ou talvez o selo do Espírito não esteja fortemente em nosso
ministério. O ministério ungido constantemente revela as coisas novas e as
velhas (Mt 13:52); ele está cheio das profundezas de Deus (1 Co 2:10) e oferece
alimento rico e abundante.
O líder ou pastor que durante sua oração e
meditação diárias experimenta constantemente o Espírito Santo, revelando para
ele aquelas coisas que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais
penetrou em coração humano", mas que "Deus tem preparado para aqueles
que o amam" (1 Co 2:9), está ele mesmo se banqueteando com as coisas
profundas de Deus encontradas na Palavra de Deus. Ele está tão entusiasmado e
excitado com a iluminação da Palavra pelo Espírito que é ungido para pregar ou
ensinar "pelo Espírito Santo enviado do céu" (1 Pe 1:12).
Quando as pessoas sentem a vibração santa de Deus em
sua voz e a alegria entusiástica do Espírito em sua face, enquanto revela as
grandes verdades de Deus que o Espírito está tornando tão reais para ele, elas
comem com ele as uvas espirituais de Escol e o leite e mel de Canaã. Os
indivíduos ricamente abençoados, semana após semana, pela sensação de estar
sendo nutridos por Deus através do seu pastor, tornam-se o melhor meio de
convidar outros cristãos famintos para se aproximar e ser alimentados. Um
número surpreendente de cristãos verdadeiros está insatisfeito com o ministério
que recebe e se sente faminto e quase morto de fome com a dieta espiritual
suprida pela igreja. O seu povo continua com fome depois de ouvir você?
Deus nos criou de modo que um cristão espiritualmente vivo
almeja receber um rico alimento espiritual. Ai do pastor que não sabe obter
mensagens profundas e espiritualmente comoventes de Deus e da Sua Palavra. Deus
sempre tem uma mensagem para o Seu povo, e quem for verdadeiramente de Deus e diligente
ao orar, ao ler a Bíblia e no estudo bíblico receberá a mensagem de Deus para o
seu povo semana após semana. Se o seu povo está espiritualmente faminto, ele
ficará inquieto. Ele sabe que está faltando algo. O seu povo está inquieto?
O PASTOR GUIA CONSTANTEMENTE PARA O REFRIGÉRIO ESPIRITUAL
Todo cristão precisa de tempos especiais de refrigério.
"Leva-me para junto das águas de descanso" (Sl 23:2) fala da provisão
de constantes oportunidades da parte de Deus para matar a sede espiritual. É
normal que o cristão deseje mais e mais de Deus. Os cristãos que não têm sede
espiritual estão espiritualmente enfermos.
A água fala do ministério do Espírito Santo. Deus nos criou
para sermos cheios com o Espírito, para reconhecermos a presença do Espírito e
para almejarmos evidências da operação do Espírito. Estou falando também da
sensação da presença de Deus em um serviço e evidente no ministério dos
servos-líderes de Deus.
A verdade sem esta bênção especial do Espírito não basta
para satisfazer-nos. A mais bela verdade pode ser apresentada de maneira morta (2
Co 3:6). Em alguns cultos, a parte humana prevalece tanto que é bem pouca a
evidência da operação do Espírito. O líder não pode controlar a operação e
manifestação do Espírito, mas ele pode fazer muito para preparar o caminho para
a presença reconfortante do Espírito a ser manifestada.
1. A sua vida pessoal de oração decidirá em grande
parte até que ponto o Espírito irá ungir e confortar através do seu ministério.
Todo indivíduo espiritual sabe quando o orador é ungido. Até mesmo os
não-salvos podem sentir às vezes a presença de Deus em um culto e sobre o
ministério da Palavra de Deus, a oração e os cânticos.
2. As suas instruções para o coro e os cantores
especiais preparam o caminho para o refrigério de Deus. As suas
ordens para que preparem os seus corações pela oração, para escolher seus
números musicais em oração, para dar ênfase à compreensão da palavra e não
apenas ao tom de voz, para fazer do hino uma mensagem de Deus, e sua ênfase em
que os números musicais deles se tornem parte do ministério do Espírito — tudo
isso pode ajudá-los a serem usados pelo Espírito. O seu tempo de oração com
eles antes do culto pode fazer muito para ajudá-los a sentir sua dependência do
Espírito.
3. O preparo do seu coração para a oração em público
promove o ministério de refrigério do Espírito. Você deve
entregar sua oração pastoral antecipadamente a Deus para a Sua bênção, assim
como a sua mensagem. Leve toda a congregação à presença de Deus. Tudo isto tem
grande significado no preparo do caminho para o refrigério do seu povo pelo
Espírito.
4. O preparo do seu coração para ler a Palavra Santa
de Deus favorece o caminho do Espírito. Deixe que Deus guie você
na escolha das passagens bíblicas, nas ênfases sobre palavras específicas
quando lê, e deixe que Ele lhe dê um frescor ungido. Isto também prepara o
caminho para o Espírito. Paul Rees nos conta como descobriu, no início do seu
ministério, que só o fato de ouvir G. Campbell Morgan fazer a leitura bíblica
antes de pregar era uma experiência de adoração. O seu povo ouve Deus falando
quando você lê a Escritura?
5. O preparo da congregação para cobrir cada culto com
oração a dispõe para o ministério reconfortante do Espírito. Você
pode providenciar para que um número selecionado de membros, escolhido por
turnos, passe meia hora em oração no sábado e depois no domingo de manhã (ou
pelo menos 15 minutos ambas as vezes). Eles devem interceder pela presença
reconfortante de Deus durante todo o culto. Ou você pode providenciar um grupo
de voluntários para se reunir quarenta minutos antes de o culto começar.
Spurgeon tinha um grupo grande orando durante o culto, mas ele possuía uma
congregação maior da qual podia escolher esses membros e portanto a audiência
não ficava muito reduzida.
A sua meta deve ser uma tal sensação da presença de Deus no
seu culto que todos — salvos e não-salvos — sejam dominados pelo Espírito de
Deus, fiquem conscientes da presença de Deus e se inclinem perante Deus em nova
obediência à Sua vontade. Paulo indicou que isto é possível quando o Espírito
usa os cultos para sondar os corações dos presentes, revelando necessidades
íntimas, pecados e fracassos esquecidos e a grande provisão de Deus para cada
necessidade. Paulo disse que o não-salvo podia ficar tão convencido de que Deus
estava em seu meio que "prostrando-se... adorará a Deus, testemunhando que
Deus está de fato no meio de vós!" (1 Co 14:25).
Não só os não-salvos ficarão profundamente comovidos, mas os
salvos podem ficar ainda mais impressionados, sendo movidos pelo Espírito para
o caminho da vontade de Deus ao reconhecerem com reverência a santa presença de
Deus. Deus manifestamente entre vós; o próprio Deus falando através dos hinos,
das orações e da mensagem; a mão de Deus sobre o culto — este deve ser o seu
alvo.
Só o ministério santo do Espírito num culto trará a água
refrescante do Espírito para abrandar a fome espiritual. Isto pode
manifestar-se de várias maneiras. Trará vida e alegria especiais aos cânticos.
Promoverá um silêncio santo em grande parte do culto. Poderá resultar em
lágrimas silenciosas de alegria quando a Palavra de Deus for lida ou enquanto
você liderar as orações pastorais. Acrescentará um senso
especial da unção de Deus sobre a sua mensagem e sobre você como mensageiro de
Deus. Ajudará a Palavra de Deus a tornar-se viva e a falar pessoalmente ao
coração dos ouvintes. Poderá resultar numa percepção especial da presença de
Deus. Poderá acrescentar uma liberdade especial para responder quando, no
encerramento, você desafiar a congregação a assumir um compromisso.
O PASTOR AJUDA NA RESTAURAÇÃO ESPIRITUAL
É um fato da vida da igreja que de
tempos em tempos um ou outro membro precise de restauração espiritual (Sl
23:3). Satanás está sempre preparado para tentar os cristãos à negligência
espiritual, a esfriar e relaxar espiritualmente, ou a ceder às seduções e
espírito do mundo. Satanás está sempre pronto para acusar um cristão diante de
outro, a fazer com que uma pessoa entenda mal os atos e motivos de outra.
Satanás apela para a natureza carnal, a fim de quebrar amizades, ferir os
crentes e, se possível, levar ao pecado aberto. Se não consegue levar as
pessoas ao pecado, ele tenta fazer com que os que se sentem magoados se retirem
da comunhão com outros cristãos e se tornem assim uma presa mais fácil para
ele.
Você, como pastor, deve ficar sempre
vigilante para perceber sinais de frieza espiritual, derrota ou o começo de um
desvio entre o seu povo. A exortação de Gálatas 6:1 ("Irmãos, se alguém
for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o, com o
espírito de brandura") é para todos os cristãos, pois cada um de nós é
guardião do seu irmão. Mas é dever especial do pastor restaurar os derrotados
de maneira espiritual e gentil. Este é um dos meios de ajudar a carregar o
fardo de outrem; esta é a lei de Cristo para a igreja (Gl 6:2; 2 Co 2:7-8).
Até os que se opõem a você devem ser tratados com bondade,
evitando brigas, mas mostrando bondade na esperança de que se arrependam (2 Tm
2:24-26).
Barnabé restaurou João Marcos depois de ele ter fracassado
em Creta, e mais tarde Paulo descobriu que Marcos era muito útil para ele (2 Tm
4:11); somos também devedores a Marcos por ele ter escrito o evangelho que leva
o seu nome. Pedro foi restaurado depois de ter negado o seu Senhor e tornou-se
líder na primeira igreja. Jonas foi restaurado depois de ter fugido da vontade
de Deus. Davi foi restaurado e usado novamente por Deus, embora tivesse
cometido um pecado trágico.
Você, como pastor, deve estar sempre alerta para ver
qualquer sinal de desânimo, fraqueza ou tentação. O ministério de encorajamento
é um dever dos mais importantes do pastor. Deus ordenou a Moisés que
encorajasse Josué (Dt 1:38) e o fortalecesse (Dt 3:28). É até necessário
fortalecer e encorajar a si mesmo no Senhor algumas vezes, como fez Davi (1 Sm
30:6). Josias encorajou os sacerdotes em seu ministério (2 Cr 35:2). Isaías
exortou: "Socorram os que são explorados" (Is 1:17, BLH).
Judas e Silas tinham um ministério de encorajamento em
Antioquia (At 15:32). Paulo enviou Tíquico para encorajar os Efésios (Ef 6:22)
e os Colossenses (Cl 4:7-8). Ele enviou Timóteo para fortalecer e encorajar a
igreja em Tessalônica (1 Ts 3:12). Ele insistiu com os crentes tessalonicenses
para se encorajarem mutuamente (1 Ts 5:11) e especialmente os tímidos (5:14).
Ele orou a Deus para que os encorajasse (2 Ts 2:17). Uma das qualificações do
presbítero, disse Paulo, era a capacidade de encorajar outros com a sã doutrina
(Tt 1:9). Os jovens devem ser encorajados (Tt 2:6). Ele instou com Tito para
encorajar aqueles a quem ministrava (2:15). Nesta última carta, antes de sua
morte, ele exortou Timóteo a exercer o ministério de encorajamento (2 Tm 4:2).
Paulo evidentemente considerava este ministério de
encorajamento uma função especial do pastor espiritual. Mas era um
encorajamento com substância, com ensino doutrinário sólido, feito de maneira
significativa e animadora (2 Tm 4:2; Tt 1:9). Ele deve ser às vezes o
equilíbrio para a disciplina que você, como pastor, deve também exercer (2 Tm
4:2; Tt 1:9; 2:15). Fique alerta para ver quem do seu povo precisa de
restauração espiritual ou encorajamento.
O PASTOR DEVE DAR ORIENTAÇÃO AO SEU POVO
Como líder espiritual, o pastor é vigiado tão de perto, e
suas palavras e exemplo geralmente são tão seguidos, que ele guia ou desvia os
cristãos em muitos aspectos da vida. Os princípios que ele proclama e os
padrões bíblicos de conduta que ele ensina podem ter um efeito profundo sobre
as pessoas. As atitudes e os atos justos delas afetam então a sociedade e o governo.
O pastor deve ajudá-las a ter um comportamento tão justo que venham a tornar-se
o sal da sociedade e a luz cristã nas trevas seculares e pagãs à sua volta.
Este é o significado das palavras: "Guia-me pelas veredas da justiça por
amor do seu nome" (Sl 23:3). "Por amor do seu nome" significa
tanto "de acordo com a sua natureza santa" como "pela honra do
Seu nome".
Os padrões bíblicos ensinam trabalho árduo,
integridade no emprego e em tudo o mais, despesas frugais e socorro aos
necessitados. Isto não só ajuda a igreja a gerar um impacto sadio sobre a
sociedade, como também traz recompensas do Senhor. Deus abençoa os crentes com
paz, bênçãos físicas e espirituais e algumas vezes até prosperidade pessoal.
Assim como o aconselhamento é uma das principais
funções do Espírito Santo, é também um aspecto importante do ministério do
pastor. A palavra grega parakletos, que Jesus usou como um nome para o
Espírito Santo em João 14:16,26; 15:26; 16:7, pode ser traduzida por
Consolador, Ajudador ou Conselheiro. De fato, algumas traduções bíblicas
preferem "Conselheiro". O Espírito Santo nos é dado para guiar-nos a
toda a verdade (Jo 16:13) e de muitas outras formas. Ele ama guiar cada cristão
(Rm 8:14).
O Espírito Santo é o Conselheiro de todo
crente, mas ele está especialmente disposto a equipar você como pastor para
guiar no aconselhamento de pessoas que estejam sob a sua liderança. Se você
tiver um coração de pastor, perceberá constantemente a necessidade de ensino e
aconselhamento amoroso, sábio e bíblico. Você precisa orar sempre e pedir o
conselho do Espírito e a unção neste aspecto do seu ministério. Você se torna o
amigo leal e conselheiro do seu povo. Ele, em geral, dá valor especial ao seu
conselho porque o reconhece como um representante de Deus. Você deve cuidar
para que o Espírito o guie enquanto, por sua vez, guia e aconselha outros.
O PASTOR DEVE FICAR COM SEU POVO NAS HORAS DE NECESSIDADE
Assim como Davi sabia que Deus, o seu Pastor, estava perto
dele ("tu estás comigo", Sl 23:4), especialmente nas horas de
necessidade, o seu povo deve também saber que você, o seu pastor, está sempre
disponível e pronto a compartilhar seus problemas. Em momentos de doença,
morte, problemas familiares ou outras crises da vida, você deve, como pastor,
ir até eles com a maior brevidade possível. Você pode ajudar muitas vezes a
suprir as suas necessidades, mas a sua presença ao lado deles dá segurança. É
para isso que existe o pastor. Davi sentiu-se fortalecido porque, como disse a
Deus, "tu estás comigo".
Muitas vezes você, como pastor, não saberá sequer o que
dizer; não poderá fornecer as respostas que eles tanto almejam. Mas pode estar
com eles. Essa é a hora de mostrar o amor compreensivo de Cristo. A hora de
rejubilar-se com os que se rejubilam e chorar com os que choram (Rm 12:15).
Esses momentos de crise têm prioridade sobre quase tudo o
mais. Você, como pastor, talvez não possa fazer uma visita tão longa quanto
gostaria. De fato, talvez não seja sábio demorar-se muito nessas horas. Mas
pelo menos você deve ir, tocar a vida deles com bênção e orar com eles. Existem
momentos em que pode ficar sentado em silêncio por mais tempo junto a um leito
de hospital, só para estar com eles. Caso não possa, vá até lá por um momento;
a oração é, em geral, a bênção mais importante que você pode deixar. Se for
conhecido como pessoa de Deus e de oração, a sua intercessão será ainda mais
desejada e significativa.
Algumas vezes uma crise espiritual de alguém não-salvo,
não-relacionado com a congregação ou objeto de oração da congregação há longo
tempo, pode ter precedência sobre a doença de um membro da congregação. Isto
será normalmente compreendido se você, como pastor, tiver preparado o seu povo,
ensinando a ele uma preocupação constante com os não-salvos. Ele compreenderá
por que tal crise de alguém não-salvo tem prioridade sobre tudo o mais. O
pastor deixa as noventa e nove ovelhas no aprisco para buscar a perdida.
Algumas das bênçãos recebidas por Davi, da parte de Deus,
são tais que só Deus pode dá-las. Só Ele pode ungir com o Espírito (simbolizado
pela unção com óleo). Só Deus é a fonte da bondade e do amor divinos. Mas se
você, como pastor de Deus, seguir os cinco papéis precedentes modelados segundo
o pastoreio do próprio Deus, será a bênção constante para o Seu povo que Deus
quer que seja. Foi para isto que Deus o chamou para ser pastor.
Capítulo 22
A Responsabilidade do Pastor
O pastor é sempre responsável por todos que estão em seu
rebanho. Zacarias advertiu que a ira de Deus queima contra os pastores-líderes
infiéis. "Contra os pastores se acendeu a minha ira, e castigarei os bodes
guias; mas o Senhor dos Exércitos tomará a seu cuidado o rebanho" (Zc
10:3). Você, como pastor, é sempre responsável perante Deus pela condição do
seu rebanho e da Sua ovelha individual. Deus é o Grande e Soberano Pastor, e
você é um pastor-auxiliar que presta contas diretamente a Deus.
Zacarias pronunciou um ai especial sobre o pastor que
abandona o rebanho. "Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho" (Zc
11:17). O pastor não tem o mesmo direito de fugir do perigo que uma pessoa
comum. O capitão não tem o direito de abandonar o navio enquanto houver um
passageiro em perigo. O policial não tem o direito de fugir de um criminoso
quando ele estiver pondo em risco a vida das pessoas. Os policiais devem morrer
na linha do dever caso necessário, enquanto protegem os outros. Um pai não tem
o direito de abandonar seu filho em face do perigo. O pastor não tem o direito
de desamparar seu rebanho diante do perigo. Quando os guardas do templo
chegaram armados ao Getsêmani, Jesus os enfrentou dizendo que deixassem em paz
os discípulos (Jo 18:4-8).
PASTORES INFIÉIS
Ezequiel 34:1-10 é uma profecia sobre a responsabilidade dos
pastores e líderes de Israel. Deus pronuncia ais sobre eles, por causa das suas
falhas.
1. Eles tomam conta de si mesmos e não
do rebanho. Eles se preocupam
mais com seus interesses pessoais e o bem-estar das suas famílias do que com o
bem-estar do povo de Deus. "Ai dos pastores de Israel que se apascentam a
si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas?" (Ez 34:2). Ai do
líder que se interessa mais em saber onde pode ganhar o maior salário, ou o que
é melhor para a sua família, em lugar de onde ele é mais necessário.
2. Eles obtêm sustento do
rebanho, mas não se importam adequadamente com ele.
"Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o
cevado; mas não apascentais as ovelhas" (v. 3).
3. Eles não têm cuidado
suficiente com os fracos, os doentes e os feridos.
"A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a
quebrada não ligastes" (v. 4).
4. Eles deixaram de restaurar os desviados e de
evangelizar os perdidos. "A desgarrada não
tornastes a trazer e a perdida não buscastes" (v. 4).
5. Foram duros e impiedosos com o povo. "Dominais
sobre elas com rigor e dureza" (v. 4).
6. Eles são culpados pela
dispersão do rebanho. "Assim
se espalharam, por não haver pastor" (v. 5). Quando um pastor não
apascenta verdadeiramente a sua congregação, as pessoas sofrem espiritualmente
e muitos vão embora e se espalham.
7. Deus culpará os pastores pelo
que acontecer ao rebanho. A condição
do rebanho é responsabilidade direta do pastor. "O pastores, ouvi a
palavra do Senhor. Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu estou contra os
pastores, e deles demandarei as minhas ovelhas" (vv. 9-10).
PERGUNTAS QUE VOCÊ ENFRENTARÁ DIANTE
DE DEUS
As palavras de Deus são muito claras. Como
pastor, você é tremendamente responsável. Você tem responsabilidade espiritual
por cada pessoa no seu grupo. Você é também grandemente responsável por cada
ex-membro, especialmente se ele não tem agora pastor. Diante de Deus você
prestará contas um dia de sua função de pastor, respondendo a perguntas como
estas:
1. Até que ponto cada membro estava bem
alimentado e forte?
2. Quanto ensino sobre a verdade bíblica
cada membro recebeu?
3. Que esforços você fez para
curar os que se tornaram espiritualmente doentes?
4. Até que ponto você esgotou todos os
esforços para restaurar os desviados?
5. Até que ponto você procurou ovelhas
perdidas fora do seu rebanho?
6. Até que ponto você intercedeu pelo seu
rebanho, nome por nome?
7. Até que ponto você, como pastor, deu a
sua vida pelo rebanho?
8. Até que ponto você colocou os interesses
do rebanho à frente dos seus interesses pessoais?
9. Até que ponto você, como pastor, impediu
que membros mais ativos do seu rebanho desanimassem ou discriminassem os
membros mais passivos?
Isaías 56 combina ilustrações de vigias e
pastores (vv. 10-11). "Os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são
cães mudos, não podem ladrar; sonhadores preguiçosos, gostam de dormir. Tais
cães são gulosos, nunca se fartam; são pastores que nada compreendem, e todos
se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, todos sem
exceção." Vários pontos novos de exortação aos pastores são acrescentados
aqui:
10. Como pastor, você está cego ao
perigo? Você não deve ficar cego aos ensinamentos errados; novos grupos que
podem tentar dividir a igreja e desviar alguns. Pode ser tarde demais para
avisar o povo depois da chegada dos falsos mestres. Você deve fazer com que o
seu povo fique tão firmado na verdade que não se disponha a ouvir o que os
falsos mestres têm a dizer.
11. Como pastor, você é destemido e fiel
ao advertir contra o perigo doutrinário e espiritual? Você não deve ser um cão
de guarda mudo. Deve ladrar bem alto e forte (v. 10).
Se, como pastor, você alimentou seu povo com verdade
profundamente espiritual e teológica, assim como com toda a doutrina bíblica,
então quando ensinos falsos forem apresentados o seu povo já terá as respostas
ou terá tanta confiança em você como líder que irá primeiro conferir com você
os ensinamentos recebidos, Os pastores, diz Isaías, precisam de
"conhecimento".
12. Como pastor você tem a reputação de comer demais (cf.
v. 11)? O pastor que não exerce a autodisciplina é um mau exemplo para o seu
povo e apresenta uma imagem negativa para o público. Um grande número de
líderes cristãos tem excesso de peso. E muitas anedotas são contadas sobre
ministros que gostam de comer ou que só gostam de comidas caras. Isaías chama
esses líderes de "cães gulosos que nunca se fartam" (v. 11).
Você, como pastor, precisa estabelecer o exemplo de jejuar e
não de banquetear-se. Como alguém que não tem disciplina de seu apetite pode
convocar outros ao jejum? Hoje, o povo de Deus precisa ouvir freqüentemente o
chamado de Deus para esta disciplina espiritual. Mas um líder que não jejua não
pode fazer tal convocação ao seu povo. Você pode?
13. Como pastor, você tem a reputação de sempre fazer
a sua vontade? Para alguém com autoridade, é fácil desejar cada vez mais poder.
Fique mais alerta às necessidades e aos desejos dos outros em lugar de aos
seus. Aprenda a pedir e dar atenção cuidadosa às sugestões do seu povo. Não aja
como se soubesse todas as respostas.
Se você procura sempre fazer a sua vontade e desconsidera o
seu povo, não será conhecido como homem de Deus ou pelo seu cristianismo.
Isaías adverte contra os pastores que "se tornam para o seu caminho" (v.
11).
14. Você, como pastor, tem a reputação de cuidar
sempre de si mesmo? Isaías condena aqueles que querem satisfazer sua própria
ganância (v.11). A pessoa que sempre busca o seu benefício não é conhecida pela
sua espiritualidade. A santidade é contrária ao egoísmo. A pessoa santa está
sempre pensando no interesse e bem-estar dos outros. Santidade é amor. Certa
vez William Booth enviou uma breve mensagem ao Exército de Salvação em todo o
mundo; ela continha uma só palavra: OUTROS. Esse foi o seu desafio a eles.
Isto devia resumir o seu ministério e suas vidas: OUTROS.
Este é o Espírito âe Jesus. Ele não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida por outros (Mc 10:45). Jesus
disse que os líderes cristãos não deveriam estar sempre mostrando a sua
autoridade. Esse é o caminho do mundo. Ele disse: "Mas entre vós não é
assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que
vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos" (vv.
43-44).
Como pastor você deve servir as ovelhas; não são elas que
devem cuidar de você. É claro que, como pastor, você deve ser sustentado (Lc
10:7). Você merece alimento e abrigo adequados. Você tem alguns direitos. Mas
em muitos aspectos você é chamado para esquecer os seus próprios interesses por
causa do seu povo. O seu chamado é para o auto-sacrifício: Deus em primeiro
lugar, depois os outros e por último o "eu".
Capítulo 23
Sua Responsabilidade como Líder, Parte 1
Atos 20 contém as exortações finais de Paulo para
os líderes de Éfeso. Paulo primeiro testemunhou. Ele os chamou para testemunhar
como vivera e servira entre eles como seu pastor-fundador. Ele os desafiou a
lembrar de seus serviços desde o primeiro dia (vv. 18-27).
1. Ele serviu ao Senhor com grande humildade (v. 19).
2. Ele serviu ao Senhor com lágrimas (vv. 19,31).
3. Ele enfrentou voluntariamente o perigo por causa
deles (v. 19).
4. Ele pregou alegremente tudo que pudesse ser
proveitoso a eles (v.20).
5. Ele ensinou publicamente e em todas as casas deles
(v. 20).
6. Ele proclamou toda a vontade de Deus (v. 27).
7. Durante três anos ele jamais
deixou de admoestá-los noite e dia com lágrimas (v.31).
8. Ele não ambicionava a ajuda financeira deles
(vv. 33-34).
9. Ele estabeleceu um exemplo de trabalho árduo
(v, 35).
10. Ele estabeleceu um exemplo de ajuda aos fracos e
de contribuição (v. 35).
Em meio ao seu testemunho, Paulo insiste sobre a tremenda
responsabilidade deles como líderes. Eles não só devem seguir o seu
exemplo dessas dez maneiras, mas especialmente ele lhes recomenda que:
11. Mantenham-se vigilantes em relação
a si mesmos (v. 28).
12. Vigiem o rebanho (vv. 28,30).
13. Pastoreiem a igreja (v. 28).
Paulo os faz lembrar da necessidade de prestar contas a
Deus.
O escritor aos Hebreus também enfatiza como os
líderes terão de prestar contas a Deus. "Obedecei aos vossos guias, e sede
submissos para com eles; pois velam por vossas almas, como quem deve prestar
contas" (Hb 13:17).
Por duas vezes Paulo diz que todos os cristãos
vão apresentar-se diante do trono do juízo de Deus (Rm 14:10-12; 2 Co 5:10-11).
O livro de Hebreus repete a advertência: "E, assim como aos homens está
ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo" (Hb 9:27). Isto se
aplica aos cristãos e aos não-cristãos. Nenhum cristão vai enfrentar o juízo
final por causa de pecados dos quais se arrependeu, confessou e, na medida do
possível, fez restituição. Mas todo cristão será julgado pela maneira como
viveu depois da sua conversão.
Que ensinamentos você deu para preparar
seus discípulos para quando tiverem de se ajoelhar diante do trono do juízo de
Cristo para vê-lo avaliar as suas vidas e anunciar as suas recompensas?
Estou especialmente preocupado em que você
esteja preparado para quando Cristo tiver de julgar seu papel como líder. Você
e eu, como líderes, ficaremos diante do trono do juízo de Cristo por duas
razões (Hb 13:17):
a. Como líderes espirituais seremos considerados
responsáveis. Assim sendo, velamos (v. 17) para cumprir nossa responsabilidade
de vigiar nossos membros (o termo grego agrupnousin significa perder o
sono). O mesmo termo é usado em Marcos 13:33; Lucas 21:36) (traduzido como
"vigiar"); e em Efésios 6:18 — "Orando em todo o tempo no
Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os
santos".
b. Seremos testemunhas com respeito ao que vimos em
nossos membros quando os guiamos ou apascentamos (Hb 13:17).
Você preparou uma lista de coisas que
espera que Deus lhe pergunte quando estiver diante do trono do juízo de Cristo
e for julgado pelo seu papel de líder? Tão certo como estar vivo hoje, você
estará ali para prestar contas.
Permita-me sugerir itens com relação aos quais Cristo
julgará a sua fidelidade como líder. Existem sem dúvida muitos outros. Se
quiser preparar-se para o dia do juízo, faça a sua própria lista.
VOCÊ SERÁ RESPONSÁVEL POR SUA VIGÍLIA COMO UM GUARDA
Um vigia sonolento é um perigo. A última coisa que ele ousa
fazer é dormir. Um soldado em guarda que adormece em serviço pode ser
sentenciado à morte. Por quê? Ele é um perigo para todos no exército.
Você, como líder, é um guarda espiritual do seu povo. Será
espiritualmente perigoso para o seu povo se você adormecer espiritualmente. O
dever do guarda não é uma brincadeira. Ser líder é uma responsabilidade solene.
a. Você é responsável pela guarda das crianças.
1. Verifique se elas entenderam toda a verdade espiritual básica. Treine e
supervisione os professores da escola dominical; torne a verdade do evangelho
interessante e compreensível para as crianças. 2. Controle a obediência delas a
Cristo. 3. Ore pelo nome de cada uma em particular. 4. Junte-se aos pais nas
orações pelos filhos.
b. Você é responsável pela guarda dos jovens.
1. Verifique se eles entenderam a verdade espiritual e moral básica. 2. Dê
instruções especiais nas áreas de interesse deles. 3. Esteja disponível para
aconselhar os jovens. 4. Envolva a juventude nos cultos e nas atividades da
igreja relacionadas (música, cânticos, leitura da Escritura nos cultos de
adoração, recepção de pessoas, ajuda aos necessitados, distribuição de
literatura, distribuição ou venda de Bíblias). 5. Ore a favor dos jovens pelo
nome.
c. Guarde os lares da sua igreja. Ajude
a protegê-los por meio de: 1. planejamento de aulas da escola dominical sobre o
relacionamento entre marido e mulher. 2. pregação de sermões sobre o lar
cristão; 3. oferecimento de aulas aos pais para tratar dos problemas dos
filhos; 4. plantão à disposição para aconselhar os membros da família; 5.
visita de casa em casa; 6. realização de encontros de oração nas casas; 7.
orações diárias pelos lares.
d. Ajude a guardar a comunidade. 1.
Prepare os membros para uma cidadania efetiva. 2. Fique atento às oportunidades
para que eles ajudem os necessitados. 3. Lidere-os em oração pelos líderes
locais e nacionais (1 Tm 2:1-3), pelas escolas e universidades, pelo país e
suas necessidades, pelos assuntos nacionais, pelas necessidades locais, e pelo
testemunho e atividades dos membros. 4. Insista com eles para serem sal e luz
em suas comunidades. 5. Lidere seu povo a atender às necessidades locais. Em
todas essas áreas você será responsável por ficar acordado como um vigia.
VOCÊ TEM A RESPONSABILIDADE DE AVISAR SOBRE O PERIGO
Deus tornou claro a Ezequiel que o seu papel como profeta o
tornava responsável pelo destino eterno daqueles que
ele contatou.
a. Você é responsável por
ver como Deus vê. Desde o início do ministério de
Jeremias, Deus deu a ele uma visão e depois lhe perguntou: "Que vês
tu?" (Jr 1:11). Quando Jeremias respondeu corretamente, Deus o elogiou e
disse: "Viste bem". Berkeley traduziu isto: "Você é um bom
observador".
O líder deve ter olhos para ver. Os seus
olhos devem estar sempre abertos. Seja um observador cuidadoso. A habilidade de
Deus em usar você depende principalmente da sua observação correta e constante.
Muitos líderes perderam oportunidades de ajudar
num momento de necessidade por serem espiritualmente insensíveis, por não terem
olhos para ver. Existem ocasiões em que a pessoa está dominada por um problema.
Se nesse momento você mostrar amor e cuidado cristãos, terá a sua melhor
oportunidade de influenciar essa pessoa ou ganhá-la para Cristo. Esses são
momentos em que a pessoa enfrenta uma tentação especial. Você tem olhos para
ver o momento de necessidade? Como pode orar eficazmente e advertir se não
tiver olhos para ver?
Todo líder deve orar repetidamente:
"Senhor, dê-me olhos para ver o que o Senhor vê; dê-me olhos para ver
corretamente hoje". Alguns se perderam para a igreja e para Cristo porque
na hora da necessidade o líder estava espiritual e pessoalmente despreparado
para ver.
b. Você é responsável por
ouvir o que Deus diz. Todo
líder precisa ter um ouvido atento. A cada manhã você deve orar:
"Ajuda-me, Senhor, a ouvir a Tua voz hoje. Guia-me através deste
dia".
Quando você vê uma pessoa ou uma situação como Deus a vê,
deve em seguida ouvir o que Deus tem a dizer a essa pessoa ou grupo. Deus tem
sempre uma palavra para cada necessidade. Tenha um ouvido atento para sentir
rapidamente a Sua orientação ou a Sua voz.
O rei Ezequias perguntou a Jeremias: "Tens alguma
palavra do Senhor?". "Sim", replicou ele e imediatamente deu ao
rei uma mensagem de advertência. Em outra ocasião o povo procurou Jeremias e
pediu-lhe que rogasse a orientação de Deus para eles. "Já vos ouvi",
respondeu Jeremias, "Eis que orarei ao Senhor vosso Deus segundo o vosso
pedido. Tudo o que o Senhor vos responder, eu vo-lo declararei; não vos
ocultarei nada" 0r 42:4). "Ao fim de dez dias veio a
palavra do Senhor a Jeremias" (v. 7), e ele transmitiu-lhes a palavra do
Senhor. Em certas ocasiões, você também precisa orar por algum tempo a respeito
de uma situação antes de obter a orientação de Deus sobre o que dizer e quando
e como dizer.
Você não foi chamado para ser profeta e dar ao povo
respostas inspiradas e infalíveis. Mas você é responsável por ter olhos para
ver e ouvidos para ouvir a palavra do Senhor para o seu povo.
Foi dito a Ezequiel: "Eu te dei por atalaia sobre a
casa de Israel; da minha boca ouvirás a palavra, e os avisarás da minha
parte" (Ez 3:17). Isto foi mais tarde repetido palavra por palavra em
Ezequiel 33:7. Esta é a seqüência de Deus para você: ver, ouvir, orar e depois
falar.
Ezequiel foi lembrado de sua enorme responsabilidade nestas
palavras: "Quando eu disser ao perverso: Certamente morrerás; e tu não o
avisares, e nada disseres para o advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a
vida, esse perverso morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue da tua mão o
requererei. Mas, se avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldade
e do seu caminho perverso, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu salvaste a tua
alma. Também quando o justo se desviar da sua justiça, e fizer maldade, e eu
puser diante dele um tropeço, ele morrerá; visto que não o avisaste, no seu
pecado morrerá, e suas justiças que praticara não serão lembradas, mas o seu
sangue da tua mão o requererei. No entanto se tu avisares o justo, para que não
peque, e ele não pecar, certamente viverá, porque foi avisado; e tu salvaste a
tua alma" (Ez 3:18-21).
Não existem palavras mais solenes para um líder cristão em
toda a Escritura. Quando eu era criança fiquei tremendamente impressionado com
esses versículos. Não conseguia esquecê-los. Sempre que outro ministro visitava
nossa casa (meu pai era pastor), depois de alguns minutos eu perguntava o
sentido dessas palavras. Quando tinha acabado de entrar na escola secundária,
permitiram-me assistir a várias sessões da conferência de um ministro. Quando
eles anunciaram que seria dado tempo para perguntas e respostas no próximo
bloco, pedi a um ministro: "Quando chegar a hora das perguntas e
respostas, não diga quem perguntou, mas poderia perguntar para mim o
significado das palavras em Ezequiel 3:18?" Jamais ouvi uma resposta que
me satisfizesse inteiramente. Eu lhe pergunto o que significará para você se
Deus o responsabilizar por alguém que deixou de advertir?
Quando você vê um jovem negligente, um marido ou mulher
infiel, um pecador que não se arrepende, e deixa de admoestá-los com amor mas
claramente, que diferença fará em sua vida no céu se Deus o responsabilizar
pelo seu pecado de omissão, pela sua falha em permitir que Ele o use?
Capítulo 24
Sua Responsabilidade como Líder, Parte 2
Vamos continuar nossa discussão sobre a responsabilidade do
líder perante Deus e seu povo.
VOCÊ SERÁ RESPONSÁVEL POR PRATICAR O QUE PREGA
Jesus ordenou que não fôssemos como os fariseus:
"Porque dizem e não fazem" (Mt 23:3). O bispo Ryle comenta:
"Enquanto houver mundo, este capítulo deve ser uma advertência e um sinal
para todos os ministros de religião. Nenhum pecado é tão grande como o deles
aos olhos de Cristo".
Paulo acrescenta: "Tu, pois, que ensinas a outrem, não
te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?" (Rm
2:21).
Não existe maior impedimento para a causa de Cristo, nenhum
insulto maior para o nome de Cristo, do que as vidas dos cristãos não estarem à
altura dos ensinamentos de Cristo e da Bíblia. Isto se aplica, acima de tudo,
aos líderes cristãos. O mundo tem todo o direito de exigir que pratiquemos
aquilo que ensinamos ou pregamos. Isso se não formos hipócritas, e nenhum
hipócrita merece o respeito público.
É muito fácil ser mais exigente com outros do que com nós
mesmos. Os filhos perdem o respeito pelos pais, quando estes exigem deles o que
eles mesmos não praticam. Quando as pessoas podem apontar falhas na vida dos
líderes, a igreja não é respeitada. O poder da verdade fica destruído quando
não vivemos de acordo com a Bíblia ou com o que dizemos a outros.
Jesus disse: "Acautelai-vos... (da) hipocrisia" (Lc
12:1). Pedro insiste para que nos livremos de toda hipocrisia (1 Pe 2:1).
Cuidado para não exagerar o padrão bíblico. Só existe
um meio de você ter o direito de pregar um padrão mais alto do que aquele que
vive. Você talvez precise dizer: "É isto que a Bíblia ensina. Confesso que
ainda não vivo de acordo com esse ensinamento. Orem por mim, a fim de que pela
graça de Deus eu faça isso de hoje em diante".
Muitos líderes pregaram sob a convicção do
Espírito Santo, à medida que a verdade se tornou ainda mais clara para eles
enquanto falavam. Se isso acontece com você, humilhe-se diante de Deus e do seu
povo. Confesse a sua necessidade. Se fizer um convite para as pessoas irem para
a frente e pedirem a ajuda de Deus para obedecer à verdade que você pregou,
seja o primeiro a ajoelhar-se e pedir as orações da igreja. Você manterá dessa
forma o respeito deles.
VOCÊ SERÁ MAIS RESPONSÁVEL DO QUE O SEU POVO
Tiago nos adverte: "Meus irmãos, não vos torneis,
muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo" (Tg
3:1). No versículo seguinte ele acrescenta que todos tropeçamos de várias
maneiras. Você está tropeçando em "muitas coisas"?
Jesus salienta o perigo de julgar. Este é
um risco especial para o líder. Adquirimos facilmente o hábito de julgar porque
aos olhos do povo nos tornamos autoridade quanto ao significado das Escrituras,
e eles freqüentemente confiam em nossa opinião como sendo a única resposta.
Lembre-se de quão imperfeitamente você compreende toda a verdade de Deus.
Jesus disse: "Não julgueis, para que não sejais
julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a
medida com que tiverdes medido vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no
olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como
dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave
no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente
para tirar o argueiro do olho de teu irmão" (Mt 7:1-5).
Por que Jesus sugeriu que o problema de nosso irmão é como
um argueiro no olho, mas aos nossos olhos o problema vira uma trave? Porque as
faltas dos outros parecem maiores para nós do que as nossas e porque nós, líderes,
somos tidos como mais responsáveis; e nosso papel como líderes faz com que
nossos defeitos pareçam grandes aos olhos alheios.
É uma característica humana minimizar os próprios erros e
maximizar os erros dos outros. Jesus diz que devemos fazer justamente o
contrário.
Depois de Tiago afirmar que nós, como líderes cristãos,
seremos julgados mais rigorosamente, ele dá três ilustrações de áreas nas quais
seremos severamente julgados.
1. Você será julgado severamente por orgulhar-se.
Tiago diz que a língua é uma pequena parte do corpo, mas se gaba de grandes
coisas (Tg 3:5). Em geral, quanto mais você repete um incidente, tanto mais
você o enfeita e tanto mais a sua história cresce. A sua mente pode enganá-lo
com facilidade. Tenha cuidado com o exagero. "Falando
evangelisticamente" tornou-se uma expressão infeliz que implica que as
histórias dos pregadores são mais vividas e o número de pessoas convertidas
muitas vezes maior do que os fatos permitem.
Muitos líderes se gabam de seu trabalho árduo, quando na verdade
estão perdendo muito tempo e não trabalham mais que qualquer outro. Tiago diz
que seremos julgados mais rigorosamente do que outros com respeito aos nossos
auto-elogios.
2. Você será julgado severamente pela sua influência
sobre outros. Tiago ilustra isto, mostrando que uma pequena faísca pode
incendiar a floresta inteira. Um pequeno comentário de suspeita, de dúvida, de
acusação, de ressentimento ou de ira pode atear um fogo devastador numa igreja.
Em vista da sua posição, o que você diz será tomado mais
seriamente, será crido mais indiscutivelmente e será citado mais vezes para
mais pessoas do que você imagina. O que você fala confidencialmente quase nunca
será mantido em confidencia. O que você afirma como possibilidade será contado
como fato. O que você diz será freqüentemente citado fora do contexto.
Se existe alguém que deva vigiar a sua língua, esse é o
pregador. Se alguém pode facilmente atear fogo, que irá queimar e destruir uma
pessoa na igreja, ou alguém fora da igreja que precisa ser alcançado, este
alguém é o líder. Lembre-se cie que você será julgado mais severamente por Deus
pela maneira como usa a sua língua do que o seu povo.
3. Você será julgado mais severamente por envenenar a
mente de outros. O quê? Os líderes envenenam a mente do povo? Sim, esse
é um perigo constante. Tiago diz (3:8) que a língua é como um animal selvagem
que não pode ser domado, como um mal que não se pode conter, como um veneno
mortífero. Lembre que isto é dito para explicar a responsabilidade
dos líderes cristãos.
Um comentário feito por um líder em público ou
em particular pode envenenar a mente de muitos. Tiago diz que pode ser mortal.
Um comentário pode destruir a unidade. Um sermão, ou até uma declaração, pode
contaminar a atmosfera da igreja, da comunidade, do lar. Se existe alguém que
deve controlar a sua língua todo o tempo, esse alguém é o líder.
Essa é a razão de Tiago suplicar aos líderes
cristãos para que se lembrem de que seremos julgados mais severamente que os
outros. Usamos constantemente nossas línguas com seu tremendo potencial para o
bem ou para o mal. Com elas abençoamos ou amaldiçoamos; louvamos a Deus ou
destruímos as pessoas.
VOCÊ SERÁ RESPONSÁVEL POR SEU EXEMPLO
Jesus viveu como um exemplo para nós. Ele agiu
deliberadamente de certa forma para estabelecer um exemplo.
1. Ele foi um exemplo em conter a língua.
"Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus
passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca, pois
ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia
ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente" (1 Pe 2:21-23).
2. Jesus foi um exemplo de serviço
humilde para outros. Quando lavou os pés dos discípulos, Ele disse:
"Compreendeis o que vos fiz?... Porque eu vos dei o exemplo, para que,
como eu vos fiz, façais vós também... Ora, se sabeis estas cousas,
bem-aventurados sois se as praticardes" (Jo 13:12-17).
Três vezes Paulo aconselhou seus
convertidos a seguirem o seu exemplo:
1. "Sede meus imitadores, como também eu sou de
Cristo" (1 Co 11:1). O grego literal é "continuem a ser meus
imitadores, como eu continuamente imito Cristo". O contexto imediato em
que Paulo queria que os coríntios o seguissem especialmente era (a) não levar
ninguém a tropeçar; (b) buscar agradar o mais possível aos outros; e (c)
procurar o bem de outros em lugar do seu próprio bem.
2. "Observai os que andam segundo o modelo que
tendes em nós" (Fp 3:17). O grego literal é "sede imitadores
meus". O contexto imediato que Paulo estava enfatizando era a sua linda
descrição de como se empenhou em seguir a Cristo (vv. 7-16). (a) Ele considerou
tudo o mais como perda comparado a um maior conhecimento de Jesus em toda a Sua
soberania, (b) Ele considerou tudo o mais como refugo, para que pudesse ganhar
Cristo e ser justificado pela fé nEle. (c) Ele queria conhecer Cristo e seu
poder de ressurreição, compartilhando alegremente os sofrimentos de Cristo na
comunhão do evangelho e sendo arrebatado na segunda vinda de Cristo, (d) Ele
fez disto uma prioridade máxima, esquecendo o passado e avançando para o
futuro. Era por isso que Paulo queria que todos os crentes de Filipos se
juntassem a ele. Você está procurando Cristo e as Suas prioridades com tanto
afinco que é um exemplo constante?
3. "Pois vós mesmos estais cientes do modo por
que vos convém imitar-nos" (2 Ts 3:7). O contexto imediato é Paulo não
ficar ocioso, mas trabalhar dia e noite para sustentar a si mesmo e não se
tornar um peso para outros. Ele justifica isto ao dizer: "por termos em
vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos" (v. 9). Paulo sabia que um dos
pecados dos Tessalonicenses era a ociosidade. Durante suas visitas a
Tessalônica ele deliberadamente sustentou a si mesmo. Aos olhos de Paulo, a
ociosidade dos cristãos refletia negativamente sobre a imagem de Cristo. Ele
tinha direito ao sustento da igreja, mas decidiu deliberadamente desistir dos
seus direitos para enfatizar o exemplo que estava querendo dar-lhes. Que Deus o
perdoe se você não tiver a reputação de não ser um trabalhador esforçado.
Em 1 Timóteo 4:12, Paulo exorta Timóteo a tornar-se
"padrão dos fiéis", especialmente em cinco itens listados por ele: na
palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. O termo em grego
significa literalmente "continue tornando-se um modelo".
Pedro escreve as mesmas coisas aos "presbíteros",
isto é, aos pastores-líderes: "Nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho" (1 Pe 5:3).
Nada é mais importante na vida e no ministério do líder do
que ter uma vida exemplar em tudo. A sua liderança não pode ser mais eficaz do
que a sua vida. Seu procedimento prepara o caminho para a recepção das suas
palavras. Isto é verdade tanto entre o seu próprio povo quanto entre os
não-salvos.
O exemplo da sua vida valida ou invalida o seu ministério.
Você não tem mais credibilidade em qualquer comunidade do que a sua vida
garante. Você deve encarnar o que diz. Você deve demonstrar que o evangelho é
verdadeiro.
Deus pode até permitir que você passe por experiências
difíceis, a fim de provar aos não-cristãos que Cristo é real e você é sincero.
Estabelecer um exemplo pode ficar caro. Nada é, porém, mais urgente.
VOCÊ SERÁ RESPONSÁVEL POR SUA VIDA DE ORAÇÃO
O fundamento sobre o qual todo o seu ministério e liderança
é construído é a sua vida de oração. Sua liderança jamais é maior do que as
suas orações. A liderança bem-sucedida requer muito mais oração, mas nenhuma
liderança pode ter sucesso sem muita oração. Não meça o seu ministério pelos
louvores que recebe, pelo tamanho da congregação, pelo montante das ofertas da
igreja, pelo número de atividades centradas na igreja, mas pela quantidade de
oração que é investida nos itens anteriores. Em iguais circunstâncias, um líder
que ora e um povo que ora serão abençoados por Deus.
Muitos líderes só falam sobre a oração. Todavia, muitos têm
uma vida de oração terrivelmente ineficaz. Não basta ter um povo que ora. O
líder deve ser um homem de Deus e um homem de oração. Você não pode ser um
homem de Deus se não for um homem de oração.
Um elemento essencial da liderança é orar pelo seu povo.
Quando os israelitas rejeitaram Samuel ao pedirem um rei, eles, não obstante,
solicitaram que ele orasse a seu favor. Eles reconheceram que precisavam das
suas orações e provavelmente que deviam mais às suas orações que a tudo que ele
fazia a seu favor.
A resposta imediata de Samuel foi: "Longe de mim que eu
peque contra o Senhor, deixando de orar por vós" (1 Sm 12:23). Ele sabia
que seria um pecado contra Deus deixar de orar pelo seu povo. Os líderes provavelmente
pecam mais contra Deus e contra o seu povo, deixando de orar por ele, do que de
qualquer outra forma. E você? E sempre pecado deixar de orar por aqueles que
estão sob a sua responsabilidade espiritual.
O pai é responsável por orar a favor de seus filhos. O
pastor tem a responsabilidade de orar pelo seu povo. O superintendente deve
orar por todos os ministros e igrejas sob a sua jurisdição. O chefe de uma
denominação é responsável por orar em favor de toda a denominação, mas
especialmente em favor de todos os líderes da denominação. O professor deve
orar por todos os seus alunos. Oh, como todos falhamos em nossas
responsabilidades de oração!
Paulo escreveu aos crentes de Éfeso: "Com toda oração e
súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos" (Ef 6:18). Se esta é a
responsabilidade de cada membro da igreja, quanto mais do pastor. Jesus diz que
o pastor chama as suas ovelhas pelo nome (Jo 10:3). Como previamente
recomendado, cada líder deve orar regularmente por todo o seu povo pelo nome.
A maneira menos sonolenta em que você vigia seu povo é
certamente na oração (Hb 13:17). Na Bíblia, as palavras orar ou oração
e vigiar estão, em geral, associadas. Você não pode vigiar
espiritualmente sem orar. O pastoreio e a vigilância envolvem muito mais do que
a oração, mas esta é central para o seu trabalho. Você pode estar certo de que
prestará contas a Deus das suas orações pelo seu povo.
Meca o amor pelo seu povo pela sua vida de oração. Meca o
seu interesse pelo seu povo, sua visão para o seu povo e a sua liderança pela
sua vida de oração. Isto é tão importante que os Capítulos 31 a 34 são
especialmente dedicados a este assunto.
Capítulo 25
Prepare Seu Povo para a Recompensa Eterna
Deus pretendeu que Israel fosse um reino de sacerdotes (Êx
19:6). O povo de Israel seria o meio de Deus abençoar o mundo inteiro (Gn
12:2-3). Eles deviam ser também testemunhas de Deus (Is 43:12). Israel falhou
tragicamente em cumprir o propósito em ambos os aspectos. Além de alguns
salmos, não vemos registro de eles terem orado pela salvação das nações.
A seguir Deus levantou a igreja para cumprir o Seu plano
para o mundo. Nós devemos exercer agora o papel que Israel deixou de cumprir.
Nós, a igreja, devemos ser o reino de sacerdotes de Deus (1 Pe 2:5,9; Ap 1:6;
5:10), o meio de Deus abençoar o mundo (Rm 12:14; 1 Co 4:12; Tg 3:9). Devemos
ser sal (Mt 5:13), luz (Mt 5:14,16; Ef 5:8) e testemunhas (Lc 24:48; At 1:8) de
Deus.
O GRANDE PLANO DE DEUS
Deus é o Supremo Planejador. Antes do início da criação,
Deus planejou a criação, a terra, o tempo, a eternidade, a humanidade, a
expiação e o Seu povo (Mt 25:34; Ef 1:4; 1 Pe 1:20; Ap 13:8).
O plano de Deus é que, de toda a criação, Seu cuidado
especial se relaciona com esta terra. De todos os seres criados por Ele, Deus
escolheu um papel único para a humanidade. Ele nos criou à Sua própria imagem,
enviando Seu Filho para ser eternamente encarnado como homem e em nenhuma outra
forma. Ele planejou para que um só grupo de seres compartilhasse eternamente a
mais íntima relação pessoal com Seu Filho, como a noiva do Filho —
a igreja. Os anjos de Deus foram designados para ajudar e cuidar da humanidade
remida (Hb 1:14). Ninguém mais deve substituir Deus no governo da terra (Gn 1:26,28;
Sl 115:16).
Devemos ser testemunhas de Deus na terra e evidência
de Deus para ajudar os anjos a compreender Deus melhor (Ef 3:10; 1 Pe 1:12). Só
nós podemos levar as pessoas a Cristo. O Espírito Santo opera conosco e através
de nós. Só nós podemos compartilhar a prioridade presente — o ministério de
intercessão de Cristo (Hb 7:25; 1 Tm 2:1).
Cristo completou perfeitamente a expiação.
Pregamos a obra acabada de Cristo, ao alcançar a redenção para a humanidade (Jo
17:4; 19:30; Ef 3:11). Todavia, Ele colocou sobre a igreja a responsabilidade
de tornar disponível para o mundo o Seu plano de redenção. Este é o grande
serviço inacabado de Cristo. Ele consiste principalmente em intercessão (que
Ele também continua conosco) e testemunho-evangelismo (Mt 24:14).
Uma das principais responsabilidades de todos os líderes
de igreja agora é preparar cada membro para participar em uma cruzada total de
intercessão e testemunho para completar a tarefa inacabada de Cristo, Seu
grande e eterno plano. Por tudo que fizermos neste sentido, Ele irá
recompensar-nos eternamente. Esta é a prioridade de Deus para a igreja nesta
era.
DUAS GRANDES ERAS DA IGREJA
A história, para toda a humanidade, está
dividida em tempo e eternidade. Nosso estado na eternidade dependerá do que
fizermos com o nosso tempo. Referimo-nos ao tempo como "aqui e
agora", e à eternidade como "vida futura". O ponto de separação
é a morte. Para qualquer indivíduo a vida até a morte é o seu tempo; depois da
morte é a sua eternidade. O tempo, na melhor das hipóteses, é breve; a
eternidade é infinda. O tempo é para o plantio; a eternidade é para a colheita
eterna.
Tudo isto acrescenta enorme seriedade às nossas vidas como
cristãos — à nossa intercessão e ao nosso evangelismo. Os cristãos que vivem e
pensam principalmente no hoje são insensatos, eternos insensatos. Através de
toda a eternidade eles nunca deixarão de lamentar ter feito tão pouco uso do
seu tempo de semear para Cristo e Seu reino. Qualquer cristão pode ser o único
que jamais irá orar por algumas pessoas ou testemunhar para elas. Ele pode ser
a sua principal esperança do céu.
Mas a eternidade é muito mais do que a decisão entre céu e inferno.
Para os que estiverem no céu haverá grandes diferenças — diferenças em glória (Dn
12:3) e recompensa (1 Co 3:8-15; Ap 22:12). Haverá provavelmente diferenças
eternas na intimidade da comunhão com Jesus. Enquanto Jesus estava na terra, os
5.000 alimentados por Ele ouviram a Sua voz e tiveram comunhão com Ele. Mas a
comunhão dos Doze era muito mais íntima, e a comunhão de Pedro, Tiago e João
era a mais íntima de todas.
Cristo não faz acepção de pessoas, mas Ele respeita a nossa
resposta ao Seu amor, às Suas ordens e à tarefa que Ele nos designou. Nem todos
os discípulos de Cristo foram escolhidos para vê-Lo e ter comunhão com Ele
depois da Sua ressurreição (At 10:41).
Estamos sem dúvida determinando pela nossa obediência hoje o
grau de comunhão com Cristo que vamos ter no céu. Todo crente passará a
eternidade no céu, que será a sede e o lar de Jesus, mas quais as formas que
essa comunhão vai tomar, com que freqüência cada um terá privilégios de
intimidade e o papel que cada um vai ter no reino de Jesus e no serviço
prestado a Ele será decidido no juízo, diante do trono de Cristo. Isso será
baseado em quão fielmente cada um está orando e vivendo para Cristo hoje. O céu
não será o mesmo para todos. Jesus tornou isso muito claro em Seus ensinamentos
repetidamente.
Uma das suas grandes responsabilidades como pastor é
preparar cada crente para a maior recompensa eterna possível. A recompensa não
consiste simplesmente em palavras de louvor enquanto a pessoa está diante do
trono do juízo de Cristo. A recompensa é anunciada então, e todos receberão
algum louvor da parte de Deus nessa hora (1 Co 4:5). Mas na base da decisão
justa de Cristo, as recompensas eternas anunciadas por Ele continuarão desde
então para sempre. A salvação é apenas pela graça; a recompensa será de acordo
com as nossas obras — quão plenamente e quão perto vivemos para Deus e Seu
reino.
A maioria dos cristãos está desperdiçando diariamente
oportunidades que poderiam aumentar sua utilidade para Cristo e o grau da sua
recompensa. É isto que entristece você como pastor cristão. Esta é a razão por
que você deve suplicar por seu povo, orar com tremendo fervor, chorar por eles
e, como Paulo, adverti-los com lágrimas. Ai de você como pastor-líder se deixar
de preparar o seu povo para o julgamento das recompensas de Cristo (1 Co
3:11-15)!
A vida na terra é tempo para trabalho — trabalho para Jesus.
O céu é tempo de descanso e recompensa. Jesus entregou a Sua tarefa inacabada
em nossas mãos para ser completada. Paulo disse que seu grande desejo e ambição
era completar a carreira e o ministério que recebeu do Senhor Jesus (At 20:24).
Muitos cristãos estão vivendo como se o Senhor não lhes tivesse dado uma
tarefa, como se não fossem responsáveis pelo reino de Cristo. É seu dever
como pastor ensiná-los e adverti-los sobre as suas responsabilidades e
sobre as perguntas que Cristo fará quando eles estiverem diante do Seu trono de
juízo.
Não basta evitar o pecado, comparecer à
igreja, ler um pouco a Bíblia e orar alguns minutos todos os dias. O que vai
decidir a recompensa é a maneira como a pessoa investe o seu tempo em oração,
abençoando outros e estendendo o reino de Cristo. Oh, as oportunidades de uma
recompensa grande e eterna que estão sendo jogadas fora pelos cristãos! Como
isto entristece Cristo!
O DUPLO PAPEL DE TODO LÍDER CRISTÃO
Você, como líder cristão ou pastor, tem
uma dupla responsabilidade com relação a cada crente sob a sua supervisão. Você
tem outras responsabilidades — evangelizar os não-salvos, representar o seu
grupo diante da comunidade e do governo, interceder pelo plano de Deus para a
sua denominação ou organização, pelo seu país e pelo mundo. Mas você tem duas
responsabilidades especiais com os seus membros.
A. Você é responsável pela
formação e pela vida espiritual de cada crente. Não
basta simplesmente pregar, liderar o grupo ou conduzir os cultos. Você deve
pregar, ensinar e aconselhar, a fim de que cada um cresça na graça e amadureça
em Cristo (Cl 1:28), mantendo-se fiel ao Senhor e à sua igreja ou grupo. Você é
responsável pelas crianças, jovens, velhos. Você é responsável por manter os
santos fortes em crescimento e dar atenção especial aos fracos e aos feridos.
Você é responsável por manter a sua igreja
ou grupo reavivado, os crentes em harmonia e unidade e os cultos e atividades
selados com a presença e bênção do Senhor.
B. Você é responsável por
preparar cada crente para ser eficaz no trabalho do Senhor. Fomos
salvos para servir. Se formos salvos mas não servirmos,
estaremos desapontando e falhando em relação ao Senhor e perdendo parte da
recompensa que Deus planejou para nós pela nossa fidelidade.
1. Deus espera que cada crente abençoe
tantas pessoas quanto possível. Jesus andou por toda
parte abençoando as pessoas (At 3:26). Nós devemos agora completar a Sua tarefa
e abençoar todos que pudermos, da maneira que pudermos. Cada crente deve mostrar
amor cristão de modo que os não-salvos reconheçam e sintam esse amor.
Até uma criança pode ser ensinada a mostrar amor e ser uma bênção. Os filhos
dos cristãos devem ser conhecidos pela sua bondade, vontade de ajudar e amor.
As donas de casa têm um círculo de vizinhos que podem abençoar. Cada uma deve
ser uma pessoa tão amorosa, tão abençoada, que isso ajude a preparar o caminho
para o testemunho e o convite para os cultos de evangelismo. Nenhum cristão
está excluído.
1. Deus espera que cada crente tenha um ministério
de oração. Somos salvos para orar e nossa oração
principal não deve ser por nós mesmos. Não basta preocupar-se apenas com a vida
espiritual da nossa família. Cada crente é chamado a ter um ministério eficaz
de oração pela igreja, pelo reavivamento, pelo evangelismo e a alcançar o mundo
inteiro para Cristo.
Jesus queria dizer isso quando afirmou que somos responsáveis
pela nossa Jerusalém (nossa casa, igreja ou cidade) até os confins da terra.
Qualquer cristão cuja oração diária não inclua o país inteiro e as outras
nações do mundo está desobedecendo ao último mandamento de Cristo. Isso exige
oração planejada e não apenas momentos a cada dia, mas um ministério de oração
planejado para cada crente. Os seus crentes estão tendo tal ministério de
oração? Como você os preparou para isso?
3. Deus espera que cada crente seja uma testemunha. Cada
um deve ser sal e luz em sua comunidade, uma testemunha ativa para Cristo pela
palavra e pela vida. Cada crente deve ser um embaixador de Cristo (2 Co 5:20).
Milhões de cristãos jamais começaram a ser embaixadores. De quem
é a culpa? Quem prestará contas a Deus? Os crentes? Claro! Você, como pastor e
líder? Sim, em muitos casos você será ainda mais responsável do que os crentes.
Por quê? Porque é sua a responsabilidade de treiná-los a dar testemunho e a
preparar e seguir um plano pessoal de intercessão.
O DIA DA PRESTAÇÃO DE CONTAS ESTÁ
CHEGANDO
O dia mais importante no futuro de cada crente é
o dia do juízo. Paulo torna claro o ensinamento de Jesus — todos devemos estar
prontos para esse dia.
"Todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como
está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo
joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará
contas de si mesmo a Deus" (Rm 14:10-12).
"É por isso que também nos esforçamos... para lhe ser
agradáveis. Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de
Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio
do corpo" (2 Co 5:9-10).
Quantas vezes por ano você inclui uma seção importante sobre
o juízo em um de seus sermões ou ensinamentos bíblicos? Quão claramente você
ensinou a seu povo — desde as crianças até os adultos — que tudo que fizer a
cada dia será incluído nas coisas que terá de enfrentar no juízo e que Cristo
lhe pedirá que preste contas disso? Não basta pregar ou ensinar o que o juízo
vai significar para o pecador. Você deve tornar claro o que o juízo significará
para o crente.
Paulo está falando aos cristãos cada vez que diz: "E
todos comparecerão" diante do tribunal. Ele inclui a si mesmo. Em outro
lugar ele enfatiza que não se preocupa muito com o que os outros pensam a seu
respeito, porque Cristo vai ser o seu Juiz (1 Co 4:3-
4). Tanto as coisas boas como as más serão julgadas.
O livro de Apocalipse acrescenta que não haverá só o Livro da Vida por ocasião
do juízo, mas também outros livros. Estes sem dúvida contêm o registro completo
de cada vida, inclusive a sua e a minha (Ap 20:12).
De que forma você preparou o seu povo para o dia mais
importante do seu futuro? Hebreus 9:27 lembra que "aos homens está
ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo". Todos vão morrer —
santos e pecadores. Depois da morte todos enfrentarão o "juízo" —
santos e pecadores. Se você deixou de ensinar adequadamente ao seu povo sobre
este assunto, talvez precise pedir perdão a eles e esclarecer imediatamente o
assunto. Eles podem já ter perdido uma grande recompensa por não estarem
vivendo para esse dia.
Todo líder enfrentará muitas perguntas sobre o seu
ministério quando se puser diante de Cristo. Jesus o responsabilizou por cada
cristão sob os seus cuidados. Ele será responsável pela verdade bíblica que
ensinou ou deixou de ensinar. Se ensinar doutrina errada, também terá de
responder por isso. Hebreus 13:17 lembra que cabe a ele vigiar o seu povo como
uma pessoa que "deve prestar contas" a Deus pela orientação de vida
dada a ele.
Se amigos e contatos dos membros da sua igreja forem para o
inferno por não terem sido adequadamente amados e abençoados, por não terem
sido objeto de oração e por não terem recebido testemunho nem terem sido
advertidos, quem será o responsável? Ezequiel diz para
ensinar ao seu povo que eles serão responsáveis (Ez 3:18-19). Mas se você não
lhes ensinou que eles terão de prestar contas, você também será responsável Ezequiel
diz que isto significa sangue em suas mãos.
Você lembra como Paulo ficou preocupado
com a idéia de livrar-se do sangue de quem quer que fosse? Atos 20:26 diz:
"Portanto eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de
todos". Do que Paulo estava falando? Ele se sentia inocente do sangue
daqueles a quem ensinara e que conquistara para Cristo. Por quê? Ouça as
palavras dele: "Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de
Deus" (v. 27). Paulo se refere ao seu ensino da doutrina. Ele estava livre
da culpa de sangue porque lhes ensinara claramente toda a doutrina essencial.
Você poderá dizer o mesmo? Quão claramente você ensina a doutrina bíblica?
Muitos líderes cristãos estão falhando para com Cristo neste ponto. Eles serão
responsabilizados no juízo, não por ensinar doutrina errada, mas por deixar de
ensinar a doutrina básica e verdadeira. Nenhum líder terá a ousadia de deixar
de ensinar a doutrina.
Nos versículos seguintes, depois de falar sobre
a sua própria liberdade da culpa do sangue, ele diz aos líderes de Éfeso:
"Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o
seu próprio sangue" (v. 28).
A grande obra inacabada de Cristo é a evangelização do
mundo. O sangue de Cristo foi derramado pelo mundo inteiro (1 Jo 2:2).
Deus ama o mundo inteiro. Deus não quer que ninguém pereça, mas que todos
cheguem ao arrependimento (2 Pe 3:9). Sua principal prioridade hoje é que cada
crente faça o máximo para ganhar tantas pessoas do mundo quanto possível. Ele
morreu por elas. Será que não podemos tentar alcançá-las?
VOCÊ AMA O MUNDO COMO DEUS AMA?
Esdras chorou por causa dos pecados do seu povo (Ed 10:1).
Neemias lamentou por alguns dias a necessidade de Jerusalém (Ne 1:4). Daniel
pranteou e jejuou durante três semanas (Dn 10:2-3). Jesus chorou sobre
Jerusalém (Lc 13:34). Paulo sofreu profundamente por causa dos judeus
não-salvos (Rm 9:2-4); Ele chorou noite e dia por três dias enquanto
evangelizava em Éfeso (At 20:31).
Há mais perdidos no mundo hoje do que jamais houve. Se formos
para o trono do julgamento de Cristo sem ter também chorado pelos perdidos de
nossa cidade, de nossa nação e de outras nações pelas quais Cristo morreu, o
que Ele dirá a nós? Como explicaremos nossa falta de amor e interesse, nossa
falta de fardo na oração diária?
Se o seu povo nunca o vir chorar pelos perdidos enquanto os
lidera em oração durante os cultos, como aprenderão a chorar enquanto oram
pelos milhões não-salvos do mundo? Eles falharão em relação a Cristo e aos
não-salvos por não terem tido um exemplo da sua parte?
Se a sua congregação for para o juízo não tendo carregado
senão raramente um grande fardo intercessório pela evangelização, quem será
responsabilizado por Deus?
Em Lucas 16, Jesus contou a parábola do administrador que
gastou os bens do seu empregador. Ele teve de prestar contas de seu erro. A
quem Jesus estava falando quando ensinou isto? Não à multidão de não-salvos,
mas aos discípulos. O seu povo está desperdiçando o amor de Deus pelos
perdidos, deixando de levá-lo a eles? Eles estão desperdiçando o sangue de
Cristo derramado pelos não-alcançados? Eles estão desperdiçando as Suas
promessas, as quais Ele ordenou que a igreja apropriasse em oração? Estão
desperdiçando as oportunidades que Ele lhes está dando para alcançar os
perdidos em sua vizinhança? Se estão, terão de prestar contas. E você e eu,
como líderes que deixaram de ensiná-los e desafiá-los, teremos de prestar
contas ainda mais rigorosas. Jesus disse que um julgamento severo estava
destinado àqueles que deixaram de usar seus talentos antes da Sua volta (Lc
19:20-23).
Capítulo 26
Prepare Seu Povo para Orar
A razão de Deus chamar alguns para serem profetas, outros
para evangelistas e outros ainda para pastores e mestres é explicada em Efésios
4:11-12. Deus dá esses líderes "com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo".
Esta edificação é feita de dois modos — cultivando a vida espiritual dos
crentes e acrescentando novos crentes ao corpo de Cristo. O escritor aos
Hebreus escreve: "O Deus da paz... vos aperfeiçoe em todo bem, para
cumprirdes a sua vontade" (Hb 13:20-21). Como você pode preparar o seu
povo para o serviço que Deus quer que cada um faça? Como Deus pode usar você
para o preparo deles? Isto não se refere a dons espirituais. Só o Espírito
Santo pode conceder esses dons. Nós não podemos concedê-los nem ensinar as
pessoas a recebê-los. Só podemos ensinar como eles devem ser usados.
PREPARE O SEU POVO PARA ABENÇOAR OS OUTROS
"Deus abençoe você" deveria ser uma das expressões
mais comuns na boca do cristão. Deus é um Deus de bênção. O sumo sacerdote
devia abençoar o povo, dizendo: "O Senhor te abençoe" (Nm 6:24). Deus
quer abençoar todo o trabalho das nossas mãos, se O obedecermos (Dt 14:29;
24:19). "O Senhor teu Deus te abençoará abundantemente... se apenas
ouvires atentamente a voz do Senhor teu Deus para cuidares em cumprir todos
estes mandamentos que hoje te ordeno" (Dt 15:4-5). Você
vai encontrar promessas similares em muitos pontos. Jesus foi enviado para nos
abençoar (At 3:26). Jesus andou por toda a parte fazendo o bem e abençoando
tanto os justos como os pecadores (At 10:38). Devemos abençoar todas as
pessoas, mesmo as que nos perseguem (Rm 12:14). Quando somos amaldiçoados, nós
abençoamos (1 Co 4:12). Deus abençoa tanto os atos quanto as pessoas (Sl
33:12), os pobres e os ricos, as crianças e os adultos (Mc 10:16). Estes são
passos que você pode ensinar seu povo a dar para abençoar outros:
1. Aproveite toda oportunidade para abençoar
as pessoas. Fique alerta para as oportunidades. Ore
para que Deus o guie. A cada manhã peça a Deus para fazer de você uma bênção
definida para alguém nesse dia.
2. Mostre amor em nome de Jesus. Fique
atento para oportunidades de sorrir para as pessoas, ajudá-las
e encorajá-las. Busque levar a alegria do Senhor onde quer que vá. Peça a Deus
para derramar o amor de Cristo através de você na vida de outros — salvos ou
não, sejam crianças, jovens ou adultos.
3. Ore constantemente pelos outros. A
oração é um meio importante de abençoar. Quando passar pelas
casas, peça a Deus que abençoe os moradores. Quando passar por crianças, peça a
Deus que as abençoe. Quando encontrar pessoas zangadas, peça a Deus que as
livre desse sentimento. Atravesse o seu dia fazendo pequenas orações pelas
pessoas que encontrar ou por aquelas para as quais Deus chamar sua atenção.
Através da oração você pode abençoar mais pessoas do que de qualquer outra
forma.
PREPARE O SEU POVO PARA UM MINISTÉRIO DE ORAÇÃO
A oração é uma forma de ministério que Cristo deseja para
todo crente. Somos salvos para orar pelos outros. A oração é a base para
qualquer outro ministério que tenhamos. A oração pode ser o ministério mais
importante na vida da maioria dos cristãos. Uma das suas maiores
responsabilidades é ajudar seu povo a tornar-se um povo que ora e a tornar
efetiva a sua intercessão para Cristo. Quanto tempo em oração o seu crente
médio investe no reino de Cristo por dia?
Esta preparação tem duas fases. Você deve prepará-los para
ser pessoalmente fortes na oração e na intercessão. Você deve também guiar o
seu povo, enquanto ele desenvolve o seu plano de oração. Nada é mais importante
para um ministério de intercessão do que um plano pessoal de oração.
1. Ajude-os a aprofundar a sua vida pessoal de oração.
O seu povo não só precisa do seu ensinamento claro e repetido sobre a
oração, como também precisa ver em você um exemplo de uma vida e ministério de
oração. O amor pela oração deve ser ensinado, absorvido e praticado.
a. Aprofunde a sua própria vida de oração, A
oração deve tornar-se a vida, a alegria e a paixão da sua alma. O seu povo deve
ver que a oração é seu deleite e sua própria respiração. Se você apenas falar
sobre oração e não demonstrar a alegria e o poder da oração, os seus ensinos
não passarão de simples palavras — palavras piedosas com as quais todas as
pessoas concordam. Mas elas não compreenderão quão abençoada a oração pode ser,
até que vejam isso em você.
Todos os cristãos acreditam no dever de orar a cada dia. A
maioria, porém, têm uma vida comum de oração exceto nas emergências. Em geral,
eles nunca compreenderam a alegria e emoção da comunhão com Jesus e de
prevalecer em oração a favor de outros. Existem exceções — pessoas que oram
mais que outras.
Você é a chave para o ministério de oração do seu povo. Isto
significa que no dia do juízo você terá de prestar contas mais severas. Não
espere que o seu povo almeje aquilo que não vê em você. Eles precisam sentir a
sua alegria em Cristo, seu amor por Jesus e por eles mesmos. Eles precisam
sentir a sua fé vibrante quando ora — que você realmente espera e recebe
respostas para as suas orações. Eles devem sentir essas coisas em suas orações
normais em público e começarão então a desejar aprofundar-se mais em oração por
sua própria conta.
Mas lembre-se de que suas orações em público refletem a
qualidade da sua vida de oração pessoal e privada. Deus não pode usar
poderosamente as orações em público e nas casas quando suas orações privadas
são fracas, sem vida e ineficazes. Você precisa ser uma pessoa de Deus se
espera que o seu povo se torne povo de Deus. A vida de oração de muitos líderes
cristãos é inadequada para o trabalho que eles estão tentando fazer. Eles são
inadequados para satisfazer Jesus. Isso se aplica a você? Aprenda a orar se
quer que seu povo ore.
b. Dê prioridade à oração em seu ministério público.
Prepare o seu coração tanto para a oração em público como para a sua
pregação e ensino. Se o seu coração não derreter quando você orar, ele
provavelmente não derreterá quando você pregar. Se o seu coração não chamejar
para Deus quando você orar, provavelmente não chamejará quando
você pregar.
Você deve sempre orar mais longamente em
particular do que em público, mas se o seu coração estiver derretido com o amor
de Deus ou incendiado pelo fogo de Deus, uma oração pública que leve realmente
a igreja à presença de Deus será freqüentemente bem recebida por todos. Alguns
dos maiores pregadores de Deus foram grandes em oração. As pessoas vão aos seus
cultos especialmente para ouvir você orar?
A sua oração deve repetir as preocupações, os
lamentos e os profundos desejos do seu povo. Uma oração "rapidinha"
tende a sugerir que orar não é importante. Mas uma oração longa, proveniente de
coração e lábios que não evidenciam a presença e o poder de Deus, pode
facilmente parecer perfunctória. Pode parecer de tal forma parte da rotina do
culto que as pessoas ficam aliviadas quando você termina. Viva e ore de modo
que as suas orações em público exalem o perfume da presença de Deus e vibrem
com o poder de Deus.
c. Faça da oração uma
parte natural e vital de todo ministério privado. Inclua
uma breve oração em todo o seu aconselhamento pessoal, visita a lares ou
hospitais, despedidas, ou ao entregar uma tarefa a uma pessoa ou grupo. Faça da
oração uma parte tão integrante de tudo o que você faz que seja conhecido como
alguém que ora a respeito de tudo (Fp 4:6). A oração deve ser uma parte sempre
presente de todo o seu ministério. Lembre-se, a oração acrescenta a bênção de
Deus a tudo o que você diz, a presença de Deus a todos aqueles com quem entra
em contato, e o poder de Deus para responder a qualquer necessidade que você
tente satisfazer.
À medida que o seu povo perceber que você
coloca Deus em tudo mediante as suas orações, eles também começarão a orar em
tudo o que fazem, como recomendado por Paulo (Ef 6:18). O seu povo, quase
inconscientemente, começará a ser um povo que ora ao sentir que a oração
é uma parte indispensável da sua vida.
2. Você pode guiá-los afim de prepararem os seus
próprios planos de oração. Todo cristão precisa desenvolver um
plano pessoal de oração. Ninguém fará a oração desempenhar o pleno papel que
Deus deseja para a sua vida a não ser que se planeje para isso. Planejamos
nossos horários de dormir e alimentar-nos. Quando não cumprimos nosso horário
de alimentação ou descanso, logo percebemos. Podemos até sentir desconforto.
Da mesma forma, a oração deve ser incluída no programa
normal de cada crente. Isto não acontece a não ser que hábitos de oração
definidos sejam formados e planos sejam especificamente feitos para incluir a
oração no estilo de vida espiritual. Isto irá agradar o Senhor, cumprir a Sua
vontade e proporcionar a recompensa eterna que Cristo deseja dar.
a. Oriente-os no sentido de estabelecer horários
regalares de oração diária. As circunstâncias de cada pessoa
variam e princípios gerais de oração precisam ser então ensinados. A seguir,
cada pessoa é ajudada a adaptar esses princípios às suas necessidades. Até as
crianças e os jovens precisam de hábitos regulares de oração. Quão bem você
conhece os hábitos de oração do seu povo?
O amanhecer é sempre preferível para um dos períodos de
oração. Contudo, o horário de trabalho, períodos em que as crianças estão
dormindo ou na escola, cuidados com a saúde e características pessoais devem
ser levados em consideração.
Nem todos podem ter seu horário principal de oração no
começo do dia. Pode ser necessário ter um tempo menor antes que os outros
levantem ou façam barulho, ou num momento planejado de manhã, com um período
mais longo mais tarde quando a pessoa pode ter um tempo maior sem ser
perturbada.
Alguns são indivíduos "noturnos". Acham difícil
ficar alertas e bem dispostos ao acordar. Todavia, parte de nosso melhor tempo,
tempo prioritário, deve ser dado ao Senhor logo no começo do dia. Ajude os
membros a descobrir outras horas e lugares possíveis para uma oração
significativa. Como pastor do seu povo, aconselhe numa base pessoal cada um dos
membros a respeito do seu plano de oração.
b. Guie-os no uso do tempo de oração. Enfatize
pontos tais como:
(1)
Fique tão disposto e alerta
quanto possível. Lavar o rosto pode ajudar a pessoa a ficar instantaneamente
alerta quando acorda. Orar na cama é raramente a melhor maneira de obter o
máximo do período de oração. Durante períodos mais longos de oração, variar de
postura pode tornar a pessoa mais alerta. Todas as posturas são sagradas para o
Senhor.
Quando excepcionalmente
cansados, alguns acham que ficam mais alertas quando lêem a Bíblia ou oram de pé. Alguns ficam andando de um lado
para outro enquanto oram, se estão sozinhos. Isto pode também acrescentar uma
sensação de urgência (2 Rs 4:32-35). Algumas vezes um gole de água ou um
pedacinho de qualquer coisa — uma noz ou duas, um pedaço de pão ou uma fruta
pode ajudar a pessoa a ficar bem disposta durante a oração.
(2)
Comece com uma leitura bíblica. É tão
importante ouvir Deus quanto falar com Ele. Comece geralmente com a Palavra e
ore depois. Uma boa média é passar metade do tempo devocional lendo a Escritura
e metade em oração. Lembre-se, nenhum livro devocional pode substituir a
Bíblia. O tempo de leitura de outros bons livros deve ser em adição ao tempo
regular de oração.
Nenhum cristão alfabetizado deve ler menos de um capítulo da Bíblia por
dia. Para a maioria dos cristãos é bom ler pelo menos três capítulos da Bíblia
a cada dia e cinco no domingo. Desta forma, qualquer um pode ler
consecutivamente a Bíblia a cada ano.
Não vá pulando pela Bíblia, lendo um pedaço aqui e outro ali,
ou só as suas passagens favoritas. A Palavra de Deus merece mais respeito do
que isso. Deus quer que nos alimentemos de toda ela. Alguns preferem ler o Novo
Testamento inteiro duas vezes para cada vez que lêem o Antigo Testamento. A prática
normal é ler a Escritura consecutivamente.
(3) Planeje
o conteúdo e o esboço para o
período de oração. Deus acolhe toda oração e toda forma de oração (Ef 6:18). Em
geral começamos com adoração, expressando amor e dando graças. Muitos acham o
esboço dado por Jesus na "oração dominical" (Mt 6:9-13) útil como
diretriz:
- Primeiro adorar,
cultuar e agradecer a Deus (v. 9)
- A seguir orar pela
causa de Cristo (v. 10)
- Orar por situações
nas quais a vontade de Deus deva ser cumprida (v. 10)
- Depois orar pelas
necessidades físicas e materiais pessoais, familiares ou do grupo (v. 11)
- Pedir perdão pelas
falhas, defeitos ou pecados (v. 12)
- Orar pedindo
orientação e vitória (v. 13)
- Terminar com mais
expressões de adoração e amor a Deus (v. 13).
Muitos líderes de oração sugerem este modelo de esboço: Adoração,
Agradecimento, Confissão, Intercessão e Compromisso.
Os períodos de oração pessoal surgem muitas vezes de uma situação
de necessidade ou emergência, quando o seu esboço comum pode ser
desconsiderado. Confie sempre na orientação do Espírito, na liberdade da Sua
presença.
(4) Use
listas de oração para pelo menos um
dos períodos importantes de oração diária. Todo crente deve usar uma boa parte
do seu período de oração para interceder por outros e para o progresso da causa
de Deus. E provável que a única maneira de fazer isto e de incluir todos por
quem deve orar seja preparar várias listas curtas ou uma lista mais longa com
várias seções.
Sua lista ou listas
permanentes devem incluir líderes e situações do
governo (1 Tm2:1-2); líderes de igreja, ministérios e necessidades; evangelismo
mundial — missionários, organizações missionárias, nações, obreiros cristãos;
listas de pessoas não-salvas; entes queridos.
As listas temporárias podem ser mudadas de tempos em tempos e incluir eventos
atuais; os doentes ou enlutados e situações problemáticas.
Ensine seu povo a preparar e
usar as listas pessoais.
Capítulo 27
Ensine a Mordomia do Tempo e dos Bens
A MORDOMIA DO TEMPO
A vida e o tempo são uma responsabilidade especial e uma
mordomia que nos foram dados por Deus. O tempo é uma parte da eternidade que
Deus nos entregou por empréstimo. Cada hora que passamos sem significado é uma
bênção em potencial não realizada para o reino de Cristo e uma recompensa
eterna em potencial perdida para sempre. Satanás quer roubar a Deus e tirar
nossa recompensa, roubando-nos do uso sábio do nosso tempo. A pergunta: "O
que você está fazendo com a sua vida?" envolve uma segunda pergunta:
"O que você está fazendo com o seu tempo?".
Todos precisamos de tempo para passar com a família, os
amigos e outros. Não perdemos tempo quando desempenhamos nossos deveres
normais. Deus quer que cumpramos nossas responsabilidades com a família, nosso
empregador e nossa igreja. Ele quer que tenhamos a comunhão e a recreação sadia
necessárias. Isto é importante para a saúde física e mental.
Todavia, o pastor é responsável por ensinar seu povo a usar
o tempo livre sabiamente. Caso contrário, o tempo é desperdiçado, perdido para
sempre. Dez minutos são suficientes para ler um ou dois capítulos da Palavra de
Deus. O cristão que faz uso de listas de oração pode sempre investir sabiamente
dez minutos em oração.
Os livros do céu contêm o registro do tempo que não usamos
ou desperdiçamos? Sem dúvida! Precisamos ver o tempo em seu tremendo potencial
para o reino de Cristo e nossa recompensa eterna. Prestaremos um dia contas a
Deus do que fizemos com as nossas vidas. Isso inclui o que fizemos com nossos
dias, horas e algumas vezes até o que fizemos com os nossos minutos.
Se todos os minutos ociosos dos membros da sua igreja durante uma semana fossem
investidos em oração pelos seus serviços, seu ministério e atividades da igreja
para alcançar os não-salvos, haveria um aumento de bênçãos, resultados
multiplicados e toques de bênçãos de reavivamento.
Ficamos chocados quando alguém morre
prematuramente e dizemos que foi uma tragédia. Some os minutos desperdiçados
dia após dia durante uma vida inteira e isso será o mesmo que cortar vários
anos da vida da pessoa. É pecado tirar a própria vida ou a de outrem. É
igualmente pecado matar vários anos da nossa vida mediante o tempo perdido. O
efeito é uma perda tão grande como se alguém tivesse matado você vários anos
antes do tempo em que teria normalmente morrido.
Há alguns anos, enquanto ministrava na
Nova Zelândia, fui apresentado ao Sr. Wright, um batista leigo zeloso em Upper
Hutt. Ele era assinante da revista Revival, que eu então publicava. Ele
tinha profundo interesse pelo reavivamento da Nova Zelândia e do mundo inteiro,
assim como por missões, especialmente a OMS International. Ele leu no mensário
da OMS sobre a morte de um parceiro de oração da OMS na Flórida, Arthur Wood,
que passara a maior parte dos seus anos de aposentado, orando ao redor do mundo
e pelo ministério da OMS.
O Sr. Wright me perguntou: "Você acha que Deus me
deixaria substituir Arthur Wood?". Eu lhe garanti que acreditava que Deus
se agradaria muito disso. Ele me mostrou então um quarto em sua casa que
reservara como seu quarto de oração. "Eu me levanto pela manhã e depois do
café venho para este quarto e passo grande parte do meu dia em intercessão.
Gostaria de ver o meu livro de oração?"
Ele me mostrou um livro grande e preto de folhas soltas. Vi
neles mapas das várias nações onde a OMS trabalha, fotos com nomes de
missionários, evangelistas nacionais, pastores e outros. Aqueles eram os seus
chamados de oração — seus mapas de oração, suas listas de oração. O Sr. Wright
já está no céu há alguns anos agora, mas tenho certeza de que através da
eternidade ele agradecerá repetidamente a Deus por ter dedicado os últimos anos
de sua vida à intercessão, depois de se aposentar.
Pense nos milhares e milhões de pessoas que poderiam ser
ganhos para Cristo se todos os aposentados cristãos investissem pesadamente o
seu tempo na intercessão. Os anos de aposentaria deles poderiam ser os mais
felizes e produtivos das suas vidas — um investimento grande e eterno. Os
aposentados poderiam tornar-se milionários da eternidade em bênçãos. Você é
responsável por treinar o seu povo a investir em intercessão. Mas pense em como
será censurado no céu se deixar de treiná-los a fim de que possam ser assim
recompensados.
Os cidadãos mais velhos e os aposentados da sua igreja são a
sua responsabilidade especial. Você os ensinou a investir seu tempo para
receberem o máximo de bênçãos e de recompensas? O tempo da aposentadoria não é
deles para desperdiçar do jeito que quiserem. É uma responsabilidade especial
dada por Deus.
De diversas maneiras Deus pode usar partes do tempo desses
aposentados para visitar os doentes e os idosos; ajudar nos vários cultos da
igreja, ajudar nas visitas evangelísticas, no trabalho especial com as
crianças. Ensine a eles o privilégio de uma leitura consistente da Palavra de
Deus, de grandes investimentos em oração. Faça com que se tornem parceiros
especiais de oração no seu ministério, dando a eles listas semanais de oração.
O que é mais saudável do que exercitar-se caminhando? Você
já tentou investir meia hora ou mais por dia num passeio saudável a pé, durante
o qual faz intercessão pela sua igreja, sua comunidade, sua nação, missões,
seus entes queridos? Tente fazer uma caminhada de oração; isso pode ser uma
bênção!
A MORDOMIA DA VIDA
Os jovens da sua igreja são sua responsabilidade sagrada.
Quantos jovens da sua igreja Deus irá chamar para o serviço cristão? Você está
equipando cada um deles para uma vida cristã útil? Você tem um Timóteo pessoal
a quem está preparando para o serviço do Senhor?
Quantos dos seus jovens não têm alvos adequados na vida? A
quantos falta a orientação paternal adequada ou o encorajamento para que se
preparem para ser mais úteis? Deus quer usar você para desafiá-los com a idéia
de um possível chamado para alguma forma de serviço cristão. Se você tem olhos
para ver os jovens ao seu redor e ouvidos para ouvir a orientação de Deus para
você, pode vir a ser usado por Deus como Paulo e outros líderes foram, passando
a fazer parte do processo divino de guiar muitos jovens para o serviço do
reino.
Onde quer que Paulo fosse, ele parecia descobrir membros de
equipe em potencial, encontrar meios de envolvê-los e depois ajudá-los,
mediante um período mais curto ou mais longo de treinamento no serviço.
Descubra o seu Timóteo, Tito, Lucas, Onésimo, Aristarco, Sóstenes, Marcos,
Silas, Priscila e Áqüila. Deus ajudará você a descobri-los e a guiá-los para
cumprir a vontade de Deus para as suas vidas.
Como líder, você é responsável por desafiar o
seu povo com o chamado de Deus. Ensine-o a orar regularmente para que mais
obreiros sejam enviados para a seara de Deus. Duas vezes durante o seu
ministério Jesus ordenou aos Seus seguidores que orassem pedindo obreiros
cristãos (Mt 9:37-38; Lc 10:2). Ele contou a parábola urgente dos trabalhadores
que estavam à espera de trabalho (Mt 20:1-6). Quantas pessoas serão chamadas
para o serviço do reino por sua causa?
A MORDOMIA DOS BENS
Toda a terra pertence a Deus. Ele a criou; Ele a emprestou
para nós. Ele é nosso locador. Estamos em débito para com Ele por
tudo o que usamos ou temos. Nossas casas são feitas de materiais tomados de
empréstimo. Nossas roupas, cada um de nossos bens, são uma espécie de
empréstimo dEle.
Nossa vida pertence a Deus. Ele nos protegeu e proveu nossas
necessidades. Se Ele não nos tivesse cercado de misericórdia,
teríamos sucumbido há muito tempo aos milhares de germes de doenças que estão
ao nosso redor. Devemos a Ele nossa vida e respiração.
Nossa salvação — o perdão, a presença e o poder de
Deus em nossas vidas e a promessa divina do céu são nossos através da graça de
Deus. Somos devedores do Calvário. Somos devedores por tudo o que somos e por
tudo o que temos.
Deus nos pede para dar-Lhe uma parte significativa de nossa
renda e nossos bens. Na dispensação do Antigo Testamento Ele exigiu um décimo
da renda e da produção do povo. Devemos a Deus mais do que eles. Não seria de
surpreender se Deus pedisse um quinto, um quarto e até metade a alguns de nós.
O mínimo que podemos fazer é dar o dízimo e ofertas de amor adicionais. Dar a
Deus é um meio de mostrar amor a Ele. Quando considerarem as recompensas que
poderiam ter recebido se tivessem investido mais na causa de Deus, alguns
cristãos ficarão chocados no dia do juízo ao descobrir que., em relação às
recompensas e falando de modo comparativo, eles não passam de eternos mendigos.
Você, como líder, é responsável por treinar o seu
povo a dar. Deixar de fazer isso é prejudicar a igreja e o avanço do reino de Cristo.
Deixar de ensinar a contribuição é roubar as pessoas das recompensas que elas
vão ter no céu se contribuírem. Quanto mais se sacrificam no dar, tanto maior
será a sua recompensa eterna. Será uma vergonha para você, como líder cristão,
se não treinar o seu povo para ofertar generosamente e investir assim na
eternidade.
Se alguém está desempregado e sem produzir nada, treine--o a
dar uma porção maior do seu tempo em lugar de dinheiro. Ele pode ajudar a
manter limpo o prédio da igreja; pode dar recados para o pastor. Pode
distribuir literatura evangelística, ler as Escrituras para os idosos e
doentes, ir de casa em casa testemunhando, ou dar testemunho em pontos de
recreação, nas ruas ou praças onde o povo se reúne.
Ele pode preparar listas e passar diariamente várias horas
em serviço de intercessão. Pode ajudar o pastor a orar todos os dias por cada
membro da igreja. Pode visitar e orar com os doentes. Pode ajudar os salvos e
os não-salvos de maneiras práticas que demonstrem o seu amor cristão e ser uma
bênção para outros. Pode fazer do seu período de desemprego um investimento
eterno. Que ninguém diga que ele não pode contribuir com nada. Se der conforme
as suas possibilidades, Cristo irá recompensá-lo grandemente nas eras
vindouras.
Você, como líder, é responsável por ensinar a cada crente a
mordomia da vida, do tempo, dos bens materiais e a melhor maneira de investir
para a eternidade. Ninguém é um pastor fiel se roubar o seu povo das
recompensas do céu por não lhe ter ensinado a dar bens, tempo e a sua própria
vida.
Capítulo 28
Ajude Seu Povo a Descobrir e Desenvolver os Dons Espirituais
Toda habilidade natural que Deus nos dá é um dom por cujo
uso somos responsáveis. Devemos ser bons mordomos ou Deus pode remover a
habilidade. Se usarmos sabiamente nossas habilidades e experiências para a
glória de Deus, Ele muitas vezes dá novas experiências e habilidades para serem
usadas.
A Bíblia registra dons espirituais em vários pontos (Rm
12:6-8; 1 Co 12:7-10,28; Ef 4:7-8,11-13; 1 Pe 4:10-11). Vinte e um dons são
citados, alguns várias vezes. Esses são evidentemente apenas amostras das
diversas maneiras em que Deus concede capacitações divinas especiais. Toda
habilidade, perícia e dote especial se deve à bondade graciosa de Deus, Suas
provisões em nossa personalidade e Sua fidelidade em nossa herança e
experiência.
Alguns desses dons espirituais dependem completamente do
poder milagroso de Deus e são, portanto, mencionados como dons espirituais
sobrenaturais. Embora exijam nossa obediência a Deus para o seu uso, não são
absolutamente operáveis em separado da capacitação, do poder e da sabedoria
sobrenaturais de Deus. Entre esses encontram-se os seguintes: poderes
milagrosos (plural), curas (plural), interpretação de línguas (plural) e
discernimento de espíritos.
Ninguém pode produzir um dom sobrenatural por sua própria
decisão. A pessoa não pode escolher a ocasião em que ele será manifestado. Ela
só pode obedecer aos toques e orientação do Espírito e depender
humildemente de Deus, dando toda a glória a Ele. O dom é operado pelo Espírito
e está, portanto, sob o controle dEle, mas só é manifestado quando obedecemos e
colaboramos com o Espírito.
Desse modo, ninguém pode curar quem quiser, quando
quiser ou da maneira que quiser. Toda cura vem de Deus. Podemos seguir a ordem
bíblica de orar para poder curar, ser guiados para orar pela cura de uma
determinada pessoa em determinado momento e receber fé para uma necessidade
física específica. O poder de cura, porém, é sempre o poder de Deus e está
sempre sujeito à soberania do Espírito e à vontade de Deus.
Outra categoria de dons registrada na Escritura se baseia
mais nas habilidades inatas da pessoa ou nas que ela tiver desenvolvido. A
esses dons (algumas vezes chamados "dons naturais"), Deus pode
acrescentar um toque sobrenatural específico que suplementa
o natural com o divino, guia e capacita a habilidade natural com a supervisão
sobrenatural, e maximiza e multiplica a eficácia mediante a capacitação e unção
do Espírito.
Por exemplo, muitos consideram o ensino um dom natural.
Alguns parecem ser professores natos. Eles possuem uma combinação
de características da personalidade que lhes permite ser treinados para tornar-se
professores capazes. Todavia, um "professor nato" cristão pode ter a
ajuda de uma capacitação divina especial em seu ensino. Isto é então um
verdadeiro dom de Deus. A pessoa que recebe esse dom reconhece quando a mão de
Deus está sobre ela desta maneira especial. Ela sabe quando Deus toca o seu
ensino e quando está ensinando pela sua própria habilidade e treinamento
naturais. Ela sente, às vezes, o toque de Deus não só no momento de ensinar,
mas também quando está-se preparando para ensinar e até no preparo de seu
material de ensino.
Lembre-se de que a lista de Deus inclui dons práticos
como servir, administrar, encorajar, ter fé, contribuir, ajudar, conhecer,
mostrar misericórdia, falar e ter sabedoria. Não é feita menção das muitas
outras maneiras pelas quais Deus dota as pessoas, tais como habilidade especial
para trabalhar com crianças, ministério da juventude, ministério de música,
escrever músicas, e carreiras como teólogos, artistas e poetas. Note que nas
listas bíblicas os indivíduos usados por Deus desta forma são também
registrados como Seus dons para a igreja.
MANEIRAS COMO VOCÊ AJUDA SEU POVO A DESCOBRIR E USAR OS DONS
1. Ajude-os a compreender que toda habilidade natural
é um dom confiado por Deus a eles para o bem de outros.
2. Ajude-os a perceber áreas de potencial
que eles podem desenvolver ou nas quais podem receber treinamento.
3. Ajude-os a reconhecer as maneiras como Deus está
fazendo uso deles agora e colocando o Seu selo sobre eles. Muitas vezes outros
percebem um dom que Deus está dando antes de nós o reconhecermos.
4. Ajude-os a compreender que Deus está
esperando para guiá-los no uso dos seus talentos, dons e tempo. Ensine-os a
orar pela Sua orientação e crer nela. Ensine-os a desenvolver um ouvido atento.
5. Ajude-os a compreender que Deus pode acrescentar a
Sua unção, Seu toque sobrenatural a qualquer forma de trabalho
legítimo ou ministério. Ensine a eles a importância de pedir a unção do
Espírito cada vez que fizerem algo por amor a Cristo, em Seu nome e para a Sua
glória.
6. Ajude-os a perceber qualquer dom espiritual e
sobrenatural que Deus pareça estar dando a eles. Ajude-os a
testar o dom e dê orientação quanto ao seu uso. Mas ensine-os a não dar uma
importância excessiva a esses dons especiais. Na maioria dos casos, Deus usa as
pessoas, acrescentando o Seu toque especial aos dons naturais delas.
7. Ajude-os a descobrir meios de usar os dons
especiais e as habilidades, talentos e experiências que Deus lhes
deu.
8. Recomende que permaneçam humildes no uso
dos dons de Deus, dêem valor aos dons de outros cristãos e dêem a Deus louvor e
glória por tudo.
Capítulo 29
Treine Seu Povo para Testemunhar e Ganhar Almas
Testemunhar é uma responsabilidade de todo cristão. Deus
espera que cada um testemunhe com a sua vida e com os lábios. O testemunho é
principalmente para Cristo, mas também para o Pai e a verdade bíblica. Nos dias
do Antigo Testamento, Deus deu esta responsabilidade a Israel. "Vós sois
as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus" (Is 43:12). Nosso
testemunho hoje enfoca principalmente Jesus, nosso Salvador. Jesus disse:
"Vós sois testemunhas destas cousas" (Lc 24:48). "E vós também
testemunhareis" (Jo 15:27). "Sereis minhas testemunhas" (At
1:8). Uma grande parte do ministério de Paulo foi usada para testemunhar (At
22:15-16; 26:16,22).
1. O depoimento cristão como testemunho. Uma
forma importante de prestar depoimento é o testemunho cristão. Este pode ser
compartilhado particularmente com companheiros cristãos e não-cristãos, ou com
grupos cristãos e não-cristãos. O testemunho aos não-cristãos pode ser uma
forma poderosa de prestar depoimento. Ensine ao seu povo que o testemunho
cristão deve seguir estas regras simples:
a. Relacione o seu testemunho pessoalmente com Jesus.
Fale sobre a Sua orientação, amor, bênçãos,
respostas à oração, comunhão.
b. Dê a glória a Jesus e
não a si mesmo. Testemunhe de modo que as pessoas se lembrem do que Jesus fez e
não do que você fez. Faça as pessoas se aproximarem de Jesus e não
principalmente de você.
c. Dê um testemunho
humilde. Se o testemunho não for dado com
humildade, será mais difícil que as
pessoas o aceitem ou sejam ajudadas por ele. Quando você testemunha com
humildade, Deus continua trabalhando por você e através de você. Se permitir
que o orgulho penetre, Deus não poderá continuar dando a você bênção e sucesso
contínuos. Seja sincero em seu testemunho para que as pessoas percebam que ele
é genuíno.
d. Ajuste o seu testemunho à situação. Em algumas ocasiões, você deve ser breve. Não se
imponha aos outros. Um testemunho breve e alegre pode abrir a porta, na ocasião
ou mais tarde, para outros lhe pedirem mais detalhes.
e. Aguarde oportunidades para introduzir o seu testemunho
na conversa inofensivamente. Ajude seu povo a estar sempre pronto com uma
palavra de testemunho, incluindo bênçãos
pessoais recebidas há pouco e respostas recentes à oração. Seu próprio
testemunho pessoal breve, dado com humildade, pode dar vida ao seu sermão ou
explicação bíblica.
f. Ajude a criar oportunidades para o testemunho de
outros. "Isso não se parece com o que
Deus fez para você, João?" "Maria, você deve contar a maravilhosa
resposta à oração que Deus acabou dedar-lhe." "Vocês já sabem como
Jesus ajudou Mário?" "Gostaria que todos pudessem ter a oportunidade
que Sílvia teve. Conte para nós, Sílvia."
2. Testemunhando aos não-salvos.
Este testemunho pode ser de dois tipos: como parte de uma
tentativa para levar a pessoa a Cristo ou como uma preparação para alguém
abrir-se a novos esforços de conversão mais tarde. Cristo espera que cada
cristão fique alerta a ambos os tipos de oportunidade.
Não estamos testemunhando principalmente
quanto ao papel da religião, defendendo o cristianismo em geral, nem sequer a
Bíblia como verdadeira. Existem ocasiões em que esse tipo de apresentação é
apropriado. Mas testemunhar é primariamente apontar para Jesus. Apresentamos
Jesus. As pessoas podem discutir as nossas opiniões, crenças ou até sobre a
igreja. Mas é mais difícil argumentar com um testemunho sincero e profundamente
pessoal do que Jesus significa para nós.
Prepare o seu povo para um testemunho mais eficaz,
compartilhando sugestões como estas:
a. Mantenha Jesus como tema central. Ajude-os a
compreender que Jesus é alguém real — vivo e ativo hoje. Outras questões podem
ser tratadas mais tarde. A primeira pergunta que eles terão de responder no
juízo está ligada ao que fizeram com Jesus.
b. Seja pessoal. Quando você encontrou Jesus? O que
Jesus fez por você? Jesus morreu realmente na cruz, mas introduza isso como
parte do seu testemunho quanto ao motivo de amá-lo, ou ter confiado nele para
perdoar os seus pecados, ou da sua alegria pelo Seu amor ter chegado até você.
"Ele realmente mudou a
minha vida." "Jesus me deu uma paz e alegria que nunca tive
antes." "Quando oro, Jesus é tão real, está tão próximo de mim."
"Eu jamais acreditaria que Jesus pudesse fazer tal diferença em minha
vida." Testemunhar não é pregar. Lembre-se, as duas partes principais no
seu testemunho são Jesus e você.
c. Seja explícito. Uma testemunha no tribunal é uma
pessoa que tem informação definida. Ela viu, ouviu, estava presente. Seu
testemunho de Jesus deve ser sempre específico. Diga o que Ele fez por você,
quando fez e o que aconteceu na sua vida. "Conheci Jesus pessoalmente
só há dois anos." "Em 16 de outubro de 1979 encontrei Jesus pela
primeira vez." "Sei que meus pecados foram perdoados. Jamais poderei
esquecer aquele dia." "Eu tinha um grande problema com o vício de....
antes de Jesus me salvar." "Nunca mais fui derrotado por... desde que
encontrei Jesus há quatro anos." Quanto mais pessoal e objetivo você puder
tornar o seu testemunho, tanto mais o Senhor poderá usá-lo.
d. Seja atualizado. Não deixe de incluir algo recente e
real da sua vida presente. "Enquanto eu estava agradecendo a Jesus esta
manhã..." "Jesus me pareceu tão próximo esta semana." "Na
terça-feira, quando estava orando a Jesus..." "Foi realmente
importante para mim nesta semana o fato de Jesus ter estado tão próximo em meu
período de oração porque..."
e. Inclua alguma forma de apelo especial. Deixe que o
Espírito guie você sobre quão direto esse apelo deve ser. É importante falar na
hora certa. Se a pessoa a quem você está dando testemunho continuar a ouvir com
simpatia, torne-se ainda mais direto. "Espero que Jesus seja tão real para
você quanto é para mim." "Quando penso na alegria que Jesus trouxe à
minha vida, quero que todos passem a conhecê-lo também. Espero que você tenha
essa alegria." "É difícil compreender que lutei sozinho todos esses
anos com (vida, problema, pecado específico), mas Jesus queria ajudar-me. Se
você estiver enfrentando um problema assim, sei que Ele pode ajudar você."
"Se quiser saber como é simples ir a Cristo e recebê-lo como seu Salvador,
gostaria de falar sobre isso com você." "Posso orar com você
agora?" Inclua então uma oração para que Deus abençoe a pessoa e satisfaça
as suas necessidades pessoais. A oração é uma forma poderosa de testemunho.
f. Prepare a pessoa antecipadamente por intercessão.
Peça ao Senhor para colocar em seu coração as pessoas a quem Ele deseja que
você testemunhe. Peça a Deus que guie você antecipadamente e depois prepare o
caminho mediante intercessão definida, diariamente, para cada pessoa em quem o
Espírito o faça pensar. Nesse meio tempo, use cada oportunidade para mostrar-se
amigável e como uma bênção. Depois de algumas semanas ou meses de oração, peça
a orientação de Deus quanto ao horário e lugares certos, e procure testemunhar
a essa pessoa e levá-la ao Senhor.
Há alguns anos Deus guiou os
líderes da Igreja Evangélica Coreana, denominação que surgiu através do nosso
ministério OMS, a convocar suas igrejas e povo a um testemunho especial para a
conquista de almas. No início de janeiro eles disseram aos crentes em cada
igreja que pedissem a Deus para mostrar-lhes cinco pessoas não-salvas, por quem
ficassem espiritualmente responsáveis. Eles deviam orar a favor de cada uma
dessas pessoas com a maior freqüência possível, todos os dias, desde o dia
primeiro de janeiro até a Sexta-feira Santa.
Foram dadas instruções:
"Não tentem testemunhar para elas agora. Só fiquem impregnando essas
pessoas com as suas orações. Mostrem amor de todas as maneiras que puderem, mas
deixem o testemunho para depois". Nesse meio tempo, a igreja preparou as
lições para a conversão de almas com módulos para cada congregação. Cada pastor
treinou o seu povo para testemunhar. Eles prepararam folhetos especiais para a
conversão, definindo os passos que levavam a Cristo, e ensinaram o seu uso a
cada crente.
Cada cristão recebeu cinco
folhetos, um para cada pessoa a quem estivera cobrindo de oração. Não devia
distribuí-los indiscriminadamente, mas somente àqueles por quem haviam estado
orando, e só na ocasião em que tentassem levá-los a Cristo.
Na Sexta-feira Santa, cada um
deveria procurar as cinco pessoas por quem havia orado diariamente. No domingo
de Páscoa, novos convertidos foram apresentados à igreja, aos seus novos irmãos
e irmãs cristãos.
Naquele ano mais de 11.000
pessoas foram ganhas para Cristo. A igreja jamais tivera um dia de salvação
assim! No ano seguinte o número cresceu para mais de 15.000. Ano a ano ele
cresceu até que mais de 25.000 foram ganhos para Cristo nessa época. O seu povo
poderia ser treinado para um esforço desse tipo?
3. Levando uma pessoa a Cristo. Ao dar
testemunho, você nem sempre tem uma oportunidade óbvia
de levar a pessoa a uma experiência pessoal com Cristo. Procure oportunidades
nesse sentido. Não seja tímido sobre levar as pessoas ao ponto de decisão,
especialmente quando sentir que Deus está perto enquanto você testemunha. Se
você ajudá-las a receber Cristo, no céu elas irão agradecer a Deus e a você por
ter sido fiel.
Todo cristão deve conhecer os elementos essenciais do
evangelismo pessoal. Se você presenciar um acidente e a pessoa estiver
consciente mas perto da morte, poderia levá-la a crer na salvação? Você deve
saber como ser conciso e estar preparado para qualquer emergência. Não hesite
em ser direto em tal situação.
Em alguns casos você sabe que a pessoa a quem testemunhou
tem um problema definido ou pecado bloqueando o caminho. Você talvez precise
tratar disso primeiro. Você pode ter de resolver questões ou problemas antes de
a pessoa estar disposta a assumir um compromisso pessoal com Jesus. Saiba a
resposta ou procure obtê-la de outrem. Mas lembre-se de que muitas coisas que
parecem problemas enormes antes da conversão quase desaparecem uma vez que a
pessoa tenha experimentado a salvação. Com a maior rapidez possível, remova a
dúvida ou objeção da pessoa a Jesus.
Confie no Espírito Santo para guiá-lo a respeito de quanto
tempo deve gastar em cada um dos seguintes pontos. Numa emergência, vá
diretamente ao ponto principal: "Confie em Jesus agora para perdoá-lo e
Ele vai salvar você".
a. Assegure às pessoas o que Jesus, Seu amor e Seu perdão
são para elas. "Jesus morreu por você assim como pelo mundo inteiro. Ele
ama você agora. Não é tarde demais para pedir e receber o Seu perdão
agora". Escrituras: Mateus 11:28; João 3:16; Apocalipse 22:17b.
b. Ajude-os a confessar agora a sua necessidade e
pecados. "Todos pecamos. Você pecou. Admita a sua necessidade. Fique
pronto para esquecer os seus pecados com a ajuda de Deus. Se precisa pedir
perdão a outros, ou acertar as coisas com outros, prometa a Deus que fará
isso." (Numa emergência, faça com que confessem os seus pecados ou admitam
que precisam de Jesus. Se não puderem falar, peça que confessem no seu coração.
Ou diga: "Vou orar em voz alta e você concorda no coração comigo". A
seguir faça uma oração curta e específica de confissão, pedindo perdão e
colocando sua confiança em Jesus como Salvador, e depois agradeça a Ele.)
Escrituras: Provérbios 28:13; 1 João 1:9.
c. Ajude-os a confiar que Jesus os perdoará. "Aceite
o Seu amor, Seu perdão e Seu poder para transformá-lo." Você talvez queira
citar uma promessa ou duas e depois enfatizá-la. (Numa emergência, basta dizer:
"Jesus disse..." "Apenas agradeça a Ele.") Escrituras: João
6:37; Romanos 10:9.
Capítulo 30
Prepare Seu Povo Ensinando a Ele a Palavra de Deus
Uma das suas principais responsabilidades como pastor é
alimentar o rebanho (1 Pe 5:2). Esta estava entre as últimas exortações que
Jesus fez antes de subir ao céu. Sua mensagem tripla a Pedro foi para que
alimentasse tanto os cordeiros como as ovelhas (Jo 21:15-17). A verdade bíblica
é comparada nas Escrituras ao alimento. A Palavra de Deus, especialmente em seus
ensinamentos mais simples, é comparada ao leite que alimenta (Is 55:1; Hb 5:12;
1 Pe 2:2). Seus ensinos mais doutrinários são comparados ao alimento sólido (1
Co 3:2; Hb 5:12-14). Jesus disse que suas palavras serviam de alimento (observe
Jo 6:35,55,63). Davi testificou que a Palavra de Deus era mais doce que o mel
para ele (Sl 119:103).
A saúde e a força espiritual dependem do alimento
espiritual. A vida espiritual fraca numa congregação geralmente indica que o
pastor não está apascentando devidamente as suas ovelhas. O pastor que se
queixa que o seu povo não está interessado em verdades espirituais profundas
nos revela duas coisas: ele não levou seu povo a um andar profundo com Deus e
ele não tem alimentado o povo com a verdade bíblica adequada. Só os espiritualmente
doentes não têm fome de alimento espiritual.
O serviço espiritual para Deus depende da saúde espiritual e
esta depende do alimento espiritual adequado. A base para preparar o povo de
Deus para o serviço espiritual é torná-lo espiritualmente forte e ensiná-lo
bem. Eles devem conhecer a Palavra de Deus para ser guiados ao serviço de Deus,
poder responder a perguntas e levar os não-salvos a Cristo. Os cristãos devem
estar sempre preparados para responder a quem quer que pergunte a razão
da esperança que eles têm (1 Pe 3:15).
Paulo lembrou aos presbíteros de Éfeso:
"Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus" (Atos
20:27). Suas palavras seguintes foram: "Atendei por vós e por todo o
rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes
a igreja de Deus" (v. 28). Paulo relaciona os dois conceitos. Ele é
inocente do sangue de todos (v. 26) porque declarou toda a vontade de Deus.
Agora os presbíteros devem fazer o mesmo. É isso que está envolvido na idéia de
vigiar o rebanho, de ser pastor da igreja de Deus.
O que você deve fazer para anunciar todo o
desígnio de Deus?
1. Baseie o seu ensinamento sobre toda a Palavra de
Deus. Use os dois Testamentos. O Antigo Testamento era a única
Bíblia que os apóstolos tinham; todas as suas mensagens estavam baseadas nele.
Não negligencie o Antigo Testamento. Quem quer que declare toda a vontade de
Deus deve estar familiarizado com ele e compreender cada livro da Bíblia, de
modo que o Espírito Santo possa guiá-lo para pregar sobre qualquer parte e usar
a Escritura inteira.
2. Durante um período de vários anos,
cubra cada um dos tópicos principais da Bíblia.
Quando Deus considera certos assuntos suficientemente
importantes para serem incluídos repetidas vezes na Sua Palavra, eles são
importantes para o povo de Deus. Outros tipos de pregação podem ser usados, mas
apenas mediante pregação expositiva através dos livros da Bíblia é que toda a
Escritura pode ser inteiramente coberta. Deus irá guiá-lo com relação à
seqüência a ser seguida. Uma pessoa espiritualmente preguiçosa, que não esteja
lendo e estudando adequadamente toda a Palavra, tende a pregar a maior parte
das suas mensagens com base na mesma seção da Escritura ou no mesmo tópico.
3. Coloque a sua ênfase onde Deus a
coloca. Dê atenção constante
às principais ênfases da Escritura. O que Deus só menciona em um ou dois
versículos da Escritura não é um tópico importante para o seu ministério. Os
tópicos que se repetem são obviamente de grande interesse para Deus. O uso
constante de uma Bíblia de referência e de uma concordância é uma necessidade
para o seu estudo bíblico.
4. Baseie solidamente o seu ensino em cada doutrina
principal da Bíblia.
A Bíblia não é organizada como um manual de teologia
sistemática. Mas a sua compreensão sistemática da doutrina é essencial para que
você conheça e pregue toda a vontade de Deus. Você não pode apresentar
mensagens na forma concisa e altamente organizada de um capítulo num livro de
teologia. Você precisa digerir a doutrina, pregando e ensinando numa linguagem
que o seu povo compreenda e, no correr de um determinado período de tempo, irá
firmá-lo em cada uma das doutrinas bíblicas importantes.
Você pode ocasionalmente ensinar uma série
doutrinária durante algumas semanas. Todavia, o ensino doutrinário sistemático
pode ser também incluído, pouco a pouco, em suas mensagens regulares. Continue
a ensinar conceitos doutrinários assim como aplicações práticas. Primeiro, você
deve compreender a doutrina claramente. Só então poderá ensiná-la com simplicidade,
com ilustrações e aplicações que permanecerão no coração e na mente das
pessoas. Se o seu coração estiver em chamas com a doutrina, e deve estar, o seu
ensino terá vida.
5. Inclua constantemente uma aplicação
prática. A Palavra de Deus foi
inspirada pelo Espírito Santo, seção por seção, a fim de ajudar as pessoas nas
situações da vida real. Sua verdade eterna é relevante para todos, mas nem
todas as seções são igualmente relevantes ou urgentes em um dado momento.
6. Transmita uma visão
geral clara do grande plano de Deus. O
seu povo deve ser ajudado a compreender a grandeza, a glória e a importância do
plano geral de Deus para todas as eras. Ajude-o a compreender a unidade do
plano de Deus e o papel significativo que Deus tem para ele nesse plano. Nada
faz as Escrituras ficarem mais vivas e mais relevantes para o seu povo do que
passar a ele uma idéia da sua própria parte no grande plano de Deus que se
estende até a eternidade. Ele então vibrará com o impacto prático para nossos
dias e a grande promessa escatológica para o seu amanhã na eternidade.
Desse modo, você irá equipá-lo para se envolver no
propósito contínuo de Deus, com orientação prática para servir ao Senhor
significativamente em suas vidas diárias, e irá ajudá-lo a ver a sua parte na igreja
de acordo com o plano eterno de Deus.
A SUA ORAÇÃO
Capítulo 31
A Sua Vida de Oração como Líder
"Muita oração," escreveu E. M. Bounds, "é o
sinal e selo dos grandes líderes de Deus". Qual deve ser o papel da oração
na sua vida como líder cristão? A resposta imediata a esta pergunta deve ser a
que os apóstolos deram: "E, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao
ministério da palavra" (At 6:4). A oração era prioritária para eles e
provavelmente tomava a maior parte do seu tempo. Eles só podiam liderar de
acordo com a sua oração. Eles compreenderam que a sua maior responsabilidade
era cobrir a igreja com oração enquanto ministravam a Palavra. Isso era tão
urgente que delegaram muitos outros deveres para leigos cheios do Espírito.
O escritor Bounds disse que cada líder deve ser
"preeminentemente um homem de oração. Seu coração deve diplomar-se na
escola da oração... Nenhum conhecimento substitui a oração ou falta dela.
Nenhuma sinceridade, diligência, estudo, dom suprirá a sua falta. Falar com os
homens sobre Deus é uma grande coisa, mas falar com Deus sobre os homens é algo
ainda maior. Não é possível que alguém fale bem e com sucesso aos homens sobre
Deus se não tiver aprendido a falar com Deus sobre os homens. Mais que isto,
palavras sem oração... são palavras mortas".
Você precisa de uma audiência com Deus antes de tentar uma
audiência com o seu povo. Fique de pé na presença de Deus antes de tentar
apresentar-se diante de pessoas. Você precisa prevalecer primeiro com Deus
antes de poder prevalecer diante do povo. Só depois de ter adorado com os
serafins estará pronto para adorar com o seu povo. Só ao sair da presença
de Deus é que você pode liderar o povo para a presença dEle.
O ministro santo e dotado da Igreja da Escócia,
Robert Murray McCheyne, disse: "Em geral é melhor ter pelo menos uma hora
a sós com Deus antes de envolver-se em qualquer outra coisa. Devo passar as
melhores horas do dia em comunhão com Deus". Em um sermão de ordenação ele
exortou: "Entreguem-se à oração e ao ministério da Palavra. Se não orarem,
Deus irá provavelmente removê-los do ministério, como fez comigo, para ensinar
vocês a orar. Lembrem-se da máxima de Lutero: 'Ter orado bem é ter estudado
bem... Levem os nomes do pequeno rebanho em seu seio como fazia o Sumo
Sacerdote. Lutem pelos não-convertidos.' "
Você, como líder cristão hoje, deve não só
seguir o exemplo apostólico, como deve ser um exemplo de oração para todo o seu
povo. Charles Spurgeon disse: "E claro que o pregador é distinguido como
homem de oração acima de todos os outros. Ele ora como um cristão comum, de
outra forma seria um hipócrita. Ele ora mais que os cristãos comuns, caso
contrário seria desqualificado para o cargo que ocupa".
Quando perguntaram a Spurgeon qual o segredo do seu sucesso,
ele respondeu: "Trabalho de joelhos!" "Trabalho de
joelhos!". Finney explicou: "Com relação à minha própria
experiência, direi que, a não ser que eu tivesse um espírito de oração, nada
poderia fazer. Se mesmo por um dia ou uma hora eu perdesse o espírito da graça
e da súplica, seria incapaz de pregar com poder e eficiência, ou de ganhar
almas pela conversa pessoal".
Andrew Murray perguntou: "Qual a razão
de muitos obreiros cristãos no mundo não terem uma influência maior? Nada além
disto — a falta de oração em seu serviço... Nada além do pecado da falta de
oração é a causa da falta de uma vida espiritual poderosa".
Aprender a orar e ser capacitado e guiado através da oração
é a tarefa mais importante do seu preparo como líder. Estabelecer um estilo de
liderança de oração predominante é provavelmente o elemento mais decisivo em
seu sucesso espiritual. Você jamais será um líder maior do que as suas orações,
É possível que tenha um sucesso aparente sem uma vida de oração sólida.
Todavia, o valor eterno do seu trabalho e sua recompensa eterna dependerão
muito da sua vida de oração. Qualquer sucesso separado da dimensão espiritual é
uma casa construída sobre a areia.
Se você, como líder, quiser estar à frente de seus
seguidores em alguma coisa, deve, acima de tudo, ser um modelo e líder em oração.
Que Deus faça de todo líder um Elias que ora. O clamor de Spurgeon foi este:
"Oh, que pudéssemos ter quinhentos Elias, cada um em seu Carmelo, clamando
a Deus, e logo veríamos as nuvens irrompendo em chuva. Oh, que haja mais
oração, mais oração constante e incessante".
A sua vida de oração revela claramente até que ponto você é
uma pessoa de Deus e um líder espiritual. Você jamais será mais importante aos
olhos de Deus do que a sua vida de oração. Nenhuma outra parte do seu
ministério será tão bem recompensada na eternidade. O valor eterno de tudo o
mais que você fizer depende disto.
VOCÊ É RESPONSÁVEL POR MANTER-SE FORTE E ABENÇOADO MEDIANTE A ORAÇÃO
O ministério espiritual exige poder espiritual. O Espírito
Santo é a fonte de todo poder, e Ele é dado em resposta à oração. "Ora, se
vós, que sois mausr sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos,
quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem?" (Lc 11:13). Essa promessa foi dada por Jesus imediatamente
depois de ter feito a grande promessa-mandamento: "Pedi, e dar-se-vos-á;
buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á". A seguir, com medo que
Satanás pudesse tentá-los a pensar que esta promessa tivesse sido feita a
alguns especialmente escolhidos e não a vocês, Jesus acrescentou: "Pois
todo o que pede recebe; o que busca, encontra; e a quem bate,
abrir-se-lhe-á" (Lc 11:9-10).
Você pode ter acesso a esta magnífica promessa quando ora
segundo a vontade de Deus para alcançar muitas coisas. Mas, como Jesus indicou
no v. 13, ela é especialmente dada com referência ao Espírito Santo. O
ministério espiritual depende do Espírito. Não existe outro caminho. Você
jamais poderá ministrar efetivamente a não ser que esteja cheio do Espírito e
seja ungido, guiado e capacitado diariamente por Ele.
Sua maior necessidade, se desejar ver os não-salvos
convencidos do pecado e o crescimento e bênção do seu povo, é a presença do
Espírito Santo. Nossos ensinamentos e nossos sermões, quando não são
capacitados pelo Espírito, podem causar mais prejuízo do que bênçãos. A verdade
por si mesma não transforma. A verdade aplicada pelo Espírito muda as vidas.
"O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova
aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito
vivifica" (2 Co 3:6). As suas palavras de verdade podem apenas matar os
ouvintes se não forem acompanhadas pelo poder do Espírito.
A eficácia da sua liderança depende da sua
vida espiritual. E. M. Bounds enfatizou há alguns anos: "Os homens são o
método de Deus. A igreja está procurando melhores métodos; Deus está procurando
melhores homens". Ele também escreveu: "O Espírito Santo não é
derramado através de métodos, mas de homens. Ele não vem sobre máquinas, mas
sobre homens. Ele não unge planos, mas homens — homens de oração".
O Dr. A. J. Gordon instou: "Nossa geração
está perdendo rapidamente seu contato com o sobrenatural; e, em conseqüência,,
o púlpito está aceleradamente caindo para o nível do palco. Este declínio,
segundo cremos, é devido, mais que tudo, ao desprezo em relação ao Espírito
Santo como o supremo inspirador da pregação". (1)
Por que tão poucos líderes são continuamente
ungidos com o poder do Espírito? Porque a maioria depende mais de seu estudo,
trabalho e planos do que da oração que é o principal canal para o Espírito
Santo derramar-se em sua vida. Você se torna saturado e coberto com a presença
de Deus somente quando permanece longo tempo em Sua presença. Foi só depois de
Moisés ter absorvido a presença próxima e a glória do Senhor durante oitenta
dias no Sinai que a sua face se tornou radiante com a presença de Deus. A
oração diária prolongada aumenta a sua semelhança com Cristo e a Sua fragrância
espiritual paira onde quer que você vá.
Você se mantém abençoado enquanto fala
palavras de amor, comunhão, louvor e agradecimento a Jesus no decorrer do dia.
Você vive assim na presença de Deus. Você é uma bênção contínua quando pede
continuamente a Deus para abençoar outros. Ser uma bênção constante depende de
ser constantemente abençoado.
Na comunhão você vê constantemente Aquele que é invisível.
Foi o que Moisés fez (Hb 11:27). O grego nesse caso sugere que Moisés
contemplou sem hesitar. Este foi o segredo de toda a sua vida. Algumas vezes
ele esteve face a face com Deus, de um modo que nenhum outro ser humano jamais
esteve (Dt 34:10). Mas mesmo quando não estava no Sinai nem na tenda da
congregação, Moisés manteve a face invisível de Deus diante dele em oração.
Você, como líder, deve manter constantemente um coração em
comunhão. Deve viver na presença de Deus e "sob suas asas" (Sl 91:4),
"à sombra" de Suas asas amorosas (Sl 36:7). A proximidade de Deus e o
refúgio em Deus estão implícitos nessas metáforas. Você não deve apenas ficar
perto de Deus (Hb 7:19; 10:22; Tg 4:8), mas deve viver junto dEle no decorrer dos
seus dias.
No hebraico do Antigo Testamento, o conceito de estar na
presença de Deus é estar literalmente onde você possa ver as Suas faces (sempre
no plural e sugerindo provavelmente as várias emoções e atitudes de Deus). É
essencial que você, como líder, fique assim perto de Deus, onde possa ver
constantemente na face dEle Sua alegria ou desagrado, Seu encorajamento ou
restrição.
Assim como Moisés ia diariamente em seu período de comunhão
na tenda da congregação com a presença-Shekinah do Senhor para o seu múltiplo
ministério e responsabilidades entre o povo, você, como líder, deve sair da
presença do Senhor e ir ao seu povo, e depois voltar à presença do Senhor, a
fim de apresentar as necessidades dos membros diante dEle. É esta a sua
experiência?
Um líder do Novo Testamento tem de ser feito por Deus. Deus
o faz durante a oração. Muitos líderes são hipócritas em sua vida de oração.
Eles insistem com os outros para orar, mas eles mesmos não oram. O poder na
oração tem uma relação direta com o tempo gasto em oração. Uma oração pública
curta que prevalece só pode ser feita por alguém que tem tido um longo tempo em
particular.
A igreja local é construída ou destruída pelos seus
líderes. O povo em geral imita o líder. Só os líderes que oram têm seguidores
que oram. Um líder piedoso, dinâmico, que ora, é um dom de Deus para o povo. Um
líder fraco e descuidado na oração é em geral um impedimento para Deus e
o povo. Os líderes que sabem como orar são o maior dom de Deus para a igreja e
para a terra.
A sua tarefa como líder cristão é grande demais para você. A
sua imensidão e grandiosidade devem levá-lo a orar. A sua vocação e o seu
chamado sagrado são grandes demais para você. Mas você pode achegar-se a Deus
no seu ministério se estiver disposto a pagar o preço em oração.
Capítulo 32
A Sua Oração Controla o Seu Trabalho
Como líder, a sua utilidade depende de sua oração. Nada traz
mais bênção e eficácia quando você visita o seu povo. Nada coloca mais o selo
do Senhor sobre você diante da comunidade. Nada faz mais para ganhar o coração
do seu povo ou dá a você mais estatura espiritual e liderança respeitada do que
a sua vida de oração. Nada mais pode manter você espiritualmente reconfortado,
com mensagens recebidas constantemente do coração de Deus. Nada faz mais para
trazer a unção de Deus sobre a sua liderança.
E. M. Bounds, o apóstolo da oração, insistia que os líderes
que não oram prejudicam a causa de Deus. "Deus quer homens consagrados,
porque eles podem orar e irão orar... Da mesma forma que os homens que não oram
barram o Seu caminho, o prejudicam, e impedem o sucesso da Sua causa, os homens
não consagrados são também inúteis para Ele e o impedem de pôr em prática os
Seus planos e de executar Seus nobres propósitos na redenção."
O seu povo precisa sentir o poder de Deus sobre você, a voz
de Deus falando através de você, o toque de Deus à medida que você toca as suas
vidas. O poder de Deus no seu ministério não resulta da fluência, tom de voz ou
de sua habilidade para expressar as suas idéias. A unção é difícil de
descrever; mas, uma vez que as pessoas vejam a verdadeira unção do Espírito
Santo sobre você, a partir desse momento elas sabem quando você a tem ou não.
A oração prepara você para cada aspecto do seu trabalho. A
oração contém o aditivo divino que faz uma diferença reconhecível em sua vida,
suas palavras e seu trabalho. A oração torna você uma pessoa de Deus,
amada e respeitada.
A ORAÇÃO PREPARA A BÊNÇÃO DE DEUS PARA CADA SERVIÇO
Quando várias pessoas oram intensamente pela
mesma coisa, um poder maciço de oração resulta, o qual trará claras bênçãos.
Isto é importante para os cultos da igreja. Quer você seja leigo, quer
ministro, pode ajudar a fazer de cada culto uma bênção máxima.
1. A oração conjunta é
requerida para encher o prédio com a presença de Deus. Há
ocasiões em que a presença de Deus se aproxima tanto e com tal manifestação
que, ao entrar no ambiente, as pessoas sentem um silêncio especial, uma
reverência ou percepção da sagrada proximidade de Deus. Isto raramente acontece
exceto quando o líder, alguns dos membros mais piedosos ou ambos estiveram
passando muito tempo em oração e jejum.
Algumas vezes a percepção da presença de
Deus é reconhecida pelas pessoas quando o líder sobe ao púlpito ou quando
começa a falar. Este selo especial do Espírito Santo só pode vir quando o líder
tem vivido verdadeiramente na presença de Deus. Será muito útil se ele tiver
ensinado os líderes da igreja local a se reunir cedo e a passar tempo em
intercessão. Outros se reúnem nas noites de sábado para fazer orações que
prevalecem. Outros ainda treinam o seu povo para chegar de madrugada na manhã
de domingo e passar várias horas em oração pelos cultos.
O Dr. John Maxwell da Igreja Wesleyana Skyline, em Lemon
Grove, na Califórnia, tem 200 homens que são seus
parceiros especiais de oração. Eles são divididos em quatro grupos, de modo que
cada um ora durante o culto da manhã um domingo por mês. Eles se reúnem para
orar nas manhãs de domingo, das 8h às 8h30. A igreja também faz uso de
correntes de oração.
A oração abundante enche a atmosfera com a
presença de Deus. Este sentido santo da presença divina prepara o povo para ser
abençoado por Deus e para obedecer a Ele.
2. A oração conjunta ajuda a trazer os necessitados ao
culto. Quando a oração prepara o caminho, os vizinhos e amigos têm mais
probabilidade de aceitar um convite para freqüentar os cultos. Quando a oração
prepara o caminho, Deus leva pessoas que não foram convidadas por outros, mas
que foram atraídas pelo Espírito para ir à reunião da igreja.
Em épocas especiais de reavivamento no País de Gales e na Escócia,
Deus levou ocasionalmente pessoas para a igreja numa hora em que os cultos não
haviam sido sequer anunciados. Mas pessoas de todas as direções começaram a se
reunir ao mesmo tempo.
Durante o reavivamento nas ilhas Hébridas em 1949, quando
Deus estava usando poderosamente o Rev. Duncan Campbell, não houvera uma reação
inicial aos cultos em um certo lugar. Cerca da meia-noite, porém, depois de um
período de oração na casa de um presbítero, um jovem ofereceu uma oração de fé
que pareceu libertar o poder do Espírito. Quando saíram, encontraram pessoas
deixando as suas casas e chegando de todas as direções a um ponto central na
cidade. Elas aguardaram ali. Quando o Rev. Campbell falou, teve início uma
poderosa obra do Espírito que transformou a cidade e fechou o bar.
A oração conjunta torna as pessoas desejosas de freqüentar
os cultos. Durante o reavivamento das reuniões de "Oração Unida", nos
anos de 1850, nos Estados Unidos, reuniões diárias de oração ao meio-dia eram
realizadas em centenas de cidades. Milhares e milhares de pessoas não-salvas
eram atraídas para os cultos, e centenas de milhares foram salvas em um só ano.
3. A oração conjunta pode ungir os cânticos.
Por que temos cânticos congregacionais no início da nossa adoração pública?
Para levar as pessoas à presença de Deus e preparar nossos corações para a
adoração. Cantamos a Sua grandeza, Sua santidade, Sua bondade e poder para
tirar nossa atenção das coisas materiais e focalizar nossos corações em Deus. Os
cânticos são principalmente "para Deus".
Em segundo lugar, cantamos uns para os outros quando
louvamos a Deus e cantamos nosso testemunho de alegria pessoal no Senhor e Sua
bênção e graça para as nossas almas. Este aspecto da adoração pode ser feito
mais tarde no culto e em outras ocasiões. Tais cânticos têm sido muito usados
pelo Espírito em épocas de evangelismo e reavivamento. O canto foi muito
abençoado pelo Senhor durante a Reforma, por ocasião do despertamento sob os
Wesleys, e em outras ocasiões de reavivamento.
Não começamos um culto cantando com o propósito principal
de chamar a atenção das pessoas, de despertá-las ou de criar uma atmosfera
cordial, amigável. Infelizmente, alguns regentes de cânticos parecem pensar que
estão realizando uma campanha de propaganda em vez de levar os adoradores à
presença de Deus. Eles até chegam a fazer brincadeiras para capturar a atenção
dos ouvintes. Tal liderança não produz uma percepção dominante da presença
sagrada de Deus e de seu tremendo poder no culto.
Em geral, quando a oração preparou o
caminho do Senhor, o cântico congregacional resulta na percepção de que Deus em
sua proximidade e santidade chegou. É como se Deus viesse para perto de nós,
quando nos achegamos a Ele (Tg 4:8).
Números vocais podem ser também
especialmente usados pelo Senhor para produzir uma noção da Sua proximidade e
presença. Em geral, isto só pode ser feito quando os cantores são piedosos,
tocados pelo Espírito e preparados com oração. Um período de quinze ou trinta
minutos com os cantores, pouco antes do culto, acrescentado ao preparo adequado
em oração por parte dos membros da congregação antes do culto, pode preparar
maravilhosamente o caminho para a bênção de Deus sobre os cânticos.
4. A oração pode fazer com
que a leitura pública da Escritura fale aos corações. Quão
raramente a Palavra de Deus é lida com a bênção do Espírito! Quão raramente ela
é lida com a reverência devida à Palavra de Deus! A leitura das Escrituras
tinha um lugar proeminente na sinagoga judia e na primeira igreja.
Quando Esdras abriu a Escritura para ler, o povo ficou de pé
(Ne 8:5). Esta mesma reverência era reservada à realeza. A abertura da
Escritura para a leitura pública era o equivalente a Deus entrar no culto e ser
bem recebido. Da mesma forma que os atendentes da corte ficavam em pé na
presença do rei, o povo ficava em pé em honra a Deus, pois a Palavra de Deus
representava o próprio Deus.
Não há dúvida de que esta é a origem da
prática em muitas igrejas de todos ficarem de pé em reverência à leitura da
Palavra. Se a Palavra deve ser honrada desse modo, ela deve ser lida
reverentemente e com habilidade. O leitor deve familiarizar-se com a passagem,
fazendo uma leitura antecipada várias vezes, certificando-se de pronunciar cada
palavra corretamente. Ele deve lê-la com tanta clareza que todos possam ouvir e
compreender. Ele deve orar especialmente pedindo a ajuda e a unção de Deus na
leitura da Palavra.
Se a congregação ficar em pé enquanto a Escritura é
lida, isso ajuda a mantê-la alerta e atenta como deve estar. Provavelmente mais
tempo deve ser dado à leitura da Palavra, ou seja, passagens mais longas devem
ser lidas com mais freqüência do que é feito algumas vezes em nossos cultos.
5. Muita oração é necessária para
preparar o caminho para a oração pastoral. É
uma responsabilidade sagrada liderar a oração pública. Certa vez Spurgeon devia
falar num culto conjunto. O pessoal da liderança fora instruído
sobre a parte de cada pessoa. A seria o líder da reunião, B devia
orar, C leria a Escritura, D recolheria a oferta, Spurgeon faria
o sermão. Ele disse: "Se há alguma coisa que eu possa fazer esta noite,
quero então oferecer a oração". Para ele a oração pastoral era a parte
mais importante do culto.
A oração pastoral tem uma bênção, um
ensinamento e uma função intercessória para todos os presentes. Todos devem
compreender que você está realmente em contato com Deus. Todos devem ser
ajudados a reverenciar, amar e obedecer a Deus através da oração à qual dirão
Amém (1 Co 14:16). Todos devem ficar em silêncio enquanto você fala com Deus a
favor deles.
A sua oração pública deve ser suficientemente
alta para que todos possam ouvir, mas não deve ser gritada como se Deus fosse
surdo. Os deuses dos pagãos não podem ouvir e por isso eles gritam diante
deles. Nós oramos a um Deus que ouve até as orações silenciosas. Há ocasiões em
que o coração grita e a alma se desespera e nós, como Jesus, podemos orar com
forte clamor e lágrimas (Hb 5:7). Todavia, isso é mais comum em nossas orações
privadas do que ao liderar a igreja em oração.
A sua oração pastoral pode fazer mais para
preparar o seu povo para a sua mensagem do que talvez qualquer outro aspecto do
culto. A sua oração pastoral pode ajudar a trazer a percepção da proximidade de
Deus.
Você não deve apenas preparar o seu
coração para o sermão, mas também para a sua oração. Você deve prepará-lo com o
coração ansioso, com humildade e propósito no coração. Você deve carregar
diariamente um fardo de oração se quiser ter poder junto a Deus quando
interceder no púlpito. Você deve diariamente comungar na intimidade da presença
secreta de Deus se quiser guiar a igreja em adoração e louvor públicos.
Capítulo 33
A Sua Oração Deve Impregnar o Preparo da Mensagem
O ensino da Palavra de Deus ou a entrega da mensagem deve
ser um trabalho conjunto, feito por Deus e pelo orador. A parte de Deus é
tão importante quanto a sua. O preparo que Deus faz do orador é tanto a longo
prazo como imediato. Existe uma opinião geral de que toda mensagem guiada e
ungida por Deus fica uma vida inteira em preparação. O preparo do seu coração é
feito com base em toda a sua vida espiritual e seu andar com Deus desde a sua
conversão.
Sermões secos saem de almas famintas.
Mensagens sem vida saem de corações vazios. Jesus disse que "a boca fala
do que está cheio o coração" (Mt 12:34). Um coração cheio tem sempre mais
a dizer do que pode ser dito; fica sempre um resto, como os doze cestos quando
Jesus alimentou os cinco mil.
Deus deve fazer você antes de você poder
fazer o seu sermão. Uma mensagem efetiva só pode ser dada por uma pessoa
efetiva. Você deve viver o que prega. O seu sermão será a manifestação da sua
alma. Uma grande mensagem só pode sair de um grande coração. O sermão mostra o
seu coração até essa data.
Quando o seu coração está inundado por Deus, rios de água
viva transbordarão de sua alma. Se o seu coração for um deserto espiritual, seu
ministério será seco e estéril. Só uma alma saturada de Deus tem uma mensagem
saturada de Deus. Você não pode transmitir mais vida do que a que recebeu. O
seu sermão deve revelar o mais íntimo do seu ser, ou não passará de hipocrisia.
Até o ponto em que o céu toca a sua alma, seus ouvintes
sentirão o céu em suas próprias almas. Só um profeta pode ter um ministério
profético, e os profetas precisam receber a sua visão e a sua mensagem de Deus.
A pessoa que não tem uma mensagem ardente é alguém que não está vivendo
suficientemente na presença de Deus. O ministro ou professor bíblico que não
tem uma mensagem dada por Deus é uma tragédia. O povo precisa ver o Espírito de
Deus em sua vida, sentir o toque de Deus em seu ministério.
Ele disse através de Jeremias: "Não mandei esses
profetas, todavia eles foram correndo; não lhes falei a eles, contudo profetizaram.
Mas se tivessem estado no meu conselho, então teriam feito ouvir as minhas
palavras ao meu povo, e o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade
das suas ações" (Jr 23:21-22).
Deus condena os que pregam as suas próprias idéias,
pensamentos e sonhos, em vez da Sua mensagem:
"O profeta que tem sonho
conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a
minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor. Não é a
minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiuça a penha?
"Portanto, eis que eu sou
contra esses profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao
seu companheiro. Eis que eu sou contra esses profetas, diz o Senhor, que pregam
a sua própria palavra, e afirmam: Ele disse... e também proveito nenhum
trouxeram a este povo, diz o Senhor" (Jr 23:28-32).
Cada vez que você, como líder, fica diante do povo,
você é um representante de Deus. Você não é talvez chamado de profeta, mas deve
cumprir o papel do profeta para o seu povo. Cada vez que fala, você tem a
responsabilidade de apresentar a mensagem que Deus quer que seu povo ouça nessa
hora. Não há meios de fazer isto exceto se viver constantemente na presença de
Deus. Você precisa ser uma pessoa de Deus mais ainda do que uma pessoa do povo.
John Wesley perguntou aos seus ministros: "Vocês
têm dias de jejum e oração? Assaltem o trono de Deus, perseverem ali, e a
misericórdia virá". A única maneira de colocar Deus no seu sermão é
orando. A duração do impacto do seu sermão sobre o seu povo está geralmente em
proporção direta ao tempo que você gasta em oração.
O preparo do seu coração deve preceder o preparo da sua
mensagem, deve continuar durante a sua preparação e deve prosseguir até que a
sua mensagem seja entregue. Corações preparados preparam mensagens produtivas.
É perigoso colocar mais pensamentos do que oração em seu sermão. Quanto mais
talentoso e mais bem treinado você for, tanto mais precisará ser uma pessoa de
oração, para que não tenha mais autoconfiança que poder.
1. Receba a orientação de Deus sobre a passagem da
Escritura e o assunto através da oração. Robert Murray McCheyne
disse: "Entregue-se à oração... Obtenha de Deus seus textos, pensamentos e
palavras".
Como é abençoado não saber de uma necessidade específica e
depois as pessoas o procurarem e dizerem como a sua mensagem foi exatamente
aquilo de que precisavam. Um dos passos mais importantes no preparo do sermão é
obter a orientação de Deus sobre o assunto a ser tratado.
2. Impregne com oração o seu estudo da passagem sobre
a qual vai falar. Há ocasiões em que Deus abre a passagem, e os
pensamentos e palavras surgem mais depressa do que você pode escrevê-los.
Outras vezes são necessárias horas de estudo bíblico, pesquisa de referências,
estudo do contexto e oração para saber quais ilustrações serão mais efetivas. A
passagem ou as passagens a serem incluídas na mensagem devem ser objeto de
oração e meditação, sendo vividas em sua alma até que você se incendeie com a
verdade.
Fínney enfatizou que a verdade por si mesma jamais produzirá
resultados espirituais. É necessário que o Espírito de Deus ponha em chamas a
verdade, capacite a verdade e aplique a verdade aos ouvintes.
Lutero, que acreditava que orar bem era estudar bem, passava
três horas diariamente em oração. A oração não substitui o estudo, mas este
também não é um substituto para a oração. Ao orar, você compartilha as batidas
de coração dos escritores da Bíblia. Pela oração você recebe a visão, a paixão
de alma, a ênfase que Deus pretendeu ao inspirar a Escritura.
"A intimidade do Senhor é para os que o temem" (Sl
25:14). O bispo Quayle disse que isto pode ser traduzido: "O sussurro do
Senhor". Podemos aproximar-nos tanto dele em oração que Ele sussurra as
coisas profundas de Deus para nós. O estudante casual da Bíblia, que não ora,
jamais compreende ou compartilha com o povo de Deus as verdades profundas.
"Porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até
mesmo as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as cousas do homem,
senão o seu próprio espírito que nele está? assim também as cousas de Deus
ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o
espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o
que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras
ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo cousas
espirituais com espirituais" (1 Co 2:10-13).
A fim de ministrar as profundezas de Deus, é
necessário que você não só estude a Bíblia cuidadosamente, mas que esteja
também cheio do Espírito, iluminado pelo Espírito, guiado e ungido por Ele.
Lembre-se de que todo o ministério do Espírito é seu através da oração. Como
líder, você não tem outra alternativa senão a oração constante — viver, estudar
e ministrar em espírito de oração. Nas palavras de Quayle: "[O ministro]
não pára para orar; ele simplesmente não deixa de orar". Nenhum ministério
pode ser espiritual sem muita oração. Nenhum líder que não ora pode interpretar
corretamente a mente de Deus.
3. A oração poderosa garante
e mantém a unção do Espírito sobre a sua mensagem e sobre a sua liderança.
Você nunca pode relaxar a sua vida de oração. Não
basta ter uma mensagem dada por Deus. Ela deve ser, portanto, entregue
com a unção e o poder do Espírito sobre você enquanto fala.
A unção é o dom de Deus dado no momento do
seu ministério. Existem vários pré-requisitos para a unção de Deus sobre você.
É preciso haver compromisso com Deus, obediência, total dependência e oração. O
ministério ungido prevalece. A unção de Deus permite que o Espírito impressione
os ouvintes com a verdade da sua mensagem, revista você com a autoridade de
Deus e seja o Seu selo sobre você e a sua mensagem.
As mensagens não-ungidas não resultam em
transformação duradoura de vidas. E preciso mais que o poder das palavras para
mudar as pessoas. Satanás está sempre pronto para arrebatar a semente plantada
nas mentes (Lc 8:12). As palavras ungidas queimam seu caminho para os corações,
não sendo facilmente esquecidas, e traspassam o mais íntimo da natureza do
indivíduo. Elas são a espada do Espírito (Ef 6:17) e trazem doçura ao santo, fé
para o crente e coragem para o guerreiro.
A unção de Deus é acessível a todo líder,
inclusive a você — por um preço. Esse preço é principalmente a oração. Talvez a
falha mais freqüente em toda forma de liderança seja a falta de unção. A
sinceridade é essencial, mas sinceridade não é unção. A unção é a coroa de Deus
sobre a sinceridade em resposta à oração.
A unção de Deus separa o profeta de Deus de
um preletor ou orador. Ela é o Seu poder fluindo através de uma personalidade,
avivando os pensamentos, acrescentando frescor e novas percepções, estimulando
as emoções e acrescentando uma dimensão divina ao amor, fome, paixão e zelo da
pessoa. Ao ungir, Deus toma as rédeas e fala poderosamente através das suas
palavras. A unção transforma as suas palavras na voz de Deus para a alma do
povo.
A unção acrescenta riqueza divina aos seus pensamentos,
originalidade às suas palavras, suavidade divina ao alimento espiritual,
iluminação divina à intuição, bênção divina, poder divino e o selo divino sobre
você como pessoa.
Capítulo 34
A Sua Responsabilidade de Interceder pelo Seu Povo
Deus não lhe deu responsabilidade maior do que a de
interceder pelo seu povo. É tão urgente levar o seu povo diante de Deus em
oração como é urgente levar Deus para diante do povo em suas mensagens. Você
deve interceder pelo seu ministério, pelos cultos e pela evangelização. Mas
você deve também interceder pelo seu povo, família por família e pessoa por
pessoa.
Cada crente é chamado para ser um sacerdote de Deus.
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real" (1 Pe 2:9).
"Também vós mesmos.., sois edificados... para serdes sacerdócio santo, a
fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de
Jesus Cristo" (1 Pe 2:5). O seu dever de sacerdote é oferecer sacrifícios
espirituais e interceder.
Os seus sacrifícios espirituais consistem em louvor (Hb
13:15), seu corpo (Rm 6:13,16,19; 12:1) boas obras (Hb 13:16) e contribuições
financeiras (Fp 4:18; Hb 13:16). O seu papel sacerdotal constante é a oração.
A comunhão pessoal com Deus é seu privilégio diário e uma necessidade. A
intercessão pessoal deve ser o seu ministério e trabalho diário. Isto se aplica
a cada cristão e é mais verdadeiro ainda no que se refere a você como líder
espiritual.
O papel do sumo sacerdote nos dias do Antigo Testamento era
oferecer sacrifício e interceder. O papel intercessórío era simbolizado pela
sua vestimenta oficial. Ele usava o éfode (mantelete) sacerdotal sobre o seu
manto. O éfode era como um avental, com duas pedras de ônix — cada uma presa
em um dos ombros. Em cada pedra estavam os nomes das seis tribos de Israel. O
peitoral era preso ao éfode sobre o coração do sacerdote com correntes de ouro,
de modo que nunca saísse de cima do seu coração. Ele tinha doze jóias em quatro
fileiras de três pedras cada uma. Em cada pedra estava gravado o nome de uma
das tribos.
Desse modo, simbolicamente, cada vez que o sumo sacerdote
entrava no tabernáculo (e mais tarde no templo) para
oficiar na presença de Deus, ele levava nos ombros e perto do coração o nome
das tribos. Isto significava sua responsabilidade e amor pelo povo (veja Ex
28). Do mesmo modo, o ministro do Novo Testamento deve levar invisivelmente
sobre os seus ombros e coração o povo a quem ministra. Esta é a sua
responsabilidade perante Deus. Ele deve levar um fardo por causa deles e
amá-los.
Cristo completou o sacrifício em sua obra da
expiação na cruz. Mas o ministério inacabado de Cristo é o ministério da
intercessão. Cada cristão deve ser co-sacerdote com Cristo. Quanto mais cada
ministro e líder deve associar-se a Cristo na intercessão pelo seu povo! Jesus
vive para continuar o Seu ministério ao lado do Pai. Ele está reinando pela
oração. João 17, a grande oração sacerdotal de Cristo, expressa o tipo de
pensamentos que Ele sempre tem em seu coração com relação ao Seu povo.
Israel jamais teria chegado a Canaã se não fosse pela
intercessão de Moisés. Ele era grande na administração e na liderança. Mas
Israel teria sido destruído como povo se Moisés não tivesse intercedido.
Paulo é o grande exemplo do Novo Testamento sobre o papel
sacerdotal dos líderes cristãos. Sabemos mais sobre a vida de oração de Paulo
do que sobre a de qualquer outro personagem bíblico; exceto, talvez, Moisés.
Seu ministério surgiu de sua vida incessante de oração. Ele foi o grande
exemplo do Novo Testamento de um guerreiro da oração. Ele não escreveu um livro
sobre oração, mas a oração está entretecida em todos os seus escritos. A oração
e o jejum foram o fundamento de todo o seu ministério. Ele iniciou a expansão
da igreja pela intercessão incessante, trabalho e incrível sofrimento. Ele foi
o apóstolo da intercessão piedosa, feita com toda a alma.
Paulo evangelizou mediante o amor lágrimas, obras e
sofrimento. Seu zelo não podia ser detido. Mas o fogo era mantido ardendo
constantemente em sua alma pelas suas orações de intercessão, dia e noite. Os
três grandes testemunhos de Paulo eram (1) como Cristo o conquistou; (2) seu
amor pela igreja; e (3) sua oração pela causa de Cristo.
Em dez das cartas de Paulo, ele falou da sua oração por
aqueles a quem estava escrevendo. Em oito das suas cartas, ele suplica pela
ajuda em oração dos seus convertidos e amigos. Paulo era um tal modelo de
oração que formou um povo de oração. Todo líder evangélico deve considerar
Paulo como exemplo de como pode ser um ministério pela graça de Deus. Paulo, o
intercessor, é o modelo daquilo que você e eu devemos ser hoje.
Nenhum líder é maior do que as suas orações. Se quisermos
ver a igreja reavivada e tornando-se uma força poderosa para Deus, devemos ter
uma nova geração de gigantes paulinos que oram. A maior fraqueza do ministério
hoje talvez seja a falta de intercessão dos líderes pelo povo. Pelo menos 41
versículos nos escritos de Paulo se referem à sua oração e a assuntos de
oração, mas só um versículo se refere à sua oração por si mesmo ou pelas suas
necessidades pessoais. Ele estava sempre orando por outros. Uma das maneiras de
medir o papel e o objetivo da sua vida de oração é notar a proporção do tempo
que você gasta orando pelas suas próprias necessidades e interesses em
comparação com o que gasta orando por outros.
Quando oramos no Espírito, oramos principalmente por outros.
Quando buscamos em primeiro lugar o reino de Deus, Deus cuidará de todas as
nossas necessidades pessoais (Mt 6:33). A oração que Jesus ensinou como modelo
indica que normalmente não começamos nosso período de oração orando pelas
necessidades pessoais. Em primeiro lugar oramos pelo nome, vontade e reino de
Cristo. Depois nos voltamos para as nossas necessidades. Não fazemos uma oração
do tipo "para mim" ou "minha", mas sim "para nós"
e "nossa".
Como líder, você tem uma pesada responsabilidade de oração
diária pelo seu povo e pode ter de limitar o tempo que ora a seu favor ou em
benefício de sua família. Mas quando você leva os fardos alheios, Deus, por sua
vez, colocará os seus fardos no coração das pessoas, especialmente se você lhes
tiver ensinado a ser um povo que ora. Quando você cumpre o seu papel de oração
pelo rebanho sob sua responsabilidade, o próprio Cristo intercederá por você.
Chore por outros e Deus apoiará você com o amor leal e a oração do seu povo.
SUGESTÕES PARA O SEU PAPEL NA ORAÇÃO
Sem considerar o seu papel na liderança — pastor, professor,
líder da escola dominical, líder leigo, líder da juventude, missionário
— adapte isto à sua situação.
1. Planeje a sua intercessão
pelo seu povo. Você falhará para com
Deus e para com seu povo a não ser que tenha um plano de oração regular para o
seu período de intercessão. Se vale a pena planejar alguma coisa nesta vida,
isto certamente vale.
a. Reserve um horário especial durante
o dia para a sua intercessão. Isto é tão importante
quanto reservar tempo para o preparo de suas mensagens ou para visitar o seu
povo. O tempo deve ser diário e reservado antecipadamente, num horário em que
você esteja fisicamente alerta e possa fazer intercessão intensiva.
Além disso, Deus trará à sua atenção o
seu povo e as suas necessidades em ocasiões especiais, exatamente no momento em
que alguém necessitar da sua oração. Quando Deus o impelir assim especialmente,
sempre que possível, ponha de lado na mesma hora qualquer outro trabalho e ore.
Deus irá também levar seu povo à sua atenção para orar quando você estiver
trabalhando, viajando, ou nos momentos em que a sua mente estiver
comparativamente livre. Como líder dele, o seu povo deve estar constantemente
no seu coração, da mesma forma que estava no coração de Paulo.
Paulo disse a respeito de Epafras, pastor da igreja de
Colossos, "[Ele] se esforça sobremaneira, continuamente, por
vós, nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em
toda a vontade de Deus. E dele dou testemunho de que muito se preocupa por
vós..." (Cl 4:12-13). Epafras estava com Paulo na ocasião. O testemunho de
Paulo sobre o grande fardo que Epafras carregava pelo seu povo — esforçando-se
nas orações e preocupando-se com eles, embora estivesse a quilômetros de
distância — ilustra a vida de oração de um líder ideal. Pode-se dizer que você
se esforça sempre em oração pelo seu povo? A sua oração regular pelo povo
poderia ser corretamente chamada de "trabalho árduo"?
b. Tenha um lugar para interceder pelo seu povo.
Se tiver um aposento especial, pode fazer dele o seu refúgio
de oração. É uma bênção ter um lugar especial para orar. Quando visito a casa
de John Wesley em Londres, sempre aprecio o tempo que posso passar orando
silenciosamente em seu quarto de oração no alto das escadas.
c. Tenha listas de oração
do seu povo. Deus abençoa grandemente as listas de
oração. Há uma forte evidência de que Paulo fazia uso delas. Você também
desejará ter listas especiais — de pessoas não-salvas que quer conquistar, de
líderes do país, de necessidades missionárias (nações, povos, ministérios), uma
lista de parceiros de oração (pessoas em cujo ministério você
quer participar pela oração), uma lista da família. Sua maior responsabilidade,
como pastor, é sua lista ou suas listas de oração pelo povo.
John Welch, piedoso ministro escocês, passava sempre
que possível oito a dez horas a cada dia ou noite orando pelo seu povo. Ele
tinha um abrigo no qual podia abrigar-se à noite quando se levantava para orar,
mas a esposa se queixava sempre de que o encontrava no chão chorando. Sua
resposta era: "Ó mulher, sou responsável por 3.000 almas e não sei o que
está acontecendo (espiritualmente) com elas". Três mil pessoas viviam na
área ao redor da sua igreja.
Jesus disse que o bom pastor chama as ovelhas pelo nome (Jo
10:3). Se um pastor sabe o nome de cada uma das suas ovelhas, quanto mais deve
o pastor espiritual orar pelo nome de cada pessoa de seu rebanho. Hudson
Taylor, fundador da China Inland Mission, costumava orar em favor de cada posto
missionário, de cada missionário pelo nome, e de cada necessidade e
circunstância específica que viesse ao seu conhecimento. As suas orações
continuam vivas na China de hoje. O bispo Azariah, bondoso líder da igreja no
Sul da Índia, orava pelo nome em benefício de cada pastor e líder sob a sua
jurisdição em sua extensa área. É possível que a maior mudança que venha a
acontecer em sua vida e ministério seja para que aprenda realmente a orar pelo
seu povo e pelo seu ministério.
d. Planeje como vai cobrir de oração as necessidades
do seu povo. Se a sua congregação for grande demais para orar
por cada um pessoalmente a cada dia, planeje meios de incluir regularmente
todos por quem você é espiritualmente responsável diante de Deus (Hb 13:17).
Talvez seja necessário dividir a sua lista, a fim de que possa orar por uma
parte da sua congregação cada dia da semana. Talvez você queira ter uma lista
dos nomes das famílias, para orar todos os dias por cada família pelo nome. Em
sua lista familiar mais detalhada, você desejará ter os nomes de cada membro da
família e sua idade aproximada e talvez os aniversários. Você pode prometer aos
membros que irá passar tempo especial orando por eles no dia do seu
aniversário.
Será bom ter uma "lista de necessidades" que vá
sempre mudando, numa folha separada de papel, com as necessidades especiais do
seu povo à medida que elas aparecerem. Isto deve incluir doenças, acidentes,
luto, desemprego, depressão ou provação. Você só pode levar verdadeiramente no
coração os fardos do povo quando souber quais são essas necessidades. Quando o
seu povo começar a compreender como você ora pessoalmente por ele, irá
alegremente compartilhar as suas necessidades conforme forem surgindo, para que
você possa ser um pastor mais eficaz na oração.
e. Tenha um plano de oração pelas necessidades
especiais de seu povo e da comunidade. As preocupações especiais
e as necessidades principais pesam bastante sobre o coração de cada pastor. Se
a sua congregação for pequena, talvez possa orar por todos a cada dia. Se for
grande, terá de planejar a sua oração com tópicos separados para cada dia da
semana.
Entre as suas maiores preocupações de orar pelo seu povo
como um todo estão unidade, integridade, vida piedosa, oração do povo,
testemunho do povo, reavivamento, impacto crescente da igreja, impacto mundial
da igreja e presença de Deus em seus cultos.
Entre os grupos da igreja por quem você deve ter uma
preocupação de oração se encontram:
Os Jovens. Mantenha um compromisso especial de
oração pelos jovens e pelo seu ministério a eles, embora possa ter um pastor
para a juventude. Ore (1) por um ministério adequadamente planejado para eles; (2)
pela salvação de cada um; (3) por um ministério em expansão para os jovens fora
da igreja; (4) pelo chamado de Deus para o serviço cristão de jovens de Sua
escolha; (5) pelo treinamento ou emprego para os jovens necessitados; (6) por
força para resistir às tentações especiais da juventude.
Deus pode dar-lhe o seu próprio Eliseu, Timóteo ou Tito
dentre a sua comunidade. Quando Deus parecer estar levantando uma pessoa, ore
diariamente por ela e freqüentemente com ela. Dê os passos necessários para
discipulá-la e aconselhá-la.
Os Homens. Toda igreja precisa de homens
espiritualmente fortes, ativos na oração e no testemunho. Todo lar precisa de
um pai espiritualmente forte para dar o exemplo e tomar a responsabilidade
espiritual pela família. Isto tem sido muitas vezes feito pelas esposas e mães.
Os seus homens precisam das suas orações.
As Mulheres. Elas têm as suas preocupações e
necessidades especiais. Elas podem representar uma força espiritual enorme para
a igreja. Muitas esposas carregam um pesado fardo em relação à salvação de seus
companheiros não-salvos, e o pastor deve ajudá-las compartilhando deste fardo
de oração.
Os Solteiros. Como os nossos solteiros
precisam de nossas orações nestes dias! Eles ouvem você orando a seu favor em
suas orações públicas? Os pais separados precisam de oração especial em favor
de suas responsabilidades e preocupações.
Líderes Cívicos e Governamentais. É
ordenado a todos os cristãos nas Escrituras que dêem prioridade à oração pelos
líderes do governo (1 Tm 2:1-3). Devemos orar a Deus pelo nosso governo,
pedindo sabedoria, integridade e decisões certas para os nossos governantes,
quer da nação, do estado, quer da cidade. Figuras-chave do governo devem ser
colocadas na lista diária de oração do líder. Ele deve orar regularmente por
essas pessoas nas suas orações no púlpito, treinando também seu povo a orar por
elas. Mas, em certas ocasiões, quando o governo enfrenta situações críticas, é
certo programar períodos específicos de oração pessoal e nação da igreja.
Reavivamento e Colheita. Deus depende
dos líderes cristãos para chamar seu povo a orar pelo reavivamento e por uma
grande colheita de almas, assim como Ele dependeu dos profetas para chamar as
pessoas à oração nos dias do Antigo Testamento. O líder deve freqüentemente
incluir isto em suas orações públicas e em seus pedidos nas reuniões de oração.
Grupos da igreja podem programar horários especiais de oração conjunta. Toda a
igreja pode ser levada a passar metade de uma noite em oração (das seis ou sete
da noite até a meia-noite) ou várias noites de oração (das 9h da noite até as 4
ou 5 da madrugada). Todos os líderes devem carregar este fardo.
A fim de preparar o seu coração para liderar outros nesta
ânsia e busca da face de Deus, você precisa separar meios dias ou dias inteiros
de oração, ou uma noite pessoal de oração, ou uma ou duas horas diárias para
orar pelo reavivamento e colheita durante uma semana, um mês ou até mais.
Deus honra grandemente tal preparação do caminho do Senhor,
embora devamos tomar cuidado para não pensar que por isso temos direito à
bênção de Deus. Quanto mais oramos, mais profunda se torna a ânsia do nosso
coração até que finalmente prevalecemos sobre os poderes das trevas e vemos a
grande vitória de Deus.
2. Escolha tempos especiais de oração para os fardos
especiais que o Espírito Santo colocar em seu coração. O
Espírito não só pode guiá-lo a separar tempos especiais de oração para o
reavivamento e a colheita. Ele pode guiar você a buscar uma nova bênção
especial sobre o seu próprio coração. Pessoas muito usadas por Deus descobriram
ser necessário ficar a sós com Ele por mais tempo para uma nova unção, novo
refrigério espiritual para a sua alma, ou a orientação especial de Deus com
respeito ao seu ministério ou seu povo. Este era um hábito especial de oração
de Finney.
Um projeto de construção que precise de ajuda financeira pode
ser o chamado especial de Deus para um meio dia em oração. Uma grave
enfermidade de um membro da sua igreja ou grupo pode exigir oração especial e
prolongada. Mantenha-se alerta para os sussurros do Senhor, chamando você à
oração, ou talvez à oração e ao jejum.
Deus pode guiar você como líder a
providenciar a multiplicação da oração para as necessidades que Ele colocou em
seu coração. Você pode ser guiado a chamar o seu povo para comprometer-se a
dedicar um determinado número de horas à oração por uma necessidade —
quinhentas ou mil horas de oração pelo reavivamento ou por uma campanha
evangelística especial. Quase todo mundo estaria disposto a comprometer-se a
uma hora de oração, especialmente se lhes for permitido dividi-la em duas meias
horas ou quatro períodos de quinze minutos cada. Muitos podem estar dispostos a
comprometer-se com uma hora ou um dia, ou cinco horas por semana, ou algum
outro compromisso similar.
Outra abordagem é pedir às pessoas que se comprometam a
tantos períodos de dez ou quinze minutos de oração especial quantos possíveis.
Ao usar cuidadosamente o seu tempo, elas podem descobrir uns
dez minutos extras ou mais para este programa especial, definitivamente focalizado
na oração, de manhã, ao meio-dia e à noite. Quanto mais elas
interrompem o seu trabalho e fazem a Deus uma oferta de amor de intercessão
pela necessidade especial, tanto mais Deus poderá colocar o fardo em seus
corações, e tanto mais sua fé começará a crescer.
Spurgeon disse: "Se qualquer ministro se satisfizer sem
conversões, ele não terá conversões". Ficamos satisfeitos em
continuar nosso ministério com pouco ou nenhum derramamento do Espírito de Deus
e com poucas pessoas entregando-se regularmente ao Senhor. Deus só dá almas
àqueles que não podem viver sem elas. O líder que não anseia pelas almas está
necessitando seriamente de um reavivamento em seu coração. Mas não há limite
para o que Deus pode fazer se estivermos suficientemente famintos e dermos
passos específicos para alistar a oração do povo de Deus.
Capítulo 35
O Seu Ministério de Lágrimas
Intercessões ardentes pelo seu povo, em geral, capacitam
Deus a ungir o seu coração com lágrimas. Lágrimas em seu coração quando você
intercede sozinho, quando fala de Cristo pessoalmente aos espiritualmente
necessitados — lágrimas interiores quando ministra em público e quando olha
para a sua comunidade e o seu mundo — podem acrescentar poder espiritual à sua
liderança e ministério. Lágrimas tão profundas em seu coração que são também
notadas em sua voz quando ora ou fala, e estão visíveis em seus olhos nas
ocasiões ungidas especialmente poT Deus — elas podem acrescentar uma nova
dimensão de influência extraordinária e autoridade espiritual ao seu papel como
pessoa de Deus.
Até que ponto a sua vida conhece um ministério de lágrimas?
Quão profundamente você compartilhou os sofrimentos de Deus? O Dr. Bob Pierce,
fundador da World Vision, comoveu-se profundamente com as necessidades físicas
e espirituais do mundo. Ele era conhecido pela sua repetida declaração:
"Que o meu coração se quebre com as coisas que quebrantam o coração de
Deus".
Nosso mundo só pode ser levado na direção de Deus por
líderes que compartilharam profundamente os Seus sofrimentos, ao olhar com
compaixão e amor para o mundo. Até que você sinta as lágrimas de sofrimento no
coração de Deus, até que compartilhe até certo ponto a paixão sofredora de
nosso Salvador no Getsêmani, até que se aproxime o bastante de Deus para deixar
que o Espírito gema dentro de você com seus gemidos infinitos e
inexprimíveís, você não está preparado para ministrar a
respeito da cruz.
O versículo mais curto da Bíblia é também um
dos mais profundos em sua concisa expressão da realidade da Encarnação, a
identificação divina com a humanidade destruída pelo pecado em sua necessidade,
e a medida da empatia interminável de Cristo: "Jesus chorou" (Jo
11:35).
Jesus é supremamente ungido com o óleo da
alegria (Sl 45:7; Hb 1:9). Todavia, Ele se identificou tanto com a vontade do
Pai e a necessidade do mundo que se tornou nosso Homem de Dores, familiarizado
com o nosso sofrimento (Is 53:3). "Certamente ele tomou sobre si as nossas
enfermidades, e as nossas dores levou sobre si" (Is 53:4). As lágrimas
visíveis no túmulo de Lázaro não eram simples lágrimas de simpatia humana, mas
a destilação externa da dor do coração de Deus.
O lamento de Jesus sobre Jerusalém durante o terceiro
ano do seu ministério não foi um clamor momentâneo. Mas a ânsia perene de Seu
amor todo-consumidor. "Jerusalém, Jerusalém... quantas vezes quis eu
reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das
asas" (Lc 13:34).
Ele chora incessantemente ao contemplar nosso mundo.
Enquanto chora sobre as nossas metrópoles e cidades, nossas nações, nossas
raças, nossos povos, nossas famílias e nosso povo sofredor, desde as crianças
até os velhos — como Ele anseia constantemente por salvar, abençoar e livrar! O
Jesus que chorou é o Jesus que ainda chora. Você compartilha as Suas
lágrimas?
Como líder cristão você também conhece a
alegria inexprimível e gloriosa que transborda do coração de Cristo para você (1
Pe 1:8). Você se rejubila igualmente com o céu quando os pecadores arrependidos
voltam para o Pai (Lc 15:7,10). Você sabe alegrar-se com os que se alegram (Rm
12:15). Você sabe também chorar com os que choram?
Enquanto ministrava em Manchester, na Inglaterra, há
quarenta anos, escrevi estas palavras:
Onde Estão as Suas Lágrimas?
Há lágrimas nos olhos do pecador.
Hábitos pecaminosos atando seu
coração, mãos e pés.
Cheio de vergonha com o seu
pecado e derrota,
Lágrimas quentes correndo pelo
seu rosto afogueado —
Há lágrimas nos olhos do pecador.
Há lágrimas nos olhos do
sofredor.
Horas longas e cansativas de
doença, fraqueza e dor.
Orando para que a saúde volte
outra vez,
Esperando a cura, mas esperando
em vão —
Há lágrimas nos olhos do
sofredor.
Há lágrimas nos olhos
desanimados.
Incompreendidos por aqueles que
deveriam ter mais conhecimento;
Ninguém para amar, para mostrar
compaixão,
Enfraquecidos, desanimados, com a
esperança indo embora —
Há lágrimas nos olhos abatidos.
Há lágrimas nos olhos dos
não-cristãos.
Invocando ídolos de madeira e de
pedra,
Chamando, em vão, desconhecendo
Cristo o Salvador,
Sem conforto, sem ânimo, sem
Deus, sozinhos —
Há lágrimas nos olhos dos
não-cristãos.
Há lágrimas nos olhos do
Salvador.
Lágrimas por aqueles que pecam,
desanimam e enfermam,
Lágrimas pelos desviados, fora da
Sua vontade,
Lágrimas pelos milhões ainda não
alcançados por nós —
Há lágrimas nos olhos do
Salvador.
Mas onde estão as lágrimas em
seus olhos?
Não pode chorar com os milhares
que choram?
Não tem lágrimas para as outras
ovelhas perdidas?
Jesus está chorando. Você ainda
dorme?
OH! ONDE ESTÃO AS LÁGRIMAS EM
SEUS OLHOS?
HOMENS QUE SERVIRAM AO SENHOR COM LÁGRIMAS
Paulo testemunhou aos presbíteros de Éfeso, enquanto fazia
um retrospecto de seus vários anos de ministério entre eles e agora se
despedia: "Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o
tempo desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com...
lágrimas" (At 20:18-19).
Qualquer lágrima derramada ao compartilhar as batidas do
coração de Deus, qualquer lágrima derramada através da empatia amorosa por
nossos semelhantes, nascida do constrangimento pelo Espírito Santo, é uma
lágrima pela qual servimos o Senhor. Nada agrada mais a Cristo do que
compartilharmos com Ele seu fardo pelo mundo e seus habitantes. Nada nos une
tanto ao coração de Cristo como as lágrimas que derramamos ao interceder por
outros. Tornamo-nos assim verdadeiramente pessoas segundo o coração de Deus e
começamos a entender o que significa ser parceiros de oração de Cristo.
Houve alguns nos dias do Antigo Testamento que serviram ao
Senhor com lágrimas:
Jó. Jó testemunhou: "Acaso não
chorei sobre aquele que atravessava dias difíceis, ou não se angustiou a minha
alma pelo necessitado?" (Jó 30:25).
Davi, Davi chorava e jejuava quando os
homens insultavam Deus (Sl 69:9-10). Quando seus inimigos ficavam doentes, ele
jejuava e lamentava, como se por um irmão, e chorava como se fora por sua
própria mãe (Sl 35:14).
Isaías. Isaías, ecoando o clamor de
Deus, chorou quando o inimigo moabita sofreu por causa da seca e da fome; seus
olhos se inundaram de lágrimas (Is 16:9,11).
Josias. Deus ouviu a oração de Josias
pela nação enquanto ele jejuava e chorava diante do Senhor pelo seu povo (2 Rs
22:19).
Esdras. Quando Esdras compreendeu quão
profundamente o seu povo havia pecado e trazido o julgamento de Deus sobre ele,
orou e chorou tanto diante de Deus que uma grande multidão de homens, mulheres
e crianças se juntou ao seu redor (Ed 10:1-2). Este é sempre o padrão. O líder
que chora resulta num povo que chora e ora. O líder que toma sobre si os
pecados do povo, orando e arrependendo-se vicariamente por ele, terá um povo
guiado para o arrependimento. Um líder de olhos secos, cujo coração não foi
realmente quebrantado, que não conhece lágrimas em seu coração, pode denunciar
os pecados do povo, mas raramente o leva à confissão do pecado que traz a
misericórdia de Deus.
Neemias. Quando Neemias ouviu falar da
trágica condição de Jerusalém e do seu povo, ele registrou: "Assentei-me e
chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus
dos céus" (Ne 1:4). Durante dias ele continuou orando e jejuando enquanto
servia o Senhor com suas lágrimas. Deus pôde assim usar Neemias para levar o
reavivamento a Jerusalém.
Jeremias. Jeremias é freqüentemente
chamado de "profeta chorão". Que exemplo ele estabeleceu de
quebrantamento e carregar de fardos para o seu povo! Do ponto de vista humano,
não há dúvida de que foram as orações e lágrimas de Jeremias e as orações e
lágrimas vicárias de Daniel que libertaram uma parte de Israel do cativeiro.
Ouça o que diz Jeremias:
Estou quebrantado pela ferida
da filha do meu povo; estou de luto; o espanto se apoderou de mim. Acaso não há bálsamo em Gileade?
ou não há lá médico?... Oxalá a minha cabeça se
tornasse em águas, e os meus olhos em fonte de lágrimas! Então choraria
de dia e de noite os mortos da filha do
meu povo (Jr 8:21-9:1).
Mas, se isto não ouvirdes, a minha alma chorará em segredo, por causa da
vossa soberba; chorarão os meus olhos amargamente, e se desfarão em lágrimas,
porquanto o rebanho do Senhor foi levado cativo (Jr 13:17).
Os meus olhos derramem lágrimas de noite e de dia, e não cessem (Jr 14:17).
Veja também Lamentações 1:16; 2:11; 3:48-51.
Daniel. Por mais de sessenta anos,
Daniel foi estadista na corte do poder dominante de sua época; ele era também
um homem de Deus e de oração. Lemos sobre alguns dos seus períodos de oração:
Voltei o meu rosto ao Senhor
Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza.
Orei ao Senhor meu Deus, confessei... Falava eu ainda, e orava, e confessava o
meu pecado e o pecado do meu povo Israel, e lançava a minha súplica perante a
face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus. Falava eu, digo, falava
ainda na oração (Dn 9:3-4, 20-21).
Naqueles dias eu, Daniel,
pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne nem vinho
entraram na minha boca, nem me untei com óleo algum, até que passaram as três
semanas inteiras (Dn 10:2-3).
Pelo que sabemos do luto judeu e do fardo vicário
e confissão de Daniel, podemos estar certos de que o período de luto incluiu o
seu choro.
Paulo. Paulo foi tanto o Isaías
como o Jeremias do Novo Testamento. Ele pregou a grandeza da graça de Deus, a
surpreendente bênção da expiação e o juízo e triunfo final de Cristo. Ele
também andou entre o povo suplicando, chorando e guiando os perdidos à
salvação.
Ele serviu ao Senhor com lágrimas, assim como com os seus
sofrimentos (At 20:18-19), e esse ministério foi feito tanto publicamente como
de casa em casa. Paulo testemunhou: "Por três anos, noite e dia, não
cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um" (v. 31). Ele não só pregou
com lágrimas, mas também escreveu com lágrimas às igrejas que tanto amava:
"No meio de muitos sofrimentos e angústias de coração vos escrevi, com
muitas lágrimas,... para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande
medida" (2 Co 2:4).
Podemos estar também certos de que a sua oração foi ungida
com suas constantes lágrimas. Repetidamente, em suas cartas para as igrejas,
ele nos conta como orava por elas noite e dia. Se todos os seus outros
ministérios foram produtivos por causa das suas lágrimas, podemos estar certos
de que a sua oração também o foi. Não há oração mais poderosa do que aquela
saída de um coração que almeja tanto que as suas súplicas são regadas com
lágrimas.
Nosso Senhor. Lemos a respeito de Jesus:
"Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e
lágrimas, orações e súplicas" (Hb 5:7). Isto incluiu certamente a oração
de Jesus no Getsêmani. As palavras parecem, todavia, implicar que esta era uma
característica repetida com freqüência.
Enquanto as multidões gritavam os seus "Hosanas"
em louvor a Deus, aprendemos que "quando ia chegando, vendo a cidade
[Jerusalém], chorou" (Lc 19:41). O Seu coração sofrido foi sem dúvida
abalado por suas lágrimas de amor agonizante. Ele provavelmente também chorou
ao dizer: "Jerusalém, Jerusalém", ao expressar Seu amor ansioso,
cheio de sofrimento (Mt 23:37; Lc 13:34).
DEUS QUER QUE OS LÍDERES CHOREM
Deus falou através de Joel na ocasião de seu julgamento
iminente sobre a nação por causa dos seus pecados: "Chorem os sacerdotes,
ministros do Senhor, entre o pórtico e o altar, e orem: Poupa o teu povo, ó
Senhor" (Jl 2:17). Os líderes religiosos da nação eram responsáveis pela
intercessão com lágrimas pelo povo.
Isaías, igualmente, numa época de calamidade nacional, disse
aos líderes: "O Senhor, o Senhor dos Exércitos, vos convida naquele dia
para chorar, prantear... cingir o cilício" (Is 22:12). Mas em lugar disso
eles festejaram e se divertiram (v. 13). Isto os tornou tão culpados que Isaías
acrescenta: "Mas o Senhor dos Exércitos se declara aos meus ouvidos,
dizendo: Certamente esta maldade não será perdoada, até que morrais, diz o
Senhor, o Senhor dos Exércitos" (v. 14).
Quando aqueles que deveriam levar o fardo espiritual pelo
povo, mediante intercessão poderosa e lágrimas, são tão indiferentes
espiritualmente que não sentem um fardo de oração e não levam nada a sério e se
divertem, desempenhando a sua liderança com um ar despreocupado — isto é
escandaloso aos olhos de Deus.
Qual foi a atitude de Samuel como juiz nomeado por Deus e
profeta para o povo? "Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o
Senhor, deixando de orar por vós" (1 Sm 12:23). Todo líder é
responsável diante de Deus por cumprir o papel de mediador para o Seu povo.
Cristo é o único Mediador entre Deus e o homem na redenção. Mas, por causa
dessa mediação, temos agora a responsabilidade de ser intercessores-mediadores
para o nosso povo. Devemos identificar-nos de tal modo com aqueles a quem
guiamos, tanto por amor como por compromisso, que os levamos em nosso coração a
cada dia da nossa liderança. Assim como o sumo sacerdote fez simbolicamente,
devemos fazer isto todos os dias ao entrar no santo dos santos de Deus; devemos
tocar Seu trono constantemente pelo nosso povo. Pecamos contra o Senhor se deixarmos
de fazer isso.
Quando esse compromisso com o nosso povo é
tão profundo quanto Deus quer que seja, quando nós os amamos com o amor de
Cristo, como subpastores de Cristo, um papel intercessório e mediatorial é
inevitável. Quanto mais mediamos em intercessão pelo nosso povo, tanto mais
profundo se torna o nosso amor e mais certo que nossos corações irão clamar a
Deus em lágrimas, sejam elas visíveis ou não. Nosso povo reconhecerá o amor e
as lágrimas de nosso coração pelo tom de nossa voz e pelo poder sobre as nossas
orações.
O Dr. R. W. Dale de Birmingham, Inglaterra, colaborador de
Moody enquanto fazia campanha nas Ilhas Britânicas, disse que
Moody jamais falou da possibilidade de alguém estar perdido sem lágrimas na
voz: "Ele passava da denúncia violenta do pecado a um constrangimento
silencioso, triste, lacrimoso, quebrantado". R. C. Horner disse:
"Nada fala tão alto quanto as lágrimas no trabalho cristão... mas quando
as nossas lágrimas secam, as pessoas podem perecer, morrer e ir para o inferno
e você nem sequer percebe".
Oswald J. Smith escreveu em seu diário: "Preciso
experimentar o poder de Deus qualquer que seja o custo. Oh, que Ele me
quebrantasse e me fizesse chorar pela salvação das almas!" (1). O seu
diário registra em muitos lugares respostas à sua oração pedindo lágrimas. Foi
escrito sobre John Welch, genro de John Knox, que ele "com freqüência, nas
noites frias de inverno, era encontrado chorando no chão, lutando com o Senhor
a favor do seu povo". Jonathan Edwards conheceu a profunda angústia de
alma que acrescentava lágrimas aos seus períodos de oração. Finney, em suas
memórias, menciona repetidamente ter orado com lágrimas.
A colheita espiritual exige integridade de alma, intensidade
de desejo e amor igual ao de Cristo. A colheita espiritual resulta de uma
semeadura custosa, semeando com um amor que chora enquanto clama a Deus. O
trabalho de alma do Getsêmani leva à colheita do Pentecostes.
John Henry Jowett disse em seu clássico The Passion for
Souls ("Paixão pelas Almas"):
Meus irmãos, não sei como
qualquer serviço cristão pode ser produtivo se o servo não tiver sido primeiro
batizado no espírito da compaixão sofredora. Jamais poderemos curar as
necessidades que não sentimos. Os corações sem lágrimas jamais poderão ser os
proclamadores da Paixão. Devemos orar se quisermos remir. Devemos sangrar se
quisermos ser os ministros do sangue salvador. Devemos aperfeiçoar pela nossa
paixão a Paixão do Senhor e pelas nossas simpatias sofredoras "preencher o
que restou dos sofrimentos referentes a Cristo" (tradução livre).
"Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos
afetos de misericórdia..." (Cl 3:12). Se a oração do discípulo deve
"preencher" a intercessão do Mestre, ela precisa incluir clamor e
lágrimas. Os ministros do Calvário devem suplicar com suor e sangue e sua
intercessão chegar com freqüência ao ponto da agonia... A verdadeira
intercessão é um sacrifício, um sacrifício sangrento, uma perpetuação do
Calvário, um "preenchimento" dos sacrifícios de Cristo. Sta. Catarina
contou a um amigo que a angústia que experimentou, ao compreender os
sofrimentos de Cristo, foi maior no momento em que estava suplicando pela
salvação de outros. "Promete-me, Senhor Deus, que irás salvá-los. ó, dá-me
um sinal de que farás isso". Então o Senhor pareceu prender
as suas mãos estendidas nas dEle, e lhe fazer a promessa. Ela sentiu nessa hora
uma dor lancinante, como se um cravo tivesse sido enfiado através da palma... e
sentiu o aperto da mão traspassada." (2)
George Whitefield foi um dos mais eloqüentes evangelistas na
história da igreja. Ele muitas vezes pregava a multidões de cerca de dez até
vinte mil pessoas. Calcula-se que na Escócia ele tenha pregado a cem mil. Dez
mil confessaram sua fé apenas nesse culto. Ele foi poderosamente ungido pelo
Espírito Santo. O Dr. Martyn Lloyd-Jones registra que Whitefield quase
invariavelmente pregava com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele foi movido tão
grande e profundamente que moveu milhares para Cristo. (3) Ele disse:
"Passei dias e semanas prostrado no chão.v orando". (4)
É necessário algo mais que lágrimas para ganhar almas. Não
estou-me referindo a lágrimas carnais de autopiedade. Suplico por lágrimas
cristãs de amor pelo nosso povo e pelos perdidos, agitando o nosso coração em
intercessão mediatorial. Quer você tenha lágrimas visíveis em seus olhos ou
não, pelo menos o seu coração deve chorar. Deus sempre sabe quão profunda é a
nossa ânsia e os lamentos do nosso coração. Ele mede a profundidade de nosso
interesse e o quebrantamento compassivo de nossa intercessão pelos outros. Não
busque emoção só pela emoção em si. Não tente provocar emoção numa tentativa de
comover Deus ou os homens. Todavia, a emoção é uma parte inseparável do nosso
ser. Não podemos separar a emoção do amor santo por Deus ou pelo povo. Nosso
principal lugar de choro deveria ser nosso lugar secreto de oração, pois é ali
que devemos interceder diariamente pelo nosso povo (Jr 13:17).
Como podemos ficar insensíveis à história da cruz se
entendemos realmente como nosso Salvador nos amou e morreu por nós? Como
podemos ficar de olhos secos ao interceder por um mundo perdido e ao pregar o
evangelho do Calvário? Um missionário estava falando a respeito do amor de
Cristo para um pagão não-salvo, como Cristo deixou as glórias do céu, compartilhou
a nossa vida e nossos sofrimentos, mas foi rejeitado e crucificado pelos
pecadores. Enquanto o pagão ouvia a história, ele começou a chorar. Então se
voltou para o missionário e perguntou: "Esse mesmo Jesus morreu por
você?". "Sim", replicou o missionário. O pagão olhou-o surpreso
e indagou: "Então por que você não chora?". Perdoe-me se lhe
pergunto: "E você, por que não chora?".
Procurados: Mais líderes de coração quebrantado como Oséias,
clamando a Deus pelos pecados e falhas de seu povo! Procurados: Mais
líderes-profetas quebrantados como Jeremias, prevalecendo a favor do seu povo!
Procurados: Mais evangelistas e líderes, chorando enquanto suplicam pelo seu
povo, enquanto suplicam com ele, ao proclamar o amor do Calvário!
Dá-me Lágrimas
Dá-me lágrimas nos olhos, amoroso
Senhor, eu oro!
Dá-me lágrimas quando intercedo.
Dá-me lágrimas quando me ajoelho
diante do Teu trono a cada dia;
Dá-me lágrimas quando aprendo a
suplicar.
Senhor traspassado, quebra este
coração frio e insensível que eu tenho;
Derrete o meu coração com o teu
fogo santo!
Inunda minha alma com a paixão do
amor divino;
Que eu possa ansiar com o Teu
desejo.
Tira toda a insensibilidade do
meu coração novamente
Até que eu tenha fome e sede e
anseie,
Até que o desejo pelas almas dos
homens pecadores
Queime dentro de mim consumidor.
Enche meu coração com Tuas
lágrimas; desvenda ali a Tua cruz
Até que tudo o mais neste mundo
morra,
Até que tudo o mais em minha vida
não passe de perda,
Com exceção da cruz do
Crucificado.
Que o meu coração seja sempre um
coração crucificado
Que ele sangre pelas almas dos
homens.
Que o fardo pelas almas derreta
meu coração a cada dia
Até que eu compartilhe de novo o
Teu labor.
Dá-me lágrimas quando prego sobre
o Teu amor agonizante;
Dá-me lágrimas quando suplico aos
homens.
Dá-me lágrimas quando aponto para
o Teu trono lá no alto;
Amor de Deus, derrete outra vez
meu coração.
Wesley Duewel
Capítulo 36
Você Pode Ser um Líder Ungido
Nos dias do Antigo Testamento, reis, profetas e sacerdotes
foram ungidos com óleo, a fim de separá-los num sentido especial para Deus e o
Seu serviço. O óleo simbolizava o Espírito Santo vindo sobre eles, tanto para
separá-los quanto para dar-lhes uma capacitação especial e divina.
A palavra Cristo é o termo grego para o hebraico
"messias". Ambas as palavras significam "o ungido".
"Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, o qual andou
por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque
Deus era com ele" (At 10:38). O termo cristão identifica-nos como
seguidores de Jesus Cristo, o Ungido.
A Escritura aplica o termo "unção" a todos os que
pertencem a Cristo. Não estamos apenas seguindo o Ungido, mas somos também
ungidos. Todo cristão, quer leigo quer ordenado, tem o privilégio bíblico de
apropriar-se do conteúdo espiritual. Deus quer que todo o cristão tenha uma
vida ungida.
J. Elder Cumming escreve:
A unção é o próprio Espírito
Santo... Ele vem para ser o óleo da unção sobre nós e em nós. Jesus de Nazaré
não foi ungido por Ele, mas com Ele...
Como é então surpreendente a
idéia de que somos os ungidos de Deus! Os messias da nova dispensação! Os
cristos de Deus! "Tendes a unção"; a mesma unção que o Senhor teve. E
nós a levamos em nossos nomes, como Ele o fez. Ele foi chamado Cristo e nós,
cristãos. Os seguidores ungidos do Ungido. (1) Ele nos ungiu, pôs o seu selo de
propriedade em nós e colocou seu Espírito em nossos corações como um depósito,
garantindo aquilo que virá (2 Co 1:21-22).
Aquele que nos ungiu foi Deus (2
Co 12:1).
Você é ungido pelo Santo (1 Jo
2:20).
"A unção que dele
recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine;
mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as cousas, e é verdadeira,
e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou" (1 Jo 2:27).
Se lhe falta a compreensão e os benefícios da
unção do Espírito, está então vivendo uma vida subnormal, espiritualmente
destituída. Está vivendo abaixo do seu privilégio como cristão. Nenhum cristão
tem o direito de abaixar o nível médio da vida da igreja ao viver uma vida sem
unção. Nenhum líder cristão certamente ousará aviltar e depreciar a causa de
Cristo ou a liderança cristã, vivendo sem unção e mostrando uma liderança sem
unção.
A UNÇÃO É PARA VOCÊ
Quando o Espírito Santo faz você nascer de novo,
você recebe a Sua presença permanente. "Se alguém não tem o Espírito de
Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8:9). O Espírito dá testemunho da sua
salvação (Rm 8:16; 1 Jo 5:6,10). Mas você recebe também o ministério do
Espírito de muitas outras formas. Uma delas é a Sua unção da sua vida e do seu
serviço.
O grau em que cada cristão recebe esta unção
e tem consciência dela depende da proximidade do seu caminhar com o Senhor e
da medida em que, pela fé, ele se apropria dela. A unção continua nEle, mas
pode não estar poderosamente ativa. Como acontece em toda experiência cristã, a
fé é o meio de apropriação.
Você, como líder, foi escolhido por Deus e pelo Seu
povo para guiar seus companheiros crentes, Você, num sentido especial, foi
separado para representar Cristo, o Ungido. Você precisa de uma unção especial
e discernível para representar devidamente a Cristo e gloríricá-Io. Você é uma
pessoa marcada. Dentre todos, você pode honrar ou desonrar a Cristo. Dentre
todas as pessoas, você deve assemelhar-se a Cristo e ter uma vida ungida.
Você deve também ser ungido em sua liderança. Desde que
Cristo proveu a unção para você pela Sua graça, Ele espera que seja
constantemente ungido pelo Espírito em todos os aspectos do seu papel de
liderança. A sua responsabilidade como Seu líder para o Seu povo é tão grande
que você não ousa trabalhar sem constante experiência e repetidas renovações da
Sua unção. Você é também responsável perante o seu povo. Eles consideram você
acima de tudo o melhor como seu líder espiritual. Você deve a eles manter-se
ungido para as suas responsabilidades mediante novos toques do Espírito de
Deus,
A unção do Espírito, nas palavras de Bounds, "é a
coroação do céu conferida aos escolhidos e valentes que procuram esta honra
ungida, embora através de muitas horas de oração em lágrimas e luta". Ele
chama isso de "capacitação divina", pela qual o líder do povo de
Cristo é equipado para a sua liderança. Sem isso, diz ele, "não são
alcançados quaisquer resultados espirituais".
Deus proveu capacitação divina para você. A Escritura dá
exemplos repetidos de Seus líderes recebendo esta preparação especial. Esta é a
era da plenitude do Espírito. Qualquer falta da atuação do Espírito na sua
liderança não é devida à má vontade de Deus- Deus quer fazer de você tudo o que
pode ser pela Sua graça, um líder revestido, ungido, guiado e capacitado pelo
Espírito Santo. Ele quer fazer de você um líder muito mais efetivo do Seu povo
do que jamais sonhou ser possível. Pelo Seu toque especial, Ele pode extrair o
importante potencial que vê em você. A sua unção, em toda a sua plenitude, é
para você.
Cito Bounds outra vez: "A unção, a unção divina,
celestial, é o que o púlpito precisa e deve ter. Este óleo divino e celestial
colocado nele pela imposição das mãos de Deus deve "amolecer" e
"azeitar" todo o homem — coração, cabeça e espírito — até que o
separe fortemente de todos os motivos e objetivos terrenos, seculares, mundanos
e egoístas, reservando-o para tudo que é puro e divino.
O SIGNIFICADO DO ANTIGO TESTAMENTO
Os profetas (1 Rs 19:16), sacerdotes (Êx 28:41) e reis (1 Sm
10:1), separados por meio de unção no período do Antigo Testamento, eram
considerados os "ungidos de Deus". A idéia de ungir estava ligada de
perto à consagração. Eles eram consagrados pela unção (Ex 28:41; 30:30; Lv
8:12), isto é, separados para o propósito e uso de Deus. Tratava-se igualmente
de um ato de nomeação ou ordenação (Lv 21:10). O derramar simbólico do óleo em
alguma profusão ("derramar" é usado com freqüência) indicava a
dotação e capacitação mediante o derramamento do Espírito Santo. Davi revela
que na unção de Arão, o sumo sacerdote, o óleo precioso foi derramado tão
abundantemente em sua cabeça que escorreu pela barba e até pela gola de suas
vestes (Sl 133:2).
A unção era feita sempre com um propósito
sagrado e por conta de Deus, indicando o favor divino. Ela selava visivelmente
a dotação especial do Espírito Santo para as responsabilidades do cargo e
conferia a capacitação divina necessária para o serviço. Ela fazia uma
diferença significativa no indivíduo ungido (I Sm 10:6,9-10). Lemos sobre a
unção de Davi: "Daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apossou de
Davi" (1 Sm 16:13). Ungir na vontade de Deus significava induzir a uma
experiência contínua do derramar do Espírito, a fim de capacitar a pessoa para
uma responsabilidade sagrada.
A UNÇÃO PODE SER RECONHECIDA
Vários termos bíblicos e frases
descritivas indicam a capacitação especial de Deus através do Espírito Santo.
Entre eles estão os seguintes: "O Espírito do Senhor veio sobre",
"a mão do Senhor veio sobre", "o poder do Senhor veio
sobre" e a "unção" do Espírito. Cada um deles acrescenta ao
nosso conhecimento do importante ministério de capacitação do Espírito. Num
certo sentido, talvez todos pudessem ser considerados aspectos da unção do
Espírito.
Todo líder cheio do Espírito é um ungido de
Deus e experimenta aspectos da unção na sua liderança. Mas muitos lugares
enfatizam tão pouco a unção de Deus, expressam tão pouco desejo dela em suas orações
e exercitam tão pouca fé para a sua apropriação que só experimentam,
ocasionalmente e em grau mínimo, a diferença dinâmica que a unção do Espírito
pode fazer no ministério.
O Dr. Martyn Lloyd-Jones enfatizou a necessidade da unção do
Espírito. Ele a chamou de maior fundamento no que diz respeito à pregação. E
insistiu: "O preparo cuidadoso e a unção do Espírito Santo jamais devem
ser considerados alternativas, mas complementos um do outro... Você sempre
procura e busca esta unção antes de pregar? O pregador não pode aplicar um
teste mais completo e revelador do que esse". (2)
Você está entre os que se mostraram indiferentes à unção do
Espírito? Ela tem sido em geral uma experiência nominal da sua parte? Você tem
de confessar que não espera nem depende de qualquer diferença significativa em
seu ministério através da dotação sobrenatural de Deus? Não avalie a mão de
Deus sobre você em seu futuro com base no seu passado. Deus quer dar-lhe uma
nova dimensão da Sua capacitação divina, para que você tenha uma liderança cada
vez mais eficaz e que dê glória a Deus. Que você possa mais que nunca tornar-se
"o ungido do Senhor"!
A unção de Deus é real e pode ser reconhecida. Em geral a
pessoa ungida pode reconhecê-la; muitas vezes outras pessoas espiritualmente perspicazes
conhecem a diferença. Certo dia perguntei ao Dr. Ezra Devol, missionário e
superintendente médico de um hospital na Índia: "Ezra, existe algo como a
unção do Espírito na cirurgia?". Sua resposta imediata foi: "Pode
estar certo que sim, e sei quando a tenho ou não!".
Jesus tinha uma percepção suprema da unção do Espírito. Ele
disse: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu" (Lc
4:18). Davi tinha conhecimento dela (2 Sm 23:2). Ezequiel deu testemunho dela
repetidamente. Esdras (Ed 7:6) e Neemias (Ne 2:18) sabiam quando a mão do
Senhor estava sobre eles. Paulo a experimentou (2 Co 1:21-22). Você também pode
conhecê-la.
Capítulo 37
A Unção de Deus Confere Bênçãos
Unção é a capacitação divina para as atividades e o
ministério exercidos no nome de Cristo e para glória dEle. Ela repousa sobre a
vida e o ministério, coroando e abençoando especialmente o ministério cristão.
Mas ela não é reservada exclusivamente para as chamadas atividades
"espirituais". Trata-se do toque extra de Deus sobre sua mente,
habilidades, esforços, memória, emoções e forças.
A unção ajudará o mecânico a encontrar os problemas e
resolvê-los, o estudante a fazer as provas, o autor a escrever, o cristão a
falar ou ensinar, o motorista a enfrentar o trânsito, o músico a tocar, o
cantor a cantar, o artista a pintar e o poeta a fazer poesia.
A unção do Espírito é destinada à vida cristã, mas
especialmente ao serviço cristão em qualquer forma. Ela é sua, basta pedir. É a
provisão graciosa de Deus para você. Quero primeiro descrever como a unção
afeta a sua vida e depois o seu grande efeito sobre o seu ministério.
1. A unção do Espírito ajuda você fisicamente.
O Espírito pode ungir o seu corpo, de modo que você fique fisicamente
forte, renovado e adequado para a sua tarefa. O Espírito está disponível para
ajudá-lo a mostrar-se na sua melhor forma possível. Você precisa de forças
extras? O Espírito pode dá-las.
Você lembra como no conflito espiritual no Monte Carmelo,
Elias, aparentemente sozinho, enfrentou os 450 profetas de Baal e os 400
profetas de Asera que comiam na mesa de Jezabel? Quando o engano deles ficou
provado, Elias os matou segundo as ordens de Deus em relação
aos falsos profetas no Antigo Testamento. A seguir veio a prolongada batalha em
oração de Elias no alto do Monte Carmelo, com sete períodos de forte
intercessão, até que Deus colocou a primeira nuvem no céu. Antes
do cair da noite ele correra adiante de Acabe trinta milhas até Jezreel (1 Rs
18). Onde Elias conseguiu essa força surpreendente? Através da unção do
Espírito (v- 46).
Lembre-se de Isaías 40:29-31: "Faz forte ao
cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se
cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor
renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam". Francis Asbury testemunhou em seu diário no
dia 24 de fevereiro de 1772: "Meus trabalhos aumentam e minhas forças se
renovam. Embora tivesse chegado aqui fraco, depois de pregar três vezes me
senti forte". (1)
Oração, confiança e esperança no Senhor
removem o cansaço e renovam o poder físico e espiritual, por mais que você seja
fraco em si mesmo. Muitos ministros do evangelho experimentaram novas
forças físicas e uma sensação especial da bênção e presença de Deus sobre o
serviço e especificamente sobre o ministério atual.
Como me lembro bem de um dia ocupado de ministério
em Monaghan! Numa certa manhã de domingo, dirigi de Belfast, Irlanda do Norte,
até o Condado de Armagh e cruzei a fronteira para Monaghan, no Eire. Preguei no
culto da manhã na igreja presbiteriana, almocei com o ministro presbiteriano,
fui levado à casa de parentes de nosso diretor nacional britânico da OMS e
visitei a plantação agrícola da família. Depois fiz visitas com a família e
sobrou pouco tempo para orar e meditar. No começo da noite, falei numa igreja
metodista e, logo depois, fui levado até uma igreja batista para a minha
mensagem final do dia antes de voltar para Belfast.
Enquanto estava sentado por trás do púlpito durante o último
culto do dia, sentia-me cansado, emocionalmente exausto e espiritualmente vazio
e seco. Quando o culto começou, inclinei a cabeça e orei: "Ó Senhor, o
Senhor foi tão bondoso comigo e me usou hoje. Mas agora me sinto vazio. Poderia
dizer tantas coisas, mas como posso saber o que o Senhor quer que eu diga a
essas pessoas? Sou como o homem cujo amigo chegou à meia-noite e que não tinha
nada para oferecer-lhe. O Senhor, não tenho nada de novo a dizer para essas
pessoas. O Senhor me ungiu hoje. Inclino a cabeça para que coloque a Sua mão
sobre mim novamente. Preciso de uma nova unção".
Quando levantei a cabeça vi, com surpresa, um bondoso
fazendeiro irlandês, sua esposa e filha, procedentes de Armagh, entrarem na
igreja e tomarem assento no prédio já bem cheio. Fiquei espantado por terem ido
até ali e estarem no culto. Olhei para eles e eles sorriram e acenaram com a
cabeça.
Quando subi ao púlpito, uma nova unção veio do céu sobre
mim. Meu cansaço desapareceu instantaneamente; eu estava disposto e alerta,
meus pensamentos começaram a fluir com rapidez, e desde as primeiras palavras
senti a unção do Senhor. Fiz um desafio missionário e pedi orações para a
Índia. Deus veio poderosamente e tomou conta do culto.
Pouco antes da bênção o pastor disse para o povo: "Este
não é um culto comum. Deus falou conosco esta noite. Não quero que saiam daqui
como sempre. Não falem uns com os outros. Vão silenciosamente para a porta. Vou
pedir ao Irmão Duewel que fique na porta. Se forem orar por ele e pelo seu
ministério na Índia, basta apertar a mão dele ao sair. Não digam uma palavra
aos outros. Vão para casa, se ajoelhem ao lado da cama e perguntem a Deus o que
Ele quer que façam".
Enquanto estava na porta, pessoa após pessoa tinha lágrimas
nos olhos ao apertar a minha mão. Afinal chegaram os Mullingans. O Sr.
Mullingan apertou minha mão com tanta força que quase estremeci. A filha,
Berta, com cerca de vinte anos, mal tocou a minha mão e correu para o carro. A
Sra. Mulligan agarrou minha mão, olhou-me com os olhos cheios de lágrimas, e
exclamou: "Vou só dizer isto, minha família passou a tarde inteira de
joelhos orando pelo senhor e por este culto!". Compreendi então a unção
graciosa!
Mais tarde fiquei sabendo que eles voltaram de carro para a
sua fazenda na Irlanda do Norte sem dizer uma palavra. Quando chegaram, Berta
correu para o quarto e não desceu até a manhã seguinte. Quando ela apareceu,
disse: "Papai, mamãe, na noite passada Jesus me chamou para ser
missionária". Mais tarde ela se matriculou na faculdade bíblica, casou-se
com um jovem ministro metodista, e eles serviram alguns anos nas índias
Ocidentais. Agora cuidam de uma igreja em Ulster.
A obediência dessa família a Deus em oração havia trazido a
unção de Deus sobre mim novamente e sobre aquele culto missionário, levando a
filha deles ao serviço missionário. Incluídos nessa unção estavam os toques
físicos, emocionais e espirituais de Deus.
2. A unção do Espírito capacita você mentalmente. O
Espírito Santo pode acrescentar agilidade, facilidade de expressão, criatividade
e capacidade de dizer com extraordinária clareza o que Deus quer que seja
dito. Jesus prometeu que o Espírito Santo traria à lembrança as coisas que Ele
dissera aos apóstolos (Jo 14:26). Esta capacitação especial da memória não era
exclusivamente para os apóstolos e escritores da Bíblia. Ela está à
disposição de todos os que ministram no nome de Cristo, a fim de trazer à sua
memória passagens da Escritura, as palavras exatas, expressões e ilustrações
necessárias, quando estiver falando ou escrevendo. E o toque especial de Deus
sobre a sua mente para o seu ministério.
O escritor Bounds, ao tentar descrever como a unção
do Espírito nos beneficia mentalmente, disse: "Ela esclarece o intelecto,
dá percepção, compreensão, liberdade e plenitude de pensamento, e clareza e
simplicidade de expressão".
3. A unção do Espírito toca
as suas emoções. O Espírito pode
derramar de tal modo o amor de Deus em seu coração e sua mente (Rm 5:5) que
você recebe uma ternura especial enquanto busca o amor, conforto e coração de
Deus estendendo-se para os não-salvos e os que sofrem. O Espírito pode dar-lhe
um ministério de lágrimas quando Deus vê que isso acrescentará eficácia às suas
súplicas em Seu nome (At 20:31; 2 Co 2:4; Fp 3:18). Esta unção com lágrimas não
está apenas disponível para suas mensagens, evangelismo pessoal, aconselhamento
e ao escrever, como Paulo a experimentou, mas pode acrescentar força especial,
intensidade, ternura e poder ao seu ministério de intercessão, especialmente na
sua intercessão privada (Rm 9:1-3; 10:1).
O Espírito, por outro lado, pode adicionar
firmeza especial, solenidade, ousadia santa ou indignação justa quando você,
como profeta do Senhor, pregar contra o pecado. "Eu, porém, estou cheio do
poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de força, para declarar a Jacó a
sua transgressão e a Israel o seu pecado" (Mq 3:8).
Isaías mostra que o Espírito do Senhor pode ungir você para
proclamar o juízo e a vingança de Deus, assim como o consolo dEle (Is 61:1-2).
Foi essa unção que possibilitou os profetas do Antigo Testamento a trovejar a
justiça, ira santa e juízo de Deus contra o pecado. Qualquer
ministro que pregue apenas as bênçãos e a beleza da graça e amor de Deus, sem
jamais proclamar a santidade, justiça e ira de Deus contra o pecado e a
injustiça, não é completamente bíblico nem completamente ungido.
Jeremias, "o Profeta Chorão", apresentou
claramente a alternativa de Deus quando a Sua misericórdia foi recusada (Jr
4:4). A unção do Espírito fez dele "cidade fortificada, por colunas de
ferro, e por muros de bronze, contra todo o país; contra os reis de Judá,
contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo" (Jr
1:18). Ele pôde dizer: "Pelo que estou cheio da ira do Senhor; estou
cansado de a conter" (Jr 6:11).
Essa unção estava sobre Pedro quando ele enfrentou a
multidão em Jerusalém (At 2:23-24) e o Sinédrio sombrio e zangado (At 4:8-12).
Paulo mostrou claramente o equilíbrio entre os dois tipos de ministério:
"Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus" (Rm 11:22).
4. A unção do Espírito capacita você espiritualmente. Embora
a unção do Espírito ofereça a capacitação especial de Deus para você física,
mental e emocionalmente, seu maior significado em seu ministério é espiritual.
Entre as bênçãos envolvidas estão estas:
a. Ela faz com que você sinta a presença de Deus a seu
lado e Seu toque sobre você. Que bênção quando você compreende
isto, como Jacó: "Na verdade o Senhor está neste lugar" (Gn 28:16).
Ele acrescentou: "Quão temível" (v. 17). Você sente uma
reverência sagrada quando compreende que, apesar de sua humanidade e
indignidade, a mão de Deus está sobre você e usando as suas palavras e
ministério.
Quando Deus encontrou Moisés no Sinai na sarça ardente,
Moisés disse ao Senhor: "Quem sou eu?". Ele se sentia tão incapaz e
indigno para que Deus o pudesse usar. Quando Deus revelou a Davi tudo o que
planejara fazer por ele e sua família, Davi exclamou: "Quem sou eu, Senhor
Deus .. para que me tenhas trazido até aqui?" (2 Sm 7:18). A seguir Davi
começou a adorar a Deus pela Sua grandeza (vv. 22-29).
Muitos ministros ou escritores, quando a unção de Deus veio
sobre eles durante o preparo de mensagens, caíram de joelhos e, levantando os
olhos para o Senhor, exclamaram: "Quem sou eu, Senhor, que deva transmitir
esta mensagem por Ti". Quase instantaneamente, descobri, vem a oração
adicional: "Ó Senhor, ajuda-me a dizer isto, a compartilhar como devo!
Ajuda-me a expressar a mensagem — ela é tão infinitamente maior do que tudo que
eu possa dizer ou expressar!". Graças a Deus pela unção do Seu Espírito!
Você com freqüência perceberá a mão de Deus sobre a sua
pessoa, quando Ele usar você especialmente durante a sua mensagem, ensino,
aconselhamento, evangelismo pessoal ou escritos. Depois de terminar, desejará
ficar a sós com Ele para cair de joelhos ou prostrar-se diante dEle,
agradecendo-Lhe por ter usado você tão graciosamente, dando-Lhe toda a glória,
e depois unindo-se aos serafins em adoração: "Santo,
santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua
glória" (Is 6:3). 'Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória,
a honra e o poder" (Ap 4:11). "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de
receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e
louvor!" (Ap 5:12).
b. Ela lhe concede a fragrância
do caráter cristão. Deus prescreveu um
óleo de unção especialmente perfumado para o sumo sacerdote e a ordem menor de
sacerdotes (Êx 30:22-33). Tanto eles como as suas roupas deviam ser ungidos com
esse óleo antes de seus deveres sacerdotais. Levavam com eles essa fragrância
santa. Cristo, nosso Sumo Sacerdote é aquele que é Fragrante e Santo. A
semelhança de Cristo, o doce fruto do Espírito em nossas vidas nos torna
perfumados pela santidade do caráter de Cristo.
O fruto do Espírito é um nome coletivo, na forma
singular, sugerindo as multifacetadas porém inter-relacionadas qualidades da
vida de Cristo. Não é uma "obra" resultante de nosso próprio esforço e
disciplina. É primariamente um fruto da obra do Espírito. E a natureza de
Cristo reproduzida em nós.
Ele é descrito nas nove graças do Espírito
que o Espírito Santo produz em nosso interior (Gl 5:22-23). O fruto é
desenvolvido à medida que vivemos no Espírito (Gl 5:16,25), tendo crucificado a
natureza pecaminosa (v. 24) e depois semeado para o Espírito (Gl 6:7-8). Embora
a origem esteja em Deus, temos a responsabilidade cristã de nos esforçar ao
máximo para crescer nesses aspectos da semelhança amadurecida de Cristo (2 Pe
1:5-8). É a colheita do Espírito em nossa vida pessoal. Ela aumenta quando
andamos perto de Deus (Ef 4:1-3; 5:15-20; Cl 1:10), permanecemos em Cristo (Jo
15:4-5), obedecemos a Ele (Rm 6:13,19,22; 12:1-2; 1 Pe 1:22), andamos no
Espírito (Rm 8:4-5,13), respondemos à disciplina e à poda do Espírito (Jo 15:2)
e ficamos em comunhão com Cristo (1 Jo 1:7). É a beleza de Jesus que nos torna
bela e fragrantemente semelhantes a Cristo. Ela nos marca como uma pessoa de
Deus.
c. Ela lhe dá alegria. Foi dito a
respeito de Jesus: "Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a
nenhum dos teus companheiros" (Hb 1:9). A passagem de Isaías, da qual
Jesus extraiu a citação ao falar da Sua unção pelo Espírito (Is 61) é uma
profecia messiânica em que, no versículo três, Ele afirma que o Espírito o
ungiu para dar também a outros "o óleo de alegria".
Jesus foi tanto um Salvador jubiloso quanto um Homem de
Dores. Ele participou das nossas alegrias e quer que nos alegremos. O primeiro
fruto do Espírito é o amor e o segundo, a alegria (Gl 5:22). Davi, depois de
falar do Senhor como seu Pastor, disse: "Unges-me a cabeça com óleo"
e depois acrescentou: "O meu cálice transborda" (Sl 23:5).
A unção do Espírito traz refrigério espiritual. Tempos de
refrigério foram prometidos após o Pentecostes (At 3:20). O Espírito dá novo
frescor, nova variedade, nova suficiência. Ele dá alegria e frescor às nossas
orações, à adoração e meditação de que compartilhamos e a todos os aspectos do
nosso ministério. Ele nos dá novas promessas, mostra-nos novas profundezas na
Palavra, e nos dá nova segurança do Seu amor. Ele é criativo, original e faz
novas todas as coisas.
O Espírito Santo é o espírito da alegria e quando Ele nos
enche nos dá uma nova alegria que Pedro chama de indizível e cheia de glória (1
Pe 1:8). Um dos rios do Espírito é certamente o da alegria (Jo 7:38-39). Isto
nos faz rejubilar mesmo em meio aos sofrimentos pelos quais passamos (2 Co
6:10). Qualquer líder que queira atrair outros deve ser basicamente uma pessoa
ungida com a alegria dada pelo Espírito.
O Dr. Martyn Lloyd-Jones escreveu: "Esta 'unção' é algo
supremo. Busque-a até obtê-la; não se satisfaça com menos. Continue até que
possa dizer: 'A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem
persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder (1 Co 2:1).
Ele continua sendo poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto
pedimos, ou pensamos (Ef 3:20)". (2)
Capítulo 38
Você Pode Ser Ungido para Servir
O Espírito Santo lhe é dado, a fim de ungi-lo para uma vida
positiva e um serviço eficaz. Essas duas coisas podem ser reais e elas estão
inter-relacionadas.
1. A unção lhe dá liberdade e aptidão. A
unção do Espírito liberta-o de qualquer tipo de medo — medo do fracasso, do
futuro e da sua esmagadora tarefa. Ela o liberta do medo de Satanás e das
pessoas, que é sempre uma cilada (Pv 29:25). Ela dá forte confiança em Deus, na
Sua Palavra e na Sua sabedoria e poder.
À medida que o Espírito toca e unge, dando novas aptidões e
orientação, começamos a compreender que a nossa tarefa é na verdade mais
responsabilidade Sua do que nossa. A igreja é a Sua igreja, a causa é a Sua
causa, o nome que deve ser exaltado é o nome de Jesus. O Espírito capacita-nos
a lançar a nossa ansiedade sobre Deus (1 Pe 5:7) e a depender de Deus em tudo
de que precisamos para tornar efetivo o nosso ministério.
Quando provamos a fidelidade e o poder do Espírito, nosso
ministério se torna em um sentido novo e maravilhoso não só um dever solene,
mas uma alegria santa. Começamos a esperar com entusiasmo como Ele irá
ajudar-nos no próximo aspecto do Seu trabalho. Isto nos liberta para estarmos o
melhor possível e para recebermos o melhor dEle. A unção faz então surgir
nossas melhores qualidades e os dons de Deus em nós, e acrescenta a eles o Seu
"extra" sobrenatural — bênção extra, sabedoria extra, poder extra.
Ele nos ensina o "infinitamente mais" que pode fazer com os nossos
esforços (Ef 3:20).
2. A unção ilumina a Palavra de Deus. A
unção do Espírito pode trazer iluminação especial sobre a Escritura, tanto
quando você se prepara como quando a está pregando, ensinando ou explicando.
Finney nos diz: "Quase sempre obtenho meus assuntos de joelhos, em oração;
tem sido uma experiência comum para mim, depois de receber um assunto do
Espírito Santo, que ele tenha tamanha impressão sobre a minha mente que fico
tremendo e tenho dificuldade para escrever. Quando assuntos que parecem
atravessar-me, corpo e alma, me são dados, em poucos momentos posso fazer um
esboço que me capacita a reter a visão apresentada pelo Espírito. Percebi que
esses sermões sempre dão evidência de grande poder sobre o povo". (l)
Jesus gostava de iluminar as mentes e a compreensão
das Escrituras enquanto ensinava os discípulos. Depois de revelar-se a Cleopas
e a seu companheiro em Emaús, eles disseram: "Porventura não nos ardia o
coração, quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as
Escrituras?" (Lc 24:32) Uma hora depois ou pouco mais, quando Jesus
encontrou o grupo de discípulos no Cenáculo, lemos novamente: "Então lhes
abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras" (Lc 24:45). Jesus
abre hoje a Sua Palavra para você mediante o Espírito Santo.
Jesus prometeu com relação ao Espírito:
"Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de
anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de
receber o que é meu e vo-lo há de anunciar" (Jo 16:14-15). Ele disse
também: "Ele vos guiará a toda a verdade" (v.13). O Espírito responde
à oração: "Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da
tua lei" (Sl 119:18). Ele nos mostra a belíssima unidade da Escritura e
como um versículo lança luz sobre outro. Ele inspirou originalmente a
Escritura, sendo então Aquele que nos ajuda agora a compreender as suas
profundezas. Existem dimensões inteiras de significado que iremos perder se Ele
não nos iluminar.
"Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis
os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?" (Rm 11:33-34).
Quem senão o Espírito? Quais as profundezas de Deus que o Espírito quer revelar
para nós aqui e agora? "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais
penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...
temos recebido... o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por
Deus nos foi dado gratuitamente" (1 Co 2:9-10,12).
Ele é Aquele que nos ajuda a experimentar a doçura da Palavra
de Deus. "Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar!" (Sl
119:103). "São mais doces do que o mel e o destilar dos favos" (Sl
19:10). Ele traz uma emoção santa aos nossos corações quando nos abençoa com
verdades maravilhosas.
O Espírito Santo nos guia para aplicarmos a Palavra aos
nossos corações e às necessidades de outros. Este é o aspecto do seu ministério
que causa impacto como as batidas de um martelo (Jr 23:29), que efetivamente
traspassa o coração como uma espada e penetra os pensamentos do ouvinte (Hb
4:12). Isto torna também o encorajamento da Escritura abençoadamente real (Rm
15:4).
3. A unção ensina. O ministério de
ensino do Espírito, à medida que unge, está relacionado de perto com a Sua
iluminação. "A unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes
necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a
respeito de todas as cousas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele,
como também ela vos ensinou" (1 Jo 2:27).
Jesus é o seu grande Professor. Ele foi chamado Mestre, isto
é, Professor, durante o Seu ministério terreno. Seu ensino incluiu a
interpretação da Escritura, a transmissão de nova verdade, aplicação da
Escritura às vidas e ministério diário dos discípulos e instruções práticas
para o seu ministério.
O Espírito Santo foi enviado para continuar o ministério de
ensino de Jesus (Jo 16:12-15). Este é um aspecto importante da Sua unção. Ele
nos guia a toda a verdade (Jo 16:13). Sua orientação faz parte do seu
ministério de ensino (Rm 8:14). Ele nos lembra do que Jesus disse e da verdade
bíblica (Jo 14:26). Ele nos ensina o que orar e como orar (Rm 8:26-27). Ele
ensina tanto nos guiando como nos restringindo.
Isaías prometera que todos os crentes seriam ensinados pelo
Senhor (Is 54:13). Jesus disse que este seria o ministério do Espírito. "O
Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as cousas" (Jo 14:26). Isto, diz João (1 Jo 2:27), é o que
faz a unção do Espírito dentro de nós.
Nenhum líder cristão sabe o bastante para fazer sozinho a
obra de Deus. Não podemos senão exclamar com Paulo: "Quem, porém, é
suficiente para estas coisas?" (2 Co 2:16). "Não que por nós mesmos
sejamos capazes de pensar alguma cousa, como se partisse de nós; pelo
contrário, a nossa suficiência vem de Deus" (2 Co 3:5). Todo líder cristão
deve ser constante e totalmente dependente de Deus. Não temos outra alternativa
senão ser ensinados continuamente pela unção do Espírito.
O Espírito não deve apenas guiar-nos e ensinar-nos em nossos
alvos, estratégias e ação. Ele deve guiar-nos em nossas atitudes, posição
sobre assuntos e até em nossas palavras (1 Co 2:10-14). Não só quando ficamos
diante de autoridades cívicas, mas também em muitas atividades de liderança
devemos receber respostas dadas pelo Espírito (Mt 10:19-20).
4. A unção confere
autoridade espiritual. O Espírito capacita
você a exercer autoridade em oração, por ser filho de Deus (Ef 3:12). Isto
inclui ousadia confiante para aproximar-se do trono da graça e uma confiança e
ousadia santas em reivindicar as promessas de Deus (Hb4:16; 10:19-22). Temos a
enorme responsabilidade de interceder pelo nosso povo e usar nossa autoridade
em orações contínuas por eles.
A unção capacita você a usar a sua
autoridade para resistir a Satanás. O pastor deve defender o rebanho de Deus.
Cristo nos deu autoridade para vencer todo o poder de Satanás (Lc 10:19). Ele
deu a Seus discípulos autoridade para expelir demônios e curar moléstias (Lc
9:1). Este não é hoje o nosso principal ministério, embora seja necessário em
muitas situações nas missões e para enfrentar o mundo oculto. Não devemos fugir
de situações que subitamente nos confrontam. Deus, o Espírito, pode usar você a
qualquer tempo para repreender Satanás, reivindicando a autoridade de Cristo.
Ele nos leva às vezes a resistir fortemente a Satanás e a todos os seus poderes
das trevas (Tg 4:7). A Palavra de Deus promete que o Diabo irá então fugir de
nós. Devemos resistir a ele, mantendo-nos firmes na fé (1 Pe 5:9).
O Espírito confere grande autoridade para
usar o nome de Jesus em oração (Jo 14:13-14; 15:16; 16:23-27) ou ao
confrontar demônios (Mc 16:17). Ele nos confere autoridade para dar a ordem de
fé (Mt 17:20). De fato, ele nos dá autoridade para fazer tudo no nome de Jesus (Cl
3:17). Satanás teme esse Nome. Vamos usá-lo com sabedoria, mas também com
autoridade.
Não ministramos por conta própria; somos
embaixadores de Cristo (2 Co 5:20), colaboradores de Deus (1 Co 3:9; 2 Co 6:1).
Quando proclamamos a Palavra de Deus, fazemos isso em nome de Deus. Quando
oferecemos perdão de pecados através de Cristo, fazemos isso em nome de Deus. A
unção nos dá um amor e uma autoridade que vão além de nós.
5. A unção reveste com o
poder de Deus. Miquéias testificou: "Estou cheio
do poder do Espírito do Senhor... de força" (Mq 3:8). Jesus ordenou aos
seus discípulos (tanto os apóstolos como os leigos, tanto homens como mulheres)
que adiassem o início do seu testemunho e ministério e esperassem em Deus até
que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24:49).
7. A unção traz resultados.
A unção não garante a sua aceitação, que multidões irão
assistir ao seu ministério ou que milhares de pessoas serão levadas a Cristo.
Mas Deus nem sempre mede o sucesso como nós. A unção produzirá os efeitos
pretendidos pelo Espírito. Deus tem muitos propósitos para o ministério de Seus
servos cheios do Espírito. O propósito de Deus pode ser novo consolo para o Seu
povo, nova fé e expectativa, nova visão de responsabilidade, novo compromisso
com o evangelismo e com o evangelismo mundial, novo compromisso com o
reavivamento, novo sustento financeiro para a causa de Deus, nova compaixão
pelos necessitados, novo senso de chamado divino para o serviço cristão, nova
unidade do Espírito. Deus sempre tem múltiplos propósitos divinos para
realizar. Ele pode colocar muitos deles em um único culto, uma visita, uma
conversa ou uma reunião.
Se o Espírito ungir a presidência de um comitê,
haverá um senso especial de clareza e eficiência ao tratar o assunto. Se Ele
ungir o ensino de uma aula, haverá atenção especial, maior entendimento e
verdadeiro aprendizado. Se Ele ungir o cantar de um hino, haverá uma sensação
especial da bênção de Deus e as palavras constituirão uma verdadeira mensagem.
Se o Espírito ungir um sermão, ele deixa de ser uma preleção e torna-se a
mensagem de Deus. As pessoas sabem que Deus falou com elas e as tocou. Se Ele
ungir a oração, haverá uma sensação da mão de Deus sobre quem ora, um
sentimento de comunhão abençoada, ou profundo interesse, ou fé real, e de
prevalecer diante de Deus.
Escrevendo do ponto de vista de um pastor, Oswald J. Smith
disse:
Não se gabe mais da sua unção
se não amar as almas. Oh, meu irmão, diga-me; não, diga a Deus: Você tem o
fardo? Conhece a paixão da qual falo? É perseguido dia e noite pelo pensamento
de que milhares estão indo para as regiões do desespero... O Espírito Santo
desperta você durante as horas de sono para interceder a favor dos homens e
mulheres perdidos? Você já agonizou ao pensar nos que perecem? Sabe alguma
coisa sobre o trabalho da alma? Quando foi a última vez que lutou com Deus
pelos entes queridos que não estão em Cristo? Pois, esteja certo, se tiver sido
verdadeiramente ungido pelo Espírito Santo, essa será a sua experiência.
...Ah, esse fardo, esse fardo
pelas almas — como ele caracterizou os ungidos de Deus através dos séculos!
Paulo, Carvasso, Oxtoby, Whitefield, Stoner, McCheyne, Brainerd, Bounds, Hyde e
uma porção de outros, grandes lutadores com Deus. Deles, meus irmãos, é a
experiência que almejo acima de todas, pois tinham o selo de Deus. Não havia dúvida sobre a sua unção; eles todos estavam cheios
do Espírito, até o último deles, pois faziam trabalho na alma pelos que
perecem." (3)
Spurgeon escreveu: "É o
poder extraordinário de Deus, não o talento, que ganha o dia. É a unção
espiritual extraordinária, e não o poder mental extraordinário, que
necessitamos. O poder mental pode encher uma capela, mas o poder espiritual
enche a igreja com angústia de alma. O poder mental pode reunir uma grande
congregação, mas só o poder espiritual pode salvar almas. O que precisamos é de
poder espiritual". (4)
A UNÇÃO É PARA VOCÊ, SE...
A unção do Espírito é a provisão de Deus
para você como Seu filho e ainda mais para você como líder do Seu povo. Deus
conhece a sua necessidade e tem prazer em satísfazê-la. Não merecemos tal
bênção, mas ela é nossa, basta pedir, buscar e receber. Ela não é automática;
não é para os espiritualmente indolentes, descuidados ou desobedientes. É o
extra sobrenatural de Deus acrescentado ao que você tem de melhor.
Bounds ensinou que a unção "é um dom
condicional, e a sua presença é perpetuada e aumentada pelo mesmo processo pelo
qual foi primeiro assegurada; pela oração incessante a Deus, pelos anseios
apaixonados por Deus, calculando-a, buscando-a com ardor incansável,
considerando tudo perda e fracasso sem ela". Ele acrescentou:
"Oração, muita oração, é o preço... oração, muita oração, é a única
condição para manter esta unção. Se não orarmos incessantemente, a unção não
virá".
Charles Finney disse: "Quero repetir, com grande ênfase,
que a diferença na eficiência dos ministros não consiste tanto na diferença das
realizações intelectuais quanto na medida do Espírito que possuem... Até que
saiba o que é ser 'cheio com o Espírito', receber o poder do alto, ele não é de
forma alguma qualificado para ser líder da Igreja de Deus. Mil vezes mais
ênfase deve ser dada a esta parte da preparação para o ministério do que tem
sido dado até agora." (5)
Oswald J. Smith escreveu: "Tenho plena certeza de que o
homem que não passa horas sozinho com Deus jamais conhecerá a unção do Espírito
Santo. O mundo deve ficar de fora até que Deus encha a visão... Deus prometeu
responder à oração. Não se trata de Ele não estar disposto, pois o fato é que
está mais disposto a dar do que nós a receber. Mas o problema é que não estamos
prontos..." (6)
TANTO PERMANENTE QUANTO RENOVÁVEL
A unção do Espírito é tanto permanente quanto renovável. Ela
permanece apenas sobre os que estão cheios do Espírito. Ser cheio do Espírito
não significa apenas ter interesses espirituais. Ser cheio do Espírito, ficar
sob o completo controle do Espírito, é o resultado de uma crise definida de total
entrega e apropriação pela fé por parte de um verdadeiro crente (Rm 12:1-2).
Devemos oferecer-nos como sacrifício vivo, ressurreto dentre os mortos.
Ser cheio do Espírito é mais que consagração. A consagração
é a condição necessária. O encher do Espírito é a resposta divina à nossa
rendição total, nosso presente e nosso futuro — nosso tudo. Não estamos cheios
até obter a resposta divina. Então estaremos vivendo a nossa vida espiritual
num plano mais alto, profundo e vitorioso, vida completamente no Espírito, vida
controlada pelo Espírito.
É possível ser novamente cheio com o Espírito? Certamente,
se mantivermos a nossa consagração e obediência podemos receber novos
derramamentos, novos enchimentos do Espírito, conforme a necessidade. Veja o
Capítulo 11 sobre a necessidade de capacitações repetidas.
Alguns cristãos usam o termo ''unção" como o
equivalente da plenitude do Espírito. É muito mais exato falar das unções como
aquelas capacitações especiais do Espírito, geralmente dadas apenas aos cheios
do Espírito e em tempos de necessidade, especificamente no ministério.
Note estas palavras de Oswald J. Smith: "A pergunta é:
Que nova unção recebi na semana passada? Minha experiência está atualizada?
Tantos testificam sobre algo maravilhoso que ocorreu há anos, mas suas vidas
são tão vazias que fica claro terem perdido há muito tempo a frescura daquilo
que receberam. Devemos ser ungidos repetidamente, uma nova unção para cada novo
serviço." (7)
PRECAUÇÕES! Não tenha a unção do Espírito como garantida.
1. Não suponha que pelo fato de Ele ter ungido você no
passado Ele irá ungi-lo agora. Viva de modo que Ele não hesite
em ungi-lo novamente. Peça repetidamente a Sua unção. Você precisa dela para a
sua vida e ministério.
2. Não tenha a Sua unção como garantida nem falhe em
fazer a sua parte para manter-se abençoado e disponível. Ele está mais
desejoso de ungir você do que você de ser ungido, mas não ouse tornar-se
descuidado espiritualmente e deixar de andar perto de Deus.
3. Não tenha a Sua unção
como garantida nem deixe de fazer a sua parte na preparação e diligência para o
seu ministério. Se for um cantor ou
músico, não se descuide em praticar. Se for um orador ou escritor, não ouse ser
negligente no estudo preparatório. Não peça a Deus para ungir a sua escolha secundária.
Capítulo 39
Você Precisa Ser uma Pessoa de Deus
Seu objetivo mais alto como líder cristão deve ser o de ser
uma pessoa de Deus. Poucos nos tempos bíblicos receberam este título — Moisés,
Samuel, Davi, Elias, Eliseu, Timóteo e alguns outros. O termo poderia ser, sem
dúvida, usado apropriadamente por líderes como Isaías, Daniel e Paulo. Talvez
não haja honra maior a ser dada a qualquer pessoa do que ser considerada um
homem ou uma mulher de Deus.
Nenhum de nós se sentiria digno deste termo. Às vezes, no
Antigo Testamento, ele parecia ser usado para um profeta de Deus ou alguém
enviado especialmente por Ele. Certas pessoas de boa fé algumas vezes usaram
este termo para honrar todos os líderes, pastores e missionários cristãos. Mas
nenhum líder é automaticamente uma pessoa de Deus só porque o seu ministério se
relaciona com a igreja, inclui deveres sagrados, ou por ter dedicado sua vida
ao ministério cristão.
Quem é uma verdadeira pessoa de Deus? Talvez nos sintamos
mais livres para notar traços de personalidade que não deveriam estar nas
pessoas de Deus do que definir alguém que o é. Todavia, todos nós reconhecemos
aqueles aspectos da piedade que colocam o selo de Deus sobre o indivíduo. Cada
um de nós deseja ter mais do selo de Deus sobre a nossa vida. O que isto
inclui?
MARCAS DE UMA PESSOA DE DEUS
1. A pessoa de Deus vive consistentemente uma vida
santa e reta. Só Deus é perfeito na santidade. Só Deus é
infinita e eternamente justo. Cada um de nós pecou (tempo passado) e carece (tempo
presente) da glória de Deus (Rm 3:23). Mas Deus pode dar-nos um compromisso
firme com a Sua vontade, Sua verdade e Sua glória. Podemos viver vitoriosos e
abençoados no presente, momento a momento. Podemos andar na luz como Ele está
na luz e experimentar a purificação contínua de todo o pecado (1 Jo 1:7). Todos
tropeçamos de muitas maneiras e descobrimos freqüentemente que estamos em falta
(Tg 3:2). Mas a firmeza de alma, o hábito de andar com Deus podem ser uma vida
de consistente retidão e santidade. Se pecarmos, temos alguém que fala ao Pai
em nossa defesa — Jesus Cristo, o infinitamente Justo (1 Jo 2:1). Pela graça de
Deus podemos viver em santidade e justiça diante dEle todos os nossos dias (Lc
1:75). Qualquer pecado ou defeito moral num líder cristão traz imediato
escândalo ao nome de Cristo e à igreja de Cristo. Toda pessoa de Deus deve
viver em santidade e retidão.
2. A pessoa de Deus vive uma vida de amor. Deus
é amor, e quanto mais santos nos tornamos tanto mais o amor de Deus será
manifestado em nós. "Andai em amor" (Ef 5:2). "Todos os vossos
atos sejam feitos com amor" (1 Co 16:14). "O fruto do Espírito é:
amor" (Gl 5:22). Não há outro mandamento maior que o amor (Mc 12:31).
Se existe algo que acrescenta beleza ao caráter e à personalidade,
isso é o amor. Se há algo que marca o líder cristão como pessoa de Deus, é o
amor do Espírito fluindo constantemente da sua vida para outros. Nosso amor por
Deus não é maior que o nosso amor por aqueles que nos rodeiam. Isto nos marca
como sendo semelhantes a Cristo. Só isto pode tornar cristã a nossa liderança.
3. A pessoa de Deus serve aos outros. Devemos
servir uns aos outros em amor (Gl 5:13). O serviço feito com amor, acrescentado
às outras graças cristãs, coloca um selo especial sobre a pessoa. O amor sempre
serve. O amor se expressa a outros abençoando-os, ajudando-os e servindo-os
alegremente. Jesus não tolera que Seus seguidores queiram dominar uns aos
outros (1 Pe 5:3). Ninguém é bom demais para não servir. Ninguém é seguidor de
Cristo a não ser que esteja disposto a servir como fez o Mestre, que Se cingiu
com uma toalha e lavou os pés dos Seus seguidores.
Por causa de Jesus servimos a outros (2 Co 4:5). Como
pastores do rebanho de Deus devemos estar ansiosos para servir (1 Pe 5:2). Não
há lugar no homem de Deus para o orgulho de liderança, métodos, ministério,
organização ou realizações. Devemos ter coração de servo e manifestar a atitude
de servo dAquele que Se humilhou como descrito em Filipenses 2:5-8.
4. A pessoa de Deus manifesta o lindo fruto do Espírito.
Jesus nos assegurou que se a árvore for boa o fruto será bom
(Mt 12:33). Se o Espírito nos controlar, Ele manifestará Seu fruto santo
através das nossas atitudes, disposição de espírito, palavras e atos. Todos,
disse Jesus, são reconhecidos pelo seu fruto (Mt 7:16).
A pessoa de Deus tem fruto santo, santidade de disposição,
de emoções, de estilo de vida espiritual. Paulo descreve o fruto do Espírito em
Gálatas 5:22-23. O líder cristão leva com ele o aroma fragrante de Cristo (2 Co
2:15). O Espírito Santo concede a beleza, o encanto, o próprio espírito de
Jesus. Este é um elemento essencial do selo do Espírito sobre um homem ou uma
mulher de Deus.
5. A pessoa de Deus é
cheia com o Espírito. "Tomados de toda a plenitude de
Deus" (Ef 3:19), "toda a plenitude da divindade" (Cl 2:9),
"enchei-vos do Espírito" (Ef 5:18), "cheios do fruto de justiça,
o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus" (Fp 1:11).
A Bíblia certamente nos mostra um quadro surpreendente! Mas de todos os termos
usados por ela para descrever esta realidade santa, "cheios do
Espírito" é de longe o mais freqüentemente usado.
Ser cheio do Espírito significa estar impregnado com o
Espírito, transbordando do Espírito, completamente possuído, controlado,
dominado e transformado pelo Espírito. Ser cheio do Espírito implica que a
pessoa está plenamente à disposição do Espírito, completamente influenciada
pelo Espírito e embelezada com a graça e o fruto do Espírito.
Ser cheio significa que toda a personalidade está impregnada
pelo Espírito, invadida pelo Espírito e saturada com o Espírito que a pessoa
não é só espiritual, mas está repleta do Espírito. Ficar cheio do Espírito
implica a presença e poder do Espírito repousando sobre a sua pessoa,
revestindo você e manifestando-se através de você. Isso provoca uma diferença
em você, uma nova dimensão dada por Deus e uma nova plenitude transformadora em
sua vida e liderança, Você reconhece isso e outros também reconhecem. Esse
encher do Espírito acrescenta à sua personalidade a semelhança de Cristo e um
poder dado por Deus ao seu testemunho, ministério e liderança. Ele marca você
como uma pessoa de Deus.
OS OUTROS RECONHECEM A PESSOA DE DEUS
Quando Deus coloca o Seu selo sobre você, não só os filhos de
Deus reconhecem quase sempre isso, mas os não-salvos podem também perceber
alguma coisa diferente em você. Até Satanás reconhece a pessoa de Deus.
Davi, que era chamado de homem segundo Deus, disse:
"Sabei, porém, que o Senhor distingue para si o piedoso; o Senhor me ouve
quando eu clamo por ele" (Sl 4:3). Um dos meios de Deus nos separar é
colocando o Seu selo na nossa vida de oração e nos dando muitas respostas para
a oração. Quando Deus respondeu à oração de Elias de maneira tão destacada e
repetida, a viúva de Sarepta disse: "Nisto conheço agora que tu és homem
de Deus, e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade" (1 Rs 17:24).
No Monte Carmelo, Elias sentiu que o selo de Deus era
essencial para o seu ministério caso a nação devesse voltar para Deus. Ele
então orou: "Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique hoje
sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo... Responde-me, Senhor,
responde-me, para que este povo saiba que tu, Senhor, és Deus, e que a ti
fizeste retroceder o coração deles. Então caiu fogo do Senhor... O que vendo
todo o povo, caíram de rosto em terra, e disseram: O Senhor é Deus! O Senhor é
Deus!" (1 Rs 18:36-39).
Mais tarde, quando desafiado e chamado de "homem de
Deus", Elias respondeu: "Se eu sou homem de Deus, desça fogo do
céu" (2 Rs 1:10). E o fogo caiu. Deus está pronto a colocar o Seu selo
sobre você quando vê que você precisa dele e que outros irão reconhecê-lo. A
sua vida de oração tem muito a ver com o fato de você ser uma pessoa de Deus e
a sua aceitação por parte de outros nesse papel.
Depois de Eliseu ter comido várias vezes na casa deles, a
sunamita disse ao marido: "Vejo que este que passa sempre por nós é santo
homem de Deus" (2 Rs 4:9). Ela preparou então um quarto para o profeta
usar sempre que os visitasse. Por que fez isso? As pessoas que têm fome de Deus
querem estar perto de uma pessoa de Deus. Minha mãe me contou que, quando eu
era criança e uma visita começava a falar do Senhor, eu ficava o mais perto que
podia da sua cadeira. Até uma criança pode sentir a realidade espiritual numa
pessoa de Deus.
Quando as mulas de Saul se perderam, o seu servo lhe disse:
"Nesta cidade há um homem de Deus, e é muito estimado; tudo quanto ele
diz, sucede" (1 Sm 9:6). As pessoas respeitam quem é de Deus, mas perdem o
respeito quando o líder cristão não prova por sua vida, sua oração e suas
palavras que é verdadeiramente uma pessoa de Deus.
Quando Sadhu Sundar Singh, amado cristão indiano, estava em
casa de um amigo nas montanhas do Himalaia, ele costumava sentar-se durante
horas na neve, no escuro, para orar. Certa noite seu amigo olhou para fora e
viu um animal selvagem aproximar-se de Sadhu. Ele deitou-se ao lado do santo
que orava. Depois de algum tempo, Sadhu percebeu a presença
dele, estendeu a mão e agradou-o. Até o animal feroz pareceu reconhecer Deus
nele e não o atacou.
A PESSOA DE DEUS TRAZ BÊNÇÃO
Quando Charles Trumbell, escritor evangélico
e jornalista, era um garotinho brincando na rua, viu Adoniram Judson passar. O
menino ficou tão impressionado com a presença de Deus na fisionomia de Judson
que o seguiu até o seu hotel e fez com que o seu pastor o visitasse.
Por ocasião da morte de Robert Murray McCheyne,
foi encontrada em sua mesa uma carta que lhe era dirigida. A carta continha
estas palavras: "Não foi nada do que o senhor disse que me fez desejar ser
cristão, mas a beleza da santidade que vi em sua face".
O Rev. Duncan Campbell ansiava pela presença
de Jesus mais que tudo neste mundo, até que às vezes Jesus era mais real para
ele do que seus amigos desta terra. Ministros, estudantes, pescadores, donas de
casa que o conheceram percebiam seu amor por Jesus. Um jovem disse: "Mesmo
que você ainda não acreditasse em Deus, não poderia continuar ateu depois de
ter conhecido esse homem. Era possível ver Jesus na sua vida e tocar Jesus no seu
ministério". (1) Repetidamente as pessoas viam a glória-Shekinah de Deus
no seu rosto.
O Dr. Martyn Lloyd-Jones conta que quando Robert Murray
McCheyne subia ao púlpito, muitas vezes antes que tivesse
tempo de abrir a Bíblia, as pessoas começavam a chorar. Ele levava a própria
presença de Deus consigo.
A pessoa de Deus leva bênção aonde quer que
vá. Ela leva consigo a presença de Deus. Esse indivíduo pode viver normalmente,
ter um lar feliz, comparecer a eventos alegres e misturar-se com o povo — Jesus
fez isso. Mas a pessoa de Deus deixa impressões santas. Os que falam com ela
sentem a bênção de Deus em seu contato.
O CUSTO DE SER UMA PESSOA DE DEUS
Ninguém se torna uma pessoa de Deus por acidente. Ninguém se
torna uma pessoa de Deus da noite para o dia. Tornamo-nos filhos de Deus em um
instante; mas só nos tornamos pessoas de Deus depois de algum tempo. Um
compromisso casual com Cristo não fará de você um santo ou semelhante a Cristo.
Ninguém se torna uma pessoa de Deus exceto mediante uma decisão deliberada de
alma. Você não pode ganhar a intimidade com Cristo; existe um preço a pagar.
1. Mantenha um compromisso supremo com Jesus.
O custo é um compromisso prioritário com Jesus. Ele deve tornar-se o seu
Alfa e Omega, seu desejo supremo. O custo é dar o seu tempo a Ele, uma
auto-entrega generosa, a separação da sua pessoa para Jesus. Custa também um
amor ardente por Jesus, a dedicação sacrificial a Ele e expressões claras de
seu amor por Ele.
É preciso haver uma busca determinada e resoluta para
agradar Jesus; acima de tudo, uma atitude de alma do tipo "Jesus
primeiro". Deve haver uma espera na Sua presença, e não somente
disposição, mas tempo real de qualidade com Jesus. Ele deve ser a sua suprema
alegria, sua paixão transcendente, sua glória radiante, enquanto você
compartilha Sua comunhão ininterrupta e contínua, se aquece em Sua presença e
se deleita em Seu amor.
A seguir, com a face desvendada, você irá refletir a glória
de Jesus e ser constantemente transfigurado (o exato termo grego) de glória em
glória, na sua própria imagem (2 Co 3:18). isto é o que Paulo chama de seguir a
piedade (1 Tm6:ll). Essa atitude requer esforço contínuo, vontade, persistência
e inflexibilidade. Sem levar em conta o que mais precise ser sacrificado, você
deve dizer com Paulo: "Isto faço".
2. Treine para ser santo. Paulo
contrasta o treinamento físico com o espiritual (1 Tm 4:7). O termo grego usado
por Paulo é a raiz para a nossa palavra "ginásio". Ele implica
exercício disciplinado, regular, enérgico. Assim como o atleta olímpico ao
treinar para o maior evento da sua vida sacrifica tudo o mais e se disciplina
para fortalecer e treinar o seu corpo, você também deve gastar as suas energias
e as suas horas, na medida do possível, investindo o seu tempo e fazendo os
sacrifícios exigidos para ser mais verdadeiramente uma pessoa de Deus.
Qual o propósito de fazer deste treinamento santo, desta
disciplina espiritual sua suprema prioridade? É para conhecer Jesus, tornar-se
um só espírito com Jesus e identificar-se com Jesus, de maneira a ser
transfigurado na sua semelhança (2 Co 3:18). A sua suprema prioridade não é o
que você faz por Jesus, mas ser como Ele. Então, tudo o que faz tão
apaixonadamente para Ele fluirá deste mais profundo dos compromissos.
A fim de tornar isto possível, são necessários mais dois passos:
3. Impregne a sua alma com a Palavra. Mergulhe
na Palavra desde Gênesis até Apocalipse, mas
especialmente em tudo que se relacione com Jesus, incluindo todo o Novo
Testamento e os Salmos. Esse é o meio mais tangível à sua disposição.
Alimente-se da Palavra de Deus, beba da Palavra de Deus, banhe a sua alma na
Palavra de Deus. Leia a Palavra — leia toda ela. Leia várias vezes até que ela
penetre nas fibras do seu ser espiritual.
Você não pode ser uma pessoa de Deus sem
ser uma pessoa da Palavra. Se tiver de ser uma autoridade em alguma coisa, seja
uma autoridade na Palavra de Deus. Se tiver um passatempo de qualquer espécie,
faça da Palavra de Deus o seu passatempo. Se passar algum tempo lendo, leia a
Palavra de Deus. Pense nela, medite sobre ela, memorize-a, sonhe com ela.
Aplique-a em seu coração e sua vida. Passe tempo de qualidade a cada dia com a
Palavra.
A Palavra irá alimentar, nutrir e fortalecer você.
Ela irá iluminar e guiar você. Faça dela o seu guia prioritário e sua autoridade
final. Quando a Palavra de Deus fala, decide as coisas para você. Paulo nota em
2 Coríntios 3:16 (grego) que o Espírito Santo retira o véu que cobre o coração
dos não-salvos quando eles lêem a Bíblia. O Espírito, através da Palavra, nos
transfigura à semelhança de Jesus de um para outro grau de glória. É isto que
nos torna pessoas de Deus. Você deve passar aproximadamente tanto tempo com a
Bíblia (não apenas com livros sobre a Palavra) quanto em oração.
4. Dê a Jesus o seu tempo de oração. A
oração é a maneira melhor e mais benéfica em que você pode investir o seu
tempo. A oração é a atividade mais cristã em que você pode envolver-se, pois
Ele vive hoje para interceder. A oração é o maior, mais duradouro e mais
compensador investimento que você pode fazer enquanto estiver vivo na terra. A
oração é o presente mais precioso que você pode dar a Jesus.
Moisés estava mais próximo de Jesus e passou mais tempo com
Jesus, ao que sabemos, do que qualquer outro líder do Antigo Testamento. Quando
os israelitas viram Moisés depois de ter ficado quarenta dias na montanha, não
pareceram ficar especialmente impressionados. Mas depois dos oitenta dias na
montanha, ficaram intimidados com a glória em seu rosto.
Passe muito tempo com Jesus, tanto em comunhão como compartilhando
o seu fardo intercessório pelo mundo e pela igreja. Quando os maridos e esposas
se amam e ficam juntos muitos anos, eles aparentemente começam a ficar
parecidos. Com freqüência têm atitudes, gestos e vocabulário semelhantes, e até
às vezes fisionomias semelhantes. Quando uma criança faz de um dos pais o seu
ídolo, é possível notar uma semelhança nos seus gestos, atitudes e palavras.
Para nos tornarmos uma pessoa de Deus, devemos passar muito
tempo com Jesus. Quanto mais você O amar, tanto mais desejará passar tempo com
Ele. Uma vida de oração fraca sempre evidencia um amor fraco por Jesus. Você
não pode ter uma vida de oração simplesmente nominal ou casual quando é
ardentemente dedicado ao Senhor. Quanto mais está com Ele, tanto mais irá
pensar e falar como Ele, responder e assemelhar-se a Ele. Você será uma pessoa
de Deus.
Gaste tempo para ser santo, fale
sempre com o seu Senhor.
Permaneça nEle sempre e alimente-se da Sua Palavra...
Gaste tempo para ser santo, o
mundo avança apressado;
Passe muito tempo a sós e em segredo com Jesus.
Olhando para Jesus, vai
assemelhar-se a Ele;
Os seus amigos, em sua conduta,
verão a Sua semelhança.
W. D. Longstaff
Capítulo 40
A Pessoa de Deus e a Integridade Santa
Deus quer ver integridade no Seu povo (1 Cr 29:17). A pessoa
de Deus deve ser conhecida pela sua integridade santa. Nada é mais importante
no líder cristão. A santidade ou piedade é mais que um compromisso mental total
com a autoridade da Palavra de Deus e as doutrinas da Escritura. Precisamos
desse compromisso mental, mas isso não basta. Piedade é também mais que emoções
de alegria e amor quando cantamos hinos e coros sobre a grandeza, bondade e
fidelidade de Deus, sobre o amor de Jesus e o poder do Espírito. Precisamos
ficar comovidos pelo Calvário até que nossos corações e olhos se encham de
lágrimas, mas piedade é mais que a mais santa das emoções.
A piedade ou santidade inclui um compromisso da vontade que
resulta em atos justos e vida santa. O olho deve ser claro e bom antes que o
corpo possa ser inundado de luz (Mt 6:22). O coração deve ser puro antes que
atitudes, pensamentos e palavras sejam consistentemente puros.
Segundo a Bíblia, a fé que nos salva também santifica. O
compromisso pessoal com Cristo traz a habitação interior do Espírito, e o fruto
do Espírito em sua totalidade traz a semelhança de Cristo. O Espírito aplica a
soberania de Cristo sobre a vida inteira. Não há alternativa para a santidade
cristã com todas as suas implicações éticas.
O caráter de uma pessoa de Deus é manifestado em atitudes e
atos santos. A não ser que palavras santas saiam de um coração santo, elas não
têm poder. E a não ser que a santidade resulte em total integridade, ela é uma
pseudo-santidade. Nenhuma pessoa de Deus pode descuidar-se com respeito à
integridade.
Até que os atos e o estilo de vida sejam
justos e santos, sabemos que o coração não é santo ou piedoso. E até que o
coração seja santo, o indivíduo não é uma pessoa de Deus. A única e verdadeira
santidade é aquela manifestada na vida santa consistente. Devemos servi-Lo
"sem temor, santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias" (Lc
1:74-75).
Este padrão de santidade de vida não é
impossível para nós porque, quando o Espírito Santo nos enche, Ele nos conforma
à santidade de Deus, mediante a capacitação divina. O padrão de vida santa de
Deus para o seu povo santo é terrivelmente completo e sublime. Devemos ser
santos como ele é santo (1 Pe 1:15-16).
Ele nos chamou para uma vida santa (2 Tm 1:9). Estamos sendo
santificados (Hb 10:14). Devemos ser santos (Hb 12:14). Devemos ser santos em
tudo que fazemos (1 Pe 1:15); isto é, a santidade não é apenas teórica:
ela deve ser prática. Devemos viver vidas santas e piedosas (2 Pe 3:11).
Só com essa santidade podemos viver
sempre acima de qualquer censura (1 Tm 3:2). Desde que a obra de Deus é
confiada ao líder cristão, ele deve ser "irrepreensível" (Tt 1:6-7).
Paulo resume o sentido das suas palavras com os termos "justo, piedoso,
que tenha domínio de si" v. 8). A igreja deve estar sem qualquer
"mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef
5:27).
Nossa ética santa é tanto positiva quando
negativa. Tendo morrido para o pecado, tornamos-nos vivos para Deus. Nossa
ética santa é morrer para o pecado e para o mundo — uma separação ética
negativa rio coração e na vida. É também vida para Cristo e em Cristo. E uma
ética positiva de piedade, justiça e santidade de vida. Oferecemos nossos
corpos, e portanto todo o nosso ser, como sacrifícios vivos a Deus, santos e
agradáveis aos Seus olhos (Rm 12:1). Recusamos oferecer partes de nosso corpo
ao pecado (Rm 6:13) e deliberadamente nos oferecemos gratuita e positivamente a
Deus segundo a ética da santidade (Rm6:13,19). Não permitimos que o pecado
reine no corpo ou através do corpo, mas deixamos que Cristo reine no trono do
coração; e Seu Espírito então reina em nós, em prática ética justa e santa
mediante um caráter santo.
Isto nos leva a desejar manter integridade santa aos olhos
de todos. "Esforçai-vos por fazer o bem perante todos
os homens" (Rm 12:17). "O que nos preocupa é procedermos
honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens" (2
Co 8:21).
INTEGRIDADE NA PALAVRA
A pessoa de Deus deve ser alguém de palavra. A Sua
santidade, amor e integridade devem estar evidentes na sua conversa. Todas as
nossas declarações, relatos e escritos devem ser abertos, honestos e bondosos.
Tanto Deus como o homem nos julgam pela nossa palavra. "Digo-vos que de
toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de
juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras
serás condenado" (Mt 12:36-37).
1. Não diga nada que não esteja disposto a aceitar
como sua responsabilidade. Não diga nada sobre alguém ausente que não esteja
disposto a repetir na sua presença.
2. Tome cuidado com o impulso de sempre fazer um
comentário ou dizer algo sobre assuntos que estejam sendo discutidos. Esteja
disposto a adiar os seus comentários. Você não precisa falar tudo o que sabe a
não ser que a sua informação seja essencial para a discussão. Fale quando seus
comentários forem necessários; fique em silêncio quando eles não forem
proveitosos.
3. Seja positivo nos seus comentários sempre que
possível. Evite a reputação de ser uma pessoa negativa.
4. Tome cuidado com as lisonjas e os louvores
exagerados. Eles farão com que você perca o respeito daqueles que o ouvirem.
5. Não deixe de dar crédito aos que colaborarem com
idéias e auxílio.
6. Evite o plágio ao falar ou escrever.
7. Não assuma uma atitude de autoridade nas áreas em
que sua informação, experiência e treinamento forem incompletos.
8. Tenha cuidado com os seus comentários sobre outros
como faria caso se tratasse de um membro da sua família.
9. Seja tardio em acreditar em relatos negativos e
continue a crer no melhor enquanto for possível. Seja especialmente cuidadoso,
evitando lançar qualquer reflexo ou suspeita sobre um companheiro ou líder
cristão.
10. Jamais critique os motivos dos outros. Você
raramente pode colocar-se na posição deles e, portanto, entenda claramente a
motivação deles. Conceda sempre o benefício da dúvida. Lembre-se, você apenas
ouve as palavras e vê os atos; não conhece todos os motivos.
11. Tenha intenções totalmente sinceras em tudo o que
diz. Fale para abençoar, ajudar e guiar.
12. Seja correto em todos os detalhes ao apresentar
estatísticas e descrições. Tenha cuidado com o excesso de generalizações, declarações
suavizadas ou exageros.
13. Seja fiel na caracterização. Todas as
declarações devem ser justas, eqüitativas e sem acréscimos, a fim de que os
seus comentários possam ser repetidos sem hesitação, sem levar em conta quem
esteja presente.
14. Evite declarações dúbias. Evite
toda ambigüidade; que a sua posição seja sempre definida. Se você mudar de
posição, afirme isso, mas cuide para que não pareça ter-se equivocado. Fique
atento para ver se as pessoas pensam que não podem confiar no que você diz.
15. Peça diariamente ao Espírito Santo para
guiar ou restringir você no seu falar.
INTEGRIDADE NA ÉTICA PESSOAL
A pessoa de Deus deve manter tal integridade em sua ética
pessoal que outros possam tomá-la como modelo. Jesus estava constantemente
estabelecendo um padrão do que a vida e o ministério cristão deveriam ser. Ele
ilustrou isto com as Suas atitudes (Fp 2:5) e com Suas ações (Jo 13:15; 1 Pe
2:21).
Paulo foi consciencioso em estabelecer um exemplo que
pudesse recomendar aos seus convertidos como modelo:
"Pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém
imitar-nos" (2 Ts 3:7).
"Por termos em vista
oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos
imitardes" (2 Ts 3:9).
"Pois eu pelo evangelho
vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus
imitadores" (1 Co 4-.15-16).
Como líder cristão você é responsável
por ser um modelo para o povo de Deus. Nenhuma palavra, nenhuma atitude, nenhum
ato seu deve ser indigno de ser imitado e seguido pelo seu povo. Quer mereçamos
quer não, nossos companheiros e nossos filhos são pessoas marcadas. As pessoas
mantêm padrões mais altos para nós do que para elas mesmas.
Nossas vidas podem honrar a Cristo e constituir sermões
poderosos só quando vivermos em integridade santa que sempre reflete Cristo e
sempre conduz os outros a Ele. Nosso alvo ético pessoal deve ser a semelhança
de Cristo. O Espírito Santo deve guiar-nos constantemente, a fim de que a nossa
integridade esteja acima de qualquer censura e nossas vidas recomendem o
evangelho. Vou dar apenas alguns exemplos:
1. Esteja acima de qualquer censura em todas as suas
ações pessoais e deveres de liderança. Você sempre representa Deus e a igreja.
Você é uma pessoa marcada onde quer que vá. Seu compromisso prioritário é com
Cristo e com suas responsabilidades ministeriais.
2. Em toda decisão ética, faça da Escritura o padrão
para os seus atos. Se não houver uma declaração explícita da Escritura para
guiá-lo, baseie a sua decisão no teor geral da Palavra de Deus. Você pode
sempre fazer a pergunta: "O que Jesus faria? O que devo fazer do ponto de
vista cristão?'".
3. Mantenha seu falar, roupas, hábitos, passatempos e
estilo de vida de acordo com o que é apropriado para o seu papel de liderança e
o que for adequado para você como cristão num mundo de grande necessidade
espiritual e física.
4. Seja um exemplo na sua pessoa e sua casa, no que
se refere a limpeza, ordem, harmonia e piedade.
5. Seja um exemplo de consideração, imparcialidade,
sensibilidade aos sentimentos e direitos dos outros. Mostre sempre respeito em
todas as relações interpessoais.
6. Seja um exemplo de gentileza e maturidade em suas
reações a falta de consideração, afrontas, insultos, oposição e hostilidade de
outros. Tudo isso deve ser respondido com perdão e amor cristão, em espírito de
oração.
7. Seja um exemplo de circunspeção e discrição em
todas as suas relações com o sexo oposto. Vigie especialmente as armadilhas
latentes em seu papel como conselheiro espiritual. Fique vigilante para manter
os seus pensamentos puros como se estivesse diante de Deus.
INTEGRIDADE NAS FINANÇAS
A pessoa de Deus deve manter total integridade na sua
mordomia dos bens e finanças — em seu manuseio e prestação de contas das
finanças pessoais, e em seu manuseio e prestação de contas de todas as finanças
que passam pelo seu controle.
1. Seja um exemplo ao manter um estilo de vida
comparativamente simples e de acordo com um profundo compromisso com a
necessidade da extensão do reino de Cristo em todo o mundo e com a satisfação
das necessidades humanas.
2. Exerça toda a economia apropriada em suas despesas
pessoais e em todos os fundos confiados a você. Não fique com a reputação de
gastador.
3. Seja fiel nos gastos, segundo o pedido daqueles
que entregaram os fundos a você.
4. Seja exato em seus relatórios. Os relatórios
financeiros devem conter os detalhes adequados, ser entregues no prazo e estar
meticulosamente corretos. Os relatórios sobre o que foi feito com os fundos
doados devem ser regulares, detalhados e estritamente verdadeiros.
5. Pague as suas contas em dia. Não deixe contas sem
pagar ao sair para começar um novo ministério.
6. Mantenha-se livre de dívidas e mantenha também
livre de dívidas o seu ministério. O débito é sempre uma armadilha e muitas
vezes reflete depreciativamente sobre Cristo. É sempre melhor poupar dinheiro
antecipadamente do que tomar emprestado e depois pagar juros. Uma dívida
torna-se facilmente um senhor de escravos que prejudica o seu ministério e
mancha o seu nome. Evite a armadilha da filosofia: "Faça agora" ou
"Compre agora e pague mais tarde".
INTEGRIDADE NA ÉTICA MINISTERIAL
A pessoa de Deus deve manter o mais alto nível de
integridade em todos os aspectos de seu ministério e liderança. O ministério,
como qualquer outra profissão, tem o seu código de ética, e os obreiros
cristãos precisam constantemente manifestar a mais excelente ética em suas
inter-relações, assim como em seu trabalho.
1. Seja mais cuidadoso, mais cortês e bondoso e mais
profissional em seus deveres do que qualquer outro profissional. O nome de
Cristo e o da Sua igreja correm riscos em tudo que você faz.
2. Reconheça que você está sempre sendo chamado para
representar Deus e satisfazer as necessidades do seu povo.
3. Dê tempo integral à sua igreja e ministério. A
única exceção é quando você tem a aprovação do seu comitê ou superintendência.
Cuide para não ter uma reputação de indolência e perda de tempo. Irão pedir-lhe
repetidamente que aceite outras responsabilidades, dignas de louvor, mas que
podem destruir o seu chamado principal.
4. Seja leal à sua igreja ou organização e à sua
doutrina e herança. Qualquer desvio da sua parte em relação aos seus
compromissos originais deve ser levado ao conhecimento da igreja ou grupo.
5. Zele pela reputação da igreja de Cristo e dos seus
companheiros cristãos. O bom nome de todos deve estar a salvo em suas mãos.
6. Evite toda competição pouco sadia com outras
igrejas, ministérios ou líderes cristãos.
7. Respeite a liderança de outros líderes cristãos e
não atenda os membros deles exceto numa emergência ou com o consentimento do
outro líder.
8. Guarde as confidências sem violá-las.
9. Procure constantemente fortalecer a unidade do
Espírito no seu grupo e entre os cristãos em geral. Evite fazer parte de
qualquer grupo divisório ou panelinha de igreja.
10. Enquanto procura agradar o seu povo, mantenha o
desejo de agradar a Deus como prioridade final.
11. Modele e desenvolva respeito leal pelo governo e
cidadania cristã ativa.
12. Considere o seu serviço como o aspecto principal
e a remuneração pelo serviço ou avanço financeiro como ponto secundário.
Lembre sempre que, mesmo quando você não ocupa um cargo de
liderança, você é sempre considerado um líder cristão. Você tem o direito de
relaxar particularmente, de ter tempo pessoal e de estar com a família. Mas,
mesmo então, continua sendo um representante de Cristo e da Sua igreja. Você
jamais deixa o cargo como pessoa de Deus. Mantenha a sua integridade em tudo o
que fizer e para onde quer for. Dessa forma, o selo de Deus pode continuar a
repousar sobre você e o Seu poder pode continuar a revesti-lo.
Capítulo 41
Seja Cheio com o Espírito
Não existe um mandamento mais abençoado na Palavra para você
como cristão, e especialmente como líder cristão, do que "enchei-vos do
Espírito" (Ef 5:18). Ele é paralelo e subjacente ao mandamento de Cristo a
Seus discípulos para que não começassem o seu ministério até serem revestidos
com poder do alto (Lc 24:48). Eles deveriam aguardar até serem batizados com o
Espírito Santo (At 1:4-5). Quando isto foi cumprido no dia de Pentecostes,
outro termo foi usado. Eles ficaram "cheios do Espírito Santo" (At
2:4). Pedro explicou que esta promessa do Pai não era só para os 120, mas disse
ele: "para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os
que ainda estão longe, isso é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar" (At
2:39).
Quando Pedro explicou que os romanos na casa de Cornélio
haviam recebido a mesma experiência que os 120 no Pentecostes, ele disse que o
coração deles estava purificado pela fé (At 15:8-9). Os dois elementos
essenciais são, portanto, pureza e poder. As manifestações externas do Espírito
podem ser variadas ou não estar presentes de forma alguma. Mas a necessidade
essencial de cada um de nós é pureza e poder.
Em capítulos anteriores, escrevi muito sobre o poder, a
unção e a capacitação do Espírito, elementos essenciais para a nossa liderança.
Você talvez suspire intimamente, enquanto admite com tristeza que este poder
constante, esta presença dinâmica do Espírito, não caracterizou a sua vida e o
seu ministério até agora. Não desanime. A promessa de Deus é certamente para
você, como foi para Pedro e Paulo. Deus não faz acepção de pessoas nem de
períodos da história cristã. Deus se apraz tanto em derramar o Seu Espírito
hoje como antes.
J. Gregory Mantle pergunta: "Uma coisa é
ter o Espírito e outra muito diferente é estar 'cheio' do Espírito. Você pode
estar cheio, como a árvore na primavera fica cheia de seiva; cheia no caule,
cheia nas folhas. Você pode estar cheio do Espírito, como o ferro em brasa está
cheio de fogo. Você pega o ferro, ele está frio, duro e negro. Você o coloca no
fogo e o fogo entra nele, e em breve o fogo muda a sua cor. Esse ferro quase branco
está agora possuído pelo fogo, interpenetrado pelo fogo dentro dele. É assim
que somos cheios?"
O Dr. A. J. Gordon, fundador do que é agora o Gordon
College e cujo nome o Seminário Teológico Gordon-Conwell recebeu, citou este
esclarecimento de Andrew Murray:
Assim como havia uma operação
dupla de um só Espírito no Velho e no Novo Testamento, da qual a condição dos
discípulos antes e depois do Pentecostes foi uma ilustração surpreendente, pode
haver, e na maioria dos cristãos há, uma diferença correspondente de
experiência... Quando o distinto reconhecimento do que a habitação interior do
Espírito deveria trazer é dado à alma, ela se dispõe a desistir de tudo para
participar desse experimento — o crente tem condições para pedir e esperar o
que pode ser chamado de batismo do Espírito (em fraseologia contemporânea — um
encher-se do Espírito). Ao orar ao Pai de acordo com as duas orações em Efésios
e ao aproximar-se de Jesus na entrega renovada da fé e obediência, ele pode
receber um influxo do Espírito Santo que o elevará conscientemente a um nível
diverso daquele em que vivera até então.
É possível que você jamais tenha sido verdadeiramente
enchido pelo Espírito. Cada pessoa no momento do novo nascimento recebe o
Espírito Santo; assim sendo, cada verdadeiro cristão tem a habitação interior
do Espírito (Rm 8:9). Todavia, o Espírito não enche você totalmente até que
tenha feito uma entrega total do seu ser a Ele. Paulo se refere a isto como
oferecer-se em sacrifício vivo (Rm 12:1). Só um cristão nascido de novo pode
fazer isto.
O Espírito Santo não faz uma obra de purificação,
santificação, enchimento e capacitação em ninguém que esteja em rebelião contra
Deus. Primeiro o pecador deve ser regenerado e vivificado em Cristo. A seguir
ele pode apresentar-se como sacrifício vivo para ser cheio, purificado e
capacitado. Recebemos todo o Espírito no momento da salvação, mas Ele não opera
todo o Seu ministério em nós ao mesmo tempo.
TERMINOLOGIA DO ENCHIMENTO COM O ESPÍRITO
A Bíblia não é escrita na forma de um manual teológico. Os
escritores bíblicos descrevem a graça de Deus operando na alma e insistem para
que nos apropriemos dessa graça. A Bíblia inclui testemunhos dos que foram
transformados pela graça de Deus. A Escritura usa linguagem humana ilustrada e
muitas das verdades teológicas mais profundas são descritas em palavras e
frases desse tipo.
Nenhuma palavra ou frase humana pode descrever
adequadamente, por si mesma, a obra da graça de Deus na alma. Portanto, Deus
faz uso de muitos desses termos. Toda a verdade da Escritura só pode ser
compreendida quando usamos todos os termos que o Espírito inspirou os
escritores a usar. É verdade que devemos fazer uso de discernimento espiritual
ao empregar e aplicar tais termos, mas o Espírito Santo nos é dado para capacitar-nos
a estudar, discernir, compreender e sintetizar toda a Escritura num todo belo e
prático.
Entre os termos usados na Escritura para o enchimento do
crente estão estes:
Cheios do Espírito (At 2:4)
Tomados de toda a plenitude de
Deus (Ef 3:19)
Revestidos de poder do alto (Lc
24:49)
Batizados com o Espírito Santo
(At 1:4-5)
Batizados com o Espírito Santo
e com fogo (Mt 3:11)
O derramar do Espírito sobre a
pessoa (At 2:17,33)
Outros termos freqüentemente usados no testemunho cristão
incluem a capacitação do Espírito e a unção do Espírito. Estes dois últimos
termos, porém, são mais sabiamente usados para muitas formas de capacitação
divina através do Espírito Santo. Estes foram ambos usados para o enchimento
inicial com o Espírito e também para subseqüentes e novas capacitações e
enchimentos.
DETERMINAÇÃO DO ENCHIMENTO
Ser cheio com o Espírito é mais do que ter uma inclinação
espiritual. Até certas pessoas não-salvas têm fome espiritual e são
"espiritualmente inclinadas". Elas estão talvez em busca de Deus, de
acordo com a sua luz. Mas, como Apoio, precisam conhecer mais adequadamente o
caminho de Deus (At 18:26).
Não temos uma vida cristã até que
venhamos a nascer de Deus. Não vivemos uma vida cheia do Espírito até sermos
cheios do Espírito. Todavia, tendo feito uma entrega total do "eu",
uma consagração completa como filhos de Deus, podemos ser cheios com o Espírito
à medida que nos apropriamos da Sua plenitude Dela fé. A seguir, enquanto nos
mantemos abertos para o Espírito pela obediência e fé, podemos receber novos
enchimentos do espírito, novos derramamentos, novas inundações de nosso ser
mais íntimo, de tempos em tempos, conforme necessário e conforme pedirmos a
Deus.
O primeiro passo decisivo e importante é
o de colocar obedientemente de lado tudo que possa prejudicar a obra do
Espírito, separando-nos de tudo que o Espírito nos mostre com a sua luz
perscrutadora, rendendo-nos em total entrega que anseia por tudo que a graça de
Deus pode fazer em nossa vida, e alegremente reivindicando pela fé todas as graciosas
promessas de Deus. Devemos esvaziar-nos do "eu" antes de sermos
enchidos com o Espírito. Nossa vontade carnal deve ser crucificada com Cristo.
Entraremos então nessa nova e vitoriosa experiência cristã descrita de tantas
formas: vida mais profunda, vida mais elevada, vida crucificada, vida
vitoriosa, vida santa ou vida de repouso.
Esta graciosa e definitiva experiência está
relacionada com o crescimento. Mas não se trata simplesmente de uma questão de
crescimento. Nós com freqüência não sentimos a nossa necessidade de um
compromisso total, de purificação mais profunda, de enchimento mais poderoso do
Espírito até que tenhamos andado humildemente com Deus por algum tempo.
Todavia, através da orientação do Espírito, sentimos a necessidade de algo mais
profundo da parte de Deus.
Louvar a Deus por tudo que Ele já fez por nós pode dar-nos a
consciência das fraquezas que sabemos que Deus pode mudar pelo Seu poder,
derrotas que sabemos que Ele pode transformar em vitória, e talvez
contaminações que sabemos que Cristo pode purificar com o Seu sangue. Sabemos
que temos a habitação interior do Espírito, mas compreendemos que o Espírito
pode e deve possuir-nos mais completamente. Compreendemos agora o que Cristo
quis dizer em João 14:17 com relação ao Espírito Santo. Antes de os discípulos
terem o seu Pentecostes, Ele contrastou o relacionamento que eles tinham no
momento com o Espírito com aquele que teriam depois do Pentecostes: "Ele
habita convosco e estará em vós".
Tenha bom ânimo. O Espírito está dirigindo você para um novo
passo e grau de consagração, de modo que a soberania de Cristo em seu interior
possa ser muito maior do que você jamais imaginou ser possível. O Espírito está
tornando você faminto daquilo que Ele deseja fazer em seu íntimo.
TESTEMUNHOS DO ENCHIMENTO
George Fox, fundador da Sociedade dos Amigos, nasceu de novo
aos onze anos. Mas, aos vinte e três anos, depois de ter ansiado por uma
experiência mais profunda, uma nova concessão de poder veio sobre ele.
A partir dessa ocasião, ele foi usado poderosamente por
Deus, enquanto descrevia repetidamente o poder do Senhor nele e através dele. O
poder do Espírito o revestia onde quer que fosse, e até a sua morte foi um
poderoso instrumento nas mãos de Deus.
John Bunyan, depois de uma juventude tempestuosa e pecadora,
foi convertido certa noite em que o Espírito Santo aplicou Hebreus 2:14-15 ao
seu coração. Depois de um andar jubiloso com o Senhor ele lutou dois anos com
Satanás. Deus finalmente usou 1 João 1:7 ("o sangue de Jesus, seu Filho,
nos purifica de todo pecado"), e ele entrou na sua experiência da
"Terra de Beulá". Embora passasse por provações, a partir de então
sentiu-se esmagado pelo peso da graça e do poder de Deus. Deus usou-o
poderosamente, durante seus doze anos de prisão, nos quais ele escreveu seus
famosos livros.
William Penn, o famoso quacre que fundou a Pensilvânia, era
um grande conquistador de almas. Ele nasceu de novo aos doze anos e aos vinte e
dois consagrou-se plenamente e foi cheio com o Espírito depois de ouvir uma
mensagem feita por um pregador quacre. Ele conta a respeito. "Paulo ora
para que [os Tessalonicenses] possam ser completamente santificados... E quanto
ao meu testemunho fiel... seja sabido de todos que me conheceram, que quando as
indizíveis riquezas do amor de Deus me visitaram... fui imediatamente dotado de
poder que me deu domínio sobre elas (isto é, sobre a conversação e os hábitos
mundanos)".
John Wesley, depois de anos como cristão sincero, mas apenas
nominal, incluindo o ministério tanto em sua terra natal como na América,
nasceu maravilhosamente de novo com uma clara segurança da salvação em 24 de
maio de 1738, num culto dos morávios na Aldersgate Street, em Londres. Mais
tarde, nesse mesmo ano, ele começou a desejar uma experiência ainda mais profunda.
Em 1º de janeiro de 1739, como já mencionei, ele, seu irmão
Charles, George Whitefield e cerca de 60 outros continuavam em oração. Cerca
das três da manhã, Deus derramou o Seu Espírito sobre eles de maneira poderosa.
Numa tremenda capacitação, unção e plenitude do Espírito enviou os Wesleys e
Whitefield para abrir uma trilha de salvação e reavivamento através das Ilhas
Britânicas e nas colônias norte-americanas. O Espírito Santo continuou a
mostrar o seu poder através de John Wesley até sua morte triunfante em 2 de
março de 1791.
George Whitefield, que colaborou por algum tempo com os
Wesleys, teve uma clara experiência do novo nascimento antes deles.
Seus velhos amigos o julgaram insano por ser tão zeloso por Cristo. Mais tarde,
ele passou dias e noites em oração e jejum por causa da sua batalha com o
orgulho e outros defeitos íntimos. Mas Deus o abençoou grandemente e ele
escreveu: "Oh! com que alegria minha alma se encheu, quando o peso do
pecado se foi; uma sensação permanente do amor perdoador de Deus e uma plena
segurança da fé penetraram em minha alma desconsolada!".
Mais tarde, na sua ordenação em 20 de junho de
1736, ele foi poderosamente cheio do Espírito Santo. Whitefield passara o
sábado inteiro jejuando e orando e à noite foi para um monte fora da cidade
onde orou por mais duas horas. No domingo ele levantou-se cedo para orar, a fim
de preparar-se para a sua ordenação no altar da igreja. "Quando o bispo
colocou as mãos sobre a minha cabeça", ele testemunhou mais tarde,
"meu coração se derreteu e ofereci todo o meu espírito, alma e corpo para
o serviço do santuário de Deus."
O Dr. Lloyd-Jones escreve:
Whitefield nos conta que
percebeu, no seu Culto de Ordenação,
o poder que vinha sobre ele. Ficou vibrando com a sensação de poder. No
primeiro domingo depois da sua ordenação ele pregou na sua própria cidade... e
foi um culto surpreendente (15 pessoas foram poderosamente convencidas e
convertidas)... Os subseqüentes diários de Whitefield e suas várias biografias
contêm inúmeros relatos de sua percepção do Espírito de Deus vindo sobre ele
enquanto pregava, e também em outras ocasiões. (1)
Lembre-se de que, até que surgisse o movimento pentecostal
do século XX e se adotassem "batismo com o Espírito" ou "batismo
no Espírito" como termos para uma experiência acompanhada pelo falar em
línguas, essas designações eram geralmente usadas para o enchimento do
Espírito. Moody, Torrey, Finney e muitos outros falavam constantemente dessa
forma. Diversos professores bíblicos preferem não usar o termo
"batismo" para o enchimento, a fim de evitar confusão com os ensinos
das igrejas pentecostais. Charles G. Finney era um jovem advogado que durante
dois dias lutou com Deus sob a profunda convicção do pecado. Em 10 de outubro
de 1821, ele foi para um monte fora da cidade e passou toda a manhã em oração.
Ele estava decidido a encontrar Deus ou morrer na tentativa e finalmente
apegou-se à promessa de Deus em Jeremias 29:13. Deus levantou o fardo do pecado
e o encheu de paz. Naquela noite teve uma visão de Cristo, caiu aos pés dEle e os
banhou com lágrimas. Ele descreveu o que aconteceu a seguir:
Recebi um poderoso batismo do
Espírito Santo. Sem esperar, sem jamais ter pensado nisso, que pudesse haver
tal coisa para mim, sem qualquer memória de já ter ouvido isso mencionado por
qualquer pessoa no mundo, o Espírito Santo desceu sobre mim de um modo que
pareceu atravessar-me, corpo e alma. Eu podia sentir a impressão, como uma onda
de eletricidade, traspassando-me muitas vezes. De fato, ela parecia vir em
ondas de amor líquido, pois não posso definir a sensação de qualquer outro
modo. Parecia o próprio sopro de Deus. Posso lembrar distintamente que era como
se me abanasse, como asas imensas.
Não há palavras para expressar
o amor esplendoroso que se espalhou em meu coração. Chorei alto com alegria e
amor... Essas ondas continuavam vindo, uma após outra, até que me lembro de ter
gritado "Morrerei se essas ondas continuarem passando sobre mim". Eu
disse: "Senhor, não agüento mais", todavia, não tinha qualquer medo
da morte. (2)
Dwight L. Moody já havia sido grandemente usado por Deus em
Chicago. Duas humildes mulheres da Igreja Metodista Livre oravam fielmente por
ele durante os seus cultos de domingo. No final dos cultos elas lhe diziam:
"Estivemos orando pelo senhor". "Por que vocês não oram pelo
povo?", perguntava o Sr. Moody. "Porque o senhor precisa do poder do
Espírito", foi a resposta. "Preciso do poder!", disse ele
relatando o incidente mais tarde: "Eu julgava ter poder. Tinha a maior
congregação de Chicago e havia muitas conversões!"
Certo dia Moody disse a elas: "Gostaria que explicassem
o que querem dizer". Elas então lhe contaram sobre o enchimento definido
do Espírito Santo. Ele pediu-lhes que orassem com ele e não
só por ele. Pouco depois as suas orações foram repentinamente respondidas na
Wall Street em Nova Iorque. O colaborador de Moody, Dr. R. A.Torrey, descreveu
o ocorrido. "O poder de Deus caiu sobre ele enquanto andava pela rua e
teve de correr para a casa de um amigo e pedir um quarto onde pudesse ficar
sozinho, e ali ficou durante horas. O Espírito Santo veio sobre ele, enchendo
sua alma de tanta alegria que, finalmente, teve de pedir a Deus para suspender
a Sua mão, para que não morresse ali mesmo de pura alegria. Ele foi embora
daquele lugar com o poder do Espírito Santo sobre a sua pessoa."
O próprio Moody disse: "Eu estava
chorando todo o tempo, pedindo a Deus que me enchesse com o Seu Espírito. Bem,
certo dia, na cidade de Nova Iorque — oh, que dia! — não posso descrevê-lo...
só posso dizer que Deus se revelou para mim, e tive tal experiência do seu amor
que foi preciso pedir-lhe para suspender a sua mão. Voltei a pregar. Os sermões
não eram diferentes; não apresentei novas verdades; todavia, centenas de
pessoas foram convertidas. Não queria voltar ao ponto em que estava antes dessa
bendita experiência, nem que me dessem o mundo inteiro."
Numa outra ocasião Moody testificou;
Que Deus me perdoe se falo de maneira vaidosa, mas não
me lembro de nenhum sermão depois disso em que Deus não me desse alguma alma.
Eu não voltaria ao lugar em que estava há quatro anos por todo o dinheiro deste
mundo. Se você o juntasse aos meus pés, eu o chutaria para longe como se fosse
uma bola de futebol. Pareço um prodígio para você, mas pareço ainda mais
prodigioso para mim mesmo do que para qualquer outra pessoa. Esses são os
mesmos sermões que preguei em Chicago, palavra por palavra. Ali eu preguei e
preguei, mas era como alguém dando socos no ar. Não se trata de novos sermões,
mas do poder de Deus. Não é um novo evangelho, mas o velho evangelho com o
Espírito Santo de poder.
No funeral de Moody, o Dr. C. I. Scofield, editor da famosa Bíblia
Scofíeld de Referência, deu quatro razões para Deus
ter usado Moody. Para a terceira razão ele disse: "Ele foi batizado
com o Espírito Santo e sabia disso. Essa foi para ele uma experiência tão
definitiva quanto a sua conversão".
O Dr. J. Wilbur Chapman era um evangelista presbiteriano,
colaborador de Moody e fundador da Conferência Bíblica do Lago Winona. Ele
testemunhou com relação à mudança em sua vida e ministério através do
enchimento do Espírito. "Desde aquele momento até hoje (o Espírito Santo)
tem sido uma realidade viva. Eu jamais soube o que era amar a minha família
antes. E como faria isso se não tinha ainda descoberto o segredo? Eu não sabia
o que era pregar antes. 'As coisas antigas já passaram' é a minha experiência.
'Eis que se tornaram novas' ".
Oswald Chambers foi um grande professor bíblico desta
experiência. Ele testificou: "O Dr. F. B. Meyer veio e falou conosco sobre
o Espírito Santo. Decidi receber tudo o que podia e fui para o meu quarto,
pedindo simples e definitivamente pelo seu Santo Espírito, o que quer que isso
significasse". Ele disse que nenhum conhecido parecia capaz de ajudá-lo a
confiar em Deus para esta experiência. Quatro anos mais tarde, Deus falou com
ele através da Sua Palavra: "Lucas 11:13 falou comigo... compreendi que eu
tinha de pedir o dom de Deus na autoridade de Jesus Cristo... isto eu fiz em
obstinado compromisso. Não tive qualquer visão do céu ou de anjos... mas como
um relâmpago algo aconteceu dentro de mim... os dias que se seguiram foram
verdadeiramente o céu na terra. Glória a Deus — o último abismo do coração
humano transborda com o amor de Deus. O poder e a tirania do pecado se foram e
a emancipação radiante e indizível do Cristo interior surgiu". (3)
O Dr. Arthur T. Pierson pastoreou durante vários anos o
Tabernáculo de Spurgeon em Londres. Ele foi líder da Conferência Bíblica e de
movimentos de Estudantes Voluntários, lecionando durante anos no Instituto Bíblico
Moody. Durante dezoito anos de seu ministério ele dependeu grandemente do seu
poder literário e de oratória. A seguir ele procurou e recebeu a plenitude do
Espírito. Testemunhando diante de uma assembléia de ministros, declarou:
"Irmãos, vi mais conversões e realizei mais nos dezoito meses depois que
recebi essa bênção do que nos dezoito anos anteriores".
O Dr. Walter L. Wilson, amado professor da Bíblia e médico
de Kansas City, foi convertido na adolescência durante uma reunião numa tenda.
Dezoito anos mais tarde, o Dr. James M. Gray, sacerdote episcopal reformado e
então presidente respeitado do Instituto Bíblico Moody, pregando sobre Romanos
12:1, desafiou todos a entregar seus corpos em total consagração ao Espírito
Santo. Wilson foi para casa e prostrou-se no tapete em seu escritório, fazendo
uma detalhada e absoluta entrega do seu corpo e todo o ser para que fosse cheio
com o Espírito Santo. Este é o testemunho do Dr. Wilson: "Com respeito à
minha experiência pessoal com o Espírito Santo, posso afirmar que a
transformação em minha vida em 14 de janeiro de 1914 foi maior, muito maior do que
a mudança que teve lugar quando fui salvo em 21 de dezembro d
1896". A partir da manhã seguinte, Walter Wilson tornou-se um
estupendo ganhador de almas, cujas maravilhosas experiências na
conquista de almas, como registrado em seus livros, abençoaram milhares.
(4)
Esta é apenas uma amostra de líderes
conhecidos, cujas vidas foram transformadas por uma experiência definida com o
encher do Espírito. Milhares e mais milhares de outros líderes de todas as
denominações podem dar testemunho de experiências similares definidas em seu
andar com Deus. Algumas são mais dramáticas que outras, mas todas falam da
graça absoluta de Deus e da prodigalidade da plenitude do Espírito.
As biografias dos servos mais dedicados de Cristo no correr
dos séculos mostram esses dois estágios definidos da experiência
espiritual. Cada uma a descreve de modo diferente, pois Deus é muito criativo,
único e esplêndido em seu trato com cada indivíduo. Mas repetidamente
encontramos um ponto de nascimento espiritual definido, e mais tarde um ponto
de uma nova experiência da plenitude, poder, vitória e bênção do Espírito.
Augustus Toplady, escritor de hinos anglicano, em
"Rocha Eterna", como originalmente escrito, expressou a idéia
desta maneira:
Que a água e o sangue,
Que fluíram de teu lado ferido,
Curem duplamente o pecado,
Purificando-me da sua culpa e
poder.
Durante o grande reavivamento em Welsh (1904-5), Evan
Roberts, tão grandemente usado pelo Espírito Santo, afirmou
repetidamente: "É possível ir para o céu sem ter sido cheio com o Espírito
Santo, mas você terá muito a perder diante do trono do julgamento de Cristo...
Adquira o hábito de contar com a habitação interior do Espírito Santo como o maior
fato da sua existência".
Vamos decorar as palavras de Hudson Taylor: "Não
devemos suspender nossos feitos presentes e entregar-nos à humilhação e oração,
pedindo nada menos que sermos cheios do Espírito e transformados em canais,
mediante os quais Ele trabalhará com poder irresistível? As almas estão agora
perecendo por falta deste poder... Deus está abençoando agora alguns que estão
buscando esta bênção dEle pela fé. Todas as coisas estão prontas se estivermos
prontos".
Capítulo 42
Como Ser Cheio com o Espírito
O Dr. Billy Graham no livro The Holy Spirit ("O
Espírito Santo") incluiu um capítulo intitulado "Como Ser Cheio com o
Espírito". Ele diz: "É interessante que a Bíblia em lugar algum nos
dá uma fórmula nítida e concisa para sermos cheios com o Espírito". Ele
sugere que isso talvez ocorra devido ao fato de os crentes na primeira igreja
não precisarem aprender a ser cheios. "Eles sabiam que vida cheia do
Espírito era a vida cristã normal".(1)
O Dr. W. Graham Scroggie, estimado pastor batista e comentarista
de Edimburgo, advertia os interessados sobre a natureza da experiência.
Baseando suas observações sobre muitos anos no âmbito da convenção e sua
própria experiência, ele advertiu que " 'ser cheio com o Espírito' não é
necessariamente uma experiência drástica... uma experiência estranha e
emocional. As emoções podem ou não manifestar-se. Isto depende em parte do
temperamento da pessoa. A autenticidade não se baseia no que é externo, mas no
que Deus faz bem no fundo da nossa natureza. Ela não é necessariamente
acompanhada de alegria e êxtase".
O Dr. Scroggie acrescentou: "Em minha experiência foi
'alegria indizível e cheia de glória'. A alegria tornou-se dor e enquanto
andava pelas ruas de Londres naqueles dias... tive de pedir a Ele para
modificá-la, pois parecia que minha alma ia dilacerar meu corpo". (2) Ele
se refere a esta alegria como um acompanhamento e não como uma evidência. Não
se trata de algo que "desumaniza". Não nos tornamos
pessoas superiores; tornamo-nos cheios do Espírito, não dominadores ou
superiores a outros. Continuamos sendo nós mesmos, com a nossa personalidade,
mas ela está agora purificada, embelezada e repleta de poder.
PASSOS SIMPLES PARA SER CHEIO DO ESPÍRITO
Os passos necessários para ser cheio do Espírito foram
descritos de muitas formas, mas eles enfatizam essencialmente as mesmas coisas.
Por exemplo, o Exército de Salvação no seu folheto It Can Happen ("Pode
Acontecer") lista sete pontos: Ansiar, Reconhecer, Abandonar, Abdicar,
Pedir, Apropriar-se, Agir.
Entrega total significa que confirmamos Cristo como Senhor
sobre cada uma das partes do nosso corpo. O Dr. Harold Lindsell ensina:
"Antes de alguém ser cheio do Espírito Santo, ele ou
ela deve voluntariamente colocar-se sob o senhorio de Jesus Cristo no sentido
de tornar-se escravo. Esta escolha não será forçada sobre quem quer que seja,
mas é a... condição estabelecida para aqueles que desejam ser cheios com o
Espírito Santo",
Ele acrescenta que não podemos
reivindicar a promessa de Deus para nos capacitar a viver no plano mais alto, a
não ser que tornemos Jesus Cristo Senhor desta maneira. "A norma para a
vida cristã é fazer Cristo sentar no trono do nosso coração. Paradoxalmente,
quando Cristo é verdadeiramente Senhor, é então que o crente alcança o ponto
mais elevado da auto-satisfação". (3)
Billy Graham escreve: "É surpreendente como
inúmeros cristãos jamais tratam realmente desta questão da soberania de
Cristo". (4) Ele declara: "Estou convencido que ser cheio do Espírito
não é uma opção, mas uma necessidade. Isto é indispensável para a vida
abundante e para o serviço proveitoso... E planejado, necessário e disponível
para todos. Essa a razão da Escritura ordenar a todos nós: "Enchei-vos do
Espírito". (5) Ele sugere que os passos para ser cheio com o Espírito são
compreensão, submissão e andar pela fé.
O Dr. R. A. Torrey, depois de falar do novo nascimento, cita
estes passos para a plenitude do Espírito: obedecer (que ele define como
"a entrega incondicional da vontade a Deus"); desejar; pedir; ter fé.
(6)
O Dr. Bill Bright, fundador da Cruzada Estudantil para
Cristo, dá maior ênfase à fé, mas em sua quase completa explicação ele menciona
estes pontos: Deseje, Entregue, Confesse, Apresente e Ore (ou peça) como
preparação do coração para a fé. (7)
Charles Cowman, fundador da OMS International, descreveu
estes passos para obter a plenitude do Espírito: Considere-se morto para o
pecado, entregue-se, creia na promessa e obedeça. Note a semelhança básica no
que esses líderes espirituais dizem. Vamos resumir e confirmar essas coisas nos
seguintes passos. Deixe o Espírito Santo guiar e capacitar você para dar esses
passos se você ainda não tiver feito isso.
1. Veja se tudo está certo entre você e Deus.
Você se tornou um filho de Deus pelo novo nascimento? Deus não enche
pessoas não-salvas com o Seu Espírito. Nem enche aqueles que sabe estarem
vivendo em desobediência aberta e obstinada a Ele. Graham enfatiza:
"Devemos lidar completamente com o pecado em nossas vidas, se quisermos
ser cheios com o Espírito Santo". (8) Qualquer coisa pela qual o Espírito
tenha condenado você, qualquer coisa que tenha separado você do melhor de Deus
ou velado a Sua face, deve ser abandonada. Você deve andar na luz se quiser ser
cheio do Espírito (1 Jo 1:7).
2. Reconheça a sua necessidade e a provisão de Deus.
Seja honesto com Deus. Confesse suas derrotas e as áreas em sua vida onde
você reconhece sua necessidade espiritual. Não se apresse a ponto de fazer uma
confissão geral, uma simples admissão geral de necessidade. "Senhor,
qualquer que seja a minha necessidade, por favor satisfaça-a", ou
"Senhor, o Senhor sabe como sou fraco." Tome tempo para sondar o seu
coração diante do Senhor e mencione as suas necessidades diante dEle. Pode ser
útil fazer uma lista de coisas que o Espírito leve à sua atenção e depois
entregar uma a uma ao Senhor. Peça a Ele que lembre você das falhas que você
esqueceu.
Há uma grande bênção em esvaziar o seu coração de fracassos,
derrotas, preconceitos, atitudes e atos. Cite um por um e coloque-os debaixo do
sangue de Cristo que limpa e purifica. O Espírito Santo irá provavelmente
chamar sua atenção para coisas que você não sabia que estavam ali.
Alegre-se depois na plena provisão que Cristo fez para você
na cruz. Alegre-se na provisão do Espírito Santo que já reside em seu coração e
que deseja preencher cada aspecto do seu ser com a Sua presença purificadora e
Sua capacitação para a vida e o serviço. Alegre-se com o fato de a promessa de
Deus estar à sua disposição. "Para vós outros é a promessa" (At
2:39).
3. Tenha fome e sede da plenitude do Espírito.
Deus é sempre movido pela fome e sede espiritual e promete repetidamente
satisfazer as necessidades de nossa alma. Jesus nos assegura:
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos" (Mt 5:6). Ele se pôs de pé no templo e falou: "Se alguém tem
sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu
interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao
Espírito" (Jo 7:37-39). A água é o símbolo do Espírito Santo. "Todos
vós os que tendes sede, vinde às águas", Deus chama através de Isaías (55:1).
"Derramarei... torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu
Espírito" (Is 44:3). A palavra "terra" não se encontra no
hebraico. É uma promessa para os "sedentos", e o Espírito satisfaz a
nossa sede.
Enquanto a plenitude do Espírito não for todo o
desejo da sua alma, você não será provavelmente cheio. Quando você trata a
experiência como algo desejável, mas está disposto a continuar sem ela, não
receberá a plenitude. Torrey disse: "Homem algum jamais recebeu esta
bênção, enquanto sentiu que podia passar sem ela". "De toda a boa
vontade buscaram o Senhor, e por eles foi achado" (2 Cr 15:15). O hebraico
diz literalmente: "Buscaram a Deus com todo o seu desejo". Deus disse
através de Jeremias: "Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de
todo o vosso coração" (Jr 29:13). As principais razões para o fracasso em
participar da experiência são provavelmente não desejar o Espírito Santo de
todo o coração e não fazer uma entrega total do "eu".
4. Entregue-se totalmente ao senhorio de Cristo. Faça
uma consagração total de tudo que você é, e de todo o seu futuro. Apresente-se
a si mesmo na totalidade do seu ser — corpo, alma e espírito. Ofereça-se como
um sacrifício vivo para ser totalmente de Deus. Isto pode perfeitamente
envolver a morte para a sua vontade em uma ou várias áreas. Você deve morrer
para a sua carnalidade, para tudo o que é do "mundo". Você pode agora
dizer com Paulo: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:19-20).
"Considerai-vos mortos para o pecado, mais vivos para
Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal...
oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros a
Deus como instrumentos de justiça" (Rm 6:11-13). Fomos temporariamente
crucificados com Cristo na cruz. Afirmamos agora isso por um ato da vontade em
auto-entrega. Este é o esvaziar do "eu" que deve preceder o
enchimento com o Espírito Santo. Faça uma entrega total da sua vontade,
antecipadamente, para o que quer que Deus lhe revele no seu futuro. Esteja
disposto a abandonar seus planos, ambições e vontade, se Deus revelar alguma
coisa que seja contrária à Sua vontade. A partir de agora você não mais
pertence a si mesmo.
Pense na sua vida como um talão de cheques. Rendição
absoluta significa assinar todos os cheques em branco, colocando neles o nome
do Espírito Santo e permitindo que Ele preencha os espaços como achar melhor,
através dos seus amanhãs. Você já disse o seu sim eterno à Sua vontade,
conforme Ele a torna conhecida. Você é dEle. Ele é Senhor, e você, com amor e
alegria, obedece diariamente.
5. Peça em oração. A promessa de Cristo não
poderia ser mais clara: "Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos
vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que
lho pedirem?" (Lc 11:13). Quando os nossos corações estão preparados,
tendo dado os primeiros quatro passos, estamos prontos para pedir a Deus do
fundo do nosso coração que cumpra a Sua promessa.
O ato de pedir e de apropriar-se não requer oração
prolongada, pois Deus está sempre pronto para cumprir a Sua promessa. Todavia,
as biografias de muitos cristãos descrevem como eles tiveram fome e sede e
oraram algumas horas ou mesmo dias antes de seus corações parecerem estar
prontos para dar o último passo de apropriação da fé. Talvez Deus use esse
período em que a pessoa pede e se estende para Ele, a fim de aprofundar a nossa
sede dEle, ou para capacitar-nos a compreender novos níveis de necessidade
espiritual em nossa natureza. Do ponto de vista de Deus não é preciso haver
espera. Todavia, Ele pode abençoar grandemente, para o nosso bem espiritual, um
tempo de espera diante dEle. Durante tal período, o Espírito sonda os nossos
corações. Jesus nos diz que em tais casos devemos deixar de orar e primeiro
acertar as coisas com a outra pessoa (Mt 5:23-24).
A promessa de recompensa feita por Deus para a nossa espera
na Sua presença em oração é certa. Isaías nos assegura: "Os que esperam no
Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se
cansam, caminham e não se fatigam" (Is 40:31). O termo hebraico para
"esperar" nessa passagem significa "esperar com expectativa
confiante e com fé".
6. Apropriar-se pela simples confiança. Como
é abençoado que o encher do Espírito seja pela fé! É pela fé, sendo então para
quem quiser. É pela fé, e pode ser portanto seu neste momento. Você não precisa
esperar para tornar-se mais digno. Não precisa provar a si mesmo mediante a
autodisciplina ou orações e jejum prolongado. Não é por obras, é um dom de
Deus. É pela graça, mediante a fé, que somos cheios do Espírito.
Quando Pedro descreveu como o Espírito encheu os gentios na
casa de Cornélio, e comparou isso com a maneira como os 120 foram cheios no
Pentecostes, explicou que Deus deu o Espírito Santo aos
gentios da mesma forma que dera àqueles no Cenáculo no Pentecostes. "E não
estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, puríficando-lhes pela fé os
corações" (At 15:9). Deus sempre purifica e dá poder quando enche com o
Seu Espírito, e a apropriação significa que o que Deus ordenou foi o exercício
da fé.
O Dr. A. J. Gordon escreve: "Parece claro pelas
Escrituras que é ainda o dever e privilégio dos
crentes receber o Espírito Santo mediante um ato consciente e definido de fé,
assim como receberam Jesus Cristo... Como pecadores é que aceitamos Cristo para
a nossa justificação, mas como filhos é que aceitamos o Espírito para nossa
santificação".
Nada poderia ser mais simples, todavia nada é
mais exigente. Quando linhas elétricas são instaladas e
ligadas à fonte de força, até uma criança pode acender as luzes ligando uma
chave. Do mesmo modo, quando tivermos preparado os nossos corações, acertando
tudo entre Deus e nós, reconhecendo nossa necessidade e a provisão de Deus,
tendo fome e sede da plenitude do Espírito, rendendo-nos totalmente ao senhorio
de Cristo e pedindo em oração, tudo o que precisamos fazer é tocar Deus com fé.
Não é uma questão do poder da nossa fé, mas é a grandeza da provisão de Deus
que conta.
Creia que Cristo deseja intensamente encher você
com o Seu Espírito. Ele quer que você seja tudo que Ele o criou para ser. Creia
na alegria que isso trará ao coração de Jesus quando Ele o vir cheio com a Sua
presença e poder. Creia no plano maravilhoso de Deus para você! Como Ele deseja
usar a sua liderança e a sua vida de um modo diferente dos seus próprios planos
e pensamentos! O registro completo você não conhecerá até a eternidade, mas
Deus irá ocasionalmente encorajá-lo com pequenas notícias sobre como Ele fez de
você uma bênção.
Creia e mantenha-se humilde, dando a Deus toda a glória,
e Cristo usará você cada vez mais enquanto o dirige na Sua procissão triunfante
(2 Co 2:14). "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai
brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Pv 4:18).
LEMBRE-SE DESTAS REALIDADES ESPIRITUAIS
1. O encher do Espírito é instantâneo. A
fé, assim como o enchimento do Espírito, não é um processo gradual. A fé recebe
no mais íntimo do seu ser a plenitude da presença e poder do Espírito,
Alegre-se! Quando o seu coração preparado crê, nesse momento você é cheio com o
Espírito.
2. O encher do Espírito não é uma questão de
sentimentos. É uma realidade espiritual, mediante a fé. A sua
confiança não está nos seus sentimentos, mas em Deus e na Sua promessa. Muitos
testemunharam sobre uma percepção esmagadora da presença, amor ou do poder de
Deus. Deus pode ou não decidir abençoar você desta forma. Ele sabe o que é
melhor para o seu futuro caminhar na fé. Mas o poder está presente quer você o
sinta, quer não. Ele será manifestado enquanto você serve e obedece a Deus.
3. Você pode ser repetidas vezes cheio com o Espírito.
O Capítulo 11 indicou que a Bíblia registra enchimentos repetidos do
Espírito. Também mencionei que Zacarias apresenta um quadro dos servos
flamejantes de Deus sendo mantidos em chamas pelo constante influxo do
Espírito. Essa a razão de Zacarias 4:6 poder tornar-se uma experiência contínua
no serviço do Senhor. "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito,
diz o Senhor dos Exércitos."
4. Alegre-se na plenitude de Deus e continue a orar e
obedecer. Você foi cheio com o Espírito. Deixe Deus usar você agora.
Ele não o encheu para tornar a vida fácil para você, mas para capacitá-lo para
uma vida santa e um serviço eficaz. Enquanto você mantiver o canal limpo com
Deus, o Seu poder continuará a fluir para a sua pessoa. Você não pode reter a
plenitude do Espírito sem oração e obediência.
Algumas vezes você perceberá que entristeceu o Espírito e sentirá
a perda da abundância da Sua presença e poder. Você pode sentir a falta da
operação do Espírito por causa do seu ministério ativo ou por qualquer das
razões citadas no Capítulo 13. Busque o perdão de Deus e peça que Ele renove o
Seu poder sobre você. A oração e a obediência trarão a renovação que você
almeja.
Surgirão muitas ocasiões em sua liderança quando precisará
de uma manifestação especial da presença de Deus, uma capacitação renovada, uma
nova unção. Louvado seja Deus! Ele está esperando para satisfazer todas as suas
necessidades. Ele conhece o seu ministério e as situações que você enfrenta
muito melhor do que você. Todos os Seus recursos estão à sua disposição. Ore e
obedeça. Atravesse a vida orando e obedecendo. Deus não falhará em relação a
você.
"Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente
mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em
nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações,
para todo o sempre. Amém" (Ef 3:20,21). E a Ele seja a glória através da
sua vida e ministério, enquanto você vive e anda na plenitude da presença e
poder do Seu Espírito.
Faça deste lindo hino da igreja a sua
oração. Ele tem sido cantado para o Senhor há um século. Que ele possa
expressar o clamor do seu coração hoje:
Enche-me Agora
Paira sobre mim, Espírito Santo,
Banha meu coração e minha fronte trêmulos;
Enche-me com a Tua presença sagrada,
Vem, ó vem, e enche-me agora.
Coro:
Enche-me agora, enche-me agora
Jesus, vem e enche-me agora
Enche-me com a Tua presença sagrada,
Vem, ó vem, e enche-me agora.
Tu podes encher-me, Espírito gracioso,
Embora eu não possa dizer-te como;
Mas preciso de Ti, preciso
grandemente de Ti,
Vem, ó vem, e enche-me agora.
Sou fraco, cheio de fraquezas,
Aos Teus pés santos me inclino;
Abençoa, Espírito divino e eterno,
Enche com poder, e enche-me
agora.
Limpa, consola, abençoa e salva a mim,
Banha, ó banha, meu coração e minha fronte;
Tu és
consolador e Tu salvas,
Estás
agora enchendo docemente.
Elwood H. Stokes
Notas
Capítulo 2
(1) Orígenes; Atanásio; Jerôrdmo; Crisóstomo;
Calvino; Clarke; Dunn; Famieson, Faussett e Brown; Liefeld; Marshall; Micklem;
Farrar; Geldenhuys; Alford; G. Campbell Morgan; Ryle; Barclay; Leon Morris; Dictionary
of New Testament Theology etc.
(2) Lloyd Jones, Preaching and Preachers, 97.
(3) Jamieson, Faussett e Brown, Commentary,
888.
Capítulo 6
(1) Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 95
Capítulo 7
(1) Marshall, Pictorial Encyclopedia, 805.
(2) Morris, Thessalonians, 57.
(3) Fee, Corinthians, 95.
Capítulo 9
(1) Smith, Passion for Souls, 37-38.
(2) Orr, Evangelical Awakening, 35.
Capítulo 10
(1) Woolsey, Duncan Campbell, 133.
(2) Ibid., 135.
(3)Ibid.,172.
(4) Ibid.
Capítulo 11
(1) Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 308.
Capítulo 13
(1) Shelhamer, Heart Searching Talks, 124-27.
Capítulo 16
(1) Cowman, Charles E. Cowman, 60.
(2) Ibid., 260.
Capítulo 17
(1) Smith, Passion for Souls, 167-76, passim.
Capítulo 31
(1) Gordon, Ministry of the Spirit, 145.
Capítulo 35
(1) Smith, Passion for Souls, 170.
(2) Jovvett, Passion for Souls, 33-36.
(3) Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 90.
(4) Ibid., 94.
Capítulo 36
(1) Cumming, Eternal Spirit, 155.
(2) Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 305.
Capítulo 37
(1) Journal of Francis Asbury, 20-21.
(2) Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 325.
Capítulo 38
(1) Wessel, Charles G. Finney, 76.
(2) Dunning, Samuel Chadwick, 95-96.
(3) Smith, Enduement, 56-58.
(4) Smith, Passion for Souls, 35.
(5) Hogue, Holy Spirit, 314.
(6) Smith, Enduement, 50-51.
(7) Ibid., 46-47.
Capítulo 39
(1) Woolsey, Campbell, 163.
Capítulo 41
(1) Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 320.
(2) Wessel, Finney, 21-22.
(3) Edman, Secret, 33-34.
(4) Ibid., 121.
Capítulo 42
(1) Granam, Holy Spirit, 60.
(2) Scroggie, Filled With the Spirit, 16-18.
(3) Lindsell, Holy Spirit, 116.
(4) Graham, Holy Spirit, 166.
(5) Ibid., 159.
(6) Torrey, Holy Spirit, 154, passim.
(7) Bright, Handbook, 100-101.
(8) Graham, Holy Spirit, 164.