BREVE HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO NO BRASIL
Alderi
Souza de Matos
1.
O
contexto político-religioso (1500-1822)
Portugal surgiu como nação independente da Espanha durante a Reconquista (1139-1249), ou seja, a luta contra os muçulmanos que haviam conquistado boa parte da Península Ibérica vários séculos antes. Seu primeiro rei foi D. Afonso Henriques. O novo país tinha fortes ligações com a Inglaterra, com a qual iria firmar posteriormente o Tratado de Windsor, em 1386. O apogeu da história de Portugal foi o período das grandes navegações e dos grandes descobrimentos, com a conseqüente formação do império colonial português na África, Ásia e América Latina.
Portugal surgiu como nação independente da Espanha durante a Reconquista (1139-1249), ou seja, a luta contra os muçulmanos que haviam conquistado boa parte da Península Ibérica vários séculos antes. Seu primeiro rei foi D. Afonso Henriques. O novo país tinha fortes ligações com a Inglaterra, com a qual iria firmar posteriormente o Tratado de Windsor, em 1386. O apogeu da história de Portugal foi o período das grandes navegações e dos grandes descobrimentos, com a conseqüente formação do império colonial português na África, Ásia e América Latina.
No
final da Idade Média, a forte integração entre a igreja e o estado
na Península Ibérica deu origem ao fenômeno conhecido como
“padroado” ou patronato real. Pelo padroado, a Igreja de Roma
concedia a um governante civil certo grau de controle sobre uma
igreja nacional em apreciação por seu zelo cristão e como
incentivo para futuras ações em favor da igreja. Entre 1455 e 1515,
quatro papas concederam direitos de padroado aos reis portugueses,
que assim foram recompensados por seus esforços no sentido de
derrotar os mouros, descobrir novas terras e trazer outros povos para
a cristandade.
Portanto,
a descoberta e colonização do Brasil foi um empreendimento conjunto
do Estado português e da Igreja Católica, no qual a coroa
desempenhou o papel predominante. O estado forneceu os navios,
custeou as despesas, construiu as igrejas e pagou o clero, mas também
teve o direito de nomear os bispos, recolher os dízimos, aprovar
documentos e interferir em quase todas as áreas da vida da igreja.
Um
dos primeiros representantes oficiais do governo português a visitar
o Brasil foi Martim Afonso de Souza, em 1530. Três anos depois, foi
implantado o sistema de capitanias hereditárias, que, todavia, não
foi bem-sucedido. Diante disso, Portugal começou a nomear
governadores-gerais, o primeiro dos quais foi Tomé de Sousa, que
chegou em 1549 e construiu Salvador, na Bahia, a primeira capital da
colônia.
Com
Tomé de Sousa vieram os primeiros membros de uma nova ordem
religiosa católica que havia sido oficializada recentemente (1540) –
a Sociedade de Jesus ou os jesuítas. Manoel da Nóbrega, José de
Anchieta e seus companheiros foram os primeiros missionários e
educadores do Brasil colonial. Essa ordem iria atuar
ininterruptamente no Brasil durante 210 anos (1549-1759), exercendo
enorme influência sobre sua história religiosa e cultural. Muitos
jesuítas foram defensores dos índios, como o afamado padre Antonio
Vieira (1608-97). Ao mesmo tempo, eles se tornaram os maiores
proprietários de terras e senhores de escravos do Brasil colonial.
Em
1759 a Sociedade de Jesus foi expulsa de todos os territórios
portugueses pelo primeiro-ministro do rei D. José I, Sebastião José
de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal (1751-1777). Por causa de
sua riqueza e influência, os jesuítas tinham muitos inimigos entre
os líderes eclesiásticos, proprietários de terras e autoridades
civis. Sua expulsão resultou tanto do anticlericalismo que se
alastrava pela Europa quanto do “regalismo” de Pombal, isto é, a
noção de que todas as instituições da sociedade, em especial a
igreja, deviam ser inteiramente subservientes ao rei. Pombal também
determinou a transferência da capital colonial de Salvador para o
Rio de Janeiro.
Desde
o início da colonização, a coroa portuguesa foi lenta em seu apoio
à igreja: a primeira diocese foi fundada em 1551, a segunda somente
em 1676 e em 1750 havia apenas oito dioceses no vasto território.
Nenhum seminário para o clero secular foi criado até 1739. Todavia,
a coroa nunca deixou de recolher os dízimos, que vieram a ser o
principal tributo colonial. Com a expulsão dos jesuítas, que eram
em grande parte independentes das autoridades civis, a igreja
tornou-se ainda mais fraca.
Durante
o período colonial, a atuação dos bandeirantes, aventureiros que
se embrenhavam pelo interior em busca de pedras preciosas e escravos,
foi decisiva para a expansão territorial do Brasil. Suas ações
foram facilitadas e incentivadas pela União Ibérica, ou seja, o
controle de Portugal pela Espanha durante sessenta anos (1580-1640).
Os bandeirantes chegaram a atacar as missões jesuíticas da bacia do
rio Paraná, conhecidas como “reduções”, levando centenas de
indígenas para os mercados de escravos de São Paulo. A escravidão
de índios e negros foi uma constante no período colonial. Outro
fenômeno marcante foi a corrida do ouro nas Minas Gerais
(1693-1760), que trouxe benefícios e problemas.
No
período colonial houve dois tipos bastante distintos de catolicismo
no Brasil. Em primeiro lugar, havia a religiosidade dos colonos,
escravos e senhores de engenho, centralizada na “casa grande” e
caracterizada pela informalidade, pequena ênfase em dogmas, devoção
aos santos e Maria e permissividade moral. Ao mesmo tempo, nos
centros urbanos havia o catolicismo das ordens religiosas, mais
disciplinado e alinhado com Roma. Havia ainda as irmandades, que por
vezes tinham bastante independência em relação à hierarquia.
Em
conclusão, no período colonial o estado exerceu um rígido controle
sobre a área eclesiástica. Com isso a igreja teve dificuldade em
realizar adequadamente o seu trabalho evangelístico e pastoral. O
catolicismo popular era culturalmente forte, mas débil nos planos
espiritual e ético. Apesar das suas debilidades, a igreja foi um
importante fator na construção da unidade e da identidade nacional.
2.
Presença protestante no Brasil colonial
Nos
séculos 16 e 17, duas regiões do Brasil foram invadidas por nações
européias: a França e a Holanda. Muitos dos invasores eram
protestantes, o que provocou forte reação dos portugueses numa
época em que estava em pleno curso a Contra-Reforma, ou seja, o
esforço da Europa católica no sentido de deter e mesmo suprimir o
protestantismo. O esforço pela expulsão dos invasores fortaleceu a
consciência nacional, mas ao mesmo tempo aumentou o isolamento do
Brasil.
2.1
Os franceses na Guanabara (1555-1567)
Em
dezembro de 1555 chegou à baía de Guanabara uma expedição
comandada por Nicolas Durand de Villegaignon. O empreendimento contou
com o apoio do almirante Gaspard de Coligny (1519-1572), um
simpatizante e futuro correligionário dos protestantes franceses
(huguenotes).
Inicialmente,
Villegaignon se mostrou simpático à Reforma. Escreveu ao reformador
João Calvino, em Genebra, na Suíça, pedindo pastores e colonos
evangélicos para sua colônia. Uma segunda expedição chegou em
1557, trazendo um pequeno grupo de huguenotes liderados pelos
pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier. Um integrante da
comitiva era Jean de Léry, que mais tarde se tornou pastor e
escreveu o livro História
de uma viagem à terra do Brasil,
publicado em Paris, em 1578. No dia 10 de março de 1557 esse grupo
realizou o primeiro culto protestante da história do Brasil e das
Américas.
Rapidamente
surgiram divergências entre Villegaignon e os calvinistas acerca dos
sacramentos e de outras questões. O pastor Chartier foi enviado de
volta para a França e os colonos protestantes foram expulsos. O
navio em que vários deles voltaram para a França começou a
apresentar problemas e cinco deles se ofereceram para retornar à
terra: Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon,, André
Lafon e Jacques le Balleur.
Em
resposta a uma série de perguntas apresentadas pelo comandante,
esses homens escreveram um belo documento, a Confissão
de fé da Guanabara
(1558). Três deles foram executados por causa de suas convicções.
André Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Le
Balleur fugiu para São Vicente, ficou encarcerado por vários anos
em Salvador, e finalmente foi levado para o Rio de Janeiro em 1567,
sendo enforcado quando os últimos franceses foram expulsos pelos
portugueses.
Os
calvinistas tiveram uma preocupação missionária em relação aos
índios, mas pouco puderam fazer por eles. Léry expressou atitudes
contraditórias que provavelmente eram típicas dos seus comanheiros:
embora interessado na situação espiritual dos indígenas, a
relutância dos mesmos em aceitar a fé cristã o levou a concluir
que eles talvez estivessem entre os não-eleitos. A França Antártica
entrou para a história como a primeira tentativa de se estabelecer
uma igreja e um trabalho missionário protestante na América Latina.
2.2
Os holandeses no Nordeste (1630-1654)
Em
1568 as Províncias Unidas dos Países Baixos tornaram-se
independentes da Espanha. A nova e próspera nação calvinista criou
em 1621 a Companhia das Índias Ocidentais, na época em que Portugal
estava sob o domínio da Espanha (1580-1640). Em 1624 os holandeses
tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano
seguinte.
Em
1630 a Companhia das Índias Ocidentais tomou Recife e Olinda e
dentro de cinco anos apossou-se de grande parte do nordeste
brasileiro. O maior líder do Brasil holandês foi o príncipe João
Maurício de Nassau-Siegen, que governou por apenas sete anos
(1637-1644). Ele foi notável administrador e incentivador das
ciências e das artes. Concedeu uma boa medida de liberdade religiosa
aos habitantes católicos e judeus do Brasil holandês.
Os
holandeses criaram sua própria igreja estatal nos moldes da Igreja
Reformada da Holanda. Durante os 24 anos de dominação, foram
organizadas 22 igrejas e congregações, dois presbitérios e um
sínodo. As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores
(“predicantes”), além de pregadores auxiliares (“proponentes”)
e outros oficiais. Havia também muitos “consoladores dos enfermos”
e professores de escolas paroquiais.
As
igrejas destacaram-se pela sua atuação beneficente e sua ação
missionária junto aos índios. Havia planos de preparação de um
catecismo, tradução da Bíblia e ordenação de pastores indígenas.
Todavia, levados por considerações econômicas e agindo contra as
suas convicções religiosas, os holandeses mantiveram intacto o
sistema de escravidão negra, ainda que tenham concedido alguns
direitos aos escravos.
Após
alguns anos de divergências com os diretores da Companhia das Índias
Ocidentais, Maurício de Nassau renunciou em 1644 e no ano seguinte
começou a revolta dos portugueses e brasileiros contra os invasores,
que finalmente foram expulsos em 1654. No restante do período
colonial, o Brasil manteve-se isolado, sendo inteiramente vedada a
entrada de protestantes. Porém, com a transferência da família
real portuguesa, em 1808, abriram-se as portas do país para a
entrada legal dos primeiros protestantes (anglicanos ingleses).
3.
Igreja e Estado no Brasil Império (1822-1889)
Com
a independência do Brasil, surgiu a necessidade de atrair imigrantes
europeus, inclusive protestantes. A Constituição Imperial,
promulgada em 1824, concedeu-lhes certa liberdade de culto, ao mesmo
tempo em que confirmou o catolicismo como religião oficial. Até a
Proclamação da República, os protestantes enfrentariam sérias
restrições no que diz respeito ao casamento civil, uso de
cemitérios e educação.
Desde
o século 18, começaram a se tornar influentes no Brasil novos
conceitos e movimentos surgidos na Europa, tais como o iluminismo, a
maçonaria, o liberalismo político e os ideais democráticos
americanos e franceses. Tais idéias tornaram-se especialmente
influentes entre os intelectuais, políticos e sacerdotes, e tiveram
dois efeitos importantes na área religiosa: o enfraquecimento da
Igreja Católica e uma crescente abertura ao protestantismo.
O
liberalismo de muitos religiosos brasileiros, inclusive bispos, é
ilustrado pelo padre Diogo Antonio Feijó (regente do império de
1835 a 1837), que em diferentes ocasiões propôs a legalização do
casamento clerical, sugeriu que os irmãos morávios fossem
convidados para educar os índios brasileiros e defendeu um concílio
nacional para separar a igreja brasileira de Roma.
O
imperador D. Pedro II (1841-1889) utilizou plenamente seus direitos
legais de padroado, bem como os poderes adicionais do recurso (em
casos de disciplina eclesiástica) e do beneplácito (censura de
todos os documentos eclesiásticos antes de sua publicação no
Brasil), em virtude da sua preocupação com o ultramontanismo. Um
autor comenta que, durante o longo reinado de Pedro II, a igreja não
passou de um departamento do governo.
Todavia,
no pontificado do papa Pio IX (1846-1878) Roma começou a exercer um
maior controle sobre a igreja brasileira. As idéias da encíclica
Quanta
cura
e seu Sílabo
de Erros
tiveram rápida difusão, apesar de não terem recebido o beneplácito
de Pedro II. O Sílabo
atacou
violentamente a maçonaria numa época em que os principais
estadistas brasileiros e o próprio imperador estavam ligados às
lojas. Isto acabou desencadeando a famosa “Questão Religiosa”
(1872-75), um sério confronto entre o governo e dois bispos do norte
do Brasil (D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira e D. Antônio de
Macedo Costa) que enfraqueceu o Império e contribuiu para a
Proclamação da República.
A
Questão Religiosa marcou o início da renovação católica no
Brasil, que se aprofundou no período republicano. À medida que
afirmava sua autonomia diante do Estado, a Igreja tornou-se mais
universalística e mais romana. O próprio sacerdócio tornou-se mais
estrangeiro. Ao mesmo tempo, ela teve de enfrentar a concorrência de
outros grupos religiosos e ideológicos além do protestantismo, tais
como o positivismo e o espiritismo.
O
século 19 testemunhou um longo esforço dos protestantes no sentido
de obter completa legalidade e liberdade no Brasil, 80 anos de avanço
lento, porém contínuo, em direção à plena tolerância
(1810-1890). Um passo importante na conquista da liberdade de
expressão e de propaganda ocorreu quando o missionário Robert Reid
Kalley, pressionado pelas autoridades, consultou alguns juristas
destacados e obteve opiniões favoráveis quanto às suas atividades
religiosas. Finalmente, em 1890, um decreto do governo republicano
consagrou a separação entre a Igreja e o Estado, assegurando aos
protestantes pleno reconhecimento e proteção legal. A nova
expressão religiosa se implantou no Brasil em duas fases:
protestantismo de imigração e protestantismo missionário.
4.
Protestantismo de imigração
O
historiador Boanerges Ribeiro observa que “ao iniciar-se o século
XIX, não havia no Brasil vestígio de protestantismo”
(Protestantismo
no Brasil monárquico,
p. 15). Em janeiro de 1808, com a chegada da família real ao Rio de
Janeiro, o príncipe-regente João decretou a abertura dos portos do
Brasil às nações amigas. Em novembro, um novo decreto concedeu
amplos privilégios a imigrantes de qualquer nacionalidade ou
religião.
Em
fevereiro de 1810, Portugal assinou com a Inglaterra tratados de
Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação. Este último, em seu
artigo 12, concedeu aos estrangeiros “perfeita liberdade de
consciência” para praticarem sua fé. Tratava-se de uma tolerância
limitada, porque vinha acompanhada da proibição de fazer prosélitos
e de falar contra a religião oficial. Além disso, as capelas
protestantes não teriam forma exterior de templo nem poderiam
utilizar sinos.
O
primeiro capelão anglicano, Robert C. Crane, chegou em 1816. A
primeira capela anglicana foi inaugurada no Rio de Janeiro em 26 de
maio de 1822; seguiram-se outras nas principais cidades litorâneas.
Outros estrangeiros protestantes que chegaram nos primeiros tempos
foram americanos, suecos, dinamarqueses, escoceses, franceses e
especialmente alemães e suíços, de tradição luterana e
reformada.
Boanerges
Ribeiro continua: “Quando se proclamou a Independência, contudo,
ainda não havia igreja protestante no país. Não havia culto
protestante em língua portuguesa. E não há notícia de existir,
então, sequer um brasileiro protestante” (Ibid.,
p. 18). Com a independência, houve grande interesse na vida de
imigrantes, inclusive protestantes. Isso exigiu que se garantissem os
direitos religiosos desses imigrantes. A Constituição
Imperial
de 1824 afirmou no artigo 5º: “A religião católica apostólica
romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras
religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular,
em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.
Em
1820, um contingente de suíços católicos iniciou a colônia de
Nova Friburgo. Logo a área foi abandonada e oferecida a alemães
luteranos que chegaram em maio de 1824. Eram 324 imigrantes
acompanhados do seu pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-1864).
A maior parte dos imigrantes alemães foi para o sul, cerca de 4.800
entre 1824 e 1830, 60% dos quais eram protestantes. Seus primeiros
pastores foram Johann Georg Ehlers, Karl Leopold Voges e Friedrich
Christian Klingelhöffer.
Em
junho de 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, Wilhelm von
Theremin, foi criada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante
Alemã-Francesa, congregando luteranos e calvinistas, cujo primeiro
pastor foi Ludwig Neumann. Em 1837, o primeiro santuário passou a
funcionar em um edifício alugado, sendo o edifício próprio
inaugurado em 1845.
Por
falta de ministros ordenados, os primeiros luteranos organizaram sua
própria vida religiosa. Elegeram leigos para serem pastores e
professores, os “pregadores-colonos”. Todavia, na década de
1850, a Prússia e a Suíça “descobriram” os alemães do sul do
Brasil e começaram a enviar-lhes missionários e ministros. Isso
criou uma igreja mais institucional e européia.
Em
1868, o Rev. Hermann Borchard, que havia chegado em 1864, e outros
colegas fundaram o Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio
Grande do Sul, que foi extinto em 1875. Em 1886, o Rev. Wilhelm
Rotermund (chegado em 1874), organizou o Sínodo Rio-Grandense, que
se tornou modelo para outras organizações similares. Até o final
da II Guerra Mundial as igrejas luteranas permaneceram culturalmente
isoladas da sociedade brasileira.
Uma
conseqüência importante da imigração protestante é o fato de que
ela ajudou a criar as condições que facilitaram a introdução do
protestantismo missionário no Brasil. O autor Erasmo Braga observou
que, à medida que os imigrantes alemães exigiam garantias legais de
liberdade religiosa, estadistas liberais criaram “a legislação
avançada que, durante o longo reinado de D. Pedro II, protegeu as
missões evangélicas da perseguição aberta e até mesmo colocou as
comunidades não-católicas sob a proteção das autoridades
imperiais” (The
Republic of Brazil,
p. 49). Em 1930, de uma comunidade protestante de 700 mil pessoas no
país, as igrejas imigrantes tinham aproximadamente 300 mil filiados.
A maior parte estava ligada à Igreja Evangélica Alemã do Brasil
(215 mil) e vivia no Rio Grande do Sul.
5.
Protestantismo missionário (1835-1889)
As
primeiras organizações protestantes que atuaram junto aos
brasileiros foram as sociedades bíblicas: Britânica e Estrangeira
(1804) e Americana (1816). Havia duas traduções da Bíblia em
português, uma protestante, feita pelo Rev. João Ferreira de
Almeida (1628-1691), e outra católica, do padre Antônio Pereira de
Figueiredo (1725-1797). Os primeiros agentes oficiais das sociedades
bíblicas foram: da SBA, James C. Fletcher (1855); da SBBE, Richard
Corfield (1856). Nesse período pioneiro, foi muito importante o
trabalho dos colportores, isto é, vendedores de Bíblias e
literatura religiosa.
A
Igreja Metodista Episcopal foi a primeira denominação a iniciar
atividades missionárias junto aos brasileiros (1835-1841). Seus
obreiros iniciais foram Fountain E. Pitts, Justin Spaulding e Daniel
Parish Kidder. Eles fundaram no Rio de Janeiro a primeira escola
dominical do Brasil. Também atuaram como capelães da Sociedade
Americana dos Amigos dos Marinheiros, fundada em 1828.
Daniel
P. Kidder foi uma figura importante dos primórdios do protestantismo
brasileiro. Ele viajou por todo o país, vendeu Bíblias e manteve
contactos com intelectuais e políticos destacados, como o padre
Diogo Antônio Feijó, regente do império (1835-1837). Kidder
escreveu o livro Reminiscências
de viagens e permanência no Brasil,
publicado em 1845, um clássico que despertou grande interesse pelo
Brasil.
James
Cooley Fletcher (1823-1901) era pastor presbiteriano. Estudou no
Seminário de Princeton e na Europa, e se casou com uma filha de
César Malan, teólogo calvinista de Genebra. Chegou ao Brasil em
1851 como o novo capelão da Sociedade dos Amigos dos Marinheiros e
como missionário da União Cristã Americana e Estrangeira. Atuou
como secretário interino da legação americana no Rio de Janeiro e
foi o primeiro agente oficial da Sociedade Bíblica Americana. Foi um
promotor entusiasta do protestantismo e do “progresso”. Escreveu
O
Brasil e os brasileiros,
publicado em 1857, uma versão atualizada da obra de Kidder.
Robert
Reid Kalley (1809-1888) era natural da Escócia. Estudou medicina e
foi trabalhar como missionário na Ilha da Madeira (1838). Oito anos
depois, escapou de uma violenta perseguição e foi com seus
paroquianos para os Estados Unidos. Fletcher sugeriu que ele fosse
para o Brasil, onde Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley
(1825-1907) chegaram em maio de 1855. No mesmo ano, fundaram em
Petrópolis a primeira escola dominical permanente do país (19 de
agosto). Em 11 de julho de 1858, Kalley fundou a Igreja Evangélica,
depois Igreja Evangélica Fluminense (1863), cujo primeiro membro
brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade. Kalley teve importante
atuação na defesa da liberdade religiosa (1859). Sua esposa foi
autora do famoso hinário Salmos
e hinos
(1861). A Igreja Fluminense aprovou sua base doutrinária, elaborada
por Kalley, em 2 de julho de 1876. No mesmo ano, o missionário
voltou em definitivo para a Escócia. Os estatutos da igreja foram
aprovados pelo governo imperial em 22 de novembro de 1880.
Os
missionários pioneiros da Igreja Presbiteriana foram Ashbel Green
Simonton (1859), Alexander Latimer Blackford (1860) e Francis Joseph
Christopher Schneider (1861). As primeiras igrejas organizadas foram
as do Rio de Janeiro (1862), São Paulo (1865) e Brotas (1865). Duas
importantes realizações iniciais foram o jornal Imprensa
Evangélica
(1864-1892) e o Seminário do Rio de Janeiro (1867-1870). O primeiro
pastor evangélico brasileiro foi o ex-sacerdote José Manoel da
Conceição, ordenado em 17 de dezembro de 1865. Em 1870, os
presbiterianos fundaram em São Paulo a Escola Americana (atual
Universidade Mackenzie). Em 1888, foi organizado o Sínodo do Brasil,
que marcou a autonomia eclesiástica da Igreja Presbiteriana do
Brasil.
Após
a Guerra Civil americana (1861-1865), muitos imigrantes
norte-americanos se estabeleceram no interior da Província de São
Paulo. Eles foram seguidos por missionários presbiterianos,
metodistas e batistas. Os pioneiros enviados pela Igreja
Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos (PCUS) foram George Nash
Morton e Edward Lane (1869). Eles fundaram o Colégio Internacional,
instalado oficialmente em 1873.
A
Igreja Metodista Episcopal (do sul dos Estados Unidos) enviou Junius
E. Newman para trabalhar junto aos imigrantes (1876). O primeiro
missionário aos brasileiros foi John James Ransom, que chegou em
1876 e dois anos depois organizou a primeira igreja no Rio de
Janeiro. A professora Martha Hite Watts iniciou uma escola para moças
em Piracicaba (1881). A partir de 1880, a I.M.E. do norte dos EUA
enviou obreiros ao norte do Brasil (William Taylor, Justus H. Nelson)
e ao Rio Grande do Sul. A Conferência Anual Metodista foi organizada
em 1886 pelo bispo John C. Granbery, com a presença de apenas três
missionários.
Os
primeiros missionários da Igreja Batista, Thomas Jefferson Bowen e
sua esposa (1859-1861), não foram bem sucedidos. Em 1871, os
imigrantes batistas de Santa Bárbara organizaram duas igrejas. Os
primeiros missionários junto aos brasileiros foram William Buck
Bagby, Zachary Clay Taylor e suas esposas (chegados em 1881-1882). O
primeiro membro e pastor batista brasileiro foi o ex-padre Antônio
Teixeira de Albuquerque, que já estivera ligado aos metodistas. Em
1882 o grupo fundou a primeira igreja brasileira em Salvador, na
Bahia. A Convenção Batista Brasileira foi criada em 1907.
A
Igreja Protestante Episcopal foi a última das denominações
históricas a iniciar trabalho missionário no Brasil. Um importante
e controvertido precursor havia sido Richard Holden (1828-1886), que
durante três anos atuou com poucos resultados no Pará e na Bahia
(1861-1864). O trabalho permanente teve início em 1890 com James
Watson Morris e Lucien Lee Kinsolving. Inspirados pela obra de
Simonton e por um folheto sobre o Brasil, eles se estabeleceram em
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um estado até então pouco
ocupado por outras missões. Em 1899, Kinsolving tornou-se o primeiro
bispo residente da Igreja Episcopal do Brasil.
6.
Igreja e estado: período republicano
A
separação entre a igreja e o estado foi efetivada pelo Decreto nº
119-A, de 7 de janeiro de 1890, que consagrou a plena liberdade de
culto. Em fevereiro de 1891, a primeira Constituição republicana
confirmou a separação entre a igreja e o estado, bem como proclamou
outras medidas liberais como a plena liberdade de culto, o casamento
civil obrigatório e a secularização dos cemitérios. Sob
influências liberais e positivistas, a Constituição omitiu o nome
de Deus, afirmando assim a caráter não religioso do novo regime, e
a Igreja Católica foi colocada em pé de igualdade com todos os
outros grupos religiosos; a educação foi secularizada, sendo a
religião omitida do novo currículo. Em uma carta pastoral de março
de 1890, os bispos deram as boas-vindas à República, mas também
repudiaram a separação entre a igreja e o estado.
A
partir de então, a Igreja teve duas grandes preocupações: obter o
apoio do Estado e aumentar a sua influência na sociedade. Um dos
primeiros passos foi fortalecer a estrutura interna da igreja:
criaram-se novas estruturas eclesiásticas (dioceses, arquidioceses,
etc.) e fundaram-se novos seminários. Foi incentivada a vinda de
muitos religiosos estrangeiros para o Brasil (capuchinhos,
beneditinos, carmelitas, franciscanos). A igreja também manteve sua
firme oposição contra a modernidade, o protestantismo, a maçonaria
e outros movimentos.
Dois
grandes líderes foram especialmente influentes nesse esforço
renovador: primeiro, o padre Júlio Maria, que desde 1890 até sua
morte em 1916 foi muito ativo como pregador e escritor, visando
mobilizar a igreja e tornar o Brasil verdadeiramente católico. Ainda
mais notável foi D. Sebastião Leme da Silveira Cintra (1882-1942),
o líder responsável pela orientação e mobilização da Igreja
Católica brasileira na primeira metade do século 20, como arcebispo
de Olinda e Recife (1916-21), coadjutor no Rio de Janeiro (1921-30) e
cardeal arcebispo do Rio até a sua morte.
Em
1925, D. Leme propôs emendas à constituição que dariam
reconhecimento oficial à Igreja Católica como a religião dos
brasileiros e permitiriam a educação religiosa nas escolas
públicas. As chamadas “emendas Plínio Marques” enfrentaram a
vigorosa oposição dos protestantes, maçons, espíritas e da
imprensa, sendo eventualmente rejeitadas. Todavia, mediante um
decreto de abril de 1930, Getúlio Vargas permitiu o ensino religioso
nas escolas. Por fim, a Constituição de 1934 incluiu todas as
exigências católicas, sem oficializar o catolicismo. O Centro Dom
Vital, cujos líderes iniciais foram Jackson de Figueiredo e Alceu de
Amoroso Lima, deu continuidade à luta pela ascendência católica. A
agenda da Liga Eleitoral Católica incluía tópicos como a
oficialização do catolicismo, o casamento religioso, o ensino
religioso nas escolas públicas, capelanias católicas nas forças
armadas e sindicatos católicos. Também foram realizadas campanhas
contra as missões estrangeiras protestantes.
7.
Católicos e protestantes
Nas
primeiras décadas do período republicano, os protestantes tiveram
diferentes atitudes diante da reação católica. Uma delas foi a
criação de uma frente unida contra o catolicismo. A entidade
conhecida como Aliança Evangélica havia sido criada inicialmente na
Inglaterra (1846) e nos Estados Unidos (1867). A congênere
brasileira surgiu em São Paulo, em julho de 1903, tendo como
presidente Hugh C. Tucker (metodista) e como secretário F. P. Soren
(batista). Todavia, o Congresso do Panamá e a subsequente
Conferência do Rio de Janeiro, em 1916, revelaram atitudes
divergentes em relação ao catolicismo, sendo alguns elementos,
principalmente norte-americanos, favoráveis a uma aproximação e
mesmo colaboração com a igreja católica. Uma das questões
discutidas foi o rebatismo ou não de católicos convertidos à fé
evangélica. Esse período também viu o recrudescimento de
perseguições contra os protestantes em muitos lugares do Brasil.
Na
década de 1920, a Comissão Brasileira de Cooperação, liderada
pelo Rev. Erasmo de Carvalho Braga (1877-1932) procurou unir as
igrejas evangélicas na luta pela preservação dos seus direitos e
no exercício de um testemunho profético junto à sociedade
brasileira. Esse esforço teve prosseguimento até os anos 60 na
Confederação Evangélica do Brasil. Após 1964, as relações das
igrejas evangélicas e da Igreja Católica com o estado brasileiro
tomaram rumos por vezes diametralmente opostos, cujas conseqüências
se fazem sentir até os dias de hoje.
8.
Progressistas x conservadores
Nas
primeiras décadas do século 20, o protestantismo brasileiro sofreu
a influência de algumas correntes teológicas norte-americanas, como
o evangelho social, o movimento ecumênico e o fundamentalismo.
Inspirado em parte pelos dois primeiros, surgiu um notável esforço
cooperativo entre as igrejas históricas, sob a liderança do Rev.
Erasmo Braga, secretário da Comissão Brasileira de Cooperação
(1917). Essa entidade se uniu em 1934 à Federação das Igrejas
Evangélicas do Brasil e ao Conselho Nacional de Educação Religiosa
para formar a Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Nos anos 50
e início da década de 60, a CEB criou a Comissão de Igreja e
Sociedade (1955), depois Setor de Responsabilidade Social da Igreja.
Sua quarta reunião, conhecida como Conferência do Nordeste,
realizada em Recife em 1962, teve como tema “Cristo e o Processo
Revolucionário Brasileiro”. Seus líderes foram Carlos Cunha,
Almir dos Santos e Waldo César, sendo preletores Sebastião G.
Moreira, Joaquim Beato, João Dias de Araújo e o bispo Edmundo K.
Sherill.
O
movimento ecumênico havia surgido com a Conferência Missionária
Mundial (1910), em Edimburgo, na Escócia, que deu origem ao Concílio
Missionário Internacional (1921). Outros dois movimentos, “Vida e
Trabalho” e “Fé e Ordem” se uniram para formar o Conselho
Mundial de Igrejas (Utrecht, 1938; Amsterdã, 1948). Algumas das
primeiras igrejas brasileiras a se filiarem a essa organização
foram a metodista (1942), a luterana (1950), a episcopal (1965) e a
Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo (1968).
Por
fim, o espírito denominacional suplantou o ecumenismo. Duncan Reily
observa: “O ecumenismo no Brasil foi muito mais um projeto dos
missionários e das sociedades missionárias do que dos brasileiros”
(História
Documental,
233). Além de algumas igrejas históricas, também se opuseram ao
ecumenismo os grupos pentecostais, as “missões de fé” e
“missões indenominacionais”, e o movimento fundamentalista de
Carl McIntire.
9.
Denominações históricas (1889-1964)
9.1
Igreja Congregacional
Essa
foi a primeira denominação brasileira inteiramente nacional (não
sujeita a nenhuma junta missionária). Até 1913, foram organizadas
somente treze igrejas congregacionais no Brasil, todas autônomas.
Oito eram filhas da Igreja Fluminense: Pernambucana (1873), Passa
Três (1897), Niterói (1899), Encantado (1903), Paranaguá,
Paracambi e Santista (1912), Paulistana (1913), e três da Igreja
Pernambucana: Vitória (1905), Jaboatão (1905) e Monte Alegre
(1912). Em julho de 1913, essas igrejas se reuniram em 1ª Convenção
Geral, no Rio de Janeiro. Daí até 1942, a denominação mudou de
nome dez vezes.
Os
ingleses fundaram missões para atuar na América do Sul: Help
for Brazil
(criada em 1892 por iniciativa de Sarah Kalley e outros), South
American Evangelical Mission
(Argentina) e Regions
Beyond Missionary Union
(Peru). Após a Conferência de Edimburgo (1910), essas missões
vieram a constituir a União Evangélica Sul-Americana – UESA
(1911). Dos seus esforços, surgiu no Brasil a Igreja Cristã
Evangélica.
Os
congregacionais uniram-se à Igreja Cristã Evangélica em 1942,
formando a União das Igrejas Congregacionais e Cristãs do Brasil.
Separaram-se em 1969, tomando o nome de União das Igrejas
Evangélicas Congregacionais do Brasil. A outra ala dividiu-se em
duas: Igreja Cristã Evangélica no Brasil (Anápolis) e Igreja
Cristã Evangélica do Brasil (São Paulo).
9.2
Igreja Presbiteriana
A
Igreja Presbiteriana do Brasil alcançou sua autonomia formal em
1888, com a criação do Sínodo Presbiteriano. Surgiu então uma
crise no período 1892-1903 em torno das questões missionária,
educativa e maçônica que resultou em divisão, surgindo a Igreja
Presbiteriana Independente. Dois eventos significativos no início do
século 20 foram a criação da Assembléia Geral (1910) e o
estabelecimento de um plano de cooperação entre a igreja e as
missões americanas, conhecido como Modus Operandi ou “Brazil Plan”
(1917). Com a Constituição de 1937, a Assembléia Geral foi
transformada em Supremo Concílio. Em 1955 surgiu o Conselho
Interpresbiteriano, criado para gerir as relações da igreja com as
missões americanas e com as juntas missionárias nos Estados Unidos.
Em
1948, Samuel Rizzo representou a IPB na Assembléia do Conselho
Mundial de Igrejas em Amsterdã. No ano seguinte, a igreja optou pela
“eqüidistância” entre o CMI e o CIIC de Carl McIntire. Em 1962,
o Supremo Concílio aprovou o “Pronunciamento Social da IPB”.
Entre
a juventude surgiu um crescente questionamento da posição
conservadora da igreja. Um importante canal de expressão foi o
controvertido Jornal
Mocidade
(1944). Billy Gammon, filha do Rev. Samuel Gammon, foi nomeada
secretária da mocidade a partir de 1946. Até 1958 o número de
sociedades locais cresceu de 150 para 600, com 17 mil membros. O Rev.
M. Richard Shaull veio ao Brasil para trabalhar entre universitários.
Em 1953 tornou-se professor do Seminário Presbiteriano de Campinas e
começou a cooperar com o Departamento de Mocidade e a União Cristã
de Estudantes do Brasil (UCEB). Tornou-se uma voz influente na
mocidade evangélica em geral. Em 1962, o Supremo Concílio
reestruturou o Departamento de Mocidade, tirando sua autonomia.
Igreja
Presbiteriana Fundamentalista:
Israel Gueiros, pastor da 1ª Igreja Presbiteriana de Recife e ligado
ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (Carl McIntire)
liderou uma campanha contra o Seminário do Norte sob a acusação de
modernismo. Fundou outro seminário e foi deposto pelo Presbitério
de Pernambuco em julho de 1956. Em 21 de setembro do mesmo ano foi
organizada a IPFB com quatro igrejas locais (inclusive elementos
batistas e congregacionais), que formaram um presbitério com 1800
membros.
9.3
Igreja Presbiteriana Independente
Essa
igreja surgiu em 1903 como uma denominação totalmente nacional, sem
qualquer vinculação com igrejas estrangeiras. Resultou do projeto
nacionalista de Eduardo Carlos Pereira (1856-1923). Em 1907 tinha 56
igrejas e 4.200 membros comungantes. Fundou um seminário em São
Paulo. Em 1908 foi instalado o Sínodo, inicialmente com três
presbitérios. Mais tarde, em 1957, foi criado o Supremo Concílio,
com três sínodos, dez presbitérios, 189 igrejas locais e 105
pastores. Seu jornal oficial era O
Estandarte,
fundado em 1893. Após o Congresso do Panamá (1916), a IPI
aproximou-se da IPB e das outras igrejas evangélicas. A partir de
1930, surgiu um movimento de intelectuais (entre eles o Rev. Eduardo
Pereira de Magalhães, neto de Eduardo Carlos Pereira) que pretendia
reformar a liturgia, certos costumes eclesiásticos e até mesmo a
Confissão de Fé. A questão eclodiu no Sínodo de 1938. Um grupo
organizou a Liga Conservadora, liderada pelo Rev. Bento Ferraz. A
elite liberal retirou-se da IPI em 1942 e formou a Igreja Cristã de
São Paulo.
A
Igreja
Presbiteriana Conservadora
foi fundada pelos membros da Liga Conservadora em 1940. Em 1957,
contava com mais de vinte igrejas, em quatro estados, e tinha um
seminário. Seu órgão oficial é O
Presbiteriano Conservador.
Filiou-se à Aliança Latino-Americana de Igrejas Cristãs e à
Confederação de Igreja Evangélicas Fundamentalistas do Brasil.
9.4
Igreja Metodista
A
Conferência Anual Metodista foi organizada no Rio de Janeiro em 15
de setembro de 1886 pelo bispo John C. Granbery, enviado ao Brasil
pela Igreja Metodista Episcopal do Sul. Tinha apenas três
missionários, James L. Kennedy, John W. Tarboux e Hugh C. Tucker,
sendo a menor conferência anual já criada na história do
metodismo. Em 1899, a IME do Norte transferiu seu trabalho no Rio
Grande do Sul para a Conferência Anual. Em 1910 e 1919 surgiram
outras duas conferências (norte, sul e centro).
A
Junta de Nashville continuou a interferir na vida da igreja de modo
indevido, culminando com a insistência em nomear o presidente do
Colégio Granbery (1917). Cresceu o movimento pelo sustento próprio,
liderado por Guaracy Silveira. Em 1930 a IMES cedeu a autonomia
desejada. No dia 2 de setembro de 1930, na Igreja Metodista Central
de São Paulo, foi organizada a Igreja Metodista do Brasil. O
primeiro bispo eleito foi o velho missionário John William Tarboux.
O primeiro bispo brasileiro foi César Dacorso Filho (1891-1966),
eleito em 1934, que por doze anos (1936-1948) foi o único bispo da
igreja. A Igreja Metodista foi a primeira denominação brasileira a
filiar-se ao Concílio Mundial de Igrejas (1942).
9.5
Igreja Batista
A
Convenção Batista Brasileira foi organizada no dia 24 de junho de
1907 na Primeira Igreja Batista da Bahia (Salvador), quando 43
delegados, representando 39 igrejas, aprovaram a “Constituição
Provisória das Igrejas Batistas do Brasil”.
Na
chamada “questão radical”, líderes batistas do nordeste
apresentaram um memorial aos missionários em 1922 e um manifesto à
Convenção em 1925 reivindicando maior participação nas decisões,
principalmente na área financeira. Não atendidos, mais tarde
organizaram-se como um facção separada da Convenção e da Junta.
As bases de cooperação entre a igreja brasileira e a Junta de
Richmond voltaram a ser discutidas em 1936 e 1957.
9.6
Igreja Luterana
O
Sínodo Rio-Grandense surgiu em 1886. Posteriormente, surgiram outros
sínodos autônomos: Sínodo da Caixa de Deus ou “Igreja Luterana”
(1905), com forte ênfase confessional; Sínodo Evangélico de Santa
Catarina e Paraná (1911) e Sínodo Brasil Central (1912). O Sínodo
Rio-Grandense, ligado à Igreja Territorial da Prússia, filiou-se à
Federação Alemã das Igrejas Evangélicas em 1929. Em 1932, o
Sínodo Luterano também se filiou à federação e começou a se
aproximar dos outros sínodos. Em 1939 o Estado Novo exigiu que toda
a pregação pública fosse feita em português.
Em
1949 os quatro sínodos se organizaram em Federação Sinodal, a
Igreja Luterana propriamente dita. No ano seguinte a igreja solicitou
admissão ao Conselho Mundial de Igrejas e em 1954 adotou o nome de
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). A Igreja
Luterana filiou-se à Confederação Evangélica do Brasil em 1959.
9.7
Igreja Episcopal
Uma
Convocação especial reunida em Porto Alegre em 30 de maio de 1898
definiu a relação formal entre a missão e a Igreja Episcopal dos
Estados Unidos e elegeu Lucien Lee Kinsolving como o primeiro bispo
residente da igreja brasileira. Ele foi sagrado bispo em Nova York em
6 de janeiro de 1899) e foi o único bispo episcopal no Brasil até
1925. O primeiro bispo brasileiro foi Athalício Theodoro Pithan,
sagrado em 21 de abril de 1940.
Em
abril de 1952, foi instalado o Sínodo da Igreja Episcopal
Brasileira, contando com três bispos: Athalício T. Pithan, Luís
Chester Melcher e Egmont Machado Krischke. Em 25 de abril de 1965 a
Igreja Episcopal do Brasil obteve da igreja-mãe sua plena
emancipação administrativa e passou a ser uma província autônoma
da Comunhão Anglicana. Logo em seguida, filiou-se ao CMI.
10.
Denominações Históricas (após 1964)
Dois
eventos cruciais na década de 60 foram: (a) o Concílio Vaticano II
(1962-65), que marcou a abertura aos protestantes (“irmãos
separados”) e revelou novas concepções sobre o culto, a missão
da igreja e a relação com a sociedade; (b) o Golpe de 1964 e o
regime militar no Brasil.
10.1
Igreja Presbiteriana
Esse
período marcou o fim do antigo relacionamento da IPB com as missões
norte-americanas. Em 1954 havia sido criado o Conselho
Interpresbiteriano. Em 1962, a Missão Brasil Central propôs-se a
entregar à igreja brasileira toda a sua obra evangelística,
educativa e médica. Em 1972 a igreja rompeu com a Missão Brasil
Central, sendo uma das possíveis causas a adoção da Confissão de
1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos EUA. Em 1973 a IPB rompeu
relações com a Igreja Unida (criada em 1958) e firmou novo convênio
com a missão da Igreja do Sul.
Duas
questões candentes da época foram o ecumenismo e a postura social.
A igreja enviou representantes à assembléia do Conselho Mundial de
Igreja em Amsterdã (1948) e observadores a outras assembléias.
Missionários como Richard Shaull deram ênfase a questões sociais,
influenciando os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo
Concílio de 1962 realizou um importante pronunciamento social.
Houve
uma forte reação conservadora no Supremo Concílio de 1966, em
Fortaleza, com a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em 1970 e
1974. As principais preocupações do período foram a ortodoxia, a
evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-se os
processos contra pastores, igrejas locais e concílios.
Nessa
época surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São
Paulo e a Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que defendiam maior
flexibilidade doutrinária. Em setembro de 1978, na cidade de
Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas
(FENIP).
10.2
Igreja Presbiteriana Independente
A
IPI inicialmente teve uma postura menos rígida que a IPB, mas a
partir de 1972 tornou-se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à
renovação carismática. Em 1978 admitiu aos seus presbitérios os
três primeiros missionários da sua história, Richard Irwin, Albert
James Reasoner e Gordon S. Trew, que antes colaboravam com a IPB. Em
1973, um segmento separou-se para formar a Igreja Presbiteriana
Independente Renovada, que depois se uniu a um grupo semelhante
egresso da IPB, formando a Igreja Presbiteriana Renovada.
10.3
Igreja Batista
No
período em questão, os batistas foram caracterizados por forte
ênfase evangelística, tendo realizado grandes campanhas. Billy
Graham pregou no Maracanã durante o X Congresso da Aliança Batista
Mundial (julho de 1960). O pastor João Filson Soren, da 1ª Igreja
Batista do Rio, foi eleito presidente da Aliança Mundial. Em 1965
foi realizada a Campanha Nacional de Evangelização como uma
resposta ao golpe de 1964. Seu lema foi “Cristo, a Única
Esperança”, indicado que soluções meramente políticas eram
insuficientes. Seu coordenador foi o pastor Rubens Lopes, da Igreja
Batista de Vila Mariana, em São Paulo. Houve ainda a Campanha das
Américas (1967-1970) e a Cruzada Billy Graham, no Rio de Janeiro, em
1974, tendo como presidente o pastor Nilson do Amaral Fanini. Houve
também uma Campanha Nacional de Evangelização em 1978-1980.
10.4
Igreja Metodista
No
início dos anos 60, Nathanael Inocêncio do Nascimento, reitor da
Faculdade de Teologia, liderou o “esquema” nacionalista que
visava substituir os líderes missionários do Gabinete Geral por
brasileiros (saíram Robert Davis e Duncan A. Reily e entraram Almir
dos Santos e Omar Daibert, futuros bispos).
Os
universitários e estudantes de teologia pleiteavam uma igreja mais
voltada para a ação social e a política. A ênfase na justiça
social dominou a Junta Geral de Ação Social (Robert Davis, Almir
dos Santos) e a Faculdade de Teologia. Dom Helder Câmara paraninfou
a turma de 1967. No ano seguinte, uma greve levou ao fechamento da
Faculdade e à sua reestruturação.
De
1968 em diante a igreja voltou-se para problemas internos como o
regionalismo. Em 1971 cada um dos seis concílios regionais elegeu,
pela primeira vez, o seu próprio bispo (os bispos sempre tinham sido
eleitos no Concílio Geral, como superintendentes gerais da igreja) e
surgiram vários seminários regionais. Essa tendência perdurou até
1978.
Nos
anos 70 a IMB investiu na educação superior. No campus da antiga
Faculdade de Teologia surgiu o Instituto Metodista de Ensino Superior
e em 1975 o Instituto Piracicabano (fundado em 1881) foi transformado
em Universidade Metodista de Piracicaba. Em 1982 foi elaborado o
Plano Nacional de Educação Metodista, cuja fundamentação deu
ênfase ao conceito do Reino de Deus e à teologia da libertação.
10.5
Igreja Luterana
Em
1968, os quatro sínodos, originalmente independentes um do outro,
integraram-se em definitivo na IECLB, aceitando uma nova
constituição. No VII Concílio Geral (outubro de 1970) foi aprovado
unanimemente o “Manifesto de Curitiba,” contendo o posicionamento
político-social da igreja. Esse manifesto foi entregue ao presidente
Emílio Médici por três pastores. Em 1975 entrou em vigor a reforma
do currículo da faculdade de teologia de São Leopoldo, refletindo
as prioridades da igreja.
11.
Igrejas pentecostais e neopentecostais
As
três ondas ou fases do pentecostalismo brasileiro foram as
seguintes: (a) décadas de 1910-1940: chegada simultânea da
Congregação Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus, que
dominaram o campo pentecostal por 40 anos; (b) décadas de 1950-1960:
fragmentação do pentecostalismo com o surgimento de novos grupos –
Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo, Deus é Amor e muitos
outros (contexto paulista); (c) anos 70 e 80: advento do
neopentecostalismo – Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja
Internacional da Graça de Deus e outras (contexto carioca).
(a)
Congregação
Cristã no Brasil:
fundada pelo italiano Luigi Francescon (1866-1964). Radicado em
Chicago, foi membro da Igreja Presbiteriana Italiana e aderiu ao
pentecostalismo em 1907. Em 1910 (março-setembro) visitou o Brasil e
iniciou as primeiras igrejas em Santo Antonio da Platina (PR) e São
Paulo, entre imigrantes italianos. Veio 11 vezes ao Brasil até 1948.
Em 1940, o movimento tinha 305 “casas de oração” e dez anos
mais tarde 815.
(b)
Assembléia
de Deus:
teve como fundadores os suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar
Vingren (1879-1933). Batistas de origem, eles abraçaram o
pentecostalismo em 1909. Conheceram-se numa conferência pentecostal
em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi influenciado pelo
pastor batista William H. Durham, que participou do avivamento de Los
Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no Brasil,
chegaram a Belém em novembro de 1910. Seus primeiros adeptos foram
membros de uma igreja batista com a qual colaboraram.
(b)
Igreja
do Evangelho Quadrangular:
fundada nos Estados Unidos pela evangelista Aimee Semple McPherson
(1890-1944). O missionário Harold Williams fundou a primeira IEQ do
Brasil em novembro de 1951, em São João da Boa Vista. Em 1953 teve
início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo Raymond
Boatright o principal evangelista. A igreja enfatiza quatro aspectos
do ministério de Cristo: aquele que salva, batiza com o Espírito
Santo, cura e virá outra vez. As mulheres podem exercer o ministério
pastoral.
(c)
Igreja
Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo:
fundada por Manoel de Mello, um evangelista da Assembléia de Deus
que depois tornou-se pastor da IEQ. Separou-se da Cruzada Nacional de
Evangelização em 1956, organizando a campanha “O Brasil para
Cristo”, da qual surgiu a igreja. Filiou-se ao CMI em 1969
(desligou-se em 1986). Em 1979 inaugurou seu grande templo em São
Paulo, sendo orador oficial Philip Potter, secretário-geral do CMI.
Esteve presente o cardeal arcebispo de São Paulo, Paulo Evaristo
Arns. Manoel de Mello morreu em 1990.
(d)
Igreja
Deus é Amor:
fundada por David Miranda (nascido em 1936), filho de um agricultor
do Paraná. Vindo para São Paulo, converteu-se numa pequena igreja
pentecostal e em 1962 fundou sua igreja em Vila Maria. Logo
transferiu-se para o centro da cidade (Praça João Mendes). Em 1979,
foi adquirida a “sede mundial” na Baixada do Glicério, o maior
templo evangélico do Brasil, com capacidade para dez mil pessoas. Em
1991 a igreja afirmava ter 5.458 templos, 15.755 obreiros e 581 horas
diárias em rádios, bem como estar presente em 17 países
(principalmente Paraguai, Uruguai e Argentina).
(e)
Igreja
Universal do Reino de Deus:
fundada por Edir Macedo (nascido em 1944), filho de um comerciante
fluminense. Trabalhou por 16 anos na Loteria do Estado, período no
qual subiu de contínuo para um posto administrativo. De origem
católica, ingressou na Igreja de Nova Vida na adolescência. Deixou
essa igreja para fundar a sua própria, inicialmente denominada
Igreja da Bênção. Em 1977 deixou o emprego público para
dedicar-se ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano surgiu o nome IURD
e o primeiro programa de rádio. Macedo viveu nos Estados Unidos de
1986 a 1989. Quando voltou ao Brasil, transferiu a sede da igreja
para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. Em 1990 a
IURD elegeu três deputados federais. Macedo esteve preso por doze
dias em 1992, sob a acusação de estelionato, charlatanismo e
curandeirismo.
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